Preconceito EtnoMusical:
Ensaios por uma
educação musical antirracista
Pedro Acosta
Porto alegre
2013
Poesia no Banzo
Olho pela janela do ônibus
Olho de novo
Olho mais uma, duas e três vezes
Quase não acredito
Olho, nariz, boca e ouvido
Todos os sentidos
Todos os sentimentos
O coração alerta
O coração aperta
São tantas transformações
E obras inacabadas
Assim como eu.
Pedro Acosta
Prefacio
O presente trabalho versa
sobre uma proposta de Educação Musical Antirracista. Como é sabido de todos, o
estado brasileiro vem desenvolvendo políticas públicas de combate ao racismo em
todas as esferas governamentais, no entanto, apesar de todas as políticas publicas
e legislações ainda não foram suficientes para erradicar o racismo principalmente
aqueles que assolam a educação do Brasil.
Neste sentido a
presente proposta visa combater o racismo na educação musical. Aqui é
importante uma informação que visa orientar os críticos da proposta. Essa proposta
não é um racismo as avessas, como é comum chamar qualquer ação com vista a promoção
da igualdade racial, pelo contrario a proposta visa ampliar o debate, enfrentar
o racismo de frente. É obvio que muitos professores de música terão medo de utilizar
o termo, no entanto , muitos professores em suas praticas cotidiárias
desenvolvem propostas antirracista: quanto mostram a participação negra na música
erudita, quando apontam a contribuição negra na formação cultural e musical do
povo brasileira, quando fazem pesquisas nas áreas de educação e fazem recortes
etnorraciais, de identidade e que colaboram para pesquisas na área da educação
musical.
O que aqui proponho
com estes ensaios é problematizar e auxiliar professores e entender a importância
de uma educação em música que proporcione equidade de fato. Esse é ponto
central, ao se juntar as diferentes propostas espalhadas estamos contribuindo
para erradicação do racismo na educação.
Vale aqui dizer, que
os professores (as), facilitatores(as) e educadores (as) de música que
trabalham em projetos sociais, em universidade, em escolas publicas e privadas
que valorizam as praticas negroafrobrasileiras é importante para que o Brasil
assuma no campo da educação e da educação musical política publicas.
Outra explicação
importante é o uso do termo antirracista. Faço uma analogia com os antídotos, feito
dos vírus e que auxiliam a tratar as pessoas como Anti-tetano, testes Anti-HIV,
Anti, aqui tem o sentido de se antecipar a doença e combatê-la. E é assim, que
o racismo deve ser tratado como uma doença que assola a humanidade, uma doença
que se combate com ações que visem antecipar a praticas que possam
desvalorizar, menosprezar e apagar a contribuição negra na educação musical.
Assim, acredito que o
termo aplicado a educação colabora para que linhas de pesquisas na área da
educação musical sejam criadas e proporcione as negros e negras que queiram
estudar- os aspectos do preconceito musical com as musicalidade negras como
funk, samba, pagode entre outros possam fazê-las.
Nesse ponto a política
colabora muito para isso. Com recursos destinados a construir conteúdos, métodos
e técnicas que possam combater o racismo e auxiliar na formação do profissional
da educação musical.
Àqueles que não gostam
do termo Educação Musical Antirracista, a não aceitação mostra o quanto é difícil
combater o racismo, quando a própria área não acredita na existência deste na
educação. Porém, os estudos etnomusicológicos mostram o quanto isso existe e
abalam a noção mítica da democracia racial, no qual muitos professores em seus
discursos apóiam e teimam que não existe, e que todos sofrem de preconceitos
musicais.
No entanto, os dados
não deixam dúvidas que o racismo existe. Basta ver a participação negra na música
erudita, nos cursos de mestrados e doutorados, nos currículo dos cursos de formação,
o número de professores de música concursados, enfim, a participação negra
chega a ser ridícula, num país em que metade da população se declara negra.
Quando um país assume
sua contradição mora e ética e visa combatê-la
com vista tornar a sociedade mais justa, humana possível para todos os segmentos
estamos a um passo de uma democracia plena, enquanto não acontecer uma proposta
de Educação Musical Antirracista é necessária.
Mesmo que para isso
tenhamos que assumir o termo e enfrentar os constrangimentos dos colegas. Se
não fizermos isso, como as crianças e os adolescentes vão saber de suas
histórias musicais dos negros, de suas lutas, do reconhecimento, da maneiras de
ser e de fazer música, de seus principais ícones e referencias.
Uma proposta como
aqui é apresentada tem o caráter de abrir os olhos daqueles que insistem em
acreditar que esse debate é da história, da geografia, da etnomusicologia e que
a educação musical não tem nada a ver com isso. Esse ensaio se contrapõe a essa
visão e ao afirmar que é papel da Educação Musical pensar nestas questões, pois
é ela que proporciona junto com outras áreas artísticas a reflexão, ação,
teoria e pratica sobre o fazer, criar, compor, apreciar, executar e a conexão
com a literatura musical.
Por fim, se a
educação musical e o ensino de música a partir da implementação da lei da
música na escola não fizer, quem vai fazer. A luta antirracista é do interesse
de todos nós educadores de música e profissionais da educação que acreditamos
na humanidade.
Autor
Pedro
Acosta
Contra a vontade de verdade
Desde que
Michael Foucoult fez a analise do curso que as verdades cientificas caíram por
terra. Me parece que as verdades ocidentais foram abaladas com esse pensador de
uma maneira bem mais profunda que os filósofos que os antecederam. Um gênio que
morreu novo. Mas quero discutir aqui o fundamento da vontade de verdade, ou
seja, a vontade de tornarmos nossos discursos verdadeiros. De lutarmos pra
fazer valer nossos pensamentos, idéias, opiniões, e maneiras de ser do ponto de
vista africano.
Nesse sentido
que o presente texto visa abordar em que aspectos as verdades africanos vem
sendo questionada pela sociedade.Seria o pensamento africano da intectualidade
uma vontade de verdade ou uma contra vontade de verdade?
A linguagem, o
modo de ser africano e oriental muito recentemente é que foi incorporado pelo
ocidental. A visão de verdade absoluta, de promotora da paz, da europa como
guardiã do mundo, foi quebrada com a duas guerras que tivemos no século
passado. Essa maneira autodestrutiva levou a comunidade européia a repensar
seus valores. Assim, passou a ouvir os anseios das culturas africanas, a
pesquisa-lá, a pensá-lá e restituir sua relação humana de homo-sapiens-sapiens
como diz Morin (2002). É justamente nesse momento que vários seguimentos de
contestação surgem no mundo e nos paises da áfrica e da américa latina.
O terror de uma terceira guerra mundial, o
reconhecimento por parte destes países periféricos de sua condição e atraso
econômico levou a discursos ditatoriais que culminaram com mortes em muito
maior escala do que com uma terceira guerra mundial.
Assim uma quase
democracia se instalou em muitos lugares no Brasil, em Cuba, na Argentina, no Chile,
assim através de discursos pseudodemocraticos buscou-se aniquilar as singulares para mais adiante na
história, enquanto, porém na medida em que foram restaurados alguns direitos
humanos, obviamente que acabamos encontrando outros novos direitos, e aqueles
reivindicados no passado já não atendem mais as necessidade do presente, assim
aquilo que era vontade de verdade precisa se ressignificar, ou seja, lutar pelo
seu novo espaço nos discursos de poder para não perder a sua função histórica
inicial.
É nesse ponto que encontro no qual encontro a
grande dificuldade que as sociedades pós modernas tem, que é de fazer valer
estes novos direitos do seu tempo. Um exemplo disso são as lutas antirracistas
abafadas com as ditaduras, das mulheres, da sexualidade, direito ao transporte
de qualidade, do acesso a educação, a cultura, a informatização, em fim, todos
estes visam a vontade humana de querer saber o porque da não validade de seus
discursos.
Nesse aspecto
entro num ponto central que vejo atualmente reivindicações justas, democráticas
que questionam esse vontade de verdade das sociedade ocidentais serem
consideradas como não justa, como inviável em uma democracia. Parece-me que ao
mesmo tempo em que as constituições permitiram, ou seja, garantiram direitos,
enquanto estas não eram regulamentadas, a ciência teve um papel de construir um
contra discurso destas vozes.
Nesse caso as
vitimas passam a ser os algozes da sociedade. Os negros é que são racistas, as
mulheres que não se valorizam ao questionar o corpo e a sexualidade, os
homossexuais que não aceitam a família e que querem impor as suas
particularidades a todo o conjunto da sociedade, os índios dono da terra que
tem aprender a conviver com o branco e dividir a suas terras, enfim, a
liberdade tão sonhada pela modernidade, vai dando sinais de retrocesso, porém
permeada por um discurso democrático que a toda tempo visa o equilíbrio.
Nesse sentido a
comunidade negra apresenta uma vantagem, através de sua literatura que vem se
contraponto a lógica de verdade ocidental, construiu um arsenal de argumentos
que nos ajudam a resistir a estas ações genocidas que visam aniquilar e não
fazer avançar nossos direitos na conquista da liberdade intelectual.
Nesse caso, a vontade de verdade no qual
Foucoult fala não é verdade africana, mas sim a ocidental. A linguagem, o modo
de ser africano e seu discurso não é a mesma que a do ocidente. Ele difere por
questões históricas e que provam que os discursos africanos e suas visões de
mundo é que proporcionaram um melhor desenvolvimento da sociedade.
Vejo o quanto a música ocidental mudou ao
incorporar estes valores como a circularidade, a ludicidade, corporeidade, a
energia, a musicalidade, coletividade e a religiosidade. Estes valores através
da educação foram sendo permeados, incorporados sem que se dissesse que eram
africanos, ao analisar as suas lógicas é perceptível estas influencias.
No entanto, a
partir do momento em que se descobre essa influencia, a ciência e seus
discursos buscam aniquila-lás, e mais uma vez a vontade de verdade aparece nos
discursos acadêmicos apontando as falhas
do pensamento intelectual negro como determinista e reducionista.
As heranças iluministas como clareza no
discurso, nos textos, a objetividade em detrimento da subjetividade retomam
suas novas facetas, agora sobre a forma de se contrapor ao politicamente
correto. Ao se fazer isso, se está impedindo que a sociedade avançe nas suas
relações, pois é a política que regra a ação humana, se a política não esta
sendo suficiente para entender as nossas aspirações e liberdades humanas então,
é chegado o momento de se mudar a política.
Mesmo que o
discurso de vontade de verdade seja um discurso político, ele é necessário na
medida que é através dele que chegamos num acordo entre ambas a partes. O
problema da política é que nos acordos estão interesses as vezes
contraditórios. Se no campo da ciência a contradição perdeu o seu fim a partir
de zaratrusta, no campo político ela se afirma em partidos que ora propões
avanços, ora retrocessos.
A sociedade
brasileira com a constituição intitulada cidadã se propôs a atender os
diferentes setores da sociedade, no entanto deixou para regulamentar a questões
após amplas discussões, emendas e leis. Assim, o pensamento que é contra esta
vontade de verdade tem que esperar mais um tempo, até achar terreno fértil para
se recompor.
Por fim, o
pensamento africana e afrobrasileiro da intelectualidade negra nos deixou um
legado para não cairmos nos discurso científicos e políticos que tem na sua
gênese esta vontade de verdade, questionada pelo oriente. O discurso africano é
contra esta vontade de verdade, visa combatê-lo é isso que temos que ter em mente. Pois durante
séculos, este discurso não foi aceito, diferentemente de décadas passadas hoje
temos um arsenal de teorias e de literatura negra, que se contrapuseram a esta
lógica, e ao afirmar sua identidade, abalam a identidade do outro. E abalar a
sua identidade é abalar a sua vontade de verdade.
Ciências sociais
As ciências sociais é
umas das áreas de pesquisa acadêmica de maior relevância para sociedade. O
racismo e preconceito racial sempre foram, pelo menos no Brasil, uma das
principais ferramentas para negros e não negros quebrarem mito da democracia racial. Mas qual a razão
para tamanho interesse? Qual o papel da intelectualidade negra nesse processo?
Esta é um mero objeto ou é sujeito dos estudos em ciências sociais.
Desde que o país se
consolidou como republica e abandou o regime escravocrata libertando a
população negra formalmente da escravidão que o Movimento Negro Brasileiro, que
tem como primeira forma de expressão política a Frente Negra Brasileira já dava
indicativos de possíveis políticas na área de educação, cultura, artes e na
economia. Décadas se passaram, períodos ditatoriais vieram e a somente a partir
da democratização do país e com a nova carta magna de 1988 que os negros passam
a ter garantidos formalmente emprego, trabalho, cultura, educação e o pais
assume sua condição histórica com o racismo perante os organismos
internacionais, principalmente devido a ações do movimento negro brasileiro.
Essa foi o primeiro
passa para alavancar uma luta que não se restringe apenas aos aspectos comuns
da sociedade brasileira, mas também da produção cientifica e do saber. Assim
intelectuais negros como Abdias do
Nascimento, Lélia Gonzáles entre outros propuseram-se a reformulação de
conceitos e visões esteriotipadas do negro nas pesquisas acadêmicas. Nesse sentido
são os primeiros intelectuais a posicionarem-se a favor dos sistema de ações
afirmativas e reparativas para a população negra.
Foram os intelectuais
negros e o Movimento Negro Unificado que a partir de dados coletados pelas institutos de pesquisas comprovaram o
que a mais de um século já vinha sendo dito. Que o Brasil era uma país racista,
pois não proporcionava equidade nas representações de poder como televisão,
espaços públicos, nas decisões políticas, ficando sua participação apenas em
atividades subalternas. Foram também, estes intelectuais e muitos outros pelo
país afora que propuseram políticas de cotas nas universidades, bem como,
medidas educativas para combater o preconceito racial.
Passados mais de duas
décadas, hoje é possível perceber algumas universidades públicas e privadas a
participação do negro, não apenas como objeto de pesquisa, mas sim, como
sujeito de pesquisa. Buscando conhecer a sua história e realidade social de seus pares, propondo
alternativas, mostrando à academia o
quanto preconceito desta está enraizado em suas instituições, pois estes
atrasaram a inserção do negro no ambiente acadêmico e de construção do saber
cientifico e sua contribuição para sociedade do qual faz parte.
Pois a academia e a
pesquisa cientifica serve para ciências sociais devido a sua aplicabilidade.
Por fim, o atraso do negro no mundo acadêmico se deve ao racismo introjetado
nesta e sua pseudo neutralidade cientifica, que atualmente foram desmascaradas
pelas pesquisadores negros.
A
dialética na educação musical
Em períodos recentes da nossa historia da
musica a cultura européia era hegemônica.
Se fosse ensinar
musica teria que passar pelos grandes formadores musicais como Mozart, Bach
entre outros das escolas Alemãs ou Italianas. No entanto vem atualmente uma
concepção que valoriza a musica brasileira, figuras como Pixinguinha entre
outros sambistas passaram a também a aparecer nos livros didáticos de musica
brasileira, muito influenciados pela semana de arte moderna. Mas essa visão
dialética da educação musical onde a musica popular e Erudita se mistura,
dialogam e servem a quais interesses? O que estas representações do negro na
musica popular aniquilou historicamente?
A semana de arte moderna influenciada
pela teoria de Gilberto Freire sobre a miscigenação social e apresentação do
Brasil como país da democracia racial foi uma tentativa das elites brasileira
de impedir o desenvolvimento social econômico da população negra.
Do
ponto de vista musical o século anterior teve uma participação enorme de negros
fazendo musica erudita em uma época em que fazer musica era coisa de escravo,
ou seja, de negro.
José Mauricio Nunes Garcia é a prova de
que para um descendente africano chegar ao principal posto da educação musical
e maestria em musica era devido a sua capacidade de expressão de conhecimento
sobre a ciência musical. Em vários aspectos o século XIX foi cheio de figuras
negras.
Em compensação, no século XXI desapareceu
a figura do negro como destaque na musica erudita, isso se deve a representação
que se fez da participação do negro como única e exclusivamente na musica
popular.
Essa
pratica descrita no livro didático nada tem de histórica. Apagou a participação
do negro na musica erudita e clássica.
A
dialética aniquilou a possibilidade de vermos negros nas orquestras sinfônicas
de câmara e filarmônica. Uma juventude que não se enxerga na musica clássica,
erudita não pode imaginar a possibilidades alem da musica popular.
Por uma razão muito simples. O negro
gosta de futebol por ter referencias como Pelé, Ronaldinho, Neimar, Ronaldo,
quer ser pagodeiro por ver Thiaguinho, Alexandre Pires, Fundo de Quintal entre
outros. O mesmo não acontece na musica erudita. A dialética da educação musical
achando que assim teremos um maior interesse pela musica ao não levar em
consideração a historicidade e ao fazer representações de que não existe
popular e erudito é o que prejudica a história musical de raiz e reforça o
preconceito raiz.
Orquestra
Sinfônica Preconceituosa Alegre
Por mais ridículo que possa parecer falar
em musica popular e erudita ainda faz sentido.
Mesmo com todas as teorias da educação musical que
atestam que essa separação já não existe mais, que o popular é mais do erudito
e vice-versa. No entanto uma analise mais acurada constatará que essa dicotomia
ainda existe por duas razões, poder e saber cientifico.
Poder
devido fato de a musica erudita e clássica serem hegemônicos no ponto de vista
dos interesses das elites brasileiras: basta reparar que todas as orquestras
sinfônicas são autarquia ligadas ao
estado e com poder administrativo nos recursos financeiros. Enquanto isso na
mesma cidade a cultura popular luta por recursos intensos para o carnaval,
manifestações folclóricas e de massa popular. Se não bastasse isso tudo as
mesmas tem que lutar a cada ano por mais recursos no Orçamento Participativo
contra a própria cultura popular.
Enquanto milhões são destinados a construção de salas sinfônicas, mais
alguns mil destinados aos cursos de bacharelado
a formação de professores na rede estadual para ensinar musica erudita
na escola e nem sei mais quantos a formação de novas platéias. Assim a musica
erudita de uma maneira ainda leve romântico e expressionista e acima de tudo
preconceituosa continua. Pois não reconhece nem os músicos eruditos negros em
seus concertos. Muito menos propõe concertos em que valoriza estes
referenciais.
Quanto a ciência ao saber cientifico a prova que a uma tentativa de
aniquilar a musica popular pode se percebido na exigência de formação de nível
superior para os concursos públicos magistério de habilitação em musica. Mesmo que a
legislação atual de ensino musical não prever a formação universitária como pré
requisitos para o profissional de educação musical. Alem disso conforme o fato
das escolas publicas influenciadas pelas
novas tecnologias dos celulares e de acesso individualizado internet por parte
dos alunos estarem frequentemente acessando, funks, pagodes, tecnobregas,
musicas evangélicas intituladas menos musica erudita.
Assim as leis, as ações e tentativas pseudo cientifica de acabar com a
separação da musica popular e erudita não tem fundamento na mediada que na
pratica essa divisão ainda existe, bastante para empregá-las apenas uma analise
das relações de poder que se estabelece entre uma e outra e outras formas de
representação social que existe sobre ambas na sociedade. O alegro da Orquestra
sinfônica com altos recursos contrasta com a rallentando da musica popular.
Preconceito
Etnomusical enraizado
Como educador, professor, facilitador,
musico, negro e profissional de educação musical sempre tive dificuldade ao
fazer escolhas que atendessem as minhas necessidades e dos oficinandos. Alunos
ou educandos e das entidades sociais nos quais eu trabalhei. Esta tarefa era e
continua sendo a das mais difíceis, mesmo com todas as teorias sobre educação
musical. Ainda mais nos dias de hoje em que atender a necessidade de funk dos
jovens das periferias por parte do educador coloca em questão valores morais sociais e éticos. Não tem como
fugir. O educador moderno precisa enfrentar essa realidade. Para isso é preciso
saber mobilizar competências atitudes e valores anti racistas.
Não basta apenas o profissional da
educação ter curso superior em
musica. Pois está cheio de péssimos profissionais com mestrado
e doutorado que cometem crimes contra seus alunos, seja como orientadores ou
professores da rede publica e privada. A formação acadêmica em vez de ser um
fator agregador pode significar um obstáculo em uma educação anti racista. Por
exemplo, não reconhecer o repertorio funk como possibilidade de desenvolvimento
musical e um absurdo por puro preconceito enraizado.
Quanto as atitude não basta apenas ter
competências é preciso ação anti racista. Enfrentá-la, desmistificá-la,
reconhecê-la em si nas escolhas e tomar atitudes de enfrentamento como
apresentar canções funk, canções de batuque, jongo, congada, pagode, hip hop
entre outras gêneros musicais negros ao aprendizes. Assim aos poucos os alunos
vão percebendo as atitudes anti racista do professor. Nesse sentido fica fácil
depois desenvolver com os educandos uma atitude aberta e que vai alem da musica
como contexto social e racial das praticas escolhidas. Pois já foram sentidas as atitudes do professor.
Esse sentir do educando diz respeito aos
valores. Eles é a parte mais sensível na
hora da escolha do repertorio. Qualquer espécie de moralidade em educação
musical do ponto de vista da cultura negra é difícil, pois esta é
contraditória, sexualizada e corporificada. Alem disso, tem ludiciadade,
oralidade, religiosidade. Não é coerente é resistente, qualquer concepção a
partir de valores cristãos terá dificuldade em um momento ou outro de lidar com
esta multiplicidade de valores civilizatórios afros brasileiros.
Por fim a simples tentativa por parte dos
educadores de musica de enfrentar aos seus valores e preconceitos e esconder o
seu racismo fruto de uma educação cristã e eurocêntrica em musica é o primeiro
passo para uma educação na pratica anti racista. Sem esse enfrentamento
qualquer escolha de repertorio afro é falsa, oportunista e uma chantagem com os
alunos. Uma educação musical democracia é uma
educação musical anti racista, este é o único caminho possível.
Genocídio
acadêmico:
Por cotas na graduação e pós graduação em
música na UFRGS.
Quando o negro
utiliza a música como meio de melhorar as suas qualidade de vida, de maneira
subjetiva isso é concretizado na pratica. Pois ser músico é ter prestigio, é
ser reconhecido, chamado, valorizado. Nesse sentido ela se torna o caminho mais
rápido para se fugir a herança de outros afazeres, de menos prestigio, como
catadores, lavadores de carro, mestre de obras, serventes, serviços gerais
entre outros.
Por essa razão o funk , o pagode, o hip-hop
vem sendo ferramentas úteis no resgate da cidadania jovens negros em projetos
sociais financiados pelo governos estaduais, municipais e federal, pois essas
experiências de sucesso são vividas na prática. Além disso, trabalham com a
dimensão simbólica, criando sonhos e desejos de conquistas no campo afetivo.
Isso para o negro não é um problema, mas sim, uma realidade. No entanto, mesmo
no atendimento dessas capacidades musicais adquiridas pelo processo cultural, é
possível perceber uma má vontade das elites dirigentes. Pois se racismo não
existisse, se as igualdades de oportunidades fossem dadas a todos era para ás
universidades públicas de música estarem cheias de negros fazendo música. O que
vemos é o contrario, escolas cheias de brancos fazendo música.
. Então deve haver um
problema. Pois, isso mostra a realidade pigmentocrática e racista, pois pra
quilo que os afrodescendes fazem melhor as elites dirigentes não conseguiram
atender.
Na pesquisa com
cotista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul de Lucina Bello (2011) não
tinha nenhum estudante de música. Mas se a música é uma pratica social de
importante significado, porque razão o negro não participa de seu processo de
seleção? Se a música é uma pratica social comum, porque nem na licenciatura em
música da referida universidade temos negros? O que impedi um jovem de
freqüentar a sua universidade? Será que é o exame de seleção, nos moldes da
renascença, ou do programa ídolos?
Faculdade ou universidade é pra ser espaço de
saber, de construção do conhecimento, ou seja, um espaço de fazer cientifico.
Mas temos cotistas em áreas saberes científicos bem mais antigos que a educação
musical, em que vemos negros participando do sistema de cotas e na música
nenhum. Em áreas como medicina não se pedi para
pessoas fazerem exame de admissão no curso, o mesmo no direito, na
antropologia nestes o critério é universal. Porém na música isso não acontece,
há uma seleção dos melhores alunos, que dominem a técnica dos instrumentos
clássicos, inclusive no curso de licenciatura. O exame de seleção é um processo
descarado de exclusão e genocídio acadêmico, pois ao ser reprovado varias vezes
em um curso de música, o aluno desiste de fazer academia e vai tentar outro
curso. Nesse sentido deixa de dar uma contribuição cientifica ao país e a
educação musical, e a cultura negra.
O músico negro, já
sabe, que para passar na UFRGS é preciso dominar bem a teoria musical e pratica
de seu instrumento. No entanto os cursos licenciatura em música que não usam o
mesmo critério de música erudita para ingresso, são a única alternativa dessa
população, na maioria da vezes oriundas das classes menos favorecida, onde o
processo de formação musical não se deu em conservatório e sim, na maioria das
vezes como autodidata. Diferentes dos músicos
oriundos de praticas musicais eurocêntricas que estudaram em escolas
especializadas em música, tiveram aulas de inglês e na maioria das vezes
tiveram oportunidades de estudar música em conservatórios.
Combinando com as faculdades
de música, essa sim, continua formando a intelectualidade musicos para orquestras,
espetáculos, gêneros de prestígios das elites e pesquisas acadêmicas em pós
graduação.
No meu caso, sempre
sonhei em fazer faculdade de música, no entanto descobri que pra ingressar na
UFRGS teria que fazer um exame teórico, dominar um dos instrumentos clássicos,
fazer leitura a primeira vista, dominar o repertório europeu. Ou seja,
precisava de requisitos do século passado para se inserir no mundo acadêmico
atual. Como na época não existia políticas publicas de inclusão do negro na
universidade, devido ao excesso de trabalho e ter que ajudar os familiares não
foi possível a realização deste sonho. Minha saída vou fazer um curso de
licenciatura 10 anos depois em 2009 em música em uma única universidade privada,
que não tinha sistema de cotas e tive que pagar para fazer uma licenciatura em
música.
. Por mais que eu
queira comparar um curso de bacharelado é diferente do curso de licenciatura.
