segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Preconceito EtnoMusical: Ensaios por uma educação musical antirracista


Preconceito EtnoMusical:





Ensaios por uma educação musical antirracista











Pedro Acosta













Porto alegre
2013




Poesia no Banzo

Olho pela janela do ônibus
Olho de novo
Olho mais uma, duas e três vezes

Quase não acredito

Olho, nariz, boca e ouvido
Todos os sentidos

Todos os sentimentos
O coração alerta
O coração aperta

São tantas transformações
E obras inacabadas
Assim como eu.

Pedro Acosta











Prefacio
O presente trabalho versa sobre uma proposta de Educação Musical Antirracista. Como é sabido de todos, o estado brasileiro vem desenvolvendo políticas públicas de combate ao racismo em todas as esferas governamentais, no entanto, apesar de todas as políticas publicas e legislações ainda não foram suficientes para erradicar o racismo principalmente aqueles que assolam a educação do Brasil.
Neste sentido a presente proposta visa combater o racismo na educação musical. Aqui é importante uma informação que visa orientar os críticos da proposta. Essa proposta não é um racismo as avessas, como é comum chamar qualquer ação com vista a promoção da igualdade racial, pelo contrario a proposta visa ampliar o debate, enfrentar o racismo de frente. É obvio que muitos professores de música terão medo de utilizar o termo, no entanto , muitos professores em suas praticas cotidiárias desenvolvem propostas antirracista: quanto mostram a participação negra na música erudita, quando apontam a contribuição negra na formação cultural e musical do povo brasileira, quando fazem pesquisas nas áreas de educação e fazem recortes etnorraciais, de identidade e que colaboram para pesquisas na área da educação musical.
O que aqui proponho com estes ensaios é problematizar e auxiliar professores e entender a importância de uma educação em música que proporcione equidade de fato. Esse é ponto central, ao se juntar as diferentes propostas espalhadas estamos contribuindo para erradicação do racismo na educação.
Vale aqui dizer, que os professores (as), facilitatores(as) e educadores (as) de música que trabalham em projetos sociais, em universidade, em escolas publicas e privadas que valorizam as praticas negroafrobrasileiras é importante para que o Brasil assuma no campo da educação e da educação musical política publicas.
Outra explicação importante é o uso do termo antirracista. Faço uma analogia com os antídotos, feito dos vírus e que auxiliam a tratar as pessoas como Anti-tetano, testes Anti-HIV, Anti, aqui tem o sentido de se antecipar a doença e combatê-la. E é assim, que o racismo deve ser tratado como uma doença que assola a humanidade, uma doença que se combate com ações que visem antecipar a praticas que possam desvalorizar, menosprezar e apagar a contribuição negra na educação musical.
Assim, acredito que o termo aplicado a educação colabora para que linhas de pesquisas na área da educação musical sejam criadas e proporcione as negros e negras que queiram estudar- os aspectos do preconceito musical com as musicalidade negras como funk, samba, pagode entre outros possam fazê-las.
Nesse ponto a política colabora muito para isso. Com recursos destinados a construir conteúdos, métodos e técnicas que possam combater o racismo e auxiliar na formação do profissional da educação musical.
Àqueles que não gostam do termo Educação Musical Antirracista, a não aceitação mostra o quanto é difícil combater o racismo, quando a própria área não acredita na existência deste na educação. Porém, os estudos etnomusicológicos mostram o quanto isso existe e abalam a noção mítica da democracia racial, no qual muitos professores em seus discursos apóiam e teimam que não existe, e que todos sofrem de preconceitos musicais.
No entanto, os dados não deixam dúvidas que o racismo existe. Basta ver a participação negra na música erudita, nos cursos de mestrados e doutorados, nos currículo dos cursos de formação, o número de professores de música concursados, enfim, a participação negra chega a ser ridícula, num país em que  metade da população se declara negra.
Quando um país assume sua contradição mora e ética e  visa combatê-la com vista tornar a sociedade mais justa, humana possível para todos os segmentos estamos a um passo de uma democracia plena, enquanto não acontecer uma proposta de Educação Musical Antirracista é necessária.
Mesmo que para isso tenhamos que assumir o termo e enfrentar os constrangimentos dos colegas. Se não fizermos isso, como as crianças e os adolescentes vão saber de suas histórias musicais dos negros, de suas lutas, do reconhecimento, da maneiras de ser e de fazer música, de seus principais ícones e referencias.
Uma proposta como aqui é apresentada tem o caráter de abrir os olhos daqueles que insistem em acreditar que esse debate é da história, da geografia, da etnomusicologia e que a educação musical não tem nada a ver com isso. Esse ensaio se contrapõe a essa visão e ao afirmar que é papel da Educação Musical pensar nestas questões, pois é ela que proporciona junto com outras áreas artísticas a reflexão, ação, teoria e pratica sobre o fazer, criar, compor, apreciar, executar e a conexão com a literatura musical.
Por fim, se a educação musical e o ensino de música a partir da implementação da lei da música na escola não fizer, quem vai fazer. A luta antirracista é do interesse de todos nós educadores de música e profissionais da educação que acreditamos na humanidade.
Autor
Pedro Acosta
Contra a vontade de verdade

Desde que Michael Foucoult fez a analise do curso que as verdades cientificas caíram por terra. Me parece que as verdades ocidentais foram abaladas com esse pensador de uma maneira bem mais profunda que os filósofos que os antecederam. Um gênio que morreu novo. Mas quero discutir aqui o fundamento da vontade de verdade, ou seja, a vontade de tornarmos nossos discursos verdadeiros. De lutarmos pra fazer valer nossos pensamentos, idéias, opiniões, e maneiras de ser do ponto de vista africano.
Nesse sentido que o presente texto visa abordar em que aspectos as verdades africanos vem sendo questionada pela sociedade.Seria o pensamento africano da intectualidade uma vontade de verdade ou uma contra vontade de verdade?
                       