Além disso, teria que fazer um vestibular super concorrido, onde os aspirantes
ao curso estariam pelo menos mais de anos de estudos teóricos em música na minha
frente. Ou seja, precisaria para contornar essa situação fazer um curso de licenciatura
em música numa universidade privada. Se eu tivesse esperado um pouco, teria
conseguido ela como bolsista ou cotista. Isso já é um avanço. Sabe o que isso
quer dizer, menos gente nos cursos de bacharelado e mais na de música popular,
todos os indicativos e tentativas que temos na UFRGS é para criação de cursos
específicos de música popular. No entanto, isso vem sendo um grande crime a
possibilidade de inserção do negro nos cursos de caráter erudito. Pois como
conseqüência teremos mais músicos negros formados em música popular do que
erudita. Mesmo assim, a abertura do referido curso representa um avanço das
necessidades, mais o importe é saber qual o perfil étnico dos inscritos? Se
realmente o músico negro está ingressando nestes curso..
Acredito que se um
músico é erudito isso lhe permite transitar entre diferentes espaço que nem
prova a nossa história da música temos exemplos como Tom Jobim, Villa Lobos,
José Mauricio, Moacir Santos entre outros. O que as elites musicais querem é
manter o status quo adquirido durante mais de quase 7 décadas de faculdade de
música. Que formou grandes nomes da música erudita gaúcha.
Outro ponto
importante é aquele em que quando o negro conclui a graduação sua única saída é
o mercado de trabalho. Se este cursou em universidade pública sua saída é o
mestrado e depois o doutorado. Os
critérios subjetivos na seleção dos candidatos devem ser mais uma prova do
quando uma política afirmativa deve fazer parte da pós graduação.
Como todos sabem as
universidade privados de todo país se comparada com a rede pública são
inferiores em desenvolver habilidades e competências em seus alunos. Salvo
raras exceções as provas do ENADE
comprovam o quando o ensino superior público é melhor. Assim sendo, um
músico formado em uma universidade publica chega com bem m mais chance de obter
a vaga em uma universidade pública. Primeiro pelo contato que já teve com os
professores do curso de graduação que são praticamente os mesmos do mestrado,
segundo que esta aproximidade na hora da avaliação de um ensaio, de uma
entrevista tem efeito na seleção do orientar. Pois estes já sabem das
dificuldades dos alunos de escola privada. Acrescenta a isso, o fato desse
aluno ser pobre, negro e oriundo de escola pública. Ou seja, já na seleção ele
entra em
desvantagem. Aliado a isso, o material didático aberto dois
meses antes do edital, sendo difícil para o graduando pobre e com o “canudo na
mão” continuar seus estudos na pós graduação.
Por fim, acredito que
uma política de inclusão do negro na educação musical deva levar em
consideração os aspectos históricos, sociais dos alunos e suas diferentes
realidades, possibilitando o acesso ao ensino de pós graduação de forma a poder
avançar e colaborar com o pensamento cientifico da educação musical e não
apenas mero objeto de pesquisa. Para tal
o sistema de cotas racias proporciona oportunidades do negro ter acesso
ao saber cientifico.
Até quando? Por cotas na pós graduação.
Até quando? Por cotas na pós graduação.
Todos os finais de
ano é uma comemoração a chegada de um novo ano, pelos presentes do papai Noel,
pelos reencontros entre familiares, pelas conquistas e realizações vividas
durante o período de 365 dias, mas também é um momento de reflexões, ou seja,
de uma analise daquilo que não conseguimos realizar, as razões e as
dificuldades nos quais fizeram-nos com
que mudássemos nossos planos e não conseguíssemos atingir os objetivos no qual
almejavamos.
Particularmente o ano
de 2012 representou para mim um avanço na minha vida, pois nele conclui a faculdade
de música, passei no concurso público do magistério sendo o 3° colocado na rede
estadual na 1° CREA em Porto Alegre , mas o
que mais me deixou frustrado e com a sensação de impotência foi a reprovação na
seleção do mestrado em educação musical.
Nos negros com
histórico de vida em que pai, mãe, avos, tataravos entre outros que não tiveram
oportunidade de acesso ao ensino superior, quando temos um negro(a) que conclui
a faculdade é motivo de festa e de alegria, pois acreditamos e somos levados a
isso de que a desigualdade acabou. Somo levados a crer que agora não teremos dificuldade de acesso ao mercado de trabalho,
que a nossa condição sócio econômica mudará e que por fim, estamos em pé de
igualdade com brancos, e pessoas de descendência européia e amarela. Enfim somo
iguais. Temos a mesma oportunidade de acesso.
Pude compreender na
pele a falaciosidade destes argumentos. Pois a igualdade só surge quando temos as
mesmas oportunidades reais de acesso em todos os campos do saber humano, e aos
mais altos postos. Foram as cotas raciais que possibilitaram a minha entrada no
magistério e ser um dos primeiros a serem nomeados. A lei de cotas
proporcionará uma melhor qualidade de vida, depois de concluída toda a etapa de
escolarização superior. Graduação, especialização, mestrado, doutorado, pos
doutorado. Se isto não acontecer continuamos sendo mão de obra barata, só que
agora com um canudo na mão.
Ao ser reprovado no
curso de mestrado e ao pleitar um acesso pelo sistema de cotas como único negro
inscrito no programa. Uma legislação de 2008 do conselho de educação da
universidade foi evocada.. A UFRGS no ano de 2012 teve que reformular seus
editais em menos dois meses para atender o critério de cotas raciais de acordo
com o sistema de cotas na graduação publicada pela presidenta Dilma. Foi uma ingenuidade
a tentativa minha de procurar sensibilizar a banca para a minha realidade
social e histórica. Essa mesma nem foi capaz de rever as notas 6 que obtive no
ensaio e na entrevista com base em informações adicionais no recurso. Então pra
que recurso, se não existe a possibilidade de se reconhecer o contexto do
candidato e ter um outro olhar sobre a prova e a particularidade do processo. No
caso manteve-se a nota, e um aviso foi dado, não venha com esse papo de
promoção da igualdade racial aqui.
Entendi que a regra
do jogo acadêmico favorece um time que está sempre ganhando. Foram 24 alunos
brancos selecionados para o mestrado em educação musical. Parafraseando Abdias
e ninguém fala nada, ninguém diz nada, ninguém se revolta com isso. Aceita- se
com naturalidade esta situação pigmentocrática em nossos departamentos de pós
graduação e aqueles que são negrólos, quando tem a oportunidade real de mudar a
vida acadêmica de um estudante negro, mostram de que lado realmente estão..
Essa falta de
sensibilidade, da banca examinadora é que faz com que milhares de acadêmicos
negros não ingressem no ensino de pós graduação. Todos sabem que o ensino
público é ruim no Brasil, no que diz respeito a educação básica. Basta
procurarmos dados relativos a qualidade da educação de nossas crianças que
veremos a grande dificuldade que mais particularmente a criança negra tem de
concluir os estudos. Esta se chegar a completar o 5º ano e não abandonar a
escola é muito. Aliado a isso, preconceito racial no ambiente escolar, a falta
de escolarização dos pais ou seus responsáveis que não tem tempo para ajudar a
si mesmo nem os estudos de seus filhos.
A possibilidade deste
tipo de criança de completar o ensino fundamental, médio, e superior é muito
pequena. Esta é a realidade, a ministra da igualdade racial chama este fenômeno
ocorrido com as crianças negras de genocídio educacional, pois quem não
completa os estudos básicos não volta nunca mais para os bancos escolares.
Nesse caso, eu teria
muitas razões para abandonar de vez a escola. Posso citar algumas. Eu sofria
preconceito racial; os colegas me colocavam apelido; tinha dificuldade de
conseguir namorada; as vezes eu ia de chinelo de dedo estudar; como não tinha
guarda-chuva chega as fezes todo molhado; fui chamado de marginal, revolucionário,
na época em que participava do grêmio estudantil no ensino médio, bem como
ridicularizam meu modo de ser e de falar, sofri um atentado na escola em que
perdi alguns decibéis devido a uma bomba que estourou ao lado do banheiro em
que eu estava,na universidade quando apresentei meu trabalho de conclusão, este
foi considerado unilateral ou quando uma professora me chamou de tendencioso por descordar de suas
opiniões. E agora por último na prova de mestrado a professora coloca que meus
pensamentos e articulações teóricas não tiveram profundidade.
O que isto quer dizer
pra mim, vou ter que conviver anos tentando descobrir como se constrói um texto
com profundidade. Pois acho que toda a minha educação não valeu de nada. Então
a partir de hoje os professores da rede estadual de educação básica, dos curso
pré vestibulares, das universidades privadas tem que ensinar seus alunos a
escreverem ensaios dissertativos com profundidade. Pois não aprendi, se não
aprendi a culpa é de quem não ensinou, e se quem ensinou foi o estado e a
iniciativa privada, por uma questão lógica, eles são os responsáveis. Se eles
são os responsáveis pelo ensino deficiente que tive a cotas na pós graduação é
necessária, pois me coloca em situação de desigualdade com outros candidatos.
Várias foram as
tentativas de assassinato que sofri durante o meu percurso como estudante da
rede pública de ensino e acadêmico do curso de música da rede privada superior.
Vale uma ressalva nesta ultima. A rede privada no Brasil como todos sabem com
raras exceções é a que prepara o profissional para o mercado de trabalho e não
para os grandes centros de saber como a pós graduação nas universidades
públicas. Basta ver o quanto o MEC tem sido duro na avaliação da qualidade do
ensino das universidade privadas. Quem se formou nestas universidades,
provavelmente recebeu um ensino deficiente. A prova disso, é que vários alunos
ao fazerem exame para Ordem dos Advogados do Brasil são reprovas. Não vamos
muito longe. No concurso de magistério 2012 na rede estadual RS na minha área
de educação musical passou 2 do meu curso de licenciatura eu e mais uma da
minha universidade. Mais de 30 colegas
do curso de música da universidade na qual eu me formei foram reprovados.
Ao ser reprovado no
mestrado em educação musical me mostrou que eu sou bom para fazer trabalho
braçal na educação musical, e nunca ser um intelectual, um pesquisador, um
teórico da educação musical. Minha formação superior me preparou para dar aulas
em escolas públicas da rede estadual, em ONGs, projetos sociais e não na
universidade. Minha formação superior me preparou para a manutenção de idéias
racistas e preconceituosas sobre a cultura negra e a história do negro e
africana na música brasileira. Minha formação superior me formou para não
pensar em entrar numa pós graduação em universidade pública. Minha educação
superior não me ensinou a fazer ciência, a fazer pesquisa. Minha educação
superior no qual eu paguei 6 semestre com dinheiro vivo na boca do caixa, foi
um grande autoengano. Me provocou o sonho impossível dentro dos moldes do
seleção de ingresso de mestrado que está posto.
Ou seja, para passar
no mestrado terei que fazer cursinho de ensaio dissertativo, cursinho de como
se sair bem numa entrevista de mestrado; cursinho de como conseguir fazer um
projeto voltado pra temática negra, sem ser negro; um cursinho de como conhecer
e se tornar amigos dos pesquisadores das universidades públicas para sensibilizá-los
ou seduzi-los para nosso projeto; um cursinho de auto-estima para me sentir
capaz e com o direito de ingressar na pós graduação e um cursinho de inglês de
tradução de textos.
Terei que desembolsar
por mês mais de 1 salário mínimo se eu quero realmente ser pesquisador. Mas
este fundo é perdido, pois não tenho garantia nenhuma que irei passar na
seleção final. Meu capital cultural irá aumentar, mas o social e o econômico
não. Um salário mínimo é valor de uma bolsa de estudo. Mais da metade do meu
salário como professor do estado será com esta preparação. Enquanto isso,
outros que tiveram uma educação básica de qualidade irão poder continuar com
suas rotinas e se prepararem nos meses em que antecedem o edital. E eu tenho um
desvantagem, se eu quiser tirar livros na universidade em que fiz a minha
graduação não posso. Devido não ter o direito como ex-aluno. Posso apenas tirar
livro de literatura brasileira. Isso é um absurdo enorme. Eu quero ser
pesquisador, mas é muito difícil de se fazer pesquisa quando se vem de uma
realidade econômico inferior.
A minha reprovação é
a derrota do argumento de que o ensino superior iguala a condição entre negros
e brancos no acesso universidade. Pois se ele é oriundo de uma educação básica
em escola pública e do ensino superior de universidade privada, neste caso a
música. Ele ou ela não chega por mérito em igualdade de condições de superar
varias deficiências do seu percurso educacional. Mas isso não quer dizer que
estas pessoas não possam fazer pesquisa e pesquisa de qualidade. O dificil é o
acesso em igualdade, pois a técnica se aprende. E é justamente a técnica
cientifica que torna o mestrado e doutorado tão importante pro saber e formação
da intelectualidade. Pois está mais do que provado que os grandes nomes da
nossa história não foram mestres em universidade públicas brasileiras. O mais
importante deles foi Abdias do Nascimento que fez sua carreira acadêmica nos
EUA.
Quando se fala em
mestrado e doutorado em música não é para universidade pública e sim para
privada. Ou seja, é na pós graduação de faculdade privadas que eu tenho que me
inserir. Tenho que pagar novamente pelo ensino que por direito deveria ser
público, se quero continuar os estudos. Se quero ter voz, se quero ter vez, se
quero me sentir pesquisador. Vou ter que conviver o resto da vida com a
frustração de não ter passado em uma universidade pública, que por direito
deveria flexibilizar o meu acesso e de muitos negros.
Neste final de anos
fico pensando quantos homens e mulheres negras que concluíram suas
universidades em escolas privadas e foram reprovados em mestrado em música ou
em outros cursos neste país.
Temos dados sobre
isso? Certamente não. Pois essa realidade não interessa, pois se avalia só quem
entra e não quem tenta entrar. Um cadastro e dados sobre os negros que não
entram no mestrado e doutorando seria importante para saber as razões e assim
propor políticas publicas acadêmicas que proponham uma igualdade de fato.
Pois se chegarmos no
superior e tivermos oportunidades podemos ir mais longe. E em uma sociedade em
que quanto mais alto o nível escolar, melhor a situação econômica uma política
afirmativa na pós-graduação é importantíssima.
Quantos negros são reprovados e tem que
começar o processo todo de novo, além de estudar mais um ano e ainda assim, não
ter nada garantido e vêm representantes brancos tendo o total acesso a vagas,
pois cumpriram as regras racistas do edital. E quando o estatuto da igualdade
racial é evocado o argumento é que não tem “cabimento” que nem disse a professora
que avaliou a minha prova e recurso que entrei solicitanto abertura de vaga.
Então eu vou dizer o
que não tem cabimento. Não tem cabimento a gente viver em um país em que nem 1,0
% de negros freqüentam o ensino de pós graduação, não tem cabimento ao fazer
uma prova e não ver além de mim ninguém com a pela escura, não tem cabimento
não termos professores negros no curso de mestrado em música, não tem cabimento
eu não ter orientares negros que trabalham a questão etnorracial e nem linhas
de pesquisa com meu tema. Por fim, não tem cabimento eu ter que assumir minha
condição de reprovado, para ter garantido um direito constitucional.
Se estatuto da
igualdade racial não serve para esta situação, vai servir para qual. Pois reivindicar
a abertura de vaga para negros nos cursos de pós graduação e uma possibilidade
real que temos de que em dois anos teremos mestres em música negros.
Independente de serem de públicas ou privadas, isso representa uma
possibilidade de termos orientadores negros, que analisem projetos de pesquisas
voltados para cultura negra que nem prevê o mesmo estatuto.
Imaginem uma
descendente indígena que conclui a graduação e resolve fazer uma pesquisa na
pós graduação sobre a música em tribos indígenas em Porto Alegre , mas
chega na hora da prova vai mal, pelo seu processo histórico e pela pressão
psicológica de uma prova dessas. Esta descendente indígena, uma raridade no
ensino superior, diga-se de passagem, não terá direito a reserva de vaga devido
as regras atuais do sistema. Isso não é impossível de acontecer já que existe
uma jovens indígenas nos cursos da UFRGS. Depois de todo o esforço e
resiliência desta jovem em chegar ao ensino superior, esta não vai ter a mesma facilidade
de acesso que teve na graduação.
Neste sentido o estatuto da igualdade racial é
importante, pois traz o compromisso do estado com igualdade de oportunidade a
pessoas que tiveram histórias e processos educacionais diferentes que as
impossibilitaram de disputar em pé de igualdade com os demais.
Se isso não for feito
o estado perde milhares de mestres,
doutores negros e indígenas em todo o pais. E que podem nunca mais voltar para
academia.
O sistema de cotas
raciais da coragem, pois faz o negro que tem consciência negra acreditar no
processo. Por isso é que vem ampliando o número de negros que estão optando
pela reserva de vagas no curso de graduação. O mesmo ocorreria na pós
graduação, haveria uma possibilidade dos negros voltarem a estudar devido a
essa nova modalidade de acesso. Assim, não teria apenas eu de fenotipicamente
preto na prova de mestrado em música, teríamos vários negros fazendo pesquisa
acadêmica, fazendo realmente ciência. E em uma universidade pública que é
melhor ainda.
Uma vez eu vi um
amigo meu dizer que fazia questão de entrar na UFRGS, outro dia um músico
famoso, negro também, disse que não tinha passado no mestrado em etnomusicologia. Espero
que estes meus colegas não tenham sido assassinados na sua esperança de um dia
cursar um universidade pública que por direito, pelos que os antepassados destes
e os meus fizeram por este país de freqüentar e ter uma educação de qualidade.
Só tem um único setor pública em que as elites
fazem questão de ter acesso que é na universidade pública, pois estes sabem que
ele é gratuita e a melhor, pois tem os melhores quadro de profissionais, tem
recursos técnicos e financeiros, incentivam a pesquisa e a inovação
tecnológica. O que nós negros queremos é compartilhar um pouco dessa “sereja do
Bolo”. É ser sujeito de pesquisa e não apenas objeto. Alias é por ter sido historicamente
tratado como objeto de pesquisa pela academia que é tão difícil para essa
quando nos assumimos como sujeito.
O
amor é base da luta negra brasileira
O amor é a parte mais
importante segundo Hommed do desenvolvimento de uma luta social. É ele quem irá
proporcionar a minha autorealização, minha afirmação e minha diferenciação do
outro.. De uma certa maneira, a aproximação do movimento negro se da pelo fato
de reconhecermos a nossa mãe áfrica mulher representada nele, uma mãe que nos
foi tirada, arrancada no qual gostaríamos de ter recebido afeto, cuidado, uma
mãe que teve que se afastar de sua família, de seus filhos pra viver no mundo
do capital. Uma mãe que abandonou suas ervas, seus cheiros, e que foi arrancada
de seu lar.
Esse sentimento de
amor materno entre mãe e filho, é o que vem acompanhado pelo sentimento de
justiça. É que nem chamar um pessoa de filha da puta, nosso sentimento de
raiva, por não aceitar saber quem é os nossos pais nos revolta. Esta divida
psicológica, foi uma ação central da luta negra no Brasil. Todos negros
engajados buscam mostrar o amor pela mãe. Mesmo sabendo que talvez nunca
tenhamos a possibilidade de tocá-la novamente, de cheirá-la de vive-la.
Porém uma das coisas
mais significativa do amor materno e entre mãe e filho é que ele não morre,
apesar da distancia Ele vive mesmo na
ausência, e continua amando e é esta uma das principais formas de amor. É este
amor que todos os dias o sistema capitalista tenta matar, que nos leva esquecer
do que nos fizeram, das almas que foram pilhadas, mortas, das mães que foram
arrancadas enquanto amamentavam seus filhos. Essa dor psicológica nos afetou de
uma maneira tão profunda que a revolta nos bate cada fez que nos humilham, que
nos chamam de marginal, favelado, vagabundo, entre outros termos. Pois não é
nós que somos atingidos e sim nossos pais que foram vitimas e nós somos
resultados disso, dessa violência.
Pois não nos mandaram
devolta pra casa. Nos fizeram continuar aqui. Queimaram o nosso endereço, nos
deixaram perdidos no mundo, querendo encontrar nossos pais, sem nunca poder
faze-lo. Mas ainda sim, descobrimos na entrelinhas da história os nossos pais
presentes nos guerreiros Zumbi dos Palmares e Dandara, nos orixás das religiões
africanos e nos santos de devoção negros das religiões católicas.
Por fim. a luta
destes pais, que não abandonam seus filhos nos serviram de referencia e essa
referencia agora que estamos começando a reconstruir. Viva a nossa mãe e nosso
pai e a felicidade de podermos encontrá-los e abraçá-los simbolicamente na luta
negra.
O
ritualismo no acesso a música superior.
Por um fio condutor
básico é possível descortirnar cientificamente a lógica por de traz do
Preconceito Musical. Ele se apoia numa argumentação de bom gosto estético, de
referencial europeu de música, ele se apoia ao vermos as instituições que foram
criadas para preservá-las, em seu interior.
Os grandes nomes da
música clássica européia ou erudita são valorizadas e tem seu lugar ao sol. São
mitos onde suas capacidades artísticas levam sempre ao sobre natural. Bem, como
os mecanismo ritualistas ou iniciação inseridos neste universo.
Uma prova são os
testes de aptidões. Uma analise das peças exigidas para ingressar na
universidade levam em questão apenas músicos eruditos. Pro mestrado e doutorado
a mesma coisa. Quando se fala em referenciais ou biografia de literatura
musical os referenciais são sempre na sua maioria de descendência européia.
O que é literatura
musical? É possível construir uma literatura musica negra. Já que a invisibilidade
é nítida. E obviamente isto prejudica a noção de literatura já que umas são
aceitas e outras não. No entanto pequenas rasuras vão acontecendo. Um exemplo é
ao verificar as cotas raciais em concursos públicos é possível que em pouco
tempo tenhamos negros na OSPA como
músicos na proporção de sua representatividade. No entanto, para entrar por
este sistema é preciso vencer com os preconceitos internos referentes as
escolhas dos músicos. E os negros e negras com a identidade bem resolvidas
poderam entrar nestes concursos.
Outro ponto
importante abordar são questões relacionadas a participação da orquestras em
arranjos de música popular. A representatividade de negros é ínfima, se
comparada com os locais em que estas produções de massa acontencem. Sempre os
músicos negros eruditos tem suas imagens relacionadas a percussão, Um exemplo é
Wilson prateado nos últimos anos sempre aparece falando de percussão, de ritmo,
tem seu valor intelectual erudito diminuído. Na medida que este foi um dos
responsáveis pela sofisticação teórica do pagode como gênero moderno de música
áfricana. Os arranjos, orquestrações ficam por conta dos pianistas. Sua
composições são tratadas como arranjos e não orquestrações.
A música erudita e
clássica para se manter como tal precisa ter suas bases atualizadas. Pois se
não corre o risco de sua atuação não ser mais justificada. Para tal será
necessária ela perder sua autonomia com vista ao bem comum e direito humano que
é a música. Se não fizer isto vai passar pra história como a institução cientifica
mais racista e resistente a transformações. Os órgãos do qual são filiadas são
públicos. E como bem publica devem trabalhar pela democratização dos seus
espaços e acessos igualitários. Mas é preciso saber que estas instituições
foram criadas num ambiente racista e excludente da nossa história do Brasil.
Por essa razão é
preciso a construção de uma nova literatura musical. Uma literatura musical,
feita por negros, para negros. Para que novos bases sejam construídas para fins
de uma sociedade justa e igualitária.
Este sonho é possível. O Brasil tem mudado e aos poucos a pessoas tem
enfrentado seus medos. Do diferente, da opinião diferente e saber que em
algumas questões o universalismo acadêmico é importante, mas particularidade
ainda mais. Nós precisamos construir uma educação musical e uma ciência da
educação musical mais humana e menos excludente, pois assim, ela será a
primeira a provocar mudanças de ordem fenotípica de seus quadros acadêmicos
tanto da discencia quanto na docência.
Para que o termo
Gueto não seja utilizado no sentido que vem sendo, como algo ruim pra educação
musical. E sim, como uma mostra de alteridade. E o direito a utilizar o
conhecimento humano que é a música. E poder escolher como fazer uso das
técnicas e conhecimentos musicais adquiridos através da história. Que não são
um patrimônio exclusivo de um grupo, étnico e sim, uma construção histórica.
Por que a “guetização” causa
tanto medo nos pensadores musicais.
A
música erudita frente a música popular no Brasil já mostrou que está derrotada
nas suas aspirações antigas de civilizar musicalmente o Brasil. Terras do
preto, de índios e mestiços.
E
isto se deve a um motivo bem simples. Ela não acompanhou o desenvolvimento e
luta pela democratização do acesso ao conhecimento. Por duas razões: A primeira
que o conhecimento e a cultura são dimensões que se ligam. E tem intima relação
e segunda por que os paradigmas de superioridade no qual suas bases foram
construídas já não tem mais sustentação teórica.
O
crescente aumento de negros nas universidades, a proliferação de projetos
sociais de música utilizando a percussão, o ensino que valoriza o oralidade em
detrimento da escrita musical, as novas legislações anti-racistas na educação
tem abalado profundamente a lógica dos estudiosos de música.
Sempre
houve uma preocupação das elites dominantes e das classes dirigente em educar
musicalmente esta nação. E várias foram as tentativas primeiros com os
indígenas, BUNDSHEN (2005) e depois com os negros e por últimos com as
periferias.
A
base epistemológica utilizadas para justificar o ensino de música nas escolas,
revela por traz a vontade de se acabar com praticas que a muito vem
prejudicando o silencio da escola. Como música alta de funk, pagode, rap, axé. Essa pratica dos
escolares sempre estiveram presentes fora da escola. Foram obrigadas a serem
incorporadas por conta de legislações anti racista e pelo direito a pluralidade
cultural prevista na nova LDB ( Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996.
No
entanto as bases de ensino e de valores musicais são racistas e preconceituosas.
Basta olhar o medo que as pessoas tem da cultura negra na escola. E o quanto
argumentam que está havendo uma racialização do currículo escolar, uma
desvalorização do universal ou da cultura universal.
Nesse
sentido é recorrente em textos acadêmicos o usos de termos como gueto. No
sentido pejoritivo chamado de guetização. O que este vocábulo quer dizer:
Gueto
é a origem de grupos etnos africanos que foram formadores da sociedade
brasileira e auxiliaram na construção deste país como nação. Guetização é
utilizada no sentido de isolamento de uma cultura. Ou seja, é o Brasil com medo
de si próprio. Vou mais longe. Este termo tem uma carga pejorativa e racista.
Pois datas como o dia da Consciência negra são utilizas nas sequencias de
termos guetização como exemplo.
Neste
sentido o medo é que uma educação musical genuinamente brasileira aconteça. Mas
por que a guetização causa tanto medo?
Acredito que é devido ao fato das pessoas das classes populares brasileiras se
apropriaram dos conhecimentos musicais e não fazerem questão de participar de
grupos de música eruditas e nem querer saber teoria musical da maneira como
esta é ensinada.
Este
termo é absurdo na medida em que o próprio PCN ( Parâmetros Curriculares Nacional)
trata o pluralismo cultural como importante para formação de jovens. Mas a
formação eurocêntrica dos professores formadores e que utilizam este termo não
consideram que a guetização é um direito a alteridade. Ou seja, se eu quiser
utilizar os conhecimentos adquiridos para fazer música para utiliza-lo no meu
cotidiano, para o meu grupo étnico
cultural é um direito que tenho a individualidade.
Dentro
desta ótica guetização é o que aconteceu com a música erudita que ficou
vinculada a praticas de dominação, de superioridade racial. Neste sentido o
termo Gueto é insificiente para designar históricamente aquilo que a
modernidade fez com a música erudita. Que ficou um saber restrito ao seu povo.
As nações africanas mostram que o conhecimento é um bem comum no que diz
respeito a música. Todos podem faze-los e de diferentes maneiras cantando,
tocando, batendo palma, fazendo sons com o corpo.
Ou
seja, é de guetização que nós precisamos na construção de uma sociedade mais
justa. Pois os próprios estudos da educação musical ao avaliar as comunidades
quilombolas, os grupos de rap, de funk e ao ir até os guetos cientistas e
acadêmicos mostra que a cultura africana é aberta. Já o mesmo não se dá quando
avaliamos o acesso a música erudita. Pra você participar precisa passar por um
ritual muito mais difícil nas universidade, na pos graduação no mestrado e
doutorado.
A
guetização é medo que as elites musicais tem de se abrir. De oportunizar o
acesso ao conhecemos e aos estudos musicais. O medo de ver negros e negras fazendo
música erudita novamente. Sendo referenciais para o seu povo. E aqui música
erudita é aquele música feita por negros que desvendaram as técnicas musicas e
aplicaram este conhecimento a música popular.
A
criatividade do Gueto que preocupa tanto e necessita de um termo para
condena-lá ao reducionista chamando de guetização. Foi a formação de gueto que
impediu que este pais entra-se em guerra
civil de negros contra brancos. Foi por viver em guetos que grandes nomes da
nossa música erudita como Moacir Santos, Pixinguinha e José Mauricio Nunes
Garcia viveram e não tiveram suas obras reconhecidas como portadoras de
identidade negra pela produção acadêmica.
A
guetização é boa para o país. Mostra o desenvolvimento da cultura local. Se um
batuqueiro quer aprender música erudita para registrar seus toques de tambor,
ou escrever arranjos e orquestrações para grupo de percussão. Isso é o sentido
positivo do Gueto se apropriando do conhecimento universal humano em nível
local.
Por
que os professores gostam mais do funk da antiga, do que do funk da atualidade?
Não
é difícil saber a opinião dos professores sobre as praticas culturais da
juventuda, em especial da juventude negra. Por tradição a juventude branca tem
seus ídolos bem definidos, pelo fato de ter principalmente influencia dos
gostos dos pais. Assim eles gostam de rock, Beatles, Ramones, Legião Urbana
entre outros. Sua cultura está alicerçada numa tradição dos ídolos. Pois estes
são referencias eternos de qualidade, de boa música, enfim, tudo que de mais
artístico que aconteceu na história da música e em especial a música
brasileira.
Já para a juventude negra que se transforma e
se ressignifica a cada geração, é quase impossível acompanhar os ídolos, pois a
cada geração estes mudam. Devido principalmente ao fato da cultura negra ser
dinâmica, ou seja, ela não para no tempo. Ela acompanha o desenvolvimento da
sociedade e atende as suas necessidade. Se a sociedade está mais critica, suas
músicas podem colaborar para elevar a criticidade, se sua vida está mais
sexualizada os vai expressar isso nas suas canções. Ou seja, é o mesmo
principio que nortea a religiosidade afrobrasileira. Que tem nas suas
característica atender as vontades e as necessidades dos seus fieis. Seja, para
bem ou para mal. Nesse caso a responsabilidade não é da religião, e sim, do
fiel que procura o serviço. A religião é mediadora entre os orixás e os seres
humanos.
Cada
vez, mais os professores tem se posicionado contra o funk, acreditando que
assim, interromperam o seu desenvolvimento. Com moral, com cultura, com bom
gosto. Praticas como funk carioca, não foram criadas para ser propriedade e nem
ficar parada no tempo. Essas são praticas abertas que possibilitam o novo a
cada momento.
Definir o funk é quase possível, pois é
impossível dizer certamente o que é. Por algumas de suas características,
podemos situá-los entre as praticas negras, nos entanto, se tivermos em mente a
cultura negra como algo parado no tempo, também esta definição não vale. Por
essa razão, que esta cultura juvenil tem alcançado cada vez mais um grupo maior
de jovens negros e brancos das periferias, pois ela dialoga com eles. Denuncia
suas vontades, seus anseios, seus medos, seus corpos, suas opiniões de uma
sociedade que a cada dia vem tentanto exterminar a juventudade naquilo que ela
tem de mais significativo que é a experiência do novo. Apagar os sonhos da
juventudade é apagar a possibilidade de mudar o nosso futuro, a nossa maneira
de pensar o mundo, de agir sobre o mundo, de dialogar com mundo e de mudar o
mundo, mas principalmente a nós mesmo.
Os
professores gostam do funk da antiga, numa época em que o funk da antiga nem
tinha este estatus de arte que tem hoje, para os mesmos professores. A saudade
que estes tem do funk da antiga, é a saudade do tempo que queriam dizer as
coisas, mas não podiam, não tinham a internet, seus desejos e sonhos ficaram
escondidos e hoje são expressos por essa geração funkeira que está ai.
O funk
da atualidade teve a coragem que gerações passadas não tiveram, coragem e nem
meios de dizer devido a várias ditaduras que reprimiram o jovem, e muitos
destes morreram, deixando um trauma nessas gerações. O entendimento do funk é a
possibilidade de superarmos isso. E nos sentirmos representados por essa
juventudade negra e da periferia tem de dizer o que pensa e sente, ao seu modo
e ao seu jeito.
O eu e outra música.
Em
música a canção e sempre vista como uma expressão pessoal do artista que as
vezes tem relação direta com vida do ouvinte. Estas relações com vida do
ouvinte, que faz com que as expressões musicais de matriz africana tenham uma
força tão grande no mundo. Todas elas têm relação direita com a realidade. Essa
representação musical da realidade é que torna a música negra tão importante no
mundo todo como fenômeno de massa.
Algumas
das razões são os fatos da identificação destes públicos com os artistas negros
nas suas idéias e performances musicais. Outro é a textualidade ou a poética no
qual os conflitos são apresentados, são resolvidos e aproximam o artista do
publico. Tornam o artista mais humano.
A
Grande dificuldade da música clássica além da textualidade em nosso país é fato
desta não ser portadora de texto que o aproxime do público. Necessitando assim,
de uma sensibilidade, de um conhecimento musical, de história dos compositores,
enfim, distanciam cada vez mais o público. Se a música clássica fosse tratada
como prazer de ouvir sons e de produzi-los com certeza haveria uma aproximação
com as pessoas comum, quando deixasse de tratar o outro (o ouvinte) como objeto.
Mas como sujeito de sua música junto com o artista.
A
música erudita sempre esteve presente e está nas produções cinematográficas e é
isso que a aproxima do público e a sensibiliza, pois vem carregado de imagem. A
emoção se dá nessa relação do símbolo com sua representação.
Só
se aprende a fazer música quanto somos capazes de ouvir o que o outro tem a
dizer. Quando aquela música nos transmite uma mensagem, não só textual, mas
também sonora, rítmica, corpórea, emotiva e até política.
Essas
dimensões são fundamentais para que a música seja vista com toda a sua
contribuição para o desenvolvimento da humanidade em suas particulares e
universalidades. Essa é a contribuição que o professor de música pode dar.
Ensinando o aluno a ouvir o diferente, buscando compreende-lo, colocando-se em
seu lugar.
Quando
o jovem entende que a música clássica é instrumental ou litúrgica, ele precisa
entender o contexto no qual aquela produção foi criada. Para tal, o educador
precisa entender e equilibrar a sua visão do outro, assim como pretende com o
aluno.
Por
fim na educação musical estamos vivendo uma crise na qual se precisa de
resposta para os grandes problemas nos quais o educador ou professor no sentido
tradicional precisa resolver. Se quiser conviver com o diferente na escola, ou
seja, com o outro. E assim, encontrar os pontos e convergências culturais entre
a sua formação e a do educando. Pois só assim será possível avançar e não dar
mais espaços para preconceitos. Pois, foi justamente o preconceito que afastou
a população negra da música erudita. Por acharem que não teriam sensibilidade
para entender a linguagem musical culta ou da elite. Essa foi uma maneira de
exclusão que teve reflexos até os dias de hoje.
Quando
olhamos concertos pela televisão e não enxergamos negros na platéia. Diferente
do que acontece na música popular. Parece que ali realmente há democracia
étnica. E outro, o ouvinte é respeitado, pois participa ativamente das
audições. Enquanto que na música clássica ou erudita o público é apenas um
objeto, não canta, não respira quase não se move. Quanto na cultura negra se
bebe, se come, se conversa enquanto se ouve e vê um artista. Pois sua presença
já é motivo de alegria. Sua arte é reconhecida, pois é esperada.
Por
essas e outras razões a música negra é a música popular brasileira, mesmo que
vários teóricos tentem modificá-la e dizer que não existe diferença, esta
diferença é visível esteticamente, fenotipicamente, historicamente, socialmente
e cotidariamente no Brasil. Sendo assim, beira a hipocrisia aqueles pessoas da
educação musical que tentam dizer que esta separação é coisa do passado. O que
é do passado é o preconceito musical.
Pois
o preconceito musical que impede a circularidade entre pessoas de diferentes
grupos étnicos musicais e culturais. Pois o hoje as pesquisas mostra o quanto
os estudos acadêmicos tem se voltado para compreensão da cultura negra. E o
quanto esta tem influenciado o pensamento da intelectualidade musical,
principalmente da educação musical.
Por
um razão bem simples, ninguém mais ousa dizer que a música negra, preta, de
massa, é música ruim. Pois ruim é um conceito relativo. E os direitos humanos
do outro em ser outro, ser diferente é um avanço da sociedade e do conceito de
civilidade moderna. Sem isso, não nos tornamos civilizados. Nos tornamos assim
quando passamos a entender a musicalidade do outro e somos capaz de
sensibilizarmos com ela. Mais principalmente de sermos solidários e tratamos estas
como formas de expressão artística.
Compreender
o outro é fundamental para compreender o eu na música. Mas principalmente não
basta apenas compreender outro é preciso praticar a ação do outro. Se
solidarizar corporalmente e intelectualmente. Só assim teremos a prova da
compreensão efetiva do outro e um
alargamento da compreensão de nós mesmos.
Por
um ensino de partitura coletivo na educação
O individuo, ele existe. Ele pode
se afirmar individualmente, mas ele não se afirma no isolamento, porque isso
tem a ver com a visão de mundo africana, onde o social tem mais prioridade
sobre o individual. MUNANGA.
Todos os trabalhos de
educação musical estão caminhando para o ensino coletivo de música. E não é
atoa que isto acontece. As grandes transformações que aconteceram na história
contemporânea da humanidade foram transformações coletivas. Isso é inegável.
Muitas dessas transformações tem em seu gene o componente individual como
motivador da coletividade. O individualismo levou o ser humano ao extremo que
quase extinguiu a sua espécie com as guerras do inicio do século. Elas deram um
exemplo até onde podemos chegar.
Atualmente na
educação musical estamos vivendo um grande conflito. Pois até bem pouco tempo a
música erudita, ou clássica era o fim de qualquer aprendizagem. Agora não,
novas perspectivas de aprendizagem musical vem se abrindo. E aquilo que até bem
pouco tempo era condenado pelos intelectuais da música, passou a ser a Tonica
de seu próprio ensino.
Cito como exemplo a
circularidade, a coletividade, afetividade, corporeidade africana que colaborou
com a cultura brasileira. Todas as tentativas e métodos de ensino que colocavam
a cultura negra e seu ensino como inferior, vem tornando-se alternativas
possíveis de respostas de ressignificação do ensino de música.
Até bem pouco tempo
ensinar música na escola era ensinar solfejo e os grandes clássicos da música
erudita. A música popular era vista apenas do ponto de vista do folclore. As
canções musicais urbanas produzidas não faziam parte dos currículos de ensino
de música.
Hoje pensar dessa
maneira é um retrocesso. Não aproveitar a musicalidade presente nas composições
de funk, pagode, samba, rap e hip-hop é um grande falta de sensibilidade
educacional. Assim a luta pelos direitos humanos passou a modificar os
programas de ensino de música, mesmo contra vontade de muitos teóricos da
educação musical tradicional.
No entanto o grande
problema que tem afastado a maioria das crianças do ensino teórico é o fato da
partitura ter esse aspecto de individualidade. Ou seja, sua aprendizagem está
relacionada apenas ao sujeito aprendente e não na sua relação com outro na
aprendizagem desta categoria. Todas as metodologias de ensino não levam a
dimensão coletiva de sua aprendizagem. Quando uma pessoa aprende a tocar
percussão ela é influenciada no momento de suas aprendizagem pela pratica de
conjunto em relação com o outro. No entanto o ensino de teoria musical não. A
bordagem apesar de ser expositiva por parte do professor requer apenas que o
individuo aprenda e não que o coletivo aprenda uns com os outros. Assim,
teríamos que mudar a lógica racional no
ensino da partitura para uma lógica
relacional.
Este ensino
relacional no ensino de música é que vai propiciar aprendizagem da partitura e
sua apropriação. Ou seja o saber com quem trocar aprendizagens, significados,
idéias, arranjos coletivos. Da mesma maneira que se aprende com a oralidade
vendo, ouvindo, observando. Assim também, deveria ser o ensino da partitura.
Para que está deixa-se de ser uma ferramenta insignificante para tornar-se
fundamental na aprendizagem da música. Acredita que o modo ocidental de
ensiná-la é que tem distanciado o negro de sua aprendizagem. E impossibilitado
um número maior de músicos eruditos negros em orquestras sinfônicas.
Se a partitura fosse
uma ferramenta fácil de se empreender, muitos músicos de formação européia
perderiam lugar para músicos negros. Pois a nossa história mostra que quando
este ensino foi ofertado como única possiblidade de ascenção social dos negros
durante o período da escravidão tivemos maestros negros neste pais e o mais
genial foi José Mauricio Nunes Garcia.
O medo que o negro
aprenda partitura é para muitos um dos grandes problemas em que a super
valorização da oralidade visa o afastadmento deste de algo no qual tem
capacidade. A oralidade ela é muito importante no ensino e avançamos neste
aspecto ao ver incorporada a cultura africanas no ensino de música no Brasil.
No entanto é preciso, mostrar a utilidade da partitura e na representação dos
sons, só assim é possível mudar quadro que esta posto onde quase não vemos
negros como maestro e regentes de grandes orquestras no Brasil e no Mundo. Mas
a áfrica é um grande exemplo que com pequenos recursos possamos fazer orquestras
maravilhosas. Como a orquestra sinfônica congolesa, um pais tão negro quanto o
nossso, mais pobre que o nosso, tem uma orquestra sinfônica formada por negros.
Enquanto aqui falar sobre isso é racismo. É separatismo. Na verdade a possibilidade de questionar o ensino
excludente e o status quo e a possibilidade de construção de uma orquestra
formada por negros, orqanizadas por negros, com repertório de negros
brasileiros ou afrobrasileiros é um sonho que se começa a construir, muito
lentamente mas já´com começa. Um exemplo é a orquestra Afrobahiana.
Tambor
de Classe
Uma experiência
musical inovadora em sala de aula.
Durante grande parte
da minha infância e da vida de muitos jovens a classe é aquela amiga
inseparável da experiência de qualquer aluno, seja ele da educação básica, da
graduação ou da pós. Ela nos acompanha é a nossa companheira, é onde largamos
ou guardamos os nossos materiais, é onde subimos, rabiscamos, utilizamos como
cola, colocamos chicletes nelas, namoramos enfim, nossa atividade humana esta
impressa nessa figura que muda a cada ano, mas é sempre a classe. Mas tem um
momento que ela mais nos incomoda, pois é quando um professor bate na mesa para
chamar atenção do aluno. Este som, deixa uma marca profunda na memória dos
alunos. Grande parte deles já viveram esta experiência principalmente nas
séries inciais. Outro fator que colaborou para a idéia foi o fato deste instrumento
musical estar ali ao olhos dos professores e não ter sido utilizado utilizado
por estes para desenvolver música. Ou seja, se faz música com tudo, menos com
classe. Parece que esta é um lugar sagrado, inviolável e mantenedor da
estrutura tradicional da escola com
classes enfileiradas, quadro verde e giz. A primeira ação ao utilizar o
Tambor de Classe foi a disposição não em fileiras, mas em círculos. Esse foi
o começo de tudo um nova concepção e uso desse objeto sonoro que é a classe.
Logo que entrei como
professor nomeado do estado, percebi aquele novo desafio de iniciante, mesmo
tendo mais de 10 anos trabalhados com percussão em comunidades de Porto Alegre em ONGs. O que fazer? Como
ensinar música?
Então lembrei
daquelas experiências sonora da professora, a experiência sonora dos ritmos de
tambores afrobrasileiros, a batida do sopapo com as duas mãos e a liberdade de
poder criar música sons a partir dos objetos do ambiente.
Todos consideravam a
música como fundamental na escola. Neste sentido, minha atividade se somaria a
vontade de levantar a auto estima da escola marcada por atos de vandalismo e
violência. Assim ao mesmo tempo que a minha ida para escola Eva Carminatti era
para humanizar, no sentido aqui de possibilitar novas praticas educativas e culturais
com os alunos, ao mesmo tempo dava-me a responsabilidades de atender as
necessidade musicais desses. Neste sentido a minha experiência musical em
projetos sociais com percussão foi fundamental
para o entendimento dos ritmos e gostos musicais dos jovens.
Num primeiro momento
pensei que aquela intitulada por mim, como Tambor de Classe justamente por possibilitar a sonoridade em
conjunto dos tambores que os alunos não se interessariam, no entanto foi o
contrario, os jovens foram se entusiasmando pela musicalidade, alguns buscando
as melhores classes para buscar sons mais graves. Alguns aspectos psicológicos
como agressividade, euforia e timidez começavam a aparecer na maneira de tocar.
Improvisação, apreciação, criatividade, execução, estavam ali juntos e até
literatura musical. Na medida que é impossível falar de tambor sem falar de
história da música, dos ritmos funk, do pagode, do rock. O uso de celular para
buscar sonoridades, os ritmos e executá-los no tambor de classe. Aliou a
tecnologia com a tradição sonora do tambor, bem como gravações ao vivo das
aulas.
Logo no retorno do
ano letivo de 2013, percebi a grandeza da experiência quando os alunos me
disseram enfim, uma aula legal. O que eles estavam querendo dizer era enfim uma
aula diferente. E fui tendo um olhar mais atento, trabalhando dinâmicas,
figuras e valores musicais, partitura não tracional. Mas o que mais me chamou
atenção foi a expectativa dos alunos com a minha chegada e entrada nas suas
aulas. E o quanto aquelas sonoridade ecoavam em outras salas. Percebi então que
o prazer de vir a escola para muitos estava de volta. Escola como um espaço de
alegria . Esta escola do século XXI que
temos que construir.
Fazer o tambor de
classe é uma maneira de chamar atenção para necessidade de investimento em arte
na escola. O tambor de classe é voz daqueles que querem ser ouvidos pela
sociedade, pela escola e pela comunidade. É uma maneira de dizer vocês não nos
vêem mas nós estamos aqui, fazendo música, colocando na ponta dos dedos e na
palma da mão as nossas emoções, os nossos medos, buscando vencer preconceitos,
pois temos a necessidade humana de se sentir desejado, respeitado, valorizado.
E queremos uma escola melhor. Quem sabe do nosso jeito, mas queremos uma escola
melhor.
Acredito que a experiência
começada nesta escola colabora para repensarmos a escola como um todo. Uma
escola criativa.
Mais que um pratica
musical contemporânea o Tambor de Classe alia a tradição musical afrobrasileira
e africana de buscar sonoridade nos objetos do meio ambiente. A valorização
desta pratica é importante e motivadora para falarmos sobre preconceito
musical, sobre racismo, sobre as diferenças na nossa sociedade. Por que existe
formas eruditas e clássicas de se fazer música, como eram vistas estas praticas
musicais do africanos e dos indígenas.
Acredito que está experiência musical de as bases de uma
pedagogia musical genuinamente brasileira. Alicerçada na realidade e no
contexto cultural de cada escola e colocando em pratica a lei 10.639/2003 sobre
a cultura negra e afrobrasileira na educação em nosso país.
Por
um nova gênese no ensino de música.
Tanto faz ser chamado
de educar, professor, monitor, facilitator ou oficineiro o mais importante
contribuição que este profissional pode dar para educação é através da sua
pratica. E é esta que quero discutir neste texto. Propondo uma reflexão sobre
qual o modelo de profissional da música que deveríamos ter de uma maneira mais
especifica na escolas públicas e de periferia das grandes cidades e qual o seu
papel neste novo modelo de sociedade e de paradigmas educacionais que estamos
vivendo.
Não é de hoje que a
música faz parte do cotidiano da escola. Está sempre esteve presente nos hinos,
nas letras cantadas pelos professores de história, de religião de uma maneira
mais formal, nos cantos corais de antigamente quando a música fazia parte do
currículo escolar e também informalmente na cabeça dos alunos, ao bater na
mesa, ao escutar nos antigos headfhones, nas festividades dos grêmios
estudantis, do círculos de pais e mestres, enfim a música sempre rondou a
escola e nela esteve presente.
No entanto,
atualmente com a obrigatoriedade do ensino de música na escola como disciplina
obrigatória, mas não exclusiva, traz uma questão importante, que é que ensino
de música queremos? Quando esta pergunta é feita é colocada na 1° pessoa do
plural, ou seja, nós. No entanto a pergunta deveria ter sido formulada na 3°
pessoa do plural. Ou seja, que ensino de música, eles ou elas os alunos e a
comunidade querem?
Essa mudança do nós
para eles é de fundamental importância na mudança de paradigma da educação
atualmente. E a música faz parte deste contexto de transformação. Aquela visão
da educação musical como pratica civilizatória no sentido que as elites
culturais ou classes de prestigio usam. É
importantíssima entender que a educação musical que os alunos querem é
uma aula de música que dialogue com seus gostos, com suas m musicalidades,
corporeidade, singularidades, diversidades musicais.
Nesse sentido o
profissional da música precisa se conectar com a comunidade, com a realidade
dos alunos, precisa ser a voz daqueles grupos discriminado, precisa mostrar as
convergências, lutas sociais por espaços de reconhecimento de cada grupo.
Precisa estar atualizado sobre as musicalidades dos jovens. Esse é o sentido
deste agente na escola. Um professor trancado numa sala, com suas partituras e
com suas aulas bem planejadas teoricamente não faz mais sentido. O que esta
escola que esta ai precisa é de profissionais que façam diferente, que
construam as suas próprias metodologias, suas próprias teorias sobre os
fenômenos musicais que o cercam na escola e fora dela. Essa ação é que
afetivamente é transformadora, e faz as atividade, aulas ou experiências com
música serem efetivamente prazeirosas. Se não fizermos isso, corremos o risco
da aula de música ser mais uma aula chata.
Neste sentido a
experiências musicais com educação antiracista é fundamental, pois ela descola
o eixo do educador e abala a sua noção equivoca sobre a pratica musical popular
do outro. Pois todos sabemos que é ensino formal de música que impera nos
cursos de formação de professores.
No entanto pesquisas
dos últimos 10 anos vem trazendo a tona praticas musicais em projetos sociais
com uso de percussão, formação de grupos corais, praticas em casa de religiões
afrobrasileiras que tem contribuído na educação, na mudança de olhar destas
praticas como algo folclórico e reducionista, para uma visão de ensino, teoria
e pratica alicerçada numa outra maneira de se aprender. Ou seja, através da oralidade
e da informalidade.
É esse caminho sem
volta que estamos vivendo agora na sociedade brasileira, não dá mais para
proibir os celular em sala de aula, não dá mais para ser preconceituoso com os
gostos musicais dos alunos ou educandos e educandas. Precisamos de pessoas,
profissionais com mentes abertas para nova realidade, buscando não modificá-
las, mas fazer parte delas. Em conjunto com os alunos, ao seu lado, não na
frente e nem atrás do lado afirmo. Se fizermos isso, não seremos atropelados
pela indiciplina, nem pela falta de respeito, nem pela violência dos alunos, e
sim, traremos uma contribuição enorme para uma pratica que tão importante para
a escola atender seus objetivos educacionais que é promover a diversidade, a
pluralidade e a busca de sentido ao estudar, ao pesquisar e tornas a escola um
espaço de construção de saberes.
Essa possibilidade é
a grande contribuição para perdemos a formalidade, que tanto tem prejudicada o
ensino de música e no qual os alunos das periferias não querem em sua maioria.
Pois o professor de
música que os alunos precisam é aquele que quer aprender aquilo que ainda não
sabe. E a educação musical urbano, anti racista tem contribuída para isso, por
essa razão cada vez mais pesquisadores e professores de música tem se utilizado
da cultura negra e popular como forma de se libertar das amarras da música
tradicional, utilizando dela aquilo que esta pode contribuir e retirando da
mesma seus aspectos perversos, distantes e superiores e civilizatórios
empregnados na sua gênese. E assim construir uma nova gênese de educação
musical mais humanizadora, plural, diversa, aberta, dinâmica enfim, que atenda
a nova sociedade em que estamos vivendo ou fazendo parte dela.
O
funk da escola pra rua.