A linguagem, o modo de ser africano e oriental muito recentemente é que foi incorporado pelo ocidental. A visão de verdade absoluta, de promotora da paz, da europa como guardiã do mundo, foi quebrada com a duas guerras que tivemos no século passado. Essa maneira autodestrutiva levou a comunidade européia a repensar seus valores. Assim, passou a ouvir os anseios das culturas africanas, a pesquisa-lá, a pensá-lá e restituir sua relação humana de homo-sapiens-sapiens como diz Morin (2002). É justamente nesse momento que vários seguimentos de contestação surgem no mundo e nos paises da áfrica e da américa latina.
 O terror de uma terceira guerra mundial, o reconhecimento por parte destes países periféricos de sua condição e atraso econômico levou a discursos ditatoriais que culminaram com mortes em muito maior escala do que com uma terceira guerra mundial.
Assim uma quase democracia se instalou em muitos lugares no Brasil, em Cuba, na Argentina, no Chile, assim através de discursos pseudodemocraticos buscou-se  aniquilar as singulares para mais adiante na história, enquanto, porém na medida em que foram restaurados alguns direitos humanos, obviamente que acabamos encontrando outros novos direitos, e aqueles reivindicados no passado já não atendem mais as necessidade do presente, assim aquilo que era vontade de verdade precisa se ressignificar, ou seja, lutar pelo seu novo espaço nos discursos de poder para não perder a sua função histórica inicial.
 É nesse ponto que encontro no qual encontro a grande dificuldade que as sociedades pós modernas tem, que é de fazer valer estes novos direitos do seu tempo. Um exemplo disso são as lutas antirracistas abafadas com as ditaduras, das mulheres, da sexualidade, direito ao transporte de qualidade, do acesso a educação, a cultura, a informatização, em fim, todos estes visam a vontade humana de querer saber o porque da não validade de seus discursos.
Nesse aspecto entro num ponto central que vejo atualmente reivindicações justas, democráticas que questionam esse vontade de verdade das sociedade ocidentais serem consideradas como não justa, como inviável em uma democracia. Parece-me que ao mesmo tempo em que as constituições permitiram, ou seja, garantiram direitos, enquanto estas não eram regulamentadas, a ciência teve um papel de construir um contra discurso  destas vozes.
Nesse caso as vitimas passam a ser os algozes da sociedade. Os negros é que são racistas, as mulheres que não se valorizam ao questionar o corpo e a sexualidade, os homossexuais que não aceitam a família e que querem impor as suas particularidades a todo o conjunto da sociedade, os índios dono da terra que tem aprender a conviver com o branco e dividir a suas terras, enfim, a liberdade tão sonhada pela modernidade, vai dando sinais de retrocesso, porém permeada por um discurso democrático que a toda tempo visa o equilíbrio.
Nesse sentido a comunidade negra apresenta uma vantagem, através de sua literatura que vem se contraponto a lógica de verdade ocidental, construiu um arsenal de argumentos que nos ajudam a resistir a estas ações genocidas que visam aniquilar e não fazer avançar nossos direitos na conquista da liberdade intelectual.
 Nesse caso, a vontade de verdade no qual Foucoult fala não é verdade africana, mas sim a ocidental. A linguagem, o modo de ser africano e seu discurso não é a mesma que a do ocidente. Ele difere por questões históricas e que provam que os discursos africanos e suas visões de mundo é que proporcionaram um melhor desenvolvimento da sociedade.
 Vejo o quanto a música ocidental mudou ao incorporar estes valores como a circularidade, a ludicidade, corporeidade, a energia, a musicalidade, coletividade e a religiosidade. Estes valores através da educação foram sendo permeados, incorporados sem que se dissesse que eram africanos, ao analisar as suas lógicas é perceptível estas influencias.
No entanto, a partir do momento em que se descobre essa influencia, a ciência e seus discursos buscam aniquila-lás, e mais uma vez a vontade de verdade aparece nos discursos acadêmicos apontando as falhas  do pensamento intelectual negro como determinista e reducionista.
 As heranças iluministas como clareza no discurso, nos textos, a objetividade em detrimento da subjetividade retomam suas novas facetas, agora sobre a forma de se contrapor ao politicamente correto. Ao se fazer isso, se está impedindo que a sociedade avançe nas suas relações, pois é a política que regra a ação humana, se a política não esta sendo suficiente para entender as nossas aspirações e liberdades humanas então, é chegado o momento de se mudar a política.
Mesmo que o discurso de vontade de verdade seja um discurso político, ele é necessário na medida que é através dele que chegamos num acordo entre ambas a partes. O problema da política é que nos acordos estão interesses as vezes contraditórios. Se no campo da ciência a contradição perdeu o seu fim a partir de zaratrusta, no campo político ela se afirma em partidos que ora propões avanços, ora retrocessos.
A sociedade brasileira com a constituição intitulada cidadã se propôs a atender os diferentes setores da sociedade, no entanto deixou para regulamentar a questões após amplas discussões, emendas e leis. Assim, o pensamento que é contra esta vontade de verdade tem que esperar mais um tempo, até achar terreno fértil para se recompor.
Por fim, o pensamento africana e afrobrasileiro da intelectualidade negra nos deixou um legado para não cairmos nos discurso científicos e políticos que tem na sua gênese esta vontade de verdade, questionada pelo oriente. O discurso africano é contra esta vontade de verdade, visa combatê-lo é isso que temos que ter em mente. Pois durante séculos, este discurso não foi aceito, diferentemente de décadas passadas hoje temos um arsenal de teorias e de literatura negra, que se contrapuseram a esta lógica, e ao afirmar sua identidade, abalam a identidade do outro. E abalar a sua identidade é abalar a sua vontade de verdade.  








Ciências sociais


As ciências sociais é umas das áreas de pesquisa acadêmica de maior relevância para sociedade. O racismo e preconceito racial sempre foram, pelo menos no Brasil, uma das principais ferramentas para negros e não negros quebrarem  mito da democracia racial. Mas qual a razão para tamanho interesse? Qual o papel da intelectualidade negra nesse processo? Esta é um mero objeto ou é sujeito dos estudos em ciências sociais.
Desde que o país se consolidou como republica e abandou o regime escravocrata libertando a população negra formalmente da escravidão que o Movimento Negro Brasileiro, que tem como primeira forma de expressão política a Frente Negra Brasileira já dava indicativos de possíveis políticas na área de educação, cultura, artes e na economia. Décadas se passaram, períodos ditatoriais vieram e a somente a partir da democratização do país e com a nova carta magna de 1988 que os negros passam a ter garantidos formalmente emprego, trabalho, cultura, educação e o pais assume sua condição histórica com o racismo perante os organismos internacionais, principalmente devido a ações do movimento negro brasileiro.
Essa foi o primeiro passa para alavancar uma luta que não se restringe apenas aos aspectos comuns da sociedade brasileira, mas também da produção cientifica e do saber. Assim intelectuais negros  como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzáles entre outros propuseram-se a reformulação de conceitos e visões esteriotipadas do negro nas pesquisas acadêmicas. Nesse sentido são os primeiros intelectuais a posicionarem-se a favor dos sistema de ações afirmativas e reparativas para a população negra.
Foram os intelectuais negros e o Movimento Negro Unificado que a partir de dados coletados  pelas institutos de pesquisas comprovaram o que a mais de um século já vinha sendo dito. Que o Brasil era uma país racista, pois não proporcionava equidade nas representações de poder como televisão, espaços públicos, nas decisões políticas, ficando sua participação apenas em atividades subalternas. Foram também, estes intelectuais e muitos outros pelo país afora que propuseram políticas de cotas nas universidades, bem como, medidas educativas para combater o preconceito racial.
Passados mais de duas décadas, hoje é possível perceber algumas universidades públicas e privadas a participação do negro, não apenas como objeto de pesquisa, mas sim, como sujeito de pesquisa. Buscando conhecer a sua história  e realidade social de seus pares, propondo alternativas, mostrando à academia  o quanto preconceito desta está enraizado em suas instituições, pois estes atrasaram a inserção do negro no ambiente acadêmico e de construção do saber cientifico e sua contribuição para sociedade do qual faz parte.
Pois a academia e a pesquisa cientifica serve para ciências sociais devido a sua aplicabilidade. Por fim, o atraso do negro no mundo acadêmico se deve ao racismo introjetado nesta e sua pseudo neutralidade cientifica, que atualmente foram desmascaradas pelas pesquisadores negros.

A dialética na educação musical
   
      Em períodos recentes da nossa historia da musica a cultura européia era hegemônica.
Se fosse ensinar musica teria que passar pelos grandes formadores musicais como Mozart, Bach entre outros das escolas Alemãs ou Italianas. No entanto vem atualmente uma concepção que valoriza a musica brasileira, figuras como Pixinguinha entre outros sambistas passaram a também a aparecer nos livros didáticos de musica brasileira, muito influenciados pela semana de arte moderna. Mas essa visão dialética da educação musical onde a musica popular e Erudita se mistura, dialogam e servem a quais interesses? O que estas representações do negro na musica popular aniquilou  historicamente?
      A semana de arte moderna influenciada pela teoria de Gilberto Freire sobre a miscigenação social e apresentação do Brasil como país da democracia racial foi uma tentativa das elites brasileira de impedir o desenvolvimento social econômico da população negra.
Do ponto de vista musical o século anterior teve uma participação enorme de negros fazendo musica erudita em uma época em que fazer musica era coisa de escravo, ou seja, de negro.
      José Mauricio Nunes Garcia é a prova de que para um descendente africano chegar ao principal posto da educação musical e maestria em musica era devido a sua capacidade de expressão de conhecimento sobre a ciência musical. Em vários aspectos o século XIX foi cheio de figuras negras.
      Em compensação, no século XXI desapareceu a figura do negro como destaque na musica erudita, isso se deve a representação que se fez da participação do negro como única e exclusivamente na musica popular.
Essa pratica descrita no livro didático nada tem de histórica. Apagou a participação do negro na musica erudita e clássica.
A dialética aniquilou a possibilidade de vermos negros nas orquestras sinfônicas de câmara e filarmônica. Uma juventude que não se enxerga na musica clássica, erudita não pode imaginar a possibilidades alem da musica popular.
      Por uma razão muito simples. O negro gosta de futebol por ter referencias como Pelé, Ronaldinho, Neimar, Ronaldo, quer ser pagodeiro por ver Thiaguinho, Alexandre Pires, Fundo de Quintal entre outros. O mesmo não acontece na musica erudita. A dialética da educação musical achando que assim teremos um maior interesse pela musica ao não levar em consideração a historicidade e ao fazer representações de que não existe popular e erudito é o que prejudica a história musical de raiz e reforça o preconceito raiz.