A lógica do funk é
diferente da lógica do hip-hop, por uma única razão são de matriz africana. É a
matriz africana que aceita o contraditório, o diferente, o antagônico. Nunca
este tipo de visão de mundo pode ser único ou aniquilar a contradição, pelo
simples fato de ser uma cultura aberta e dinâmica. Que não busca a coerência
interna, que está a serviço da sociedade. Como todas as praticas musicais e
religiosas africanas estão a serviço do fiel, ou seja, ele faz oque quiser com
ela, a responsabilidade é sua pelas decisões que venham a tomar.
Nesse sentido é que
temos observado o uso que se tem feito da música negra no Brasil. A industria
tem se aproveitado deste caráter aberto, e mais e mais grupos tem começado a
abrir os olhos para o quanto praticas comuns foram consideradas, antagônicas
por outras, suas diferenças criaram status de superioridade. Nesse sentido o
capital, mais uma vez ganhou ou pelo menos vinha ganhando. Hoje percebe que
esta visão era equivocada, quando compreendemos o dinamismo e quanto a cultura
musical africana sempre esteve ao nosso serviço, mudamos o olhar. O olhar de
matriz permite perceber as diferenças, pois por mais que achamos que algo é
igual, não o é, porque é portador de uma singularidade única, mas que
simbolicamente tem aspectos comuns.
Um caso típico é o
funk, primeiro entrou o rap saiu das ruas e começou a invadir as escolas,
depois no embalo, o funk aproveitou a deixa, no entanto, este encontrou espaços
e leis mais rígidas com as tecnologias neste sentido que ele se proliferou da
escola pra rua. Pois a escola não é um espaço para corporeidades. E enquanto o
rap em sua poética textual é mental, o
funk em sua poética é corporal. O funk é a contestação não com a palavra
exclusivamente mas com o corpo. Nesse sentido, que ambos se completam, e podem
ter a capacidade de se somarem na luta antiracista, pois ambas musicalidade
sabem o que é preconceito musical.
Por fim o funk saiu
da escola, ganhou as ruas, becos e vielas, e tem cada vez mais se expalhado
pelo Brasil, pois não teve um espaço acolhedor ao ser introduzida ao querer
pegar o embalo do rap. Pois basta perguntar se um professor gostaria de ouvir
um racionais MCs ou um Mr Catra. Este vão buscar o primeiro enquanto a maioria
dos jovens vai preferir o segundo. Sempre foi assim na história da nossa
pequena música brasileira. Pois temos menos que 10 anos de tradição da
valorização da música popular na escola. Mas acredito que daqui a alguns anos
comece a voltar. Pois a lei 10.639/2003 é um marco na educação ao reconhecer as
culturas africanas contemporânea como formadora da sociedade brasileira no seu
modo de ser, sentir e agir. E o funk voltará.
O que é afinal educação musical.
Definir
um objeto de pesquisa em qualquer área não uma das tarefas fácil. O pesquisador
precisa primeiro definir seu objeto de pesquisa. Nos dias de hoje devido as
mudanças tecnológicos e a variedade de métodos de pesquisa e
interdisciplinariedade de alguns estudos fica cada vez mais complicado.
Grande
parte deste fenômeno se deve ao os estudos fraguimentados que esqueceram a
totalidade do ser humano e sua capacidade de relações entre as parte. Por essa
razão que temos cada vez mais estudos mais compartimentados. No entanto, o
pesquisador atente deve saber relacionar o seu objeto de estudo com outras
áreas quando estas não são o suficiente para explicar os fatos e fenômenos nos
quais pretende explicar.
A educação musical num primeiro momento buscou
se identificar com algumas áreas da educação. Essa área da educação
objeviamente foi entendida apenas na sua relação com a música, em particular
com a teoria musical. Assim, esta área das ciências da educação passou a ter
como objeto de pesquisa como a criança aprende música. No entanto, o olhar no
Brasil ficou restrito aos fenômenos como apreciação, composição, técnica e
execução. E um dos temas mais importante como literatura ficou de lado. E
carente de estudos, por uma simples razão que estes fenômenos que envolvem a
literatura são assunto de etnomusicologia e da sociomusicologia.
Esse
silenciamente em relação a história da música e sua verdadeira fácil ficou
apagada dos estudos da música. Por uma simples, razão esta área precisava se
fortalecer como área importante da educação. Mas o que é educação musical? Para
que educamos musicalmente? E para quem educamos musicalmente?
Essas
são perguntas que na maioria da vezes levam junto a importância da música como
disciplinadora do corpo e elevação da alma, a música é uma linguagem universal,
ela faz bem para o ser o humano, para sociedade e para as pessoas. Mas há um
grande problema nestas falas que é a concepção de música que o individuo tem e
a sociedade tem.
Uma
das questões que tem me provocado é se podemos considerar a o funk como música,
o pagode como música, o rap como música e esses terem os mesmos status musicais
da música clássica e erudita. Obviamente que não. Por uma razão simples nossa
educação musical é muito miupe, ou seja, ela considera como educação apenas a
música européia. E esse é seu fim. Todos os meios de educar musicalmente levam
em consideração parâmetros da música ocidental européia. Sendo assim, o
professor de educação musical é formado para educar ou preparar o individuo
para lidar com o som e sua complexidade, mas no fundo a intenção é prepara-los
para escutar, tocar, ler, interpretar, avaliar e consumir a música européia,
onde ela esteja mais presente.
A
minha critica é que a educação musical que temos hoje visa desenvolver no
educando competências que tem o fim último a música na sua dimensão de grande
arte. No entanto acredito que precisamos
pensar numa educação musical plural e verdadeira com a história da música. Seja
ela oriental ou ocidental. Estamos vivendo um momento de profunda crise, onde
um novo modelo de educação musical precisa ser posto. Um desses modelos seria
uma educação musical que atenda as necessidades das comunidades pobres e das
periferias.
E
qual a necessidade destes jovens. Primeiro é uma educação musical que os
prepare para produzir, criar e elaborar as suas músicas. Um teoria só tem
sentido se puder ser aplicada na pratica. E ai entra uma grande variedade de
problemas que passamos ter com essa educação musical, que não é mais a
tradicional, mas a atual que está desatualizada. Como escrever e falar do
porque do preconceito musical, do porque da dificuldade de encontrar uma
escrita musical que atenda a linguagem rap, funk e pagode.
Ou
seja, precisamos desenvolver uma educação musical que atenda as necessidade do
povo e não as nossas necessidades. Isto fica claro quando vemos o orgulho que
um professor tem ao saber que um de seus alunos passou no vestibular de música,
que toca numa orquestra, que está fazendo regência. Mas o orgulho de tem um
aluno fazendo funk, rap, pagode ou participando de grupos em escolas de samba é
a nossa principal dificuldade. Porque estas praticas musicais históricamente
não fazem parte dos currículos de história da música. Pois este currículo é
eurocentrico, mesmo na educação musical contemporânea e sempre foi assim. É
assim que ainda está nas maiorias dos livros didáticos de música.
Precisamos
urgente mente repensar a nossa educação musical e o quanto ela está impregnada
de racismos e preconceito. Isso só se combate quando somos capazes de criticar
a nossa formação, os nossos mestres, doutores que não foram capazes por
aceitação ou não de criticar e atender a realidade da nossa formação musical e
as mudanças da realidade da educação musical Brasil e no mundo.
O
que precisamos é uma educação musical que se desenvolva localmente e
possibilidade fazer rupturas ou rasuras no modelos impostos pelas classes de
prestigio da educação musical e pela seu bom gosto estético. Se fizermos isso
saberemos realmente o que é uma educação musical verdadeira. Pois esta
que está ai esta muito longe da realidade. Parou no tempo.
A
inércia através da observação
A inércia também atua
no campo do saber através de sua ação dinâmica através do símbolo. Um aluno que
está parado, não participa da aula ativamente, não quer dizer que não está
aprendendo. Ele aprende pela via da observação, esta assimilando, seu cérebro
esta ali produzindo relações nas quais eu não tenho condições de saber, mas de
perceber pelo olhar, se está gostando ou não, se sente vontade de participar e
se por alguma razão não participa. Enfim, é essa acuidade visual da
aprendizagem que o professor precisa ressignificar, pois apenas se considerou
nas analises musicais o sujeito que atua, que dramatiza, que expressa a sua
arte e a sua vontade. Aquele ser que está ali,
é pouco estudado. Pois é justamente este ser que interessa. O mesmo se
dá com o espaço. Se analisa sempre os espaços constituídos na educação musical,
como por exemplos escolas de músicas, projetos sociais, faculdades,
conservatórios, escolas no entanto existe uma aprendizagem que não se dá nestes
espaços. Mas se dá nos intervá-los entre uma coisa e outra, na rua, na praça, nas
conversas, nos shows, nisto ainda a educação musical está carente de estudos
pois pelo que parece isso não é o seu objeto de estudo. No entanto são a partir
destes espaços é que se irá construir o músico.E toda a sua bagagem musical não
está na formalidade e sim no cotidiano. É ele que dá a base sólida para o
músico, que procura nas suas relações com a música fortalecer laços, contados,
entre outras atividades relacionadas a música como produção e consumo. Sem este
entendimento caímos sempre na mesma maneira de tratar a música como uma
construção de dom e de talento.
A incorporação por parte de professores de
praticas musicais cotidiárias de educação musical é que possibilita uma
aproximação com o aprendente de música. É justamente esta capacidade de relacionar
os sons da sua vida com sua música que tornou a cultura negra tão importante no
desenvolvimento da criatividade nas escolas ONGs, isso se deve grande parte aos
estudos educacionais relativos a
população negra, sua dificuldade de acesso a educação, sua particularidade, seu
modo de aprender alicerçado na oralidade, na expressividade, coletividade,
circularidade, enfim vários valores afrobrasileiros, que durante tanto tempo
foram negados pelas classes de prestígios, hoje estas mesmas classes com seus estudos
se apropriam de conhecimentos que não são nada novo. Mas apenas legitimas por
filhos de intelectuais desta mesma classe que outrora considerava aquelas ações
culturais como lixo cultural.
Esse embargo que
levou a literatura negra a ser esquecida, e nem ser considerada como literatura
é mais uma prova que cada vez o
pensamento e o modo de ser africano contribui para a educação.
E esse olhar começa pela observação, ele foi
oi mecanismo principal que vem com que negros que foram arrancadas e seqüestrados
de suas terras pudessem se relacionar com o diferente, com o branco e com o
índio. Foi na observação que tivemos a construção de uma cultura oral que se
penetra na nossa cultura a cada dia, que se incorpora, que influencia e é
influenciada, por que é dinâmica. É justamente essa capacidade de observação
que faz a criatividade da musicalidade negra no samba, no rap, no pagode, no
funk e que historicamente este em todos os gêneros musicais do Brasil e do
mundo. Essa marca é impossível tirar. Pois na ausência de estruturas que
possibilitem o desenvolvimento de uma cultura a observação daquilo que o outro
faz é a possibilidade de aprender e criar em cima o novo. E esse caminho é sem
volta. Pois a observação é a chave de qualquer experiência, resistência e existência
possível ao ser humano.
Porque
não existe escolas de música nas periferias
A mais de 20 anos
atrás quando consegui o meu primeiro salário como lavador de carros, me lembro
que me inscrivi numa escola de música no centro de Porto Alegre. O movimento
desgante de ter que ir até o centro, pagar por uma aula na qual a minha cultura
não estava ali representada, pois os professores eram rockeiros e eu queria
aprender samba, sua levada, seus ritmos e a teoria musical também. Me levou a
desistir de continuar os estudos formais em música. Naquelas
aulas tinha tudo, menos o que eu queria. Os professores dominavam a matéria,
porém não existia uma motivação para continuar. Procurei uma escola de música
justamente pelo fato de já ter feito oficina no Campo da Tuca no Galpão de
reciclagem. Naquela época eram mais de 10 jovens que queriam fazer música que
tocava no rádio e que estava nas paradas de sucesso. Me lembro que era uma
época influenciada por grupos bahianos e axé music estava em alto. Tinha banda de
axé tocando direto nas paradas de radio, pessoas dançam, desciam até a boquinha
da garrafa. Naquele tempo o axé representou o que hoje é o funk para os jovens
das periferias. A critica era mesma, música sexualizada, de baixo calão, música
pobre, de mal gosto. Enfim, por ter vivido esta experiência com a música baiana
que é possível para mim compreender a linguagem funk.
Primeiro porque sou
da periferia, nasci dela, sou fruto dela e da política pública para jovens da
periferia através da cultura. Após concluir a faculdade de música e voltar os
meus estudos para o fenômeno do preconceito musical, percebi o quanto que ele é
atuante e está localizado ao espaços territoriais em Porto Alegre. Devido
principalmente as escolas de música. Um exemplo é procurar no google o local
das escolas de música. A maioria está localizada no centro de Porto Alegre.
Isso quer dizer que o jovem que quer estudar música acaba tendo esse direito
publico negado. Pois não é ofertado no seu entorno escolas de música. A maioria
das escolas que existem nas periferias estão relacionadas aos projetos sociais.
Sendo assim, o ensino individual, privado, técnico é impossibilitado. Com a lei
da música nas escolas foi democratizado o acesso a linguagem musical. No
entanto aquele ensino que prepara para o vestibular de música das UFRGS, para
os cursos de mestrado e doutorado ainda não temos. Isso mostra o quando a
educação musical elitista ainda é um mal no qual precisamos erradicar neste
pais. Pois a música em qualquer dimensão é cultura, e como cultura e fazer
artístico é um direito de todos. Abrindo mais escolas de música na periferias
teríamos a possibilidade de um inclusão maior de jovens, de adultos, idosos
debatendo música, criando música, apresentando música, enfim, utilizando todas
as possibilidades no qual a música nos oferece como saber humano. Neste sentido
que sou a favor das escolas de música Pública, financiada pelo cultura pelo
estado como uma política de inclusão. Pois não podemos continuar a mercê de
projetos sociais, a maiorias deles temporários e com incentivo da iniciativa
privada e com duração de um ano ou no máximo dois. Precisamos de escolas
públicas de Educação musical permanente. Ofertada para pobres, pessoas que não
podem se deslocar até o centro. Um exemplo é oque a prefeitura de Porto Alegre
está fazendo ao democratizar o ensino de teoria musical onde existe uma oficina
especifica de leitura de Partitura para comunidade de Porto Alegre nas
periferias. Apesar de poucos oficinas atende um público interessado em
participar desta. Que lê e escreve música com músicos oriundo da cultura
popular. Isso mostra o quanto esta política inclusiva precisa acontecer para
democratizar o saberes musicais construídos historicamente.
Novos
agentes musicais e territórios
Nesse momento
histórico de afirmação do ensino de música em todo o país como fruto de
políticas públicas é importante pensarmos na educação musical e suas relações
políticas, sociais, econômicas, ideológicas, jurídicas e espaciais, para se
poder compreender o fenômeno do preconceito musical. É possível localizar e
fazer um mapeamento das áreas em que se situavam as escolas de música na
antiguidade, na idade media, na renascença, no classismo, no romantismo, na
modernidade e na atualidade. É preciso localizar os locais em que se situam e
quais as razões que fundamentavam as suas escolhas. Se uma educação musical
fosse realmente a vontade das elites, estas escolas estariam situadas em
comunidade pobre? Com baixo poder econômico? Com nível cultural baixo?
Pertencentes a classes sociais mais baixas? A relação jurídica que estes
músicos tinham com o poder na preservação de suas obras?
Localizar onde estão
situadas as escolas de músicas da iniciativa privada, onde estão localizados os
professores de música do estado, do município, onde situam as orquestras
sinfônicas, os locais que dão seus espetáculos, as viagens, tornes, é
importante para se compreender a questão da geografia espacial da música. Pois
se analisarmos a fundo os espaços construídos em projetos sociais com educação
musical foi um movimento da periferia das zonas de baixo poder econômico,
social, jurídico, mas que se apropriou do espaço geográfico e impôs seus
padrões culturais onde o estado não tinha poder de atuação. Como os terreiros
de candomblé, as casas de religião, as escolas de samba em território com baixo
poder econômico, no entanto com poder cultural que proporcionaram a manutenção
da música como espaço de saber.
As políticas públicas como os Pontos de
Cultura espalhados pelo pais potencializaram com recurso manifestações
culturais, especificas destes agentes culturais da periferias. Obviamente que
estas políticas na medida em que atendem aos interesses de valorizar a cultura
local não hegemônica possibilitou a inserção de novos agentes sociais que antes
não participavam dos debates em música e suas principais políticas. Sendo
assim, é impossível compreender como uma educação musical, foi influencia por
estes novos agentes sociais e o quanto os novos estudos voltados para educação
musical não levam em consideração esses novos agentes. Vindos das periferias e
como resultados das políticas publicas.
Nesse sentido em
alguns aspectos como a valorização do profissional com notório saber atuando em
projetos sociais recebem uma grande critica em relação aos que tem formação de
nível superior em
música. Justamente pelo fato desses novos agentes não terem
força para se impor e nem argumentos suficientes para fazer sua defesa de o
porque suas ações como educadores musicais são importantes para escolas
públicas das periferias. Pela sua linguagem musical, mais próxima do real estes
agentes são desvalorizados nos seus saberes musicais. Assim ficam impedidos de
exercerem a profissão de professor de música de uma maneira formal. Nesse
sentido que é possível perceber o quanto a educação musical é elitista na
medida em que grande parte da intelectualidade nunca olhou com bons olhos
aqueles agentes ideologicamente comprometidos com a transformação social do
Brasil com respeito as diferenças e pluralidade de idéias e concepções
pedagógicas.
Os dados provam a
carência de profissionais de música com qualificação de nível superior, mesmo
sabendo da falta de profissionais não se assume a necessidade de incorporação
daqueles que não tem formação acadêmica nos quadros de profissionais da música,
prefere-se critica-los, analisar suas falhas e não propor políticas públicas de
inclusão. E muito menos exigem do estado a responsabilidade em fornecer a
formação em música para estes publico. Obviamente que sabemos que é muito
perigoso por partes das elites da educação musical assumir estes riscos pois
teriam que flexibilizar seus cursos, rever suas teorias, suas metodologias e
técnicas de ensino. E mostrar a perversidade da educação musical através da
história, pois os ideais românticos da educação musical, como potencializadora
do amor, do belo e do culto em música pelos estudos de outras áreas de saberes
acadêmicos que tratam da musica, já foram a muito tempo quebradas pelos estudos
da sociologia, da antropologia e mais particularmente da educação.
Assim, pensar no
território ou espaço onde a música acontece com seus aspectos inclusivos deve
ser fundamental para transformação efetiva dos quadros de educadores musicais
ou professores de música no país, bem como a participação de novos agentes que
possibilitam pela diversidade de olhares sobre o que é ensinar música, para
quem e para que uma ampliação do horizonte até então desconhecido, e visto com
muita ressalva pela intelectualidade música e com um olhar critico sobre si
mesmo.
Porque
é tão difícil colocar o funk (corpo) no currículo escolar.
A escola sempre foi
um espaço de dominação de saber, hierárquico e que condenou o corpo em todas as
suas dimensões. Desde do começo das primeiras pedagogias com os pensadores
iluministas a preocupação era tornar a escola
como um espaço de preparação à sociedade. Nesse sentido que se justificaram a escravidão dos negros, dos
indígenas e educado-los para os valores cristão e aos interesses das classes
dominantes sempre foi seu fim. Mesmo que no interior, houvesse resistência em
não aceitar a opressão e a dominação européia, a cultura sempre foi uma forma
dos povos que sofreram deixar registrados na memória de seu povo, com lendas,
mitos, canções, danças, artesanatos e outros artefatos seus questionamentos
sobre a existência, a fé e a identidade.
Essas marcas deixadas por essas populações
sempre se mantiveram apagas do currículo escolar e quando tiveram seus espaços
representavam uma visão histórica distorcida e não alicerçada na ciência e sim,
na ideologia dominante e dominadora.
Essa foi visão que
atravessou gerações e que ainda continua em voga. Mas o que é afinal
preparar para sociedade? Que tipo de sociedade estamos falando tentando
preparar os alunos? Para uma sociedade que trabalhe com as diferenças ou uma
sociedade cada vez mais preconceituosa, racista, homofóbica e sexista?
Essa é uma escolha
que se impõe atualmente na educação e principalmente na educação musical. Se
por um lado alguns estudos mostram o quanto o corpo e movimento são importantes
para aprendizagem musical (BUNDSHEN, 2005; KEBACH; 2008 e PRASS, 2009). por
outro nunca se definiu de qual corpo estamos falando. Nem se ao se falar em
corpo abarca as praticas corporais da sexualidade na história da nossa música,
como o lundu, o samba, o batuque e mais atualmente o funk fazem parte desta
categoria.
Este debate quando se
começa está permeado de questões morais e ideológicas. No entanto para se
chegar a um ponto comum é necessário entender as transformações nas quais a
sociedade está vivendo. Essas transformações tem exigido da escola uma papel
conservador e que não acompanha o desenvolvimento social, tecnológico, cultural
e acima de tudo dos direitos humanos em todas as suas dimensões.
Um exemplo clássico é
que a escola tem o direito de colocar câmaras para filmar o cotidiano dos
alunos, porém os alunos não tem direito de filmar o cotidiano da escola, da
sala de aula, do pátio, das brincadeiras. O aumento da criminalidade se dá
principalmente devido a falta de capacidade da escola de conseguir dialogar com
o jovem principalmente. Este representa sempre o perigo. A juventude sempre foi
alvo principal das sociedades e expressam suas não concordâncias com os padrões
vigente, pois querem fazer parte dele. Querem dar opinião, querem ter espaço de
escuta, são anti-moralistas, mudam de opinião quando são confrontados com ela e
expressam isso de várias maneiras. Um delas é brigando, agindo
preconceituosamente, com violência, bulling, racismo.
Essa ausência de
espaços de mediação de conflitos passa pelo debate sobre o corpo. É o corpo do
jovem que vem sofrendo, e esse corpo resiste a todas as formas de opressão.
Além disso, a falta de perpectiva de ter atendidas os seus gostos musicais
esbarram na legislação de proibição do celular em sala de aula, na proibição de
músicas funk, na proibição de danças sensuais ou que expressam a corporeidade,
espaço para discussão sobre sexo e namoro, sobre problemas familiares que tanto
afligem os jovens. O resultado de todo este caldo é um completo turbilhão de
porquês sem respostas convincentes. Uma delas é essa, se lá fora pode, porque
aqui não?
A resposta dos
professores é que a escola não é clube. E certamente não é. Mas deveria ser.
Por duas razões: a primeira é que um clube atende as necessidades dos seus
sócios. Se me associo num club de natação, obviamente que quero ter os serviços
de poder tomar banho de piscina, ter aulas com professores especializados, mas
principalmente aprender a nadar. Se a escola fizer o mesmo que os club atenderá a sua função
principal que é o saber e conhecimento. A escola tem sido mais cadeia, do que
club. Tem preferido mais o primeiro.
É essa a questão
central e quebra de paradigma no qual a escola tem que passar para evoluir e
tentar a não ficar tão defasada em relação a realidade. Pois estamos muito defasado
em matéria de direitos no ambiente escolar. E o pior é que parece que falta
coragem por parte de professores, educadores e gestores de lidar com isso. Lá
fora o jovem pode filmar e colocar suas observações nas redes sociais, lá fora
ele pode dançar, cantar, beijar, namorar e se divertir, lá fora tudo pode, e a
escola como templo sagrado, religioso e guardião do saber. Que a final de
contas está super bem guardado, pois são poucos os que realmente aprendem e se discute essa realidade mesmo sabendo os
motivos da não aprendizagem. Os alunos não aprendem por uma razão simples a
falta de capacidade da escola de dialogar com a realidade. A escola prefere se
omitir dessa questão.
Séculos de
escravidão, de ensino tradicional, de metodologias tradicionais estão
enraizadas na escola. Qualquer modificação no currículo é vista com péssimos
olhos, principalmente por aqueles que tem uma visão conservadora de escola e
excludente. Lei como a 10.639/2003 completou 10 anos e sua bases são
desconhecidas, justamente porque mudam o currículo e qualquer mudança ou visão
nova abala o velho, o arcaico, o tradicional, pois esse quer se manter,
enquanto o outro quer inovar, atualizar e essa falta de atualização impede a
possibilidade de se pensar uma escola da diferença ( SANTOS, 2004). Uma escola
alicerçada na atualidade, que dialogue com o corpo, com mente, com alma, com
conhecimento, com o amor e com a alegria. É essa escola utópica que queremos (
FREIRE, 1996). Uma escola que uma dança funk, seja uma representação, uma encenação,
dramatização e ludicidade da cultura jovem e negra (LOPES, 2011) e não tenha
aquela representação de coisa do demônio, de lixo cultural. Uma escola da
diferença e uma educação musical-antiracista são fundamentais nessa abertura.
Para que possamos aos poucos aceitar a nossa cultura como portadora de
identidade, de valores, de atitudes, de conhecimentos que não estão na mesma
dimensão moral de nossa educação formal eurocentrica, que impediu de olharmos
para nós mesmos( brasileiros) com admiração ( MUNANGA,GOMES, 2006). Obviamente
que um pais marcado por genocídios culturais ( NASCIMENTO, 1979) e ditaduras
guarde um medo do novo, pois novo representa sofrimento, dor, falta de
liberdade. O que precisamos é enfrentar esse medo, se não superarmos estes traumas
psicológicos sociais ( CURY,2009) ficaremos paralisados e certamente todos
continuaram evoluindo e a escola continuará a mesma com uma fileira atrás da
outra, com a contenção dos corpos, e as aulas de música servirão apenas para
desenvolver funções cívicas e música que atenda ao gosto estético musicais
(SOUZA, 2008) não dos alunos e sim dos professores que sentem saudades do canto
orfeônico.
Em
busca do reconhecimento, mas com as mãos cheias de sangue.
Os modos de produção
do homem sempre estiveram ligados com os modos do ócio. Na medida em que se
produzia mais, havia uma necessidade maior para o descanso. Neste caso para as
populações africanas o descanso não se da dormindo, mas comemorando a
colheitas, as chuvas ou seja a abudancia. Por essa razão a música tem uma papel
fundamental na união do grupo. Pois o trabalho musical depende desta cooperação
entre as pessoas. Ele representa esta felicidade após um dia de trabalho e
noite que serve para comemorar e agradecer ao orixás e deuses por este dia.
O estranhamento dos
povos colonizadores europeus com as culturas musicais que aqui estavam e depois
chegavam não permitiam entender como conseguiam tanta energia para comemorar
após um dia de trabalho. Vários são os relatos de viajantes que se surprendem
que mesmo com o dia exaustivo negros e indígenas tiravam forças para cantar e dançar, enquanto
em outros lugares após um dia de trabalho as pessoas descansavam na noite.
A arte se desenvolve
na medida em que as necessidade básicas fundamentais são atendidas e obviamente
o excedente possibilita segunda Santos (2004) que trabalho intelectual,
artístico, artesanal encontrem um mellhor clima para desenvolver-se. Nesse
sentido que o desenvolvimento musical da europa se dá em momento de profundas
revoluções históricas nas relações de produção e que possibiliou para uma elite
um tempo maior para fazer arte.
Se acompanharmos o desenvolvimento da música
grega, na idade média, na renascença, no modernismo e na atualidade as
transformações nos modos de produção influenciaram também as artes e de uma
maneira especial a música. Mas não podemos esquecer que grande parte do
desenvolvimento musical que outrora se teve com a música se deu em um momento
de isolamento e de saque de pessoas, gentes, corpos africanos e indígenas e da
exploração da mulher para que se desenvolvesse aquilo que temos orgulho de
chamar de bela música.
Essa mesma bela
música tem as mãos cheias de sangue na sua trajetória, foi financiada com base
na exploração econômica, cultural e social de populações que tinha concepções
diferentes de arte. Uma arte total e não fraguimentada.
Esses resquícios de
cooperatividade na música tinha que ser apagado nas novas formas de relação com
a arte, por essa razão estas populações são até hoje vitimas do preconceito musical,
enquanto o músico erudito ou clássico vivia diurnamente de seu trabalho, o
músico popular vivia norturnamente do seu. Por isso o lundu, samba, pagode, o
rap, o funk desenvolvem-se noturnamente, longe dos olhos das elites, nas
periferias, morros, vilas e favelas. Uma arte que vive de trabalha de dia e
vive de noite. A desvalorização do músico deve-se a essa trajetória da arte
como ócio. E este ócio não é visto como portador de valor, principalmente para
cultura erudita, letrada, ocidentalizada, em outras sociedade como africana ser
músico representa um status elevado, no mesmo patamar de reis e rainhas.
Com isso é possível
entender, que a música sempre foi um caminho seguido pelas populações negras
como forma de ascenção social. As elites culturais no Brasil sempre tiveram
isto bem claro, na medida em que impossiblitaram o acesso do negros aos cursos
superiores de música, aos mestrados, doutorados na área. Porém estamos vivendo
um momento em que a democratização do saber cientifico passou a ser um direito
humano. As bases e justificativas que outrora se justificavam e se sustentavam
hoje não se sustentam mais, pois a história e o espaço tem mostrado o quão
distante estão financeiramente os músicos populares e os eruditos. Os populares
com formações básicas da noite, do autodidatismo, da internet e os eruditos com
formações de nível superior exercendo seus ócios criativamente, e em muitos
casos tocando música popular brasileira, ganhando altos cachês por conta de
suas erudição.
Enfim, a produção
cultural, bem como a criação artística são elementos fundamentais para
compreensão do porque da desvalorização da arte no Brasil. Uma arte
inicialmente feitas por negros, indígenas, que deixaram suas marcas de
resistências nos espaços musicais por onde passaram e a vontade daqueles que descendem dos
colonizadores de ao fazer arte ser valorizado.
Esta preocupação de reconhecimento pela seu fazer musical é um objeto de
estudo que deve ser melhor analisado,
pois ao que me parece sempre foi uma necessidade das elites e seus
filhos que ao fazer arte querem se diferenciar dos africanos e dos indígenas
que fizeram a arte pela arte, e não como um fim econômico.
O compromisso que devemos
assumir.
Devido a complexidade
cada vez maior e a ampliação dos direitos humanos, lidar com a diversidade
passou a ser fundamental num mundo moderno e globalizado. Exige-se de um
profissional, principalmente os da educação, uma capacidade de articular
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores importantíssimos para o convívio
em sociedade. Nesse
sentido que um ensino laico colabora para que a educação não caia nas mãos de
fundamentalistas religiosos que acabam vendo na educação uma maneira de impor
sua doutrina a todos os seguimentos da sociedade.
Deste que os jesuítas
foram expulsos do Brasil, e o ensino deixou de ser função da igreja e passou
para as mãos do estado, tivemos vários avanços. Alguns deles foi o fato de não
haver a necessidade do ensino religioso alicerçado apenas na religião católica.
Mesmo que na pratica, a religião católica fosse dominante no interior da
escola, mesmo assim, representou uma ação importante, na medida em que um
ensino laico proporcionou ao professor a possibilidade de poder trabalhar a diversidade
de religiões em sala de aula.
Considero que a
partir da lei 10.639/2003 o ensino de artes passa a ser um marco na história do
Brasil, na medida em que esta proporciona através de lei a inserção nas aulas
de artes, a religiosidade, os valores, os modos de ser, de pensar, de agir e de
interagir africanos, afrobrasileiros e indígenas. Essa lei é um reforço a um
ensino laico na medida em que diz que a diversidade de temas étnicos deve ser a
tonica de um mundo moderno, e somente quanto todas as religiões, formadoras da
sociedade brasileira tem seus espaços no currículo escolar é que caminhamos para
um mundo real, onde várias cores, gostos, maneiras e modos de ser humano
convivem.
Não é atoa, que está
lei surge, ela vem em um momento em que o ensino de arte e religião era marcada
única e exclusivamente pela religião crista, mesmo a após a laicização do
ensino. Essa lei surge, pois os legisladores e o estado brasileiro assumiram o
caráter a racista da educação. Se a educação não fosse racista, obviamente não
haveria a necessidade desta lei.
Mas e o professor que
tem uma religião, tem que abandonar a sua para poder trabalhar com a
diversidade religiosa? E como fica o professor de música ao lidar com religiosidades
dos alunos?
Como não existem
respostas prontas, penso que na medida em que o professor assumiu um compromisso
com o estado e com a erradicação do racismo e preconceito racial, sua única
alternativa é assumir a contradição interna entre a sua religiosidade e a
aquela que o estado espera que desenvolva em sala de aula. Ou então abandonar a
sua profissão ou religião.
Ao assumir a
contradição, neste caso dolorosa à pessoa que tem uma religião que historicamente sempre viram a musicalidade
negra como algo do demônio, do mal, do não civilizado, do primitivo esse
profissional da educação tem que conseguir evoluir espiritualmente na sua fé,
na medida que, mesmo esta tendo que lidar com a diversidade, não perde a sua
função individual e espiritual para o
professor.
Se o professor fizer
isso, dará uma contribuição enorme ao país, ao proporcionar um ensino diverso,
plural e humano. Caso o professor, por posições religiosas e doutrinarias
assuma a sua religião e negue as outras ele presta um deserviço a nação. E
assim, uma política anti-racista não se efetiva, fica apenas na lei e na
retórica. O mais importante é a pratica. Quanto mais pesquisador for um
professor, mais laico ele será, e mais fortalecida ficará na sua fé, pois conseguirá
lidar com o diferente, com o pensamento diferente do seu ao entender como pensa
a religião do outro que não é a sua.
Para o professor de
música que lida com a religiosidade, mais que qualquer outro campo ou
disciplina, sua tarefa é muito mais importante, na medida em que, a expressão
da religiosa tem como veiculo principal a música. Assim, um professor de música
que assumi sua função de pesquisador, e pensador das várias formas de religiões
existente no Brasil acelera a possibilidade de num futuro próximo, construir
uma manifestação artística e musical na escola que seja, a expressão do que
realmente é o povo brasileiro.
Esta tarefa é uma das
que cabe no ensino de arte, em especial, nas aulas de música. Enfrentar esse
desafio é colaborar para uma educação musical antirracista e oportunizar aos
povos indígenas e negros espaços para expressão de suas religiosidades, com o
mesmo valor e espaço que é dada as religiões de matriz européia, como a
católica e mais atualmente a evangélica. Pois podemos ser religiosos e ao mesmo
tempo sermos laicos. Podemos ser coerentes com a nossa fé, mas sermos coerentes
com o compromisso que assumimos ao nos tornarmos professor.
Ao nos tornamos
professor temos que ser pessoas diferentes, abertas, a realidade, aos avanços
da ciência, da tecnologia e do pensamento humano. Ao nos tornarmos professores,
educadores, mediadores, ou no nome que for do profissional que trabalha com a
educação assumimos um compromisso com história desse país. O compromisso de
torna este pais melhor para todos aqueles que aqui convivem, independente da
religião. Um país que assuma a sua condição diversa, plural e singular no
mundo. Uma educação efetivamente para todos, sem preconceitos e que nos
possibilite olhar a religiosidade do outro como parte da história da nossa
nação e não apenas como parte da história do outro. Esse é o compromisso que
devemos assumir.
A
importância dos multirreferenciais
Antigamente eu
pensava que era importante para educação musical o conhecimentos sobre a
história da música erudita negra no Brasil. Isso devia a falta de referenciais
negros que não encontrava na literatura musical da europa. Ou seja, todos os
referencias de música clássica são brancos. Então eu me perguntava várias
vezes. Mas não pode ter havido um negro em mais de 300 anos de música clássica
na europa, sendo que se sabe a importância que a música era dada nesse período?
Enfim, estas questões foram evocadas
principalmente devido a necessidade que a comunidade negra no Brasil tem de
construir referenciais. Vários séculos de escravidão não nos permitiram
conhecer e desenvolver uma história que tenha sido alvo por parte de
intelectuais, principalmente os responsáveis pela educação musical. O que eu
quero dizer é que, nunca foi uma necessidade procurar um Mozart Negro, um Bach
Negro ou outro negro que tenha tido tanta importância quantos estes grandes
nomes da música européia.
Esse minha
preocupação surge a partir do momento em que encontrei algumas respostas as
minhas inquietações. O que sempre procurei foi multirreferenaciais. Mas o que
significa isso? Multirreferenciais é um conceito que diz respeito que a formação
humana ela se dá na medida em que não existe apenas um único referencial, mas
vários.
No meu caso, não tive
apenas um referencial negro, que me auxiliou na minha formação. E sim vários.
Isso é importante na medida em que existiu durante grande parte do tempo em que
fui educar uma necessidade e uma responsabilidade de me tornar referencia. Eu
não percebia que era importante trazer ao educandos várias referencias. Pois é isso que fará a diferença em sua vida.
Nesse caso não falo de música e sim de fenótipo.
Ao poucos fui
percebendo também a carência de referencias de negros nas universidades, como
professores da rede de ensino de música etc. No entanto, o que a juventude
negra carente de referencias precisa é de multirreferencias negros em todos os
campos da educação musical, da literatura musical, da composição musical, da
música erudita, da música popular. Se não se fizer isso, nos próximos anos ou
décadas de nossa educação musical em todos os níveis continuaremos correndo o
risco de não trabalhar com esta dimensão que os jovens necessitam, principalmente
o iniciante em música de multirreferenciais, pois estes são capacidade de
oportunizar um leque de escolhas ao iniciante negro (a) na música e nos estudos
acadêmicos.
Por exemplo na música
popular, na música de massa estes referenciais já existem, no entanto na música
clássica, erudita e acadêmica não . Pode-se contar nos dedos de uma mão os
personagens principais da música clássica brasileira ou erudita. Arrisco dois
José Mauricio Nunes Garcia e Moacir
Santos, e também colocaria neste patamar Pixinguinha. Obviamente que estas
definições ferem os cânones e conceitos de música clássica e erudita. Mas
acredito que as próximas pesquisas acadêmicas irão encontrar na história
músicos eruditos negros contemporâneos e até no passado na medida em que haverá
necessidade reformular conceitos se quisermos construir uma educação musical
antiracista.
Uma educação musical
que aposte no futuro e possibilite a construção no presente destes referencias
acaba sabendo a importância de seu papel histórico na arte, na cultura e na
música brasileira. Meus multirreferenciais foram sempre na música popular os
cantores da escola de samba, minha mãe, meu pai, minha avós, os cantores do
rádio, os cantores de rap, de funk, de pagode. E mais atualmente compositores
negros de música erudita negra Brasileira. E foi a partir do conhecimento de
músicos eruditos negros que pude buscar o equilíbrio, ainda desigual com a
música popular.
Algumas pesquisas
minha sobre a estréia da peça O imperador Jones dirigida por Abdias do
Nascimento em 1945, já trazem informações de uma orquestra formada por músicos
negros. Assim como também, mostra o acesso que os músicos negros tinham ao
conhecimento teórico musical. Num período em que o ensino de música tinha a
teoria musical como seu principal veiculo da cultura eurpopéia. Ao ver as
imagens do livro O griot e as muralhas (2006) uma autobiografia de Nascimentos
organizada por Ele Semong poeta e amigo de Abdias fiquei impressionado ao ver naquelas
fotos um maestro organizando e lendo a partitura junto com a cantora lírica
negra que iria fazer parte do espetáculo.
Fiquei mais uma vez
convencido da importância da história da música e da literatura musical estar
apoiada na lei 10.639/2003 com vista a conseguir acrescentar a educação musical
do país uma contribuição histórica que ajude a reformular conceitos em voga que
já não consistem com a realidade, com a luta, com a história e com a participação negra tanto na música
popular, quanto na erudita, clássica e nos espetáculo de teatro. Pois quando as
orquestras estavam começam a perder a sua pigmentação negra em seus conjuntos,
vem Abdias do Nascimento e propões uma produção musical, teatral, corporal e
histórica que tem relação direta com os estudos em música, em que negros são
protagonistas.
Acredito que os multirreferenciais
são importantes para reparar um dano histórico e a violência cultural sofrida
por aqueles homens e mulheres negras que participaram da música de bom gosto
estético e que não fazem parte do currículo do livro didático de música.
Provocar a abertura do currículo é levar em consideração a participação negra
em vários campos do saber humano e música clássica e erudita é uma delas.
Repensar é preciso
Com os avanços das
ciências modernas e o fim das certezas absolutas, quando o homem passa a ser o
centro do universo,e quando se descobre que a terra não é o centro do universo
isso causou um terremoto nas noções de sociedade, de ser humano, de cultura e
de história. É esse o momento pelos quais estamos passando.
Trago essa informação
a educação musical pelo fato de ter observado a certezas das pessoas em relação
aos seus estudos sobre educadores musicais. Há ainda no mundo maravilhoso da
música uma visão de que as grandes metodologias sobre educação musical estão
fora do país com os pensadores da primeira, da segunda e até da terceira
geração.
Todos os educadores
são brancos, todos vieram da europa, dos estados unidos e do Ásia. E a África
não entra neste circuito? Será que a visão de música dos griot africanos não
teriam muito mais a colaborar com a nossa realidade educacional, alicerçada na
oralidade e não na escrita?
Então como se faz
para ler partitura? Ora, parece que com educadores musicais aquilo se tornou um
segredo guardado a sete chaves.
Se brinca com os
sons, se movimenta, se usa a ludicidade, enfim, mas criar uma pedagogia que
auxilie a educação musical e as crianças a ler partitura não está presente
naquela educação musical das gerações em que já citei anteriormente. Todos
falam da importância de tudo na música, menos da partitura. É ela que deveria
ter sido objeto de estudo da educação musical. Me parece que o único a aceitar
este desafio foi Lucas Ciavata com o Método do Passo.
Aqui é importante
fazer uma justiça a uma pessoa que foi a professora Cristiane do IPA quando ela
me apresentou o método do passo em uma de suas aulas, fiquei completamente
enlouquecido, pois já via naquela metodologia a influencia africana e
afrobrasileira. No entanto, o que me deixou irritado foi o fato da professora
não ter falado isso. Então, tomei uma atitude provocativa em relação aquilo e fiz
a critica do método. Foi neste ponto, que eu e a professora tivemos um
incidente em que ela achou a minha fala tendenciosa, simplesmente por
desacreditar o seu método de trabalho. Mas eu não estava desacreditando O Passo,
e sim, a sua leitura sobre ele.
Me lembro que tive
uma coragem imensa, pois todos da turma ficaram surpresos com a reação da
professora. Tivemos uma conversa na sala com a diretora do curso, nos
reconciliamos, mas concerteza ela aprendeu e eu também.
Mas o que aprendi com
ela? Aprendi que deveria ter escutado mais, ter percebido onde ela queria
chegar antes de fazer a critica. Precipitei-me e ao mesmo tempo quis
reivindicar o direito de ter a cultura negra reconhecida como metodologia no
ensino de música. Quando comecei a buscar maiores informações sobre o método de
Lucas Ciavata percebi a grandeza de sua proposta. Inovadora para educação
musical brasileira. Minha critica maior era ter entendido o método como uma
alternativa para não utilização e compra de instrumentos musicais por parte do
poder público. Era nesse ponto que eu queria chegar com a professora.
O que penso é que
métodos como O Passo são muitos bons, pois atendem ao interesses das classes
dominantes em que não vêem a necessidade de se investir em estrutura, em
materiais para o ensino de música. Pelo simples fato que podemos aproveitar os
métodos ativos ou novos para ensinar música.
Cada nova proposta
que vem sem material, essa lógica dominante é reforçada. Assim acredito que
fica cômodo para os governantes e secretários de cultura. O que estes tem a
fazer é apenas contratar o Lucas e dar uma formação sobre o método e o problema
está resolvido. Não se precisa mais comprar instrumentos e nem investir um
centavo em transformação do espaço escolar para desenvolver música.Qualquer
método é importante, desde que ele possibilite a utilização em instrumentos
formais. O método de Lucas é importante se ele permitir que eu melhore ou
desenvolva meu desempenho de leitura musical. De nada adianta o método, técnica,
ou seja, lá o que for que não atenda a esta finalidade.
Nós precisamos
entender que qualquer proposta é um caminho para desenvolver a criatividade
musical. Uma educação musical verdadeiramente brasileira foi inaugurada com a
proposta de Lucas, se esta vier acompanha de política pública no setor podemos
ter num futuro próximo grande nomes da música erudita, popular e de massa que
aprenderam a partir desse método. Acredito que a resistência e o reducionismo, em
cima do método do passo, nas universidades privada e pública se deva ao caráter
transformador que esta proposta tem. Uma proposta que mexe com a gênese da
educação musical, e traz a pratica da rua, da escola de samba, do terreiro de candomblé,
dos grupos de funk, de rap, das danças indígenas para aula de música.
A coragem da Kith de
fazer isso, mesmo sem saber a grandeza afrobrasileira que o método traz é que
importante. Pois a todo tempo esta pedagogia estava aqui e precisou um Bahiano,
com certeza de descendência africana apresentar uma proposta dessa magnitude.
Que é o que de melhor apareceu na educação musical brasileira desde a sua
fundação. Espero que o criador da proposta tenha consciência disso. E o quanto
a resistência ao método é a resistência e a não aceitação da nossa própria
história como nação e a criatividade do nosso povo negro e indígena que ajudou
a construir este país.
Evangélicos
e a homosexualismo uma questão de música e religião.
O ataque nos quais
negros no mundo todo sofrem, é agravado quando estes são de religiões afrobrasileiras.
E aqui vale uma resssalva importante que sempre esteve fora dos debates. Quais
a principal religião do país que acolhe homosexuais?
O Brasil vive um
momento de profundas tranformações em seus corpo legislativos que representam o
avanço do pensamento moderno e contemporâneo em questões que por concepções
religiosas ficaram de fora do debate, mas que em algum momento terão que ser
enfrentados. E a hora parece que é agora.
Sempre foi a vontade
das elites intelectuais desse país acabar com as religiões afrobrasileiras e
impedir qualquer tipo de direito que estes possam ter. Primeiramente pelo fato
de representar aquilo que consideram de mais primitivo na humanidade o culto ao
orixás. Assim, o sincrotismo buscou aniquilar com o tempo a religiosidade africana
e indígena com a intenção aos poucos os
negros perderem suas referencias religiosas afrobrasileiras, assim como a dos
indígenas, no entanto, o que estas elites culturais e religiosas cristas não
esperavam era a possibilidade de mesmo com a adoração aos santos católicos que
os negros pudessem manter suas religiosidades. Foi justamente o que aconteceu.
Ao mesmo tempo, o negro acabou se incorporando e modificando a propria
religiosidade crista.
Quando perceberam o
erro que tinham cometidos aos elites brasileiras apoiadas pela ditadura militar
incentivou a vinda de imigrantes para o Brasil. Obviamente que vieram para
muitos protestantes que eram mais radicais que os católicos, quanto ao culto e
as imagens. Assim, a primeira coisa, era atacar no interior das religiosidade
afrobrasileira, ou seja, o culto as imagens.
A igreja evangélica
se caracteriza profundamente pela não adoração de ídolos. Ora se você tirar os
ídolos, as imagens das religiões africanas você liquida com elas, com seus
cultos primitivos. Mais uma vez, mesmo que não sabendo a força da religiões de
matriz africana esqueceram que através da musicalidade, da corporeitadade, da
circularidade os valores africanos permanecem. E isso que aconteceu. Hoje
podemos perceber o quanto a influencia africana mudou os cultos evangélicos
desde sua fundação no Brasil. Temos musicas gospel de todos os tipos com funk,
com rap, baião, pagode, samba, frevo, axé, enfim, a musicalidade afrobrasileira
adentrou nos cultos, shows e atividade rituais dos evangélicos. Aqui vale
chamar atenção, principalmente para neopentencostais, que são igrejas mais
abertas. Mas mesmo as pentencostais são na sua maiorias e as protestantes
mantem modificações sutis. Mais o termo evangélico diz respeito as religiões
que tem uma base doutrinaria comum.
Agora chego no ponto
central e debates que ganham a atualidade, principalmente depois de um deputado
evangélico ter sido nomeado para presidência da Comissão de Direitos Humanos.
Nesse debate a questão principal é fato dele ser racista, por dizer que os
negros descendem do mal, e por não aceitar o casamento com pessoas do mesmo
sexo. Neste dois casos o racismo e sexismo andam juntos. Mas representam a
cultura de religiões de matriz africana uma afronta que fere todas as
conquistas de direitos humanos realizadas pelo movimento negro Brasil. Fere a
própria constituição. Que diz que ninguém poderá ser discriminado por cor, sexo
ou religião. A mesma constituição que todos chamam de cidadã, permitiu que
tivéssemos numa comissão uma pessoa com tal pensamento. O pior ainda é com base
em fundamentação teológica. Mesmo que a base não tenha cientificidade. É mais
fácil no começo da humanidade o sinal que deus colocou em Caim ter sido branco,
do que negro. Pois a anterioridade da pele negra no mundo já foi comprovada, e
o ser humano branco é uma mutação genética. Mas deixo estes detalhes para os
biólogos. Pois a espécie humana é uma só.
A proibição dos
casamentos entre pessoas do mesmo sexo representa uma tentativa de
aniquilamento das religiões afrobrasileiras. Pois como todos sabem, enquanto
outras religiões excluíram homosexuais as religiosidades africanas acolheram e
deram poder a estas pessoas em grande parte de seus cultos. Essas mesmas
pessoas que tem direitos, que pagam impostos, que comem, que bebem, que ajudam
no desenvolvimento do país, tanto econômico quanto cultural, pois atendem os
excluídos da sociedade. Essa religião deve ter garantido aos seus membros os
direitos que outras religiões também tem.
O debate ficou
deslocada, justamente por que se entermos que a questão é racial em todas as
suas dimensões. A proibição é crime a constituição que condena o racismo. O
debate gira entorno apenas da questão da sexualidade. Quando na verdade o
buraco é mais embaixo. Nesse sentido, que é impossível esperar que alguém das
religiões de matriz religiosa européia concorde com o casamento entre pessoas
do mesmo sexo, ou melhor gay, ou melhora ainda que as bichas, as monas tenham o
direito garantido de igualdade garantido por lei.
Na inglaterra o
casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado, mesmo com a revolta em
massa dos conservadores. A legalização representa para os conservadores aquilo
que nunca toleraram que é a revolta dos negros, negras em busca de sua
alteridade e dignidade humana, roubada por mais quase quatro séculos no Brasil.
E a educação musical tem que ser contra o racismo, o sexismo e a homofobia, ao ser laica colabora para
humanidade.
Olhar
para próprio umbigo e levar uma umbigada.
O Brasil sempre foi
resistente em olhar para o próprio umbico. Por duas razões: a primeira é que o
umbigo da gente é sempre feio, o bonito é o umbigo dos outros. Nesse caso os
outros são as propostas pedagógicas do estrangeiro e a segunda é nossa
dificuldade de olhar para nós, ao nosso redor, a nossa volta, enfim, ao nosso
interior.
A classes dirigente
sempre acharam o povos europeus mais civilizados em todos os aspectos. Na
educação então, lá fora é que realmente as crianças aprendem. Pois nossa
população daqui apesar das inúmeras tentativas continua sendo analfabeta e
fracassando em todos os níveis escolares.
Dessa maneira, os
poderes só passaram a olhar para interior na medida em que começaram através
das universidade perceber os estudos relativos a aprendizagem humana e as
razões pro fracasso escolar. Um dos primeiras ações foi perceber que as pessoas
aprendem de maneiras diferentes e que estas aprendizagens estão relacionadas ao
contexto histórico e cultural no qual o ser humano vive.
Por essa razão as
pesquisas realizadas em projetos sociais desde o final de década de 80
possibilitaram entender como crianças pobres, negras e indígenas aprendem.
Nesse sentido, a música se tornou uma das principais ferramentas de
aprendizagem. Os acadêmicos que desde então passaram a pesquisar estas praticas
perceberam a contribuição enorme que estas poderiam dar para a educação.
Assim as legislações
anti racistas surgem a partir das praticas e experiências acadêmicas realizadas
em projetos sociais, e muitas vezes no turno inverso do da escola. Por isso,
propostas como Escola Aberta, Mais Educação e um ensino público integral surgem
da necessidade de tornar a escola um espaço acolhedor da diversidade étnica, de
gênero e de orientação sexual.
Este modelo de escola
é influenciada a partir do momento em que se percebeu que a formalização, a
padronização das aulas não é o melhor caminho para que se aprenda. Cada vez
mais as intelectuais estão certo que um ano é insuficiente para aprendizagem de
uma aluno, que o melhor é trabalhar por ciclos, desenvolver competências
fundamentais para convívio social, estratégias eficazes no ensino e na
aprendizagem.