Orquestra Sinfônica  Preconceituosa Alegre


         Por mais ridículo que possa parecer falar em musica popular e erudita ainda faz sentido.
Mesmo com todas as teorias da educação musical que atestam que essa separação já não existe mais, que o popular é mais do erudito e vice-versa. No entanto uma analise mais acurada constatará que essa dicotomia ainda existe por duas razões, poder e saber cientifico.
         Poder devido fato de a musica erudita e clássica serem hegemônicos no ponto de vista dos interesses das elites brasileiras: basta reparar que todas as orquestras sinfônicas  são autarquia ligadas ao estado e com poder administrativo nos recursos financeiros. Enquanto isso na mesma cidade a cultura popular luta por recursos intensos para o carnaval, manifestações folclóricas e de massa popular. Se não bastasse isso tudo as mesmas tem que lutar a cada ano por mais recursos no Orçamento Participativo contra a própria cultura popular.
         Enquanto milhões são destinados a construção de salas sinfônicas, mais alguns mil destinados aos cursos de bacharelado  a formação de professores na rede estadual para ensinar musica erudita na escola e nem sei mais quantos a formação de novas platéias. Assim a musica erudita de uma maneira ainda leve romântico e expressionista e acima de tudo preconceituosa continua. Pois não reconhece nem os músicos eruditos negros em seus concertos. Muito menos propõe concertos em que valoriza estes referenciais.
          Quanto a ciência ao saber cientifico a prova que a uma tentativa de aniquilar a musica popular pode se percebido na exigência de formação de nível superior para os concursos públicos magistério de habilitação em musica. Mesmo que a legislação atual de ensino musical não prever a formação universitária como pré requisitos para o profissional de educação musical. Alem disso conforme o fato das escolas publicas  influenciadas pelas novas tecnologias dos celulares e de acesso individualizado internet por parte dos alunos estarem frequentemente acessando, funks, pagodes, tecnobregas, musicas evangélicas intituladas menos musica erudita.
           Assim as leis, as ações e tentativas pseudo cientifica de acabar com a separação da musica popular e erudita não tem fundamento na mediada que na pratica essa divisão ainda existe, bastante para empregá-las apenas uma analise das relações de poder que se estabelece entre uma e outra e outras formas de representação social que existe sobre ambas na sociedade. O alegro da Orquestra sinfônica com altos recursos contrasta com a rallentando da musica popular.
        














          
                                 


Preconceito Etnomusical enraizado                                                                                                                       
      Como educador, professor, facilitador, musico, negro e profissional de educação musical sempre tive dificuldade ao fazer escolhas que atendessem as minhas necessidades e dos oficinandos. Alunos ou educandos e das entidades sociais nos quais eu trabalhei. Esta tarefa era e continua sendo a das mais difíceis, mesmo com todas as teorias sobre educação musical. Ainda mais nos dias de hoje em que atender a necessidade de funk dos jovens das periferias por parte do educador coloca em questão  valores morais sociais e éticos. Não tem como fugir. O educador moderno precisa enfrentar essa realidade. Para isso é preciso saber mobilizar competências atitudes e valores anti racistas.
      Não basta apenas o profissional da educação ter curso superior em musica. Pois está cheio de péssimos profissionais com mestrado e doutorado que cometem crimes contra seus alunos, seja como orientadores ou professores da rede publica e privada. A formação acadêmica em vez de ser um fator agregador pode significar um obstáculo em uma educação anti racista. Por exemplo, não reconhecer o repertorio funk como possibilidade de desenvolvimento musical e um absurdo por puro preconceito enraizado.
      Quanto as atitude não basta apenas ter competências é preciso ação anti racista. Enfrentá-la, desmistificá-la, reconhecê-la em si nas escolhas e tomar atitudes de enfrentamento como apresentar canções funk, canções de batuque, jongo, congada, pagode, hip hop entre outras gêneros musicais negros ao aprendizes. Assim aos poucos os alunos vão percebendo as atitudes anti racista do professor. Nesse sentido fica fácil depois desenvolver com os educandos uma atitude aberta e que vai alem da musica como contexto social e racial das praticas escolhidas. Pois já foram sentidas  as atitudes do professor.
      Esse sentir do educando diz respeito aos valores. Eles é  a parte mais sensível na hora da escolha do repertorio. Qualquer espécie de moralidade em educação musical do ponto de vista da cultura negra é difícil, pois esta é contraditória, sexualizada e corporificada. Alem disso, tem ludiciadade, oralidade, religiosidade. Não é coerente é resistente, qualquer concepção a partir de valores cristãos terá dificuldade em um momento ou outro de lidar com esta multiplicidade de valores civilizatórios afros brasileiros.
      Por fim a simples tentativa por parte dos educadores de musica de enfrentar aos seus valores e preconceitos e esconder o seu racismo fruto de uma educação cristã e eurocêntrica em musica é o primeiro passo para uma educação na pratica anti racista. Sem esse enfrentamento qualquer escolha de repertorio afro é falsa, oportunista e uma chantagem com os alunos. Uma educação musical democracia é uma  educação musical anti racista, este é o único caminho possível.

Genocídio acadêmico:
 Por cotas na graduação e pós graduação em música na UFRGS.

Quando o negro utiliza a música como meio de melhorar as suas qualidade de vida, de maneira subjetiva isso é concretizado na pratica. Pois ser músico é ter prestigio, é ser reconhecido, chamado, valorizado. Nesse sentido ela se torna o caminho mais rápido para se fugir a herança de outros afazeres, de menos prestigio, como catadores, lavadores de carro, mestre de obras, serventes, serviços gerais entre outros.
 Por essa razão o funk , o pagode, o hip-hop vem sendo ferramentas úteis no resgate da cidadania jovens negros em projetos sociais financiados pelo governos estaduais, municipais e federal, pois essas experiências de sucesso são vividas na prática. Além disso, trabalham com a dimensão simbólica, criando sonhos e desejos de conquistas no campo afetivo. Isso para o negro não é um problema, mas sim, uma realidade. No entanto, mesmo no atendimento dessas capacidades musicais adquiridas pelo processo cultural, é possível perceber uma má vontade das elites dirigentes. Pois se racismo não existisse, se as igualdades de oportunidades fossem dadas a todos era para ás universidades públicas de música estarem cheias de negros fazendo música. O que vemos é o contrario, escolas cheias de brancos fazendo música.
. Então deve haver um problema. Pois, isso mostra a realidade pigmentocrática e racista, pois pra quilo que os afrodescendes fazem melhor as elites dirigentes não conseguiram atender.
Na pesquisa com cotista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul de Lucina Bello (2011) não tinha nenhum estudante de música. Mas se a música é uma pratica social de importante significado, porque razão o negro não participa de seu processo de seleção? Se a música é uma pratica social comum, porque nem na licenciatura em música da referida universidade temos negros? O que impedi um jovem de freqüentar a sua universidade? Será que é o exame de seleção, nos moldes da renascença, ou do programa ídolos?
 Faculdade ou universidade é pra ser espaço de saber, de construção do conhecimento, ou seja, um espaço de fazer cientifico. Mas temos cotistas em áreas saberes científicos bem mais antigos que a educação musical, em que vemos negros participando do sistema de cotas e na música nenhum. Em áreas como medicina não se pedi para  pessoas fazerem exame de admissão no curso, o mesmo no direito, na antropologia nestes o critério é universal. Porém na música isso não acontece, há uma seleção dos melhores alunos, que dominem a técnica dos instrumentos clássicos, inclusive no curso de licenciatura. O exame de seleção é um processo descarado de exclusão e genocídio acadêmico, pois ao ser reprovado varias vezes em um curso de música, o aluno desiste de fazer academia e vai tentar outro curso. Nesse sentido deixa de dar uma contribuição cientifica ao país e a educação musical, e a cultura negra.
O músico negro, já sabe, que para passar na UFRGS é preciso dominar bem a teoria musical e pratica de seu instrumento. No entanto os cursos licenciatura em música que não usam o mesmo critério de música erudita para ingresso, são a única alternativa dessa população, na maioria da vezes oriundas das classes menos favorecida, onde o processo de formação musical não se deu em conservatório e sim, na maioria das vezes como autodidata. Diferentes dos músicos  oriundos de praticas musicais eurocêntricas que estudaram em escolas especializadas em música, tiveram aulas de inglês e na maioria das vezes tiveram oportunidades de estudar música em conservatórios.
Combinando com as faculdades de música, essa sim, continua formando a intelectualidade musicos para orquestras, espetáculos, gêneros de prestígios das elites e pesquisas acadêmicas em pós graduação.
No meu caso, sempre sonhei em fazer faculdade de música, no entanto descobri que pra ingressar na UFRGS teria que fazer um exame teórico, dominar um dos instrumentos clássicos, fazer leitura a primeira vista, dominar o repertório europeu. Ou seja, precisava de requisitos do século passado para se inserir no mundo acadêmico atual. Como na época não existia políticas publicas de inclusão do negro na universidade, devido ao excesso de trabalho e ter que ajudar os familiares não foi possível a realização deste sonho. Minha saída vou fazer um curso de licenciatura 10 anos depois em 2009 em música em uma única universidade privada, que não tinha sistema de cotas e tive que pagar para fazer uma licenciatura em música.
. Por mais que eu queira comparar um curso de bacharelado é diferente do curso de licenciatura. Além disso, teria que fazer um vestibular super concorrido, onde os aspirantes ao curso estariam pelo menos mais de anos de estudos teóricos em música na minha frente. Ou seja, precisaria para contornar essa situação fazer um curso de licenciatura em música numa universidade privada. Se eu tivesse esperado um pouco, teria conseguido ela como bolsista ou cotista. Isso já é um avanço. Sabe o que isso quer dizer, menos gente nos cursos de bacharelado e mais na de música popular, todos os indicativos e tentativas que temos na UFRGS é para criação de cursos específicos de música popular. No entanto, isso vem sendo um grande crime a possibilidade de inserção do negro nos cursos de caráter erudito. Pois como conseqüência teremos mais músicos negros formados em música popular do que erudita. Mesmo assim, a abertura do referido curso representa um avanço das necessidades, mais o importe é saber qual o perfil étnico dos inscritos? Se realmente o músico negro está ingressando nestes curso..

Acredito que se um músico é erudito isso lhe permite transitar entre diferentes espaço que nem prova a nossa história da música temos exemplos como Tom Jobim, Villa Lobos, José Mauricio, Moacir Santos entre outros. O que as elites musicais querem é manter o status quo adquirido durante mais de quase 7 décadas de faculdade de música. Que formou grandes nomes da música erudita gaúcha.
Outro ponto importante é aquele em que quando o negro conclui a graduação sua única saída é o mercado de trabalho. Se este cursou em universidade pública sua saída é o mestrado  e depois o doutorado. Os critérios subjetivos na seleção dos candidatos devem ser mais uma prova do quando uma política afirmativa deve fazer parte da pós graduação.
Como todos sabem as universidade privados de todo país se comparada com a rede pública são inferiores em desenvolver habilidades e competências em seus alunos. Salvo raras exceções as provas do ENADE  comprovam o quando o ensino superior público é melhor. Assim sendo, um músico formado em uma universidade publica chega com bem m mais chance de obter a vaga em uma universidade pública. Primeiro pelo contato que já teve com os professores do curso de graduação que são praticamente os mesmos do mestrado, segundo que esta aproximidade na hora da avaliação de um ensaio, de uma entrevista tem efeito na seleção do orientar. Pois estes já sabem das dificuldades dos alunos de escola privada. Acrescenta a isso, o fato desse aluno ser pobre, negro e oriundo de escola pública. Ou seja, já na seleção ele entra em desvantagem. Aliado a isso, o material didático aberto dois meses antes do edital, sendo difícil para o graduando pobre e com o “canudo na mão” continuar seus estudos na pós graduação.
Por fim, acredito que uma política de inclusão do negro na educação musical deva levar em consideração os aspectos históricos, sociais dos alunos e suas diferentes realidades, possibilitando o acesso ao ensino de pós graduação de forma a poder avançar e colaborar com o pensamento cientifico da educação musical e não apenas mero objeto de pesquisa. Para tal  o sistema de cotas racias proporciona oportunidades do negro ter acesso ao saber cientifico.
Até quando? Por cotas na pós graduação.