No caso da música as
pratica musicais afrobrasileiras e indígenas, são consideraras como ritmos
brasileiros. Como se todos os ritmos brasileiros fossem iguais. Pois antes de
falarmos em ritmos nós precisamos falar da suas historicidades, identidades,
sigularidades. Podemos considerar as musicas feita na festa da uva como ritmos
brasileiros? Obviamente que não, então porque os ritmos africanos e indígenas
quando incorporados a educação são chamados de ritmos brasileiros. Mais uma vez
é a resistência de olharmos para o nosso próprio umbigo.
Contudo ainda sim,
existe pessoas que pelas suas maneiras atualizadas de ver o mundo a partir das
pesquisas feita lá fora e algumas aqui dentro já incorporam e começam a olhar
para si mesmo, ou seja, para o próprio umbigo.
Os projetos
realizados em aldeias indígenas, em quilombos, em escolas de samba, e terreiros
de candomblé, nos grupos de pagode, de samba, nos bailes funk, enfim, nos
espaços chamados pela academia de informais. Possibilitam uma experiência que a
muito vem sendo questionada por nossa educação que é qual o tempo de
permanência na escola.
Os espaços fora da
escola tem uma gama de aprendizagens muito mais significativas, prazerosas que
a escola. Por isso, eles aprendem. Sem um processo formal de avaliação, ainda
sim, são mais eficazes na transmissão de saberes. Uma prova disso, é que a
linguagem indígena está viva e atuante em suas comunidades, mesmo com todo o
processo de genocídio que sofreram, o mesmo com as musicalidade africanas nos
terreiros de batuque e candomblé.
Todo o africano e
seus descendentes e os indígenas e seus descendentes tem a noção de tempo muito
mais justa nas suas aprendizagem, pois todo tempo está se aprendendo. Ao analisar
as observações em projetos sociais com música, se percebe este viés que o
ensino é continuo. Essa experiência de tempo, deve ser incorporada pela escola.
Pois lá fora e alguns estudos mostra isso.
Alem do mais, a
responsabilidade por um ensino de qualidade passa pelo fato de que todos nós
temos oportunidades de aprender e aprendemos coletivamente, uns com os outros.
Nisso, os projetos sociais, vem influenciando o pensamento da escola
tradicional e do dirigentes e dos sistemas educativos. Pois as realizações
feita fora do muro da escola, hoje vem sendo incorporada nos vários projetos
financiados, tanto pelo poder público quanto pela iniciativa priva.
Por fim, acredito que
quanto mais olharmos para realidade a nossa volta, como aprendizes musicais, mais
contribuição dares a sociedade com nossa pratica e experiência educativa.
Possibilitando construir uma educação genuinamente brasileira, pois as soluções
para os problemas da educação sempre estiveram aqui. Mas faltou coragem de
vencer preconceitos e assumir a nossa condição de povo diverso com modos de
aprender negros e indígenas, inclusive na música.
Sistema
Nacional de Cultura um avanço: A música como simbolo, como cidadã e como
economia
A música sempre
esteve a serviço da sociedade. Nas sociedades primitivas ela servia como
símbolo importante para relação com os rituais de iniciação, guerra, festas e
cortejos. Isso possibilitou o desenvolvimento da música nas suas diferentes
dimensões tanto no corpo, quanto na mente. As imagens nas cavernas deixam evidentes
a funções que a música ocupava. Os objetos desenhados representavam sons.
Tambores, marretas, martelos, pedras e movimentos que nos indicam uma cultura
musical. Além disso, achados de tambores de diferentes tamanhos, tudo isso
colaborou para o desenvolvimento da música. Depois venho a sua função religiosa
na idade média. Com relação com o divino, como meio de ligação entre o homem e
deus nas religiões católicas, protestantes no ocidente, no oriente, os cânticos
ao Buda, Mantra e nas religiões árabes e
africanas os cantos a Alá, aos orixás, enfim, os símbolo era a relação com a
religiosidade, nele estão contidos os valores da música a sua importância para
o individuo e para a sociedade.
Já a noção de
cidadania, é possível perceber que a música sempre foi um direito, pelos menos
nas sociedade ocidentais, que não era universal. Apenas os mais talentosos
poderiam exercer a atividade musical. Na Grécia antiga as aulas de música
faziam parte do currículo, porém não eram todos que tinham este direito. Com o
desenvolvimento do ocidente o mesmo aconteceu na idade média a música ficou
restrita a igreja, como detentora do poder juntamente com o estado. Ela se
torna um direito muito recentemente no período de nossa historia, a partir da
revolução industrial e mais atualmente com as legislações no mundo todo sobre a
educação musical.
Já do ponto de vista
da economia, a música sempre teve relação direta com esta. Os griot, os
menestréis, os mestres capelas, os maestros, os professores de música, os
regentes entre outros durante toda a história da música sendo ela ocidental ou
oriental sempre tiveram relação direta com a economia. Por uma razão muito
simples, o músico assim como qualquer outro trabalhador é um ser humano. O fato
de este fazer arte não o coloca em situação de vantagem, perante outro ser
humano qualquer, pelo contrario, sua sensibilidade o torna mais frágil de
todos, por este não ter sua arte reconhecida economicamente.
A história recente do
ocidente mostra que o fazer música era coisa de preto, de escravo, pois os
espaços de prestígios eram formados por doutores, advogados, políticos, entre
outros, ser músico, especialmente no
Brasil era uma atividade quase exclusivamente feita pelas camadas mais
vulneráveis economicamente, exceto obviamente a música erudita, a partir de
século XX.
O negros e seus
descendentes deixaram um patrimônio cultural imenso, mas não tiveram sua
valorização. Hoje seus filhos e descendentes lutam pela dignidade que nunca foi
reconhecida.
O governo brasileiro
ao colocar a cultura popular, cultura erudita e cultura de massa, no mesmo
valor social para o Brasil, visa pagar com política públicas o dano que causou
aos negros e músicos pobres desse pais, que com um mínimo de recursos e a
maioria deles sem formação acadêmica em música, construíram a história musical desse país.
O colonizador sempre
sonhou em construir aqui uma nação civilizada musicalmente, mas que devido ao
seu preconceito jamais permitiu que negros figurassem em seus altos postos de
prestígios musicais nas orquestras, nem como maestros, nem como músicos. Um
país com a maioria da população negra, teve alijado o acesso aos conhecimentos
musicais, impossibilitando que desenvolvessem suas musicalidades e
criatividades de uma maneira mais ampla.
Se os recursos
econômicos tivessem sido distribuidos equitativamente aos músicos eruditos e o
populares com certeza, hoje ficaríamos orgulhos em ver negros em orquestras
sinfônicas, como doutores em música nas principais universidades.
Mas parece que isso tudo é um sonho, que talvez
estejamos perto de realizar com o Sistema Nacional de Cultura e com estes
democratizar o acesso econômico de
recursos, que até bem pouco tempo, estavam exclusivos nas mãos das elites
econômicas desse pais com suas noções de
bom gosto estético.
Oportunizar que
funkeiros, rapper, sambistas, carnalescos, grupos religiosos afros tenham recursos públicos para
desenvolverem as suas artes, sem a necessidade de intermediação entre
empresários, e nem precisar bater à porta dos mesmos, já é um grande salto que
o Brasil em matéria de política cultura realiza.
Pois do ponto de
vista da cidadania, ao ofertar recursos financeiros proporciona o
desenvolvimento local da arte, da comunidade e dos cidadãos que dela utilizam
como apreciadores ou criadores musicais. Isso leva o povo que tem sua cultura
valorizada, bem como seus saberes musicais reconhecidos e com o mesmo valor
cultural, ter um ganho simbólico e um aumento na sua autoestima.
Este povo acabará se
orgulhando de ser brasileiro, de pertencer a esse pais, a essa cultura, tão
diversa e tão rica e que por século foi menosprezada e considerada como lixo
pelas elites brasileiras, tendo seu valor reconhecido muito tardiamente pelo
estado.
Por fim, ao
proporcionar a música dentro de sua função econômica, simbólica e cidadã
estaremos proporcionando a igualdade de direitos aqueles que construíram
musicalmente este pais, e que morreram das mais diferentes formas ou lutando
pelo reconhecimento ou no completo esquecido. A estas pessoas o Plano Nacional de Cultura representa o
pagamento desta divida, que esperamos que se efetive com políticas públicas
principalmente na área de música.
Por
quê muitos educadores musicais pedem pra
sair?
Durante vários anos
trabalhando em projetos sociais vários desafios surgiram para mim. Alguns deles
citarei no decorrer deste texto. Pois minha grande preocupação ao entrar rede
estadual de educação como professor de música foi o desafio de pensar, agir, e
fazer diferente. Essas são motivações que me perseguiram. Muito mais do que o
salário e a estabilidade. E sim a possibilidade de auxiliar nas aprendizagens
musicais daqueles que vão a escola todos os dias e que só tem ela como espaço
social, afetivo e de respeito.
Mesmo que a escola
não cumpra com a sua função cidadã ela ainda é o principal referencial para
muitas crianças negras e pobres desse pai. Crianças sem afetos, sem respeito e
sem carinho e amor de muitos de seus pais, que acabam encontrando em
professores aquela figura acolhedora, paterna ou materna que as faz
importantes.
Mas quero discutir
aqui uma coisa que tem me colocado em situação constrangedora perante colegas.
Por que a maioria não dá aula na rede, e sim em projetos sociais, como em
igrejas, ONGs, sindicatos e universidades.
A resposta obviamente
seria porque o sistema público paga mal. E é verdade, além disso, o
profissional da música não ainda a sua disposição materiais e nem espaços
financeiros para que isso ocorra. Porém, ao formar-se num curso de licenciatura
os mais baratos de todos esse professor não teria que assumir o seu compromisso
social? Mas qual a razão para que haja uma fuga da rede e o professor e o
professor de música resolva estudar para fugir dela?
Essa fuga para a
especialização, mestrado, doutorado não seria devido a complexidade e os
desafios da rede pública. Todos os educadores, pensadores musicais não estão
mais na rede. Muitos passaram por ela. Mas por que saíram ?
A normas, regras,
pareceres e mudanças nos sistemas de ensino e nas maneiras de avaliar os alunos
são uma das causas. É fácil criticar o professor quando não se convive com a
realidade, quando não vive os desafios cotidiários da tarefa de ensinar. Essa
tarefa de ensinar devido as mudanças freqüentes que ocorrem nas legislações e
nas tecnologias tem feito cada vez mais os músicos obterem pela rede privada e
pelos projetos sociais.
Nestes espaços se vive a realidade, mas de uma
maneira mais alicerçada na realidade e nas possbilidades. É possível num
período curto de tempo o profissional da música dispor de materiais para
trabalhar de espaços para desenvolver suas oficinas, sem a necessidade da
utilização de recursos e pedagógicas que trabalham a música corporal devido a
ausência de instrumentos musicais como é o caso do rede estadual.
Nesse sentido, é
fácil compreender as razões que vão além da questão financeira. Mesmo que ele
ganhe pouco a possibilidade de satisfação pessoal é maior do que na rede. Por
isso ela sai meses ou anos depois de entrar.
Mas tem também uma
questão que vejo que é central para o professor de música não entrar na rede. O
fato do ensino ser laico, ter que trabalhar com as diferenças e com a
complexidades culturais, sociais e econômicas do público escolar.
Pois ninguém quer dar
aula para pessoas que consideram que não são capaz de aprender. O fato do
ensino ser laico, impossibilita o professor de ter a sua religião como foco
central das aulas, pois a diversidade religiosa deve prevalecer, assim, muitos
para não abandonar a sua religiosidade tem medo de perdê-la ao ter que
trabalhar religiões que considera do demônio como as religiões afros.
Outro fato é
diferença de raça, de gênero, de idade e de orientação sexual, pois o professor
preconceituoso não consegue lidar com um aluno que é homossexual, nem com
aquela maioria de crianças negras nos quais nunca acreditou que fossem capaz de
aprender, nem o fato de ter que trabalhar com turmas com diferentes idades,
coisas que não admitem em outros espaços.
Por ultimo o espaço
escolar ser de uma complexidade cultural muito maior do que o projeto social,
do que a igreja, do que o coro da universidade. Existe um gama enorme de
agentes, de pessoas em que exige uma capacidade de dialogo, de compreensão e de
entendimento que exige muito do profissional da música.
Todos esse medos
estão presentes na em dados sobre a situação dos profissional da música no
Brasil que se forma e não vai trabalhar na rede. Segue sua trajetória de
formação na rede privada ou em projetos sociais, pois lá é mais fácil. Aqui
quando digo projetos sociais não me refiro ao projetos das periferias e sim,
aos projetos sociais constituídos economicamente, com recursos privados como o
de orquestras sinfônicas e jovens. Que tem estruturas bem diferentes daqueles
projetos em que o trabalho é feitos não ensina do dom e do talento, mas sim do
direito a pratica musical e ao seu fazer humano.
O professor de música
da rede pública ele é importante para a sociedade, pois é ele quem lida com um
público muito maior e pode provocar transformações que a igreja e os projetos
sociais provocam de uma maneira muito tímida, que é a cidadania cultural e os
direitos humanos e da dignidade da pessoa humana. Esse é o desafio ao assumir
este compromisso social ao formar-se e ir para rede pública o professor presta
um grande serviço a nação e auxilia no desenvolvimento disso que se chama
educação musical no Brasil. Mas para ajudar a desenvolvê- la é preciso estar no
seu interior e seu interior é uma sala de aula.
É
fácil criar difícil é imitar
Uma da dificuldades
de qualquer educador musical e a imitação de sons. Nela é momento que o
praticante de música entra em contato com o outro. Tenta entender seus
movimentos, seus gestos faciais, corporais, seus sentimentos e emoções ao
realizar a ação. Essa é a principal dificuldade. Imitar requer o enfrentamentos
de minhas dificuldades de percepção do outro de maneira em que, minha
dificuldades são expostas, meu preconceitos contra determinados tipos de sons.
Assim, ao imitar acabo enfrentando as minhas limitações.
Enfrentar as
limitações que temos como pessoa não é uma tarefa muito fácil, pois a exposição
abala nossa autoestima, o olhar do outro sobre nós e sobre a nossa fragilidade
nos acanha, encomoda, nos abala e nos tira da nossa zona de conforto de mero
observador.
As ciências sociais
buscaram logo no seu inicio observar os fenômenos humanos, nesse sentido que a
ciências sociais surgem. No entanto, a principal dificuldade era na observação.
A observação tradicional visava apenas olhar o pesquisado, não interagir, não
influir nas suas opiniões, no seus modos de ser, de agir, de sentir e de se
relacionar. Não necessitava de muitos recursos nem colocava o pesquisador em
desconforto cultural, pois sua tarefa era apenas observar o ambiente e
registrar.
Porém, houve um
momento de ruptura em que era fundamental ao pesquisar vivenciar as experiências
daquela comunidade, para melhor entende-la
e compreende- la, para assim, fazer uma analise mais justa sobre a ótica
da pesquisa. Dessa maneira, surge a pesquisa participante. Ao imitar os
movimentos cotidiários dos quilombolas, dos indígenas, dos grupos humanos,
acabou-se trazendo um outra olhar sobre as comunidades pesquisadas. Ao entender
os grupos humanos, em especial aqueles produtores de saberes musicais,
percebeu-se que a pratica de imitação é fundamental para comunidades
tradicionais. Pois é na imitação dos mais velhos que os novos incorporam novos
valores, novos conhecimentos, habilidades e atitudes aos seus modos. Assim, a
imitação proporciona uma apropriação do fenômeno musical e ao mesmo tempo
imitação e criação, pois logo que se aprende a imitar, aprende-se a criar.
E o criar, para
sociedades com influencia indígena e africana como a nossa, acaba sendo
desenvolvida devido aos desafios e enfrentamentos de uma sociedade que nunca
soube lidar com o diferente e muito menos aceita-lo. Então a criação ela é
hoje, a principal ferramenta da educação musical, no entanto, a imitação é um
fenômeno humano por natureza, já a criação é algo a ser desenvolvido.
Atualmente as pessoas
tem utilizados metodologias que visam apenas a criação. A criação por si é um
processo individualista, que não necessita do outro. Pode-se criar a todo o
momento, com qualquer objeto, com o corpo, com as mãos, pés, boca, enfim, de
uma maneira em que o outro não me faz falta alguma no processo musical.
Já a imitação ela necessita
do outro, do objeto, da pessoa, da natureza. Ele que é o fator principal nas
sociedades modernas. A criatividade é uma conseqüência das atividades de
imitação. Basta olhar na musicalidade negras como batuque, o lundu, o samba,
pagode, hip-hop e o funk tem algo em comum. Pois são praticas musicais que imitam a
musicalidades africana, porém a criatividade é que fez a diversidade destes
gêneros musicais que tem acabam tendo uma matriz em comum.
Nesse sentido
criatividade e imitação se misturam, tem uma interação dialógica que as vezes
fica difícil perceber onde termina uma e começa outra. Os estudos acadêmicos da
etnomusicologia, da educação musical e da educação anti-racista tem mostrado a
importância da imitação no processo educativo, principalmente com o uso do
corpo.
A realização da
imitação requer disponibilidade do outro para vivenciar a pratica corporal do
outro. Requer interesse, disponibilidade e atenção total a este outro. Foi
justamente imitando o outro que possibilitou a diversidades musical que temos
hoje no Brasil e no qual nos orgulhamos dela. Pois ela representa o nosso
potencial criativo. No entanto este potencial de imitação que a musicalidade
negroafrobrasileira tem ainda é pouco utilizada na educação musical. Recorre-se
a teorias a metodologias exteriores quando a solução está aqui. As alternativas
para uma educação musical já se encontravam aqui em solo brasileiro. Demorou
muito para educação musical acordar para este fenômeno.
A imitação é
fundamental na aprendizagem em todas as áreas, principalmente nas ciências. As
linhas de pesquisa hoje são uma prova do quanto doutores querem pensadores que
possam imitar os seus estudos e ao mesmo tempo construir criativamente sua
proposta. Ao entender a linha de pesquisa do orientar posso articular e buscar
imitar seu pensamento, sua dificuldade como pesquisador experiente.
Este tipo de imitação
cientifica ou genealogia cientifica, mostra o quanto a imitação é tonica
atualmente, sem ela a variedade não seria possível, pois tudo seria diferente. Todo
o material sonoro seria novo, não haveria repetição, e não havendo repetição
não haveria necessidade da memória. A imitação é que proporciona a ativação da
memória. Pois é preciso lembrar do movimento para poder imitá-lo. Nosso cérebro
só se desenvolveu devido a ajuda da imitação. E o olhar sobre o outro, em todas
as suas dimensões é o que nos possibilitou ser homosapiens. Por isso, a
imitação é a base de qualquer proposta de música, pois criar é fácil.
A
lei da música e a lei da negritude
É quase impossível
falar de Brasil e não falar de música, assim
como é impossível falar de Brasil e não falar do negro. O negro e a música
estiveram relação direta na sociedade brasileira. No entanto a lei da música de
2008 e a lei da negritude tem profundas diferenças.
Enquanto a lei da
negritude 10.639/2003 foi uma lei sancionadas apó um amplo debate dos
movimentos sociais negros fruto de quase um século de luta anti-racista no
Brasil. A lei da música parece ter sido uma construção da intelectualidade
acadêmica. Enquanto a legislação de combate ao racismo tiveram como
protagonistas negros, pobres, de associações de moradores, de terreiros de
candomblé e do movimento negro organizado. A lei da música surge como uma
necessidade de levar música para a escola. Como se está já não acontecesse no
seu entorno, no intervalo e nos recreios, nas festas e até fora da escola por
não ter espaço formal dentro desta para que ela acontecesse.
A lei da negritude
tem um principio interessante obriga que a cultura negra seja conteúdo obrigatório
nas aulas de artes, língua portuguesa, matemática e história. Enquanto a lei da
música é diz respeito ao conteúdo obrigatório, mas não exclusivo. Para
trabalhar a cultura negra na escola pode haver a participação de lideranças da
negritude nos bairros, do movimento negro, independente de formação acadêmica.
Já a lei da música quase tornou obrigatória a necessidade de formação acadêmica
para se ensinar música na escola.
Isso aconteceu devido
a visão elitista de seus idealizadores. Enquanto a lei da negritude parte da
realidade e aceita que pessoas envolvidas com a temática etnorracial lecione em
escola publicas e privadas a lei da música buscou tirar essa possibilidade. Se
não fosse o veto presidencial a formação especifica em música seria obrigatória.
Mesmo assim, na pratica os concurso atualmente exigem formação superior e não
apenas o notório saber.
Nesse sentido é
possível perceber a diferença central entre ambos. Enquanto uma inclui os
negros a outra tenta exlcuí-los. Essa está sendo a realidade . Um exemplo clássico
dessa tensão é fato dos concursos públicos do magistério, basta ver o edital e
o critério para ingresso ao concurso público. Na pratica o processo de seleção
exclui da rede pública aqueles profissionais que trabalham em projetos sociais,
em escolas de samba, em casas de religião, no ensino de violão, teclado,
cavaquinho e que são negros ou negras.
Enquanto uma lei
abriu um leque importante de possibilidade que é o da negritude, a outra buscou
fechar esse leque ou melhor a porta para o educador musical de formação
popular. Assim mesmo as duas legislações são um reflexo dos movimentos sociais
brasileiros cada um puxando pro seu lado. Mas que em alguns momentos as
diferenças completam-se.
Interacionismo
cultural
O Brasil ao completar
mais de 512 anos de história se orgulha das atrocidade que cometeu. Ao
aniquilar quase na sua totalidade os povos indígenas, ao exterminar a linguagem
africana e por fim ao não reconhecer a sua diversidade. Mas reconhecer a
diversidade basta?
A nossa história
prova que reconhecer a diversidade sempre foi uma das característica das
sociedade colonizadoras. Por uma simples razão: eram minorias.
Assim as várias
culturas puderam conviver branco, negros, índios, samba, lundu, modinha, música
popular, música erudita e por ai vai. Ma a questão central é nas mão de quem
estava o poder de decisão? E o poder de decisão de se manter no poder? Em com
quem estava o direito de ser portador de uma cultura universal? Obviamente que
era a elite escravocrata branca.
Repare que muito
recentemente nos estivemos uma Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, uma
Fundação Nacional do Índio. Quase toda a nossa história como nação foi construída
sobre sem o poder de decisão nas mãos de negros e índios. Se hoje, nos orgulhamos de ter construído uma
sociedade democrática, com instituições sólidas, isso se deve a luta social,
pois se fosse pela vontade das elites, dos governantes as mudanças nunca
aconteceriam, pelo menos da maneira como está hoje.
É preciso que ela
seja provocada para sair da sua inércia. E as classes dirigentes tem esse
olhar. De que nós somo responsáveis pelas soluções dos problemas. Eles fizeram
isso, perguntam-nos a respostas.
Desta forma esses e
seus descendentes se mantiveram no poder e nos espaços privilegiados de decisão
que ocupam na academia. Enquanto isso de maneira empírica vamos dando como
dizem na comunidade “ o ouro pro bandido”. As custas de nossa diversidade e
criatividade vamos enriquecendo-lhes culturalmente e economicamente cada vez
mais. Com a nossa música, com o nosso estilo, com a nossa linguagem. Para nós
parece ser interacionismo cultural, trocas culturais, diversidade cultural e na
pratica nos orgulhamos de ser assim de gostar de vários gêneros musicais, de
várias danças, de poder freqüentar diferentes espaços religiosos, de gostar de
novela, de futebol e de ir a praia.
Sendo assim a cultura
negra mostra aberta, dinâmica e viva, por isso mesmo tendo perdendo grande
parte de seus referenciais históricos e de linguagem ainda assim na arte se mantem,
mesmo sofrendo preconceitos de todos os tipos quanto quer assumir pra si a
autoria ou co-autoria de determinados movimentos culturais e educacionais.
Nesse sentido a cultura popular é a matriz da cultura erudita, as grande obras
musicais eruditas brasileiras são de inspiração indígena que é O guarani de
Carlos Gomes e as Bachianas de Villa Lobos, sem contar os Requem de José
Mauricio Nunes Garcia e Coisas de Moaciar Santos.
Em alguns momentos
nossa herança cultura nos favorece, principalmente a nossa face colonizadora, a
mais perversa quando usamos as mesma armas cientificas para justificar nossas
idéias, armas que foram utilizadas para nos oprimir e que agora damos resposta
pelo menos no campo da literatura acadêmica e da arte. Onde os estudos feitos
por negro mostram o quando somo o país mais negro das Américas depois da África
e que essa cultura influenciou nosso modo de ser, pensar, agir, interagir e
aprender.
Mesmo com as
legislaçõe anti-racista e com os dados que mostram a realidade do negro e do
índio no Brasil, ainda sim, quando levantamos a voz e reivindicamos espaços nas
decisões que envolvem os problemas que nos humilham internacionalmente como a
violência, a fome, o racismo, sexismo, o machismo e vários outros ismos, as
elites findam o acordo traçado e procuram maneiras de atrasar nossas
reivindicações e nossas lutas. E o que era multi para a ser mono.
Nos bastidores do
poder a música clássica predomica e a música popular, folclórica, de massa são
as preferidas dos estudos acadêmicos. As
elites precisam disso, para lembrar que herdaram uma cultura dita superior, mas
que não as impede de gostar de Chico Buarque, de samba, carnaval e Baile Funk.
Funke-se se puder: O abalo da noção
de mulher sujeito e de mulher objeto
...Minha
porção mulher
Que
até então se resguardará
E
porção melhor
Que
eu trago em mim agora
E
o que me faz viver ...
Gilberto
Gil
A lógica que coloca a mulher do FUNK como objeto cai por
terra quando percebemos que o fato de a mulher se sentir desejada, se sentir
com direito ao prazer, com direito de escolha dos parceiros, com direitos de
não ser obrigada aceitar nada mesmo sendo funkeira em nenhum aspectos essa
mulher se vê como objeto. Pelo contrario estas mulheres através de suas
corporeidades mostram suas alteridades diferentes de seus antepassados negros
de escravidão.
Aquilo sim foi coisficação da pessoa. Quando a
mulher negra não tinha a proteção do estado, nem força para vencê-la, a não ser
por meio de aborto, suicídio, fulga. A mulher negra não tinha escolha, nem alternativa,
nem possibilidade frente ao patriacalismo ocidental, assim como a mulher
indígena também.