Todos os finais de ano é uma comemoração a chegada de um novo ano, pelos presentes do papai Noel, pelos reencontros entre familiares, pelas conquistas e realizações vividas durante o período de 365 dias, mas também é um momento de reflexões, ou seja, de uma analise daquilo que não conseguimos realizar, as razões e as dificuldades nos quais fizeram-nos  com que mudássemos nossos planos e não conseguíssemos atingir os objetivos no qual almejavamos.
Particularmente o ano de 2012 representou para mim um avanço na minha vida, pois nele conclui a faculdade de música, passei no concurso público do magistério sendo o 3° colocado na rede estadual na 1° CREA  em Porto Alegre, mas o que mais me deixou frustrado e com a sensação de impotência foi a reprovação na seleção do mestrado em educação musical.
Nos negros com histórico de vida em que pai, mãe, avos, tataravos entre outros que não tiveram oportunidade de acesso ao ensino superior, quando temos um negro(a) que conclui a faculdade é motivo de festa e de alegria, pois acreditamos e somos levados a isso de que a desigualdade acabou. Somo levados a crer que agora não teremos  dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, que a nossa condição sócio econômica mudará e que por fim, estamos em pé de igualdade com brancos, e pessoas de descendência européia e amarela. Enfim somo iguais. Temos a mesma oportunidade de acesso.
Pude compreender na pele a falaciosidade destes argumentos. Pois a igualdade só surge quando temos as mesmas oportunidades reais de acesso em todos os campos do saber humano, e aos mais altos postos. Foram as cotas raciais que possibilitaram a minha entrada no magistério e ser um dos primeiros a serem nomeados. A lei de cotas proporcionará uma melhor qualidade de vida, depois de concluída toda a etapa de escolarização superior. Graduação, especialização, mestrado, doutorado, pos doutorado. Se isto não acontecer continuamos sendo mão de obra barata, só que agora com um canudo na mão.
Ao ser reprovado no curso de mestrado e ao pleitar um acesso pelo sistema de cotas como único negro inscrito no programa. Uma legislação de 2008 do conselho de educação da universidade foi evocada.. A UFRGS no ano de 2012 teve que reformular seus editais em menos dois meses para atender o critério de cotas raciais de acordo com o sistema de cotas na graduação publicada pela presidenta Dilma. Foi uma ingenuidade a tentativa minha de procurar sensibilizar a banca para a minha realidade social e histórica. Essa mesma nem foi capaz de rever as notas 6 que obtive no ensaio e na entrevista com base em informações adicionais no recurso. Então pra que recurso, se não existe a possibilidade de se reconhecer o contexto do candidato e ter um outro olhar sobre a prova e a particularidade do processo. No caso manteve-se a nota, e um aviso foi dado, não venha com esse papo de promoção da igualdade racial aqui.
Entendi que a regra do jogo acadêmico favorece um time que está sempre ganhando. Foram 24 alunos brancos selecionados para o mestrado em educação musical. Parafraseando Abdias e ninguém fala nada, ninguém diz nada, ninguém se revolta com isso. Aceita- se com naturalidade esta situação pigmentocrática em nossos departamentos de pós graduação e aqueles que são negrólos, quando tem a oportunidade real de mudar a vida acadêmica de um estudante negro, mostram de que lado realmente estão..
Essa falta de sensibilidade, da banca examinadora é que faz com que milhares de acadêmicos negros não ingressem no ensino de pós graduação. Todos sabem que o ensino público é ruim no Brasil, no que diz respeito a educação básica. Basta procurarmos dados relativos a qualidade da educação de nossas crianças que veremos a grande dificuldade que mais particularmente a criança negra tem de concluir os estudos. Esta se chegar a completar o 5º ano e não abandonar a escola é muito. Aliado a isso, preconceito racial no ambiente escolar, a falta de escolarização dos pais ou seus responsáveis que não tem tempo para ajudar a si mesmo nem os estudos de seus filhos.
A possibilidade deste tipo de criança de completar o ensino fundamental, médio, e superior é muito pequena. Esta é a realidade, a ministra da igualdade racial chama este fenômeno ocorrido com as crianças negras de genocídio educacional, pois quem não completa os estudos básicos não volta nunca mais para os bancos escolares.
Nesse caso, eu teria muitas razões para abandonar de vez a escola. Posso citar algumas. Eu sofria preconceito racial; os colegas me colocavam apelido; tinha dificuldade de conseguir namorada; as vezes eu ia de chinelo de dedo estudar; como não tinha guarda-chuva chega as fezes todo molhado; fui chamado de marginal, revolucionário, na época em que participava do grêmio estudantil no ensino médio, bem como ridicularizam meu modo de ser e de falar, sofri um atentado na escola em que perdi alguns decibéis devido a uma bomba que estourou ao lado do banheiro em que eu estava,na universidade quando apresentei meu trabalho de conclusão, este foi considerado unilateral ou quando uma professora me  chamou de tendencioso por descordar de suas opiniões. E agora por último na prova de mestrado a professora coloca que meus pensamentos e articulações teóricas não tiveram profundidade.
O que isto quer dizer pra mim, vou ter que conviver anos tentando descobrir como se constrói um texto com profundidade. Pois acho que toda a minha educação não valeu de nada. Então a partir de hoje os professores da rede estadual de educação básica, dos curso pré vestibulares, das universidades privadas tem que ensinar seus alunos a escreverem ensaios dissertativos com profundidade. Pois não aprendi, se não aprendi a culpa é de quem não ensinou, e se quem ensinou foi o estado e a iniciativa privada, por uma questão lógica, eles são os responsáveis. Se eles são os responsáveis pelo ensino deficiente que tive a cotas na pós graduação é necessária, pois me coloca em situação de desigualdade com outros candidatos.
Várias foram as tentativas de assassinato que sofri durante o meu percurso como estudante da rede pública de ensino e acadêmico do curso de música da rede privada superior. Vale uma ressalva nesta ultima. A rede privada no Brasil como todos sabem com raras exceções é a que prepara o profissional para o mercado de trabalho e não para os grandes centros de saber como a pós graduação nas universidades públicas. Basta ver o quanto o MEC tem sido duro na avaliação da qualidade do ensino das universidade privadas. Quem se formou nestas universidades, provavelmente recebeu um ensino deficiente. A prova disso, é que vários alunos ao fazerem exame para Ordem dos Advogados do Brasil são reprovas. Não vamos muito longe. No concurso de magistério 2012 na rede estadual RS na minha área de educação musical passou 2 do meu curso de licenciatura eu e mais uma da minha  universidade. Mais de 30 colegas do curso de música da universidade na qual eu me formei foram reprovados.
Ao ser reprovado no mestrado em educação musical me mostrou que eu sou bom para fazer trabalho braçal na educação musical, e nunca ser um intelectual, um pesquisador, um teórico da educação musical. Minha formação superior me preparou para dar aulas em escolas públicas da rede estadual, em ONGs, projetos sociais e não na universidade. Minha formação superior me preparou para a manutenção de idéias racistas e preconceituosas sobre a cultura negra e a história do negro e africana na música brasileira. Minha formação superior me formou para não pensar em entrar numa pós graduação em universidade pública. Minha educação superior não me ensinou a fazer ciência, a fazer pesquisa. Minha educação superior no qual eu paguei 6 semestre com dinheiro vivo na boca do caixa, foi um grande autoengano. Me provocou o sonho impossível dentro dos moldes do seleção de ingresso de mestrado que está posto.
Ou seja, para passar no mestrado terei que fazer cursinho de ensaio dissertativo, cursinho de como se sair bem numa entrevista de mestrado; cursinho de como conseguir fazer um projeto voltado pra temática negra, sem ser negro; um cursinho de como conhecer e se tornar amigos dos pesquisadores das universidades públicas para sensibilizá-los ou seduzi-los para nosso projeto; um cursinho de auto-estima para me sentir capaz e com o direito de ingressar na pós graduação e um cursinho de inglês de tradução de textos.
Terei que desembolsar por mês mais de 1 salário mínimo se eu quero realmente ser pesquisador. Mas este fundo é perdido, pois não tenho garantia nenhuma que irei passar na seleção final. Meu capital cultural irá aumentar, mas o social e o econômico não. Um salário mínimo é valor de uma bolsa de estudo. Mais da metade do meu salário como professor do estado será com esta preparação. Enquanto isso, outros que tiveram uma educação básica de qualidade irão poder continuar com suas rotinas e se prepararem nos meses em que antecedem o edital. E eu tenho um desvantagem, se eu quiser tirar livros na universidade em que fiz a minha graduação não posso. Devido não ter o direito como ex-aluno. Posso apenas tirar livro de literatura brasileira. Isso é um absurdo enorme. Eu quero ser pesquisador, mas é muito difícil de se fazer pesquisa quando se vem de uma realidade econômico inferior.
A minha reprovação é a derrota do argumento de que o ensino superior iguala a condição entre negros e brancos no acesso universidade. Pois se ele é oriundo de uma educação básica em escola pública e do ensino superior de universidade privada, neste caso a música. Ele ou ela não chega por mérito em igualdade de condições de superar varias deficiências do seu percurso educacional. Mas isso não quer dizer que estas pessoas não possam fazer pesquisa e pesquisa de qualidade. O dificil é o acesso em igualdade, pois a técnica se aprende. E é justamente a técnica cientifica que torna o mestrado e doutorado tão importante pro saber e formação da intelectualidade. Pois está mais do que provado que os grandes nomes da nossa história não foram mestres em universidade públicas brasileiras. O mais importante deles foi Abdias do Nascimento que fez sua carreira acadêmica nos EUA.
Quando se fala em mestrado e doutorado em música não é para universidade pública e sim para privada. Ou seja, é na pós graduação de faculdade privadas que eu tenho que me inserir. Tenho que pagar novamente pelo ensino que por direito deveria ser público, se quero continuar os estudos. Se quero ter voz, se quero ter vez, se quero me sentir pesquisador. Vou ter que conviver o resto da vida com a frustração de não ter passado em uma universidade pública, que por direito deveria flexibilizar o meu acesso e de muitos negros.
Neste final de anos fico pensando quantos homens e mulheres negras que concluíram suas universidades em escolas privadas e foram reprovados em mestrado em música ou em outros cursos neste país.
Temos dados sobre isso? Certamente não. Pois essa realidade não interessa, pois se avalia só quem entra e não quem tenta entrar. Um cadastro e dados sobre os negros que não entram no mestrado e doutorando seria importante para saber as razões e assim propor políticas publicas acadêmicas que proponham uma igualdade de fato.
Pois se chegarmos no superior e tivermos oportunidades podemos ir mais longe. E em uma sociedade em que quanto mais alto o nível escolar, melhor a situação econômica uma política afirmativa na pós-graduação é importantíssima.
 Quantos negros são reprovados e tem que começar o processo todo de novo, além de estudar mais um ano e ainda assim, não ter nada garantido e vêm representantes brancos tendo o total acesso a vagas, pois cumpriram as regras racistas do edital. E quando o estatuto da igualdade racial é evocado o argumento é que não tem “cabimento” que nem disse a professora que avaliou a minha prova e recurso que entrei solicitanto abertura de vaga.
Então eu vou dizer o que não tem cabimento. Não tem cabimento a gente viver em um país em que nem 1,0 % de negros freqüentam o ensino de pós graduação, não tem cabimento ao fazer uma prova e não ver além de mim ninguém com a pela escura, não tem cabimento não termos professores negros no curso de mestrado em música, não tem cabimento eu não ter orientares negros que trabalham a questão etnorracial e nem linhas de pesquisa com meu tema. Por fim, não tem cabimento eu ter que assumir minha condição de reprovado, para ter garantido um direito constitucional.
Se estatuto da igualdade racial não serve para esta situação, vai servir para qual. Pois reivindicar a abertura de vaga para negros nos cursos de pós graduação e uma possibilidade real que temos de que em dois anos teremos mestres em música negros. Independente de serem de públicas ou privadas, isso representa uma possibilidade de termos orientadores negros, que analisem projetos de pesquisas voltados para cultura negra que nem prevê o mesmo estatuto.
Imaginem uma descendente indígena que conclui a graduação e resolve fazer uma pesquisa na pós graduação sobre a música em tribos indígenas em Porto Alegre, mas chega na hora da prova vai mal, pelo seu processo histórico e pela pressão psicológica de uma prova dessas. Esta descendente indígena, uma raridade no ensino superior, diga-se de passagem, não terá direito a reserva de vaga devido as regras atuais do sistema. Isso não é impossível de acontecer já que existe uma jovens indígenas nos cursos da UFRGS. Depois de todo o esforço e resiliência desta jovem em chegar ao ensino superior, esta não vai ter a mesma facilidade de acesso que teve na graduação.
 Neste sentido o estatuto da igualdade racial é importante, pois traz o compromisso do estado com igualdade de oportunidade a pessoas que tiveram histórias e processos educacionais diferentes que as impossibilitaram de disputar em pé de igualdade com os demais.

Se isso não for feito o estado perde  milhares de mestres, doutores negros e indígenas em todo o pais. E que podem nunca mais voltar para academia.
O sistema de cotas raciais da coragem, pois faz o negro que tem consciência negra acreditar no processo. Por isso é que vem ampliando o número de negros que estão optando pela reserva de vagas no curso de graduação. O mesmo ocorreria na pós graduação, haveria uma possibilidade dos negros voltarem a estudar devido a essa nova modalidade de acesso. Assim, não teria apenas eu de fenotipicamente preto na prova de mestrado em música, teríamos vários negros fazendo pesquisa acadêmica, fazendo realmente ciência. E em uma universidade pública que é melhor ainda.
Uma vez eu vi um amigo meu dizer que fazia questão de entrar na UFRGS, outro dia um músico famoso, negro também, disse que não tinha passado no mestrado em etnomusicologia. Espero que estes meus colegas não tenham sido assassinados na sua esperança de um dia cursar um universidade pública que por direito, pelos que os antepassados destes e os meus fizeram por este país de freqüentar e ter uma educação de qualidade.
 Só tem um único setor pública em que as elites fazem questão de ter acesso que é na universidade pública, pois estes sabem que ele é gratuita e a melhor, pois tem os melhores quadro de profissionais, tem recursos técnicos e financeiros, incentivam a pesquisa e a inovação tecnológica. O que nós negros queremos é compartilhar um pouco dessa “sereja do Bolo”. É ser sujeito de pesquisa e não apenas objeto. Alias é por ter sido historicamente tratado como objeto de pesquisa pela academia que é tão difícil para essa quando nos assumimos como sujeito.




O amor é base da luta negra brasileira

O amor é a parte mais importante segundo Hommed do desenvolvimento de uma luta social. É ele quem irá proporcionar a minha autorealização, minha afirmação e minha diferenciação do outro.. De uma certa maneira, a aproximação do movimento negro se da pelo fato de reconhecermos a nossa mãe áfrica mulher representada nele, uma mãe que nos foi tirada, arrancada no qual gostaríamos de ter recebido afeto, cuidado, uma mãe que teve que se afastar de sua família, de seus filhos pra viver no mundo do capital. Uma mãe que abandonou suas ervas, seus cheiros, e que foi arrancada de seu lar.
Esse sentimento de amor materno entre mãe e filho, é o que vem acompanhado pelo sentimento de justiça. É que nem chamar um pessoa de filha da puta, nosso sentimento de raiva, por não aceitar saber quem é os nossos pais nos revolta. Esta divida psicológica, foi uma ação central da luta negra no Brasil. Todos negros engajados buscam mostrar o amor pela mãe. Mesmo sabendo que talvez nunca tenhamos a possibilidade de tocá-la novamente, de cheirá-la de vive-la.
Porém uma das coisas mais significativa do amor materno e entre mãe e filho é que ele não morre, apesar da distancia  Ele vive mesmo na ausência, e continua amando e é esta uma das principais formas de amor. É este amor que todos os dias o sistema capitalista tenta matar, que nos leva esquecer do que nos fizeram, das almas que foram pilhadas, mortas, das mães que foram arrancadas enquanto amamentavam seus filhos. Essa dor psicológica nos afetou de uma maneira tão profunda que a revolta nos bate cada fez que nos humilham, que nos chamam de marginal, favelado, vagabundo, entre outros termos. Pois não é nós que somos atingidos e sim nossos pais que foram vitimas e nós somos resultados disso, dessa violência.
Pois não nos mandaram devolta pra casa. Nos fizeram continuar aqui. Queimaram o nosso endereço, nos deixaram perdidos no mundo, querendo encontrar nossos pais, sem nunca poder faze-lo. Mas ainda sim, descobrimos na entrelinhas da história os nossos pais presentes nos guerreiros Zumbi dos Palmares e Dandara, nos orixás das religiões africanos e nos santos de devoção negros das religiões católicas.
Por fim. a luta destes pais, que não abandonam seus filhos nos serviram de referencia e essa referencia agora que estamos começando a reconstruir. Viva a nossa mãe e nosso pai e a felicidade de podermos encontrá-los e abraçá-los simbolicamente na luta negra.



O ritualismo no acesso a música superior.

Por um fio condutor básico é possível descortirnar cientificamente a lógica por de traz do Preconceito Musical. Ele se apoia numa argumentação de bom gosto estético, de referencial europeu de música, ele se apoia ao vermos as instituições que foram criadas para preservá-las, em seu interior.
Os grandes nomes da música clássica européia ou erudita são valorizadas e tem seu lugar ao sol. São mitos onde suas capacidades artísticas levam sempre ao sobre natural. Bem, como os mecanismo ritualistas ou iniciação inseridos neste universo.
Uma prova são os testes de aptidões. Uma analise das peças exigidas para ingressar na universidade levam em questão apenas músicos eruditos. Pro mestrado e doutorado a mesma coisa. Quando se fala em referenciais ou biografia de literatura musical os referenciais são sempre na sua maioria de descendência européia.
O que é literatura musical? É possível construir uma literatura musica negra. Já que a invisibilidade é nítida. E obviamente isto prejudica a noção de literatura já que umas são aceitas e outras não. No entanto pequenas rasuras vão acontecendo. Um exemplo é ao verificar as cotas raciais em concursos públicos é possível que em pouco tempo tenhamos negros na    OSPA como músicos na proporção de sua representatividade. No entanto, para entrar por este sistema é preciso vencer com os preconceitos internos referentes as escolhas dos músicos. E os negros e negras com a identidade bem resolvidas poderam entrar nestes concursos.
Outro ponto importante abordar são questões relacionadas a participação da orquestras em arranjos de música popular. A representatividade de negros é ínfima, se comparada com os locais em que estas produções de massa acontencem. Sempre os músicos negros eruditos tem suas imagens relacionadas a percussão, Um exemplo é Wilson prateado nos últimos anos sempre aparece falando de percussão, de ritmo, tem seu valor intelectual erudito diminuído. Na medida que este foi um dos responsáveis pela sofisticação teórica do pagode como gênero moderno de música áfricana. Os arranjos, orquestrações ficam por conta dos pianistas. Sua composições são tratadas como arranjos e não orquestrações.
A música erudita e clássica para se manter como tal precisa ter suas bases atualizadas. Pois se não corre o risco de sua atuação não ser mais justificada. Para tal será necessária ela perder sua autonomia com vista ao bem comum e direito humano que é a música. Se não fizer isto vai passar pra história como a institução cientifica mais racista e resistente a transformações. Os órgãos do qual são filiadas são públicos. E como bem publica devem trabalhar pela democratização dos seus espaços e acessos igualitários. Mas é preciso saber que estas instituições foram criadas num ambiente racista e excludente da nossa história do Brasil.
Por essa razão é preciso a construção de uma nova literatura musical. Uma literatura musical, feita por negros, para negros. Para que novos bases sejam construídas para fins de uma sociedade justa e igualitária.
 Este sonho é possível. O Brasil  tem mudado e aos poucos a pessoas tem enfrentado seus medos. Do diferente, da opinião diferente e saber que em algumas questões o universalismo acadêmico é importante, mas particularidade ainda mais. Nós precisamos construir uma educação musical e uma ciência da educação musical mais humana e menos excludente, pois assim, ela será a primeira a provocar mudanças de ordem fenotípica de seus quadros acadêmicos tanto da discencia quanto na docência.
Para que o termo Gueto não seja utilizado no sentido que vem sendo, como algo ruim pra educação musical. E sim, como uma mostra de alteridade. E o direito a utilizar o conhecimento humano que é a música. E poder escolher como fazer uso das técnicas e conhecimentos musicais adquiridos através da história. Que não são um patrimônio exclusivo de um grupo, étnico e sim, uma construção histórica.