Pelo via corpórea seus descendentes chegaram até
aqui. No entanto, as relações mudaram. O machismo passou a ser combatido, a
mulher negra ou branca, indígena, amarela ou outra, passou a ter direitos
garantido constitucionalmente. No entanto como a garantia de direitos na
pratica não aconteceu para os tipos diferentes de mulheres. Ouve uma cisão que é possível de
perceber. Basta olhar a diversidade de grupos feministas.. Do feminismo, pois o
feminismo é diverso.
O ser mulher que nasce, apesar de ter
fisologicamente as mesmas característica, culturalmente, socialmente são
pessoas diferentes, ou mulheres diferentes. E as rupturas mostram o quão é
complexo é ser mulher. E uma das noções que vem sendo abaladas é a noção da
mulher como objeto. Para a doutora em antropologia da Universidade do Rio de
Janeiro.
Não existe relação sujeito objeto entre pessoa e ferramenta, somente
capacidades expansivas e realizadas. ( MIZRAHI, 2010, p. 172).
Mulher é mulher, e não pode ser objeto, mesmo
que retoricamente eu uso essa afirmação. Pois o objeto passa a fazer parte da
mulher. O conceito dualismo tem servido para separar grupo de mulheres. Onde
aqueles movimento que eram para defende-las, passam a questioná-las,
critica-las, num momento em que elas mais precisam de força. E nessa hora cadê as feministas?
Atualmente conceito é sujeito-objeto é falho, pois as
bases sociais mudaram e já não existe mais. do ponto cientifico. Assim como não
existe mais o conceito de raça do ponto de vista biológico e sim histórico
social.
Essa é uma visão
ultrapassada pela sociedade tem a mesma
lógica de bem e mal, sendo impossível a incorporação da multiplicidade que é a
vida social no momento. Talvez tenhamos que enfrentar isso de frente, ou de
costa, descer e subir, ir para esquerda e para direita. Colocarmos-nos
efetivamente no lugar do outro. Se deixar levar pela condição de sujeito e
objeto como uma relação de mão dupla, sem hierarquias o campo de visão se
aumenta.
Visões opressor e oprimido já não são suficientes para
explicar a sociedade pós moderna. Isso não quer dizer que todos os direitos já
foram atendidos, das classes historicamente oprimidas, mas sim, de que as
nossas ou novas possibilidades devemos incorporar na luta pela garantia de
direitos.
O movimento feminista vem perdendo força e esta havendo
divisões devido a sua falta de capacidade de lidar com outras realidades. Um
exemplo disso, são as mulheres que se tornam homosexuais, as mulheres negras,
das empregadas domesticas, das funkeiras. Mostram o quanto a noção feminismo
vem sendo alterado. Pois num primeiro momento englobou vários setores, no
entanto, sua capacidade efetiva de dialogar com diferentes visões feminista, é
que provocou estas cisões. No orgulhamos ter a primeira mulher como presidente
da republica, no entanto nos orgulharíamos de ter a primeira mulher
homossexual? Ou a primeira mulher negra?
Vou mais a fundo. Se a mente sempre foi supervalorizada
e qualquer relação corpórea condenável. É fácil entender porque o balé é visto
com glamour e funk como pornografia. Ambas deslocam a relação corporal, no
entanto as vestimentas, a cor e origem social é que denotam os juízos de
valores que serão feitos. Ambas deslocam-se no ar, jogam o corpo em direção
opostas, agridem a lei da gravidade. No entanto o funk não recebe o mesmo
status de arte. E as representações sociais feitas por um são contraditória a
outra.
Da mesma forma que uma mulher quando vai para praia usa
biquíni e naquele contexto não aparenta nada de anormal, ou pornográfico, sendo
exaltadas pelos olhares tanto de homens, quanto de mulheres, se representarem
os valores estéticos atuais europeus. Ou se apresentaram valores estéticos
africanos serão percebidos.
No entanto se ela
começar a dançar perde a sua essência e vira pornografia. O biquine símbolo da
liberdade feminina, se acompanhado de música funk, perde a sua visão libertária
e passa a ser considerado como esculacho. No entanto se forem mulheres brancas
que estiveram fazendo isso serão condenadas pela sua associação ao universo
feminista negro, que é contraditório a este. As mesma mulheres que condenam o
funk, são as mesmas que nas férias botam seus biquínis e vão para praia, quase
seminuas. E que foram valorizadas em outras épocas como garotas de ipanema. E
toda a mulher que se sentir desejada, assim como o homem. A vaidade masculina
vem provando isso. O homem macho, vem sendo substituído pelo homem que dança,
que rebola, que se pinta. O próprio conceito de homem vem sendo modificado na
nossa sociedade brasileira. Mas mesmo assim, as mulheres de uma maneira geral
ainda querem um homem que:
Como diz Leila
Diniz: Homem tem que ser durão.
Erasmo Carlos
Homens e mulheres necessitam de seus corpos para fazerem
amor, sexo, samba, rock- roll. Numa sociedade marcada por uma história de
estupro e violência contra mulher. Posicionar a favor de qualquer visão
libertária que não seja da mente, corre-se risco. No entanto, sem eles as
mulheres não chegariam apesar da dificuldade e complexidade deste termo, em um
século fazer conquistas jurídicas tão significativas e praticas que
beneficiaram de uma maneira geram todos as mulheres. Mas isso não impede de
haver contradições nesse processo e jogo político de interesses e visões de
mundo que não contemplam a diversidade toda.
Apesar disso, nosso herança patriarcal nos condena,
nossa visão miupe de nós mesmo, nos impede de enchergar as coisas por outro
ângulo.
Será que o palco antes dedicado, única e exclusivamente
aos homens, não poderia ser freqüentados por mulheres? Poderiam estas mulheres
ao subir ao palco subverter outra mulheres que as antecederam, sem que isso
fosse coisficação e torna-se a mulher que faz isso objeto.
Será que a mulher não tem o direito de mostrar a sua bunda,
ou nádegas onde bem entender, sem ser chamada de puta ou vagabunda, ou
favelada. Se as mulheres funkeiras fossem de classe média, com doutorado. A
critica seria qual? De raça? De religião? De moral? Ou outra?
A sociedade
hipócrita quando confrontada com essas duras realidades e com o feminismo
ocidental, não vê a possibilidade feminista oriental ou afrobrasileiro, que tem
um visão complemente diferente, onde corpo e mente são uma coisa só, assim como
os objetos, são extensões do corpo. Como uma espécie de brincadeira, de
fetichismo, onde a dicotomia deixa de existir.
No entanto o feminismo, permite chama-lo de elista, que
tem a capacidade de convencer as trabalhadores da educação, a exercer uma visão
fundamentada no classismo, no folclore, e não na estética criativa.
Esta visão contraditória busca coloca-las noutro
patamar. O feminismo de woodstook é diferente do feminismo funk. Enquanto
aquele buscava uma sociedade alternativa, este busca a integração na sociedade.
O nível cultural das elites feministas não as impediu de falarem sobre sexo,
drogas, roupas e estilo de vista. |Foi um movimento exclusivo da classe média,
no entanto o feminismo funk é oriundo da periferias, da população negra, de
baixa escolaridade. Nesse caso a visão ocidental impede de fazer justiça ao
movimento Funk, o considerando como consumista e o culpabilizando de coloca a
mulher na posição de objeto.
Quando na verdade estes movimento deveriam fazer o
contrario, assumir a luta dessas mulheres. Que se não fossem o funk ou arte. Estariam
destinadas a lavar pratos, trabalhar de empregadas domesticas. Pela via
artísticas estas mulheres poderiam ser porta vozes de questões mais amplas como
a violência contra a mulher, o sub emprego, a saúde da mulher, as relações
sociais, a educação, enfim, questões que
são realmente, mais importante que a estética artística. Pois a arte tem esse
aspecto contestador da realidade, ora a reproduzindo, ora questionando.
A arte empodera o negro (a). Esse fato é muito
importante para compreender a linguagem musical do funk, pagodeira ou negro.
Enquanto não existe uma educação que possibilite ao negro outras alternativas é
na música que ele encontra espaço para se empodeirar, mostras a sua existência,
freqüentar espaços até então destinados as elites, ou classe média. É na música
que ele torna-se gente, ser humano, ser pessoa e fugir aos efeitos perverso do
racismo cotidiário.
O funk proporcionou a mulheres negras na sua maioria se
sentirem como artistas e fugirem da possibilidade de reproduzir a trajetória de suas mães como
empregadas domesticas ou faxineiros. E aos meninos fugirem dos trabalhos de
seus pais como servente de obra. A arte e mais particularmente a música servil
como válvula de escape para aquilo que o negro sempre soube fazer muito bem que
foi música e a dança. Os valores civilizatórios estes conceitos são
importantíssimos.
Quando os pais ficaram horrorizados ao ver as mulheres
descendo na boquinha da garrafa. Mulheres negras no começo e depois mulheres
brancas, foi neste momento em que essa relação sujeito e objeto foi quebrada.
Ou seja, a sujeito e objeto tornam-se um coisa só. E isso, mais uma vez chocou
a sociedade católica, apostólica, romana, evangélica, crista ocidental. E pior
mostrando falta de conhecimentos culturais. No entanto, mais uma vez a história
provou que as mulheres que viveram aquilo, não se tornaram putas, aquelas
mulheres que brincaram daquilo concerteza estão lidando melhor com a realidade
atual do funk, Pois descolar o corpo, infrigir seus limites, é uma relação que
se dá de corpo e de mente juntas.
Aquelas mulheres que fizeram aquilo passados mais de 10
anos, hoje são trabalhadoras, professoras, médicas, doutoras, advogadas. As
pessoas que viveram aquilo lembram como uma brincadeira. Para as elites
vivenciaram aquelas experiências em bailes, casas noturnas, escolas de samba,
nos blocos afros foi uma brincadeiras, para o idealizadores negros e negras que
produziram aquela cultura aquilo foi trabalho.
A analise acadêmica ou pseudocientifica nos serviu em
momento em que a escravatura e a ditadura nos impuseram regras em que nos
coisificavam, que nos tiravam os direitos humanos. A possibilidade de enxergar
o outro que estabelece essa relação com objeto como parte de si vem sendo a
grande dificuldade que as academia e os cursos de formação política,
educacional tem para formar opinião com base na própria ciência que seus
antepassados construíram, no ocidente. Ou seja, mesmo saindo do campo
religioso, mesmo saindo do campo filosófico, social, educação e cultural.
Somente o racismo pode explicar melhor este fato. Sendo assim, para que uma
analise cientifica realmente possa acontecer eu tenho que abalar valores
anteriores a visão apresentadas e entender muito bem de história, de
antropologia, estética, de conectividade, de pós modernidade para entender o
funk sem idéias preconceituroas, racistas, feminista elitsta, sobre o funk e
seus praticantes. Então funk-se se puder.
Funk e cabelo
Se antigamente a cachaça era o tema central das músicas
de samba de morro, a samba canção. No funk
passa a ser o wisk e red bul as bebidas preferidas. Ou seja, mudou o nome do
objeto mas seu significado continua o mesmo. Velando posição de status. Se os
funkeiros vivessem naquela época da ditadura com suas estéticas corporais seus
temas versariam sobre sobre Velho Barreiro, 7 campos de piracicaba, e muito
posteriormente capeta.
A importância do cabelo para o homem é diferente do
cabelo para mulher. Enquanto no homem o tradicional o cabelo pouco importa, já
para o homem moderno negro, cabelo raspadinho estilo ronaldinho fenômeno é
importante. Para mulher alisar o cabelo é a sua grande marca, é um cuidado que
se estabelece com a comunidade negra contemporânea influencia pela gospel,
pelos blocos afros, pela axé music, pagode.
No funk a roupa modela o corpo, tênis da puma(alemã).
Nois grupos de narcotráfico
Gente grupo outro comando.
A mimese produz esse pequeno truque
de oscilar entre o muito igual e o muito diferente. Um impossível mas
necessário tema, de fato um tema cotidiano, a mimes registra tanto igualdade
como diferença, de ser como e de ser Outro. Criar estabilidade dessa
instabilidade não é tarefa simples, ainda assim toda formação de identidade
esta comprometida nessa habitualmente estimulante atividade na qual o assinto
não é tanto ficar o mesmo, mas manter a igualdade através da alteridade (
TAUSSIG, 1993, p. 129 APUD, MIZRAHI, 2010, p. 193-194)
O cabelo tem um papel importantissimo na estética funk,
ele possibilita a valorização da mulher segundo esteriótipos e padrões brancos.
A consciência negra não se dá através do cabelo que nem antes, mas sim é
deslocada para o discurso de consciência negra. No entanto o cabelo é um dos
aspectos centrais e que permite o transito entre as classes médias e altos.
Pois fugir da marca de cabelo duro é uma característica, fugir da gene não
socialmente aceito ou fenótipo. A pós modernidade e internauta tem
possibilitado isso, expalhar padrões, estéticas e modos de ser, agir e
interagir mediando tensões que em outros tempos de profunda consciência negra isso
não era admissível.
Gloria Maria
usava cabelo black, Carlos Nascimento também, em uma época em que isso era uma
marca negra de consciência, no entanto, o cabelo perde com a pós-modernidade,
com a luta dos direitos humanos, com a queda do muro de Berlin, as utopias de
uma sociedade afrobrasileira vão se ressignificando. E os negros e negras
acabam descobriram que uma das principais marcas de sua corporeidade além da
raça é o cabelo. Para isso então buscam esconde-lo, cortá-lo, raspalo,
alisa-lo. Porém o discurso de consciência negra permaneceu e isso que
possibilitou que mesmo com isso possam se dizer orgulhosos de serem negros
mesmo que precisem fazer aquele genocídio cultural com seus corpos.
Funk representa o negro pós moderno. Não quer o cabelo
afrobahiuano, nem americano, quer cabelo brasileiro, raspadinho e com desenho.
O desenho lhe possibilita a arte da contestação e abalar a visão tradicional de
cabelo trançado. Isso representa abalar a noção de identidade afrobahiana
proposta para o Brasil. Quando o negro adquire consciência negra, ele acaba na
afirmando alguns valores da luta negra e em outros lhes re-significando como o
cabelo. No entanto na media em que o negro avança nos estatus social esta
transitoriedade entre o crespo, duro e o alisado se torna mais presente,
enquanto que nos homens permanece praticamente a mesma.
A consciência
negra está presente no discurso que diz:
Eu não vou deixar de ser negro só
porque meu cabelo é alisado”.
Na realidade esta fala é coerente, pois se sabe que a
cor da pele é o que conta no racismo. Ou seja, mesmo que a pessoa raspe ou
alise, o racismo permanece pois a cor da pele não se pode mudar. Talvez essa
tenha sido a saída para a Michael jackson, onde invés de tentar mudar e manter
a cor da sua pele devido a doença, este fez o contrario, a acelerou. No
entanto, isso não o impediu de sofrer discriminações raciais devido a esta
mudança. De ambos os lados, dos ativistas negros e dos brancos que não o
aceitavam.
Uma vez caetano um amigo me disse: Porque ele fez aquilo.
Este era o símbolo da juventude negra mundial, representava a transição entre o
black panter e a pós modernidade.
Agora entendo as
razões do discurso de caetano. Ele representa essa decepção que o negro tem com
seu artista que é levado a se render a indústria fonográfica e midiática na
busca de novos mercados, sucesso e aceitação social.
Obviamente que manipular o corpo obedece a idéia de que
este é resistente as intervenções que neles são feitas.
Um exemplo claro é minha irmã, em casa ela usa cabelos crespos e para sair
usa seus cabelos lisos de acordo com o local. Ao fazer isso está possibilitando
essa possibilidade negra plasticidade, o contrario quase sempre não é possível,
pois é mais doloroso. Devido às mudanças estéticas de ser negro possibilita
essa transitoriedade entre ser e não ser
A noção de objeto cai por terra, se levarmos em
consideração o fato atual das próteses. Do ponto de vista cientifico coloca-la
é tornar a prótese uma parte de si, não mais objeto, mas parte integrante da
pessoa. No entanto os ricos ao faze-los são enormes. Nem por isso, as mulheres
que fazem passam a ser consideradas mulheres objetos, pois colocá-las
representa status social, ser pós moderna. Enquanto as mulheres brancas querem
ter um corpão, as negras querem ter um corpinho. A não ser que seja passista de
escola de samba. Nesse caso, ter um corpão é fundamental. A não ser que seja
branca, e rainha de bateria. Essa sim, tem que ser magra, segundo os padrões de
beleza ocidental. Essa questão de beleza estética negra é bem colada por
Mizrahi (2010):
E o cabelo como diz Catra, “ depois que você [o] colocou
é seu, filha”. O corpo é artefatual, mas as próteses fazem ver não seu aspecto
não –humano, mas a sua fusão com o corpo, a sua absorção por ele( MIZRAHI,
2010, p. 201).
... A roupa justa usada por todas comunica não um modus
vivendi livre de coerções estéticas, como um olhar romântico pode crer, mas
está à serviço da afirmação do poder do feminino e cumpre o papel de marcar
radicalmente a diferença entre o feminino e o masculino, que por sua vês é
vestido por roupa larga
... O poder feminino, em discursos artísticos é à
genitália da mulher, e o poder do másculo ao seu correlato no homem. As
diferenças morfológicas, por sua vez, estão fortemente relacionados ao estilo
de roupa a ser usada.
... Os corpos femininos super-expostos ou
super-realçados evidenciam e presentificam a sua potência ao se contrapor à
estética dos corpos masculinos, que, no ambiente Funk, devem estar encobertos.
A estética corporal, no que concerne as relações de gênero, é desambiguizadora (
MIZRAHI, 2010, p.208).
Os “ funkeiros” realizam poucas variações na composição
do conjunto de roupas trajadas, especialmente em comparação com a grande
variedade de modelos que compõe o vestuário feminino. O grande investimento dos
rapazes recai sobre os acessórios, ai incluídos os cabelos e o tênis, além dos
bonés, chapéus, colares e aparelhos de telefones celulares. Os tênis devem ser,
sempre que possível, de marcas estrangeiras e genuínas. Só em último caso se
recorrerá aos simulacros oferecidos no mercado informal. Isto não significa que
os jovens não valorizam as marcas que trazem em suas roupas, mas sim que
aqueles com renda muito restrita se esforçam para ostentar a griffe ao menos em
uma das peças de sua indumentária, e a peça eleita é invariavelmente o tênis
que trazem em seus pés.(MIZRAHI, 2010, p. 212).
O falso e o verdadeiro, ou seja, orgânico e cristalino.
O funkeiro e o Play Boy. Enquanto os funkeiros buscam aproximar-se do Play Boy,
mas diferenciar dele em alguns aspectos. A relação não é de objeto e sim de
status, de alteridade.
A estética funk tem uma característica central e que deve
ser estuda melhor, elas querem um feminismo, mas um feminismo, sexualismo ao
seu modo. Isso é central na em qualquer analise antropológica. É isso que vem
tornando difícil a relação desses movimentos atuais na sociedade brasileira. A
alteridade é o debate central, pois indivíduos que forma colocados em mesmo
grupos, hoje buscam suas singulariedades No entanto isso vira um problema
quando essa alteridade é entendida como subversão, rebeldia, quando montamos o
swing da gente era um swing funk carioca. Em que se ia no máximo da
corporalidade masculina que o swing permitia.
Este foi enviado ao coordenador de projetos de uma
entidade social. Reflete o pensamento do que seria o preconceito no interior de
um projeto social e o quanto ele é perverso com a estética. Meses depois fui
dispensado, o coordenador pediu pra sair. Acredito que este texto teve
participação fundamental na decisão dos dirigentes e coordenador percebeu a
real gravidade da situação. Essa situação aborda bem a Micro fisica do Poder de
Michael Foucoult. Ou seja, as relações de poder e os discurso que não se dão em
nível macro, global, mas micro e que tem o mesmo poder discursivo perverso,
aniquilador das diferenças.
Manifesto Artístico: Por um festa de
aniversário em que alegria seja compartilhada por todos.
...o ensino de arte que queremos
reafirma o papel essencial do professor, especialmente por se tratar de uma
área de conhecimento que precisa necessariamente considerar a diversidade
cultural e artística do país, que precisa reconhecer e trabalhar com as
manifestações artísticas significativas em cada contexto escolar específico.
Reafirma, ainda, a autonomia e a reflexão como marcas da profissão docente,
entendendo- se autonomia como o direito e a responsabilidade de tomar decisões
profissionais, ou seja, a não dependência de “receitas”, “pacotes prontos” e
serviços excessivamente diretivos ou mesmo autoritários de supervisão
pedagógica (cf. Giovanni, 2000, p. 50).
Prelúdio
A pior
festa de aniversario é aquela que antes mesmo de começar os organizadores da
festa tem duvida se o bolo vai chegar,
se não vai aparecer um bêbado e tomar o refrigentes do mão do aniversariante,
se vai faltar salgadinho, o que as pessoas não vão gostar. Enfim, quem organiza
este tipo de festa com base na perfeição, esquece o principal. Que aquele
momento é para reunir as pessoas nos quais gostamos. Porém, diferente de uma festa
familiar em que o pai e mãe nem perguntam pro filho nada e tomam as decisões
sozinhos.
Uma festa
pública tem que proporcionar mecanismo de escuta de os participantes da festa.
Assim, evitasse que tenhamos problemas das pessoas não saírem satisfeitas. Mesmo
assim, as chances de erros são muito menores. Mas pior é quando não sobrou
comida na festa. Uma festa é um lugar para pessoas se divertirem e não encher a
barriga. O que os jovens querem, não é encher a barriga e sim curtir a festa.
Quando sobra comida. É sinal que as pessoas conversaram mais, dançaram mais,
cantaram mais,brincaram mais, fizeram amizade mais, ficaram mais, beijaram
mais, se alegraram mais.
Uma festa é
medida não pela quantidade de alimentos e sim, pela qualidade dos estar social
que ela proporcionou a todos os envolvidos. A comida é importante, mas não é o
fundamental. A arte proporciona isso.encher a barriga de ar, de oxigênio.E não
apenas de doce e salgados. Quando o tido popular diz “todo mundo comeu e
ninguém sai falando” quer dizer que quantidade ( alimentos) e qualidade (os
benefícios sociais, culturais , artísticos da festa foram atendidas). É isso
que almejamos com este texto nesse manifesto.
Desenvolvimento:
Devido a
fatos que ocorreram em nossas atividades de educação artísticas no evento de
aniversário do MDCA algumas proposições vêm a ser importantes para uma maior
reflexão sobre as atividades artísticas desenvolvidas pelo grupo de educadores
do SASE. Formado por profissionais qualificados em artes como música, teatro e
manifestações populares como a capoeira.
É
inadimissivel que mesmo com toda a nossa capacidade critica, intelectual
tenhamos que conviver com situações que nos contragem e botam em xeque os
princípios de autonomia do educador popular, professor ou facilitador de
aprendizagens. Nossa experiência profissional, além de técnica é de notório
saber na área. São pessoas que já desenvolviam trabalhos com artes muito antes
de ser profissionais da educação. Assim, experiência e pratica aliam-se ao
fazer artístico proposto pelo MDCA em seus princípios, de diversidade cultural.
Sendo assim
ações como as tomadas com vista a dar visibilidade ao trabalho, contradizem a
nossa pratica cotidiária com os crianças e adolescentes dos projetos. Eis
algumas questões para reflexões:
·
A não autorização de algumas músicas
escolhidas pelos jovens para apresentação do aniversário;
·
O corte de trechos de canções para
apresentação do grupo de expressão corporal;
·
A tentativa de separação das atividades
que estão sendo desenvolvidas em conjunto;
·
A rígides de um cronograma para
apresentação;
·
E o fato de não levarmos em
consideração os interesses dos alunos e de não ouvi-los na festa de seu
aniversário.
O MDCA só
existe devido ao seu público e não as pessoas, dirigentes e sócios. Deveríamos
ter perguntado ao aniversariante: que tipo de bolo gostariam de comer?Quem
gostariam de convidar? Que tipos de atrações gostariam que tivessem? Que tipos
de música? De decoração?Se gostariam de participar da organização da festa?
Como gostariam que os educadores, profissionais viessem?
Se tivéssemos feito isso, concerteza não
haveria tantos constrangimentos como aqueles que ocorreram no aniversário.
Nesse
sentido é lamentável que mesmo com as boas intenções, tenhamos que cometer
praticas contrarias aos nossos valores e a nossa realidade. Realidade que hoje
tem respaldo na ciência da educação, no multiculturalismo, no pluralismo de
idéias e concepções pedagógicas. Se não podemos atender a totalidade das
necessidade do nosso público pelo menos em parte. Ao fazer isso possibilitamos que utilizem
critérios na seleção das músicas. Já que nem tudo que ouvem é socialmente
aceito. Se fizermos isso damos um grande passo ao protagonismo juvenil. Tão
almejado por dirigentes pessoas, grupos. Mas para isso, corremos o risco de
enfrentar os problemas de maneira conjunta. Para que não acontece que nem na
festa várias vieram-me cobrar por quê
não podiam apresentar a música do MC kuringa, mesmo tendo ensaiado. Tive que
assumir a responsabilidade. Mesmo o trabalho tendo sido respaldado por um
profissional da área da arte musical como eu.
Quando propus o funk-se se puder queria
provocar a todos sobre a importância de um outro olhar sobre a pratica cultural
das crianças e adolescentes. E ao fazer isso desafiar as pessoas há repensar
seus preconceitos. Quem sabe na ânsia de fazer tudo certinho, perdemos a chance
de fazer uma festa alegre para nossos aniversariantes e educadores?
É triste
ter que dizer não para as crianças, quando podíamos dizer sim, é triste não
ocupar espaços, que podíamos ter ocupado, é triste ter que proibir músicas,
quando podíamos ter liberado, é triste ter que fingir estarmos alegre, quando
na verdade estamos triste.
Talvez seja
hora de repensarmos nossos discursos, nossas praticas, nossos públicos, nossos
apoiadores, financiadores e enfrentar as contradições. Com coragem se preciso
for de botar nossos cargos a disposição. Mas de sermos verdadeiros com nós
mesmos e com o nosso público. Mesmo que isso abale as nossas verdades, pois não
é possível mais termos certezas. Estas que existiam já foram derrubadas.
A realidade
e a transformação dela começa pelas nossas praticas. Assumir a contradição é um
ato de coragem, assim como educar também o é. Dizer a verdade é fácil, assim
como um jogo do Barcelona com Messi contra os veteranos do Zequinha. Pois mesmo
que eles queriam ganhar tomarão uma goleada na certa. Pois não terão força para
reagir. O mesmo acontece com nossos crianças quando impomos um padrão de
educação e valores que contradizem as suas realidades cotidiárias.
Nossa noção de arte romântica foi abalada na educação
contemparea. Pois temos os direitos de
ter direitos, de sermos nós mesmos, sem mascara, nem disfarce. Não precisamos
cantar ciranda cirandinha, para mostrar que somos humanos, podemos cantar o Rolex
sem deixar de sermos, ao cantar e dançar funk. Ser surralista.(PEDRO ACOSTA)
Unidade foi
algo amplamente discutido nos debates do MDCA, assim como a diversidade. O fato
de termos sempre feitos reuniões separadas de coordenadores, educadores, dirigentes
e sócios precisam ser repensadas. Pois em nome da unidade não podemos
sacrificar as diversidade. A diversidade não nos impede de vivermos juntos, de
convivermos, de nos respeitarmos. Isso é humanamente possível. Quando buscamos
a unidade exclusivamente evitamos a contradição. Mas é nela que exercemos a
nossa capacidade de assumir a diferença como base de princípios e direitos
humanos.
O direito a
cultura, a não sofrer nenhuma espécie de preconceito e discriminação, o
entendimento da cultura juvenil em sua diversidade, as legislações anti-racista
entre outras. Nos possibilitam embasar o nosso fazer artístico e educacional. Pois se não pudermos nos
expressar, contrariar posições como podemos exigir isso dos educandos. Quando
evitamos estabelecer relações autoritárias com os mesmos buscando dialogar e
somos vitimas deste tipo de atitude. Mesmo que tenhamos na ultima hora, mudados
de opinião em alguns pontos devido a pressão dos jovens. Não precisava ter sido
assim. Pois uma entidade com a história do MDCA e que propõe-se a discutir as
suas práxis, não se pode se dar o direito de não tratar de temas que dizem respeito a todos.
Ao seu público, ao seus educadores, apoiadores e a sociedade civil.
Que esta
festa sirva de exemplo, pois as aparências enganan. Pois todas as pessoas que
acharam a festa bonita, não sabia o sentido infeliz dos educadores do projeto.
Pós-ludio
Espero que
com este texto tenha conseguido expressar o meu descontentamente com os rumos
que tomamos. Por que quando entramos no
rua sem saída é possível, voltar e procurar uma saída. Ou ficarmos chorando
esperando até que alguém nos ache.
A festa
estava linda fora, mas por dentro estávamos triste. A festa que foi mais feia
por fora, era a que estava mais bonita por dentro. É chegando dentro das
pessoas que as transformações realmente acontecem.
A
humanidade não pode para de avançar, temos que cada vez mais caminhar no
sentido da humanidade, da particularidade, singularidades. Não precisamos mais
na educação em projetos sociais de vigiar e punir. Sei que isso é difícil pra
nós, mas precisamos enfrentar isso. A liberdade de expressão em arte precisa
ser garantida, mesmo que para isso, tenhamos que ensinar as pessoas as assumir
as responsabilidades pelas suas escolhas. Por exemplos: quanto se faz uma
música de uma maneira racista, preconceituosa, sexista, xenofógica, machista é
preciso ensinar ao artista que isso tem conseqüências. O que é bem diferente de
proibir o artista de se expressar. Os grandes intelectuais como Paulo Freire,
reverenciado pela educação popular foram presos, exilados, mas assumiram as
responsabilidades pelas suas decisões. Isso é exercer a liberdade interior,
mesmo que a liberdade exterior seja comprometida.
Acredito
que analises filosóficas, pedagógicas e relativista contra os artistas e
profissionais da educação artística. Mas em um momento em que nunca na história desse país a cultura e arte
foram tão valorizadas como agora. É preciso que ouça o que temos a dizer. Mesmo
que para isso tenhamos que combater a filosofia da educação, pelo pensamento da
educação. Mesmo que para isso tenhamos que combater a pedagogia e propor a
andragogia; mesmo que para isso tenhamos que trocar a educação musical pelo
linguagem musical. Mesmo que tenhamos que trocar uma educação universal, para
uma educação particular e anti-racista. Precisamos nos propor, precisamos
renovar praticas em
educação. Não podemos nos dar ao luxo de se calar frente aos
ocorridos e citados ao longo deste texto.
Por fim,
acredito que os educadores tem aprendido muito mais com as crianças a se
humanizar, reconhecer valor naquilo que faz, que diz, nas suas contestações,
dúvidas, pois diariamente está se aprendendo no SASE a ser, a conviver,
aprender a fazer e refazer a pratica
artística e educacional. E estas experiências precisam ser compartilhadas não
só com educadores, mas com coordenadores, dirigentes e colaboradores. Nem que
para isso tenhamos que mudar nossos princípios, para possibilitar a diversidade
de uma maneira mais ampla, de uma maneira que não exclua fazeres culturais que
são importantes.
Para encerrar
uma frase de Lulu Santos cantadas por jovens na apresentação dos
adolescente aprendiz: “ ...vamos nos permitir pra dizer mais sim, do que
não..., pois não há tempo que volte..., vamos viver tudo que há pra viver,
vamos nos permitir.
Um pra
mim, cinco pra ti.
A
partitura não é capaz de explicar tudo, quase sempre as escritas de percussão
vão até a semicolcheias. As semifusas, são praticamente ignoradas. Devido a sua
alta complexidade de escrita musical e de leitura. Sendo assim coloca-se na
partitura de percussão o que fica mais
bonito.
Porém acontece uma contradição. Em melodias
para pianos as fusas, semifusas são respeitadíssima nas composições. Em uma
leitura a primeira vista é possível se assustar com a velocidade empreendida na
execução instrumental.
Por
isso pergunto, por que essa mesma vontade que o músico erudito tem para
transcrever as peças no nível melódico, não é feita a nível rítmico, principalmente no que diz respeito a linha de
percussão?
Quero
provocar músicos, professores, educadores musicais, aprendizes e estudantes
sobre as razões que fazem com que a escrita musical que está ai é
preconceituosa. Aponto algumas razões que irei descrever ao longo do texto.
O
reducionismo é a principal marca das sociedades ocidentais em relação aquele
que não é ocidental, e que durante a história do ocidente foi chamado de
Bárbaro, de oriental, de africano, entre outros termos. O reducionismo tira a
capacidade e compreensão da totalidade de um pensamento.
Nos dias de hoje, sociedade ocidental, no afã
de reparar este dano histórico que comeu se utiliza do reducionista para
garantir a fala, os sons, os ritmos daqueles indivíduos que históricamente
foram negados a suas historicidade, singularidade e alteridades.
A
partitura percussiva é uma forma de compreendermos esse reducionismo. Desde que
foi incorporada pelo ocidente esta
escrita é uma simplificação, que a ser escrita com uma linha. Onde são escritas
as sonoridades dos instrumentos, sendo que a parte de cima são os graves e a de
baixo os agudos.
Ou
seja, e as nuances, os médios graves, as ligaduras, as arpogiaturas entre
outras. Uma variedade de nuances é deixada de lado na medida em que se tem
apenas uma linhas para escrever, enquanto isso, a partitura tradicional, tem
muito mais possibilidade, tem cinco linhas a sua disposição, representando
diferentes alturas e lugares, possibilitando maneiras muito maiores de
expressão sonora.
Isso
se deve obviamente a visão ocidental de que os padrões ritmos são os mais
importantes dentro da escrita de percussão. Nesse momento entro no segundo ponto, a escrita da partitura e os
métodos de ensino de percussão, vão até a semicolcheia. Neste sentido, nuances
e variações são perdidas no meio de caminho, pois a música africana, indígena,
oriental é feita de fusa, semifusas, indo além das colcheias e semicolcheias.
Além disso, os arranjos feitos para percussão quase sempre são colocados no
final, ou quando dão a base para música ocidental, sendo um padrão de ritmo de
colcheia e semicolcheias suficientes para descrever a sonoridade.
Neste
sentido, vejo que ao compreender a partitura tradicional como portadora de uma
história, é possível perceber o quanto o formado que temos hoje serve de
parâmetro para realização de concursos de música, provas para mestrado,
doutorado, pois ela representa uma maneira própria de se conseguir compreender
a história da melodia de um grupo étnico, ou seja, a européia, ou a música
européia.
Desta
maneira a partitura tradicional serve bem ao interesses dominantes na medida em
que a sua compreensão nos proporciona acesso a um mundo especifico de fazer
musical. Essa é uma das razões que fazem com que a escrita percussiva receba
esta simplificação. Ou seja, desenvolver a escrita percussiva não interessava
as elites culturais e dominantes da música erudita, até porque a percussão tira
a atenção da melodia. Seu uso, torna a melodia insignificante perto do ritmo
percussivo, pois é bem mais desafiadora, problematizadora. Seu desenvolvimento
proporcionaria uma ruptura e um acesso das camadas mais “baixas” que tem na
percussão uma maneira de ser, de pensar e de agir musicalmente.
Sendo
assim, impossibilita aqueles de compreender o seu fazer na dimensão de
conceitos. Pois todos nós sabemos que conceituar é uma característica
ocidental, outras sociedade não precisam do conceito. A música é uma delas,
temos sempre essa tendência de buscar conceituar, de saber o que as pessoas
sentem quando ouvem música. Ao não
conseguir encontrar uma conceito, somo levados a acreditar da sua
impossibilidade. Pois se a música é organizada de uma maneira em que as
durações vão até a semifusa, tudo aquilo que vai além desta é jogado fora.
Sendo assim, a percussão não encontrou espaço na escrita tradicional. Seus
movimentos são pontuais, em determinados trechos, com padrões, ou seja,
aserviço da melodia. Qualquer equidade é impossível numa partitura convencional
ou tradicional.
Por essa razão que músicos do século XXI
buscaram outras alternativas, mas mesmo assim, os estudos acadêmicos continuam
usando a partitura tradicional ou ocidental como método de ensino, pois é esta
que é cobrada nos concursos, nos vestibulares e nas provas de mestrado e
doutorada.
Atualmente
os músicos percussionista estão buscando aprender partitura para que possam se
inserir e compreender linguagem ocidental, mesmo essa não sendo suficiente para
descrever e representar todas as sonoridades que tem uma música percussiva.
O
dia em que tivermos uma partitura escrita com os arranjos da bateria de escola
de samba, com as nuances dos blocos afrobrasileiros, do partido alto, do baião,
do maracatu entre outro ritmos nas orquestras sinfônicas, ai sim teremos
efetivamente chegado a igualdade e uma linha não será suficiente para a escrita
percussiva e para partitura tradicional cinco linhas e quatro espaços, serão
muito pouco para expressar todo a nossa musicalidade.
Quanto
isso acontecer a humanidade e a música terão fetivamente buscado uma linguagem
universal que represente a diversidade musical do planeta. Onde uma partitura e
um modelo quando insuficiente para algo deve ser substituído por outro mais
coerente com a diversidade e assumido como a melhor maneira naquele momento de
atender a diversidade em suas dimensões rítmicas, melódicas, harmônicas e até
poéticas.
Mas
talvez isso seja uma utopia, pois enquanto tivermos gente, pessoas, grupos se
beneficiando da leitura tradicional, sua substituição será quase impossível,
digo quase, pois todo a impossibilidade tem um Q aberto a revolução. E quem
sabe amanhã de ser um outro dia, que pode ser daqui a milênios.
O
medo do dualismo
Em varios momentos da minha vida profissional, convivi com diferentes
concepções negros. Alguns negros assumiam suas identidades afro, com cabelos
black, gírias, música alta, batuque, carnaval, e outros, o silencio, a fala
educada civilizada, o uso correto do língua culta, o apreço pela música
erudita. Não por acaso que esse perfil de negro encontrei mais na universidade,
do que no cotidiano.
Mas o que me chama atenção, é o fato da intelectualidade artística e
cientifica procurar o meio termo, ou seja, ficar do lado e nunca com
determinada visão de mundo. Acredito que isso tem algumas razões de ser.
Uma delas foi a derrota do oficialmente do socialismo em varias partes do
mundo no século XXI. Assim ouve um trauma, no qual passa o país no momento, com
o fim oficial das utopias de esquerda, assim, mais uma vez a intelectualidade
acredita que tudo visão de mundo político e cultural representa duas faces da
mesma moeda. Sendo que preferem não ficar nem de um lado nem do outro.
A sociologia da música também passou por isso, e ao aderir as teorias de
Adorno na metade do século XXI, mas teve que mudar de lado mais uma vez
preferindo a neutralidade. Tão em voga no inicio da ciência moderna.
Essa neutralidade tem uma cara das teorias de Gilberto Freire sobre a
mestiçagem. Ou seja, a ciência agora não quer ser ocidental, nem oriental, mas
ficar no meio, ou seja, é uma ciência mestiça.Que fica indecisa de qual lado
seguir.
Porém essa pseudoneutralidade é enganosa. É falsa, não condiz com a
realidade que é dicotômica, pois ainda temos a marca do socialismo, mesmo com
sua derrota, ainda temos as utopias vivas em nós, nosso condição ocidental
ainda é marcada por preconceitos, racismo, machismo e todos os ismos que temos
de direito como oriundos de tradições culturais européias hegemônicas.
Assim o dualismo, do qual o intelectual tenta fugir a todo o tempo, do
qual a tradição pós moderna tenta apagar, persiste. Se um por um lado,
compreender e querer que esta não exista, e mesmo que buscamos ferramentas para
justifica-lá, por outro lado, esta dicotomia se expressa a nossos olhos, nos
espaços de poder, no convívio social, nas maneiras de pensar e agir.
Se compreendemos e entendermos as dicotomia, ou a separação, e não
negá-las, mas saber que elas ainda existem e que estão ai a nossos olhos, aos
olhos da ciência pós moderna. Talvez possamos construir um pensamento
cientifico que assuma o erro, em todas as suas dimensões, culturais,
filosóficas, sociais, mas para tal é preciso compreender outras literaturas
negras, sociologia negra, filosofia negra, cultura negra, principalmente num
país comprovadamente racista, machista, xonófobo que nem o nosso. Só
compreendendo estas literaturas que podemos entender sobre nós mesmos. Sobre a
nossa história e assim construir um novo cientifico ou uma nova abordagem.
Ficar no meio, ficar entre uma
coisa e outra é coisa pra covarde, pessoa que não tem convicção. Se a sociedade
está como está hoje com seus inúmeros problemas sociais, ambientais e éticos, é
justamente, porque a classe dirigentes, tinham convicção de tipo de país, que
queriam construir, um país branco ao modelo europeu, com extermínio da cor
preta e sem respeito a diversidade.
Para mudarmos isto teremos que construir uma ciência ao contrário, não
uma ciência dialógica. Mas uma ciência comprometida com a diversidade, sabendo
dos erros históricos da ciência, e o quanto esta não esteve a serviço dos mais
discriminados da sociedade.
Necessitamos de uma ciência, que se obriga agora a ouvir a voz das ruas,
dos negros, dos pobres, dos homossexuais, das mulheres, enfim, uma nova ciência
que entenda as dicotomias e não busque negá-las. E que procure incorporá-las,
pois as utopias nunca morrem, elas nos mantém sonhando.
Ingresso mais barato pra música erudita e mais caro pra música popular.
Um dia desses lendo um
jornal de grande circulação na cidade fiquei pasmo com o preço de um concerto
de música erudita num teatro. Os ingressos custavam entorno de R$ 20,00 à R$
40,00. No mesmo encarte de jornal o preço de um show no auditório Araújo Viana
custava o triplo disso.
Então fiquei pensando tem
alguma coisa errada. Como um músico erudito vai ganhar um cachê bem menor do
que um músico popular. Então comecei o livro de Theodor Adorno em Introdução a
Sociologia da Música (2011), fiquei impressionado como o outor classifica os
variados tipos de escuta musical e a critica que faz a cada um deles.
Percebi então que as bases
do preconceito musical então neste livro.
Somente a liberdade não
está em uma variedade de escolha que confunde, que nem pensa alguns. Segundo o
autor Adorno (2011) liberdade seria o direito de se fazer o que não está na
moda, ou que esta na moda sem ser chamado de velho ou de novo por conta do
gosto estético de suas escutas e performances. Sendo assim, é percebível no
discurso de muitos doutores os jovens como reféns, da mídia, do rádio e da tv.
Em nome da liberdade o
educar musical trabalha vários ritmos, inclusive os da mídias, neste sentido
ele estaria referendando as idéias da industria cultural, quando na verdade
deveria trabalhar o bom gosto estético, por essa razão os jovens negros que
fazem música erudita permanecem nela, os músicos populares estão sujeitos a
lógica do mercado, nos tempos vagos, não podem se dedicar aos estudos. Nesse
sentido o autor tem razão.
Talvez a pedagogia da
música tenha contribuído para isso. A visão marxista de Adorno (2011) contribui
para elucidação do fenômeno, mas não é suficiente. Já que o capitalismo venceu
e se constitui como classe hegemônica.
Os ingressos mais baratos para assistir uma
opera são um escândalo que deve ser analisado com profundidade. O apreciador
desta música tem a facilidade de estar próximo a música de bom gosto estético,
enquanto, um músico popular como Djavan, Bem Jor e Roberto Carlos, custam muito
mais caro.
Num primeiro momento, é
possível achar que há uma desigualdade, no entanto uma análise detalhada, verá
que os músicos eruditos já são pagos pela fundação que representam, os recursos
usados para trazer estes profissionais são com leis de incentivo. Assim, é
possível perceber que a indústria ganha dos dois lados.
Porém, o apreciador de música erudita, tem seu
acesso facilitado por conta da pseudo falsidade de que o público não gosta de
música clássica ou erudita, por isso ingresso mais barato. Ele o de música
erudita ganha do estado, para ter sua produção criada, enquanto o músico
popular depende do mercado ou da indústria cultural. Obviamente que em uma
sociedade capitalista é impossível acreditar que se poderia realizar um show de
opera sem custos, tanto para cantores, quanto para orquestras, este grupos são
bem caros, mas uma pequena elite tem acesso. Não por conta da sociedade e sim,
pois desde a sua fundação foi criada para atender um grupo social burguês.
Enquanto os pobres que
necessitam da música popular tem acesso a esta somente pelo rádio, pela Tv,
pela internet ou através de cds piratas. Quando na verdade pela lógica deveria
ser o contrário. Os músicos populares como são chamados os cantares da MPB
deveriam ter seus acessos facilitados com ingressos mais baratos e com os
incentivo do estado.
Em alguns momentos muitos
destes artistas populares conseguem leis de incentivo a cultura, no entanto são
exceções. Enquanto as orquestras por serem autarquias ligadas aos governos tem
recursos garantidos, espaços, público para os seus espetáculos musicais.
Acredito que essa divisão
entre música popular e música erudita o acesso de seus públicos devem ser
melhor analisada na sociologia da música na medida em que se percebe os
diferentes públicos por conta das várias escolhas musicais e escutas
diversificadas. Será que o mesmo público que escuta uma música erudita R$ 20,00
considera isso justo? Será que um público que vai a música popular considera
justo pagar R$180,00 pra mais para assistir um show de música dita popular?
Alias que só pelo preço de popular não tem nada.
Por fim, a vinculação das
grandes orquestras sinfônicas ao estado foi uma garantia que a música erudita
teve para se manter como instituição, para que seu público na grande maioria
branco tivesse o acesso a ela garantido e não tivesse perigo de ser
analiquilada pela industria cultural. Sendo assim, no mundo todo da para ver
pelas escutas e pelo público quem é o apreciador ou ouvinte de música erudita e
quem é o ouvinte de música popular. Alias, os ouvintes de música popular estão
ficando mais parecidos com os de música erudita. Um público branco. Se você
quiser realmente conhecer a música popular vá um baile funk de periferia e
conhecerá a verdade música popular.
Contra a vontade de verdade
Desde que
Michael Foucoult fez a analise do curso que as verdades cientificas caíram por
terra. Me parece que as verdades ocidentais foram abaladas com esse pensador de
uma maneira bem mais profunda que os filósofos que os antecederam. Um gênio que
morreu novo. Mas quero discutir aqui o fundamento da vontade de verdade, ou
seja, a vontade de tornarmos nossos discursos verdadeiros. De lutarmos pra
fazer valer nossos pensamentos, idéias, opiniões, e maneiras de ser do ponto de
vista africano.
Nesse sentido
que o presente texto visa abordar em que aspectos as verdades africanos vem
sendo questionada pela sociedade.Seria o pensamento africano da intectualidade
uma vontade de verdade ou uma contra vontade de verdade?
A linguagem, o
modo de ser africano e oriental muito recentemente é que foi incorporado pelo
ocidental. A visão de verdade absoluta, de promotora da paz, da europa como
guardiã do mundo, foi quebrada com a duas guerras que tivemos no século
passado. Essa maneira autodestrutiva levou a comunidade européia a repensar
seus valores. Assim, passou a ouvir os anseios das culturas africanas, a
pesquisa-lá, a pensá-lá e restituir sua relação humana de homo-sapiens-sapiens
como diz Morin (2002). É justamente nesse momento que vários seguimentos de
contestação surgem no mundo e nos paises da áfrica e da américa latina.
O terror de uma terceira guerra mundial, o
reconhecimento por parte destes países periféricos de sua condição e atraso
econômico levou a discursos ditatoriais que culminaram com mortes em muito
maior escala do que com uma terceira guerra mundial.
Assim uma quase
democracia se instalou em muitos lugares no Brasil, em cuba, na argentina, no
chile, assim através de discursos pseudodemocraticos buscou-se aniquilar as singulares para mais adiante na
história, enquanto, porém na medida em que foram restaurados alguns direitos
humanos, obviamente que acabamos encontrando outros novos direitos, e aqueles
reivindicados no passado já não atendem mais as necessidade do presente, assim
aquilo que era vontade de verdade precisa se ressignificar, ou seja, lutar pelo
seu novo espaço nos discursos de poder para não perder a sua função histórica
inicial.
É nesse ponto que encontro no qual encontro a
grande dificuldade que as sociedades pós modernas tem, que é de fazer valer
estes novos direitos do seu tempo. Um exemplo disso são as lutas antirracistas
abafadas com as ditaduras, das mulheres, da sexualidade, direito ao transporte
de qualidade, do acesso a educação, a cultura, a informatização, em fim, todos
estes visam a vontade humana de querer saber o porque da não validade de seus
discursos.
Nesse aspecto
entro num ponto central que vejo atualmente reivindicações justas, democráticas
que questionam esse vontade de verdade das sociedade ocidentais serem
consideradas como não justa, como inviável em uma democracia. Parece-me que ao
mesmo tempo em que as constituições permitiram, ou seja, garantiram direitos,
enquanto estas não eram regulamentadas, a ciência teve um papel de construir um
contra discurso destas vozes.
Nesse caso as
vitimas passam a ser os algozes da sociedade. Os negros é que são racistas, as
mulheres que não se valorizam ao questionar o corpo e a sexualidade, os
homossexuais que não aceitam a família e que querem impor as suas
particularidades a todo o conjunto da sociedade, os índios dono da terra que
tem aprender a conviver com o branco e dividir a suas terras, enfim, a
liberdade tão sonhada pela modernidade, vai dando sinais de retrocesso, porém
permeada por um discurso democrático que a toda tempo visa o equilíbrio.
Nesse sentido a
comunidade negra apresenta uma vantagem, através de sua literatura que vem se
contraponto a lógica de verdade ocidental, construiu um arsenal de argumentos
que nos ajudam a resistir a estas ações genocidas que visam aniquilar e não
fazer avançar nossos direitos na conquista da liberdade intelectual.
Nesse caso, a vontade de verdade no qual
Foucoult fala não é verdade africana, mas sim a ocidental. A linguagem, o modo
de ser africano e seu discurso não é a mesma que a do ocidente. Ele difere por
questões históricas e que provam que os discursos africanos e suas visões de
mundo é que proporcionaram um melhor desenvolvimento da sociedade.
Vejo o quanto a música ocidental mudou ao
incorporar estes valores como a circularidade, a ludicidade, corporeidade, a
energia, a musicalidade, coletividade e a religiosidade. Estes valores através
da educação foram sendo permeados, incorporados sem que se dissesse que eram
africanos, ao analisar as suas lógicas é perceptível estas influencias.
No entanto, a
partir do momento em que se descobre essa influencia, a ciência e seus
discursos buscam aniquila-lás, e mais uma vez a vontade de verdade aparece nos
discursos acadêmicos apontando as falhas
do pensamento intelectual negro como determinista e reducionista.
As heranças iluministas como clareza no
discurso, nos textos, a objetividade em detrimento da subjetividade retomam
suas novas facetas, agora sobre a forma de se contrapor ao politicamente
correto. Ao se fazer isso, se está impedindo que a sociedade avançe nas suas
relações, pois é a política que regra a ação humana, se a política não esta
sendo suficiente para entender as nossas aspirações e liberdades humanas então,
é chegado o momento de se mudar a política.
Mesmo que o
discurso de vontade de verdade seja um discurso político, ele é necessário na
medida que é através dele que chegamos num acordo entre ambas a partes. O
problema da política é que nos acordos estão interesses as vezes contraditórios.
Se no campo da ciência a contradição perdeu o seu fim a partir de zaratrusta,
no campo político ela se afirma em partidos que ora propões avanços, ora
retrocessos.
A sociedade
brasileira com a constituição intitulada cidadã se propôs a atender os
diferentes setores da sociedade, no entanto deixou para regulamentar a questões
após amplas discussões, emendas e leis. Assim, o pensamento que é contra esta
vontade de verdade tem que esperar mais um tempo, até achar terreno fértil para
se recompor.
Por fim, o
pensamento africano e afrobrasileiro da intelectualidade negra nos deixou um
legado para não cairmos nos discurso científicos e políticos que tem na sua
gênese esta vontade de verdade, questionada pelo oriente. O discurso africano é
contra esta vontade de verdade, visa combatê-lo é isso que temos que ter em mente. Pois durante
séculos, este discurso não foi aceito, diferentemente de décadas passadas hoje
temos um arsenal de teorias e de literatura negra, que se contrapuseram a esta
lógica, e ao afirmar sua identidade, abalam a identidade do outro. E abalar a
sua identidade é abalar a sua vontade de verdade.
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