Por que a “guetização” causa tanto medo nos pensadores musicais.

A música erudita frente a música popular no Brasil já mostrou que está derrotada nas suas aspirações antigas de civilizar musicalmente o Brasil. Terras do preto, de índios e mestiços.
E isto se deve a um motivo bem simples. Ela não acompanhou o desenvolvimento e luta pela democratização do acesso ao conhecimento. Por duas razões: A primeira que o conhecimento e a cultura são dimensões que se ligam. E tem intima relação e segunda por que os paradigmas de superioridade no qual suas bases foram construídas já não tem mais sustentação teórica.
O crescente aumento de negros nas universidades, a proliferação de projetos sociais de música utilizando a percussão, o ensino que valoriza o oralidade em detrimento da escrita musical, as novas legislações anti-racistas na educação tem abalado profundamente a lógica dos estudiosos de música.
Sempre houve uma preocupação das elites dominantes e das classes dirigente em educar musicalmente esta nação. E várias foram as tentativas primeiros com os indígenas, BUNDSHEN (2005) e depois com os negros e por últimos com as periferias.
A base epistemológica utilizadas para justificar o ensino de música nas escolas, revela por traz a vontade de se acabar com praticas que a muito vem prejudicando o silencio da escola. Como música alta de  funk, pagode, rap, axé. Essa pratica dos escolares sempre estiveram presentes fora da escola. Foram obrigadas a serem incorporadas por conta de legislações anti racista e pelo direito a pluralidade cultural prevista na nova LDB ( Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996.
No entanto as bases de ensino e de valores musicais são racistas e preconceituosas. Basta olhar o medo que as pessoas tem da cultura negra na escola. E o quanto argumentam que está havendo uma racialização do currículo escolar, uma desvalorização do universal ou da cultura universal.
Nesse sentido é recorrente em textos acadêmicos o usos de termos como gueto. No sentido pejoritivo chamado de guetização. O que este vocábulo quer dizer:
Gueto é a origem de grupos etnos africanos que foram formadores da sociedade brasileira e auxiliaram na construção deste país como nação. Guetização é utilizada no sentido de isolamento de uma cultura. Ou seja, é o Brasil com medo de si próprio. Vou mais longe. Este termo tem uma carga pejorativa e racista. Pois datas como o dia da Consciência negra são utilizas nas sequencias de termos guetização como exemplo.
Neste sentido o medo é que uma educação musical genuinamente brasileira aconteça. Mas  por que a guetização causa tanto medo? Acredito que é devido ao fato das pessoas das classes populares brasileiras se apropriaram dos conhecimentos musicais e não fazerem questão de participar de grupos de música eruditas e nem querer saber teoria musical da maneira como esta é ensinada.
Este termo é absurdo na medida em que o próprio PCN ( Parâmetros Curriculares Nacional) trata o pluralismo cultural como importante para formação de jovens. Mas a formação eurocêntrica dos professores formadores e que utilizam este termo não consideram que a guetização é um direito a alteridade. Ou seja, se eu quiser utilizar os conhecimentos adquiridos para fazer música para utiliza-lo no meu cotidiano, para o meu grupo étnico  cultural é um direito que tenho a individualidade.
Dentro desta ótica guetização é o que aconteceu com a música erudita que ficou vinculada a praticas de dominação, de superioridade racial. Neste sentido o termo Gueto é insificiente para designar históricamente aquilo que a modernidade fez com a música erudita. Que ficou um saber restrito ao seu povo. As nações africanas mostram que o conhecimento é um bem comum no que diz respeito a música. Todos podem faze-los e de diferentes maneiras cantando, tocando, batendo palma, fazendo sons com o corpo.
Ou seja, é de guetização que nós precisamos na construção de uma sociedade mais justa. Pois os próprios estudos da educação musical ao avaliar as comunidades quilombolas, os grupos de rap, de funk e ao ir até os guetos cientistas e acadêmicos mostra que a cultura africana é aberta. Já o mesmo não se dá quando avaliamos o acesso a música erudita. Pra você participar precisa passar por um ritual muito mais difícil nas universidade, na pos graduação no mestrado e doutorado.
A guetização é medo que as elites musicais tem de se abrir. De oportunizar o acesso ao conhecemos e aos estudos musicais. O medo de ver negros e negras fazendo música erudita novamente. Sendo referenciais para o seu povo. E aqui música erudita é aquele música feita por negros que desvendaram as técnicas musicas e aplicaram este conhecimento a música popular.
A criatividade do Gueto que preocupa tanto e necessita de um termo para condena-lá ao reducionista chamando de guetização. Foi a formação de gueto que impediu que este pais  entra-se em guerra civil de negros contra brancos. Foi por viver em guetos que grandes nomes da nossa música erudita como Moacir Santos, Pixinguinha e José Mauricio Nunes Garcia viveram e não tiveram suas obras reconhecidas como portadoras de identidade negra pela produção acadêmica.
A guetização é boa para o país. Mostra o desenvolvimento da cultura local. Se um batuqueiro quer aprender música erudita para registrar seus toques de tambor, ou escrever arranjos e orquestrações para grupo de percussão. Isso é o sentido positivo do Gueto se apropriando do conhecimento universal humano em nível local.

Por que os professores gostam mais do funk da antiga, do que do funk da atualidade?


Não é difícil saber a opinião dos professores sobre as praticas culturais da juventuda, em especial da juventude negra. Por tradição a juventude branca tem seus ídolos bem definidos, pelo fato de ter principalmente influencia dos gostos dos pais. Assim eles gostam de rock, Beatles, Ramones, Legião Urbana entre outros. Sua cultura está alicerçada numa tradição dos ídolos. Pois estes são referencias eternos de qualidade, de boa música, enfim, tudo que de mais artístico que aconteceu na história da música e em especial a música brasileira.
 Já para a juventude negra que se transforma e se ressignifica a cada geração, é quase impossível acompanhar os ídolos, pois a cada geração estes mudam. Devido principalmente ao fato da cultura negra ser dinâmica, ou seja, ela não para no tempo. Ela acompanha o desenvolvimento da sociedade e atende as suas necessidade. Se a sociedade está mais critica, suas músicas podem colaborar para elevar a criticidade, se sua vida está mais sexualizada os vai expressar isso nas suas canções. Ou seja, é o mesmo principio que nortea a religiosidade afrobrasileira. Que tem nas suas característica atender as vontades e as necessidades dos seus fieis. Seja, para bem ou para mal. Nesse caso a responsabilidade não é da religião, e sim, do fiel que procura o serviço. A religião é mediadora entre os orixás e os seres humanos.
Cada vez, mais os professores tem se posicionado contra o funk, acreditando que assim, interromperam o seu desenvolvimento. Com moral, com cultura, com bom gosto. Praticas como funk carioca, não foram criadas para ser propriedade e nem ficar parada no tempo. Essas são praticas abertas que possibilitam o novo a cada momento.
 Definir o funk é quase possível, pois é impossível dizer certamente o que é. Por algumas de suas características, podemos situá-los entre as praticas negras, nos entanto, se tivermos em mente a cultura negra como algo parado no tempo, também esta definição não vale. Por essa razão, que esta cultura juvenil tem alcançado cada vez mais um grupo maior de jovens negros e brancos das periferias, pois ela dialoga com eles. Denuncia suas vontades, seus anseios, seus medos, seus corpos, suas opiniões de uma sociedade que a cada dia vem tentanto exterminar a juventudade naquilo que ela tem de mais significativo que é a experiência do novo. Apagar os sonhos da juventudade é apagar a possibilidade de mudar o nosso futuro, a nossa maneira de pensar o mundo, de agir sobre o mundo, de dialogar com mundo e de mudar o mundo, mas principalmente a nós mesmo.
Os professores gostam do funk da antiga, numa época em que o funk da antiga nem tinha este estatus de arte que tem hoje, para os mesmos professores. A saudade que estes tem do funk da antiga, é a saudade do tempo que queriam dizer as coisas, mas não podiam, não tinham a internet, seus desejos e sonhos ficaram escondidos e hoje são expressos por essa geração funkeira que está ai.
O funk da atualidade teve a coragem que gerações passadas não tiveram, coragem e nem meios de dizer devido a várias ditaduras que reprimiram o jovem, e muitos destes morreram, deixando um trauma nessas gerações. O entendimento do funk é a possibilidade de superarmos isso. E nos sentirmos representados por essa juventudade negra e da periferia tem de dizer o que pensa e sente, ao seu modo e ao seu jeito.











O eu e  outra música.
Em música a canção e sempre vista como uma expressão pessoal do artista que as vezes tem relação direta com vida do ouvinte. Estas relações com vida do ouvinte, que faz com que as expressões musicais de matriz africana tenham uma força tão grande no mundo. Todas elas têm relação direita com a realidade. Essa representação musical da realidade é que torna a música negra tão importante no mundo todo como fenômeno de massa.
Algumas das razões são os fatos da identificação destes públicos com os artistas negros nas suas idéias e performances musicais. Outro é a textualidade ou a poética no qual os conflitos são apresentados, são resolvidos e aproximam o artista do publico. Tornam o artista mais humano.
A Grande dificuldade da música clássica além da textualidade em nosso país é fato desta não ser portadora de texto que o aproxime do público. Necessitando assim, de uma sensibilidade, de um conhecimento musical, de história dos compositores, enfim, distanciam cada vez mais o público. Se a música clássica fosse tratada como prazer de ouvir sons e de produzi-los com certeza haveria uma aproximação com as pessoas comum, quando deixasse de tratar o outro (o ouvinte) como objeto. Mas como sujeito de sua música junto com o artista.
A música erudita sempre esteve presente e está nas produções cinematográficas e é isso que a aproxima do público e a sensibiliza, pois vem carregado de imagem. A emoção se dá nessa relação do símbolo com sua representação.
Só se aprende a fazer música quanto somos capazes de ouvir o que o outro tem a dizer. Quando aquela música nos transmite uma mensagem, não só textual, mas também sonora, rítmica, corpórea, emotiva e até política.
Essas dimensões são fundamentais para que a música seja vista com toda a sua contribuição para o desenvolvimento da humanidade em suas particulares e universalidades. Essa é a contribuição que o professor de música pode dar. Ensinando o aluno a ouvir o diferente, buscando compreende-lo, colocando-se em seu lugar.
Quando o jovem entende que a música clássica é instrumental ou litúrgica, ele precisa entender o contexto no qual aquela produção foi criada. Para tal, o educador precisa entender e equilibrar a sua visão do outro, assim como pretende com o aluno.
Por fim na educação musical estamos vivendo uma crise na qual se precisa de resposta para os grandes problemas nos quais o educador ou professor no sentido tradicional precisa resolver. Se quiser conviver com o diferente na escola, ou seja, com o outro. E assim, encontrar os pontos e convergências culturais entre a sua formação e a do educando. Pois só assim será possível avançar e não dar mais espaços para preconceitos. Pois, foi justamente o preconceito que afastou a população negra da música erudita. Por acharem que não teriam sensibilidade para entender a linguagem musical culta ou da elite. Essa foi uma maneira de exclusão que teve reflexos até os dias de hoje.
Quando olhamos concertos pela televisão e não enxergamos negros na platéia. Diferente do que acontece na música popular. Parece que ali realmente há democracia étnica. E outro, o ouvinte é respeitado, pois participa ativamente das audições. Enquanto que na música clássica ou erudita o público é apenas um objeto, não canta, não respira quase não se move. Quanto na cultura negra se bebe, se come, se conversa enquanto se ouve e vê um artista. Pois sua presença já é motivo de alegria. Sua arte é reconhecida, pois é esperada.
Por essas e outras razões a música negra é a música popular brasileira, mesmo que vários teóricos tentem modificá-la e dizer que não existe diferença, esta diferença é visível esteticamente, fenotipicamente, historicamente, socialmente e cotidariamente no Brasil. Sendo assim, beira a hipocrisia aqueles pessoas da educação musical que tentam dizer que esta separação é coisa do passado. O que é do passado é o preconceito musical.
Pois o preconceito musical que impede a circularidade entre pessoas de diferentes grupos étnicos musicais e culturais. Pois o hoje as pesquisas mostra o quanto os estudos acadêmicos tem se voltado para compreensão da cultura negra. E o quanto esta tem influenciado o pensamento da intelectualidade musical, principalmente da educação musical.
Por um razão bem simples, ninguém mais ousa dizer que a música negra, preta, de massa, é música ruim. Pois ruim é um conceito relativo. E os direitos humanos do outro em ser outro, ser diferente é um avanço da sociedade e do conceito de civilidade moderna. Sem isso, não nos tornamos civilizados. Nos tornamos assim quando passamos a entender a musicalidade do outro e somos capaz de sensibilizarmos com ela. Mais principalmente de sermos solidários e tratamos estas como formas de expressão artística.
Compreender o outro é fundamental para compreender o eu na música. Mas principalmente não basta apenas compreender outro é preciso praticar a ação do outro. Se solidarizar corporalmente e intelectualmente. Só assim teremos a prova da compreensão  efetiva do outro e um alargamento da compreensão de nós mesmos.



Por um ensino de partitura coletivo na educação

O individuo, ele existe. Ele pode se afirmar individualmente, mas ele não se afirma no isolamento, porque isso tem a ver com a visão de mundo africana, onde o social tem mais prioridade sobre o individual. MUNANGA.

Todos os trabalhos de educação musical estão caminhando para o ensino coletivo de música. E não é atoa que isto acontece. As grandes transformações que aconteceram na história contemporânea da humanidade foram transformações coletivas. Isso é inegável. Muitas dessas transformações tem em seu gene o componente individual como motivador da coletividade. O individualismo levou o ser humano ao extremo que quase extinguiu a sua espécie com as guerras do inicio do século. Elas deram um exemplo até onde podemos chegar.
Atualmente na educação musical estamos vivendo um grande conflito. Pois até bem pouco tempo a música erudita, ou clássica era o fim de qualquer aprendizagem. Agora não, novas perspectivas de aprendizagem musical vem se abrindo. E aquilo que até bem pouco tempo era condenado pelos intelectuais da música, passou a ser a Tonica de seu próprio ensino.
Cito como exemplo a circularidade, a coletividade, afetividade, corporeidade africana que colaborou com a cultura brasileira. Todas as tentativas e métodos de ensino que colocavam a cultura negra e seu ensino como inferior, vem tornando-se alternativas possíveis de respostas de ressignificação do ensino de música.
Até bem pouco tempo ensinar música na escola era ensinar solfejo e os grandes clássicos da música erudita. A música popular era vista apenas do ponto de vista do folclore. As canções musicais urbanas produzidas não faziam parte dos currículos de ensino de música.
Hoje pensar dessa maneira é um retrocesso. Não aproveitar a musicalidade presente nas composições de funk, pagode, samba, rap e hip-hop é um grande falta de sensibilidade educacional. Assim a luta pelos direitos humanos passou a modificar os programas de ensino de música, mesmo contra vontade de muitos teóricos da educação musical tradicional.
No entanto o grande problema que tem afastado a maioria das crianças do ensino teórico é o fato da partitura ter esse aspecto de individualidade. Ou seja, sua aprendizagem está relacionada apenas ao sujeito aprendente e não na sua relação com outro na aprendizagem desta categoria. Todas as metodologias de ensino não levam a dimensão coletiva de sua aprendizagem. Quando uma pessoa aprende a tocar percussão ela é influenciada no momento de suas aprendizagem pela pratica de conjunto em relação com o outro. No entanto o ensino de teoria musical não. A bordagem apesar de ser expositiva por parte do professor requer apenas que o individuo aprenda e não que o coletivo aprenda uns com os outros. Assim, teríamos que mudar a lógica  racional no ensino da partitura para uma lógica  relacional.
Este ensino relacional no ensino de música é que vai propiciar aprendizagem da partitura e sua apropriação. Ou seja o saber com quem trocar aprendizagens, significados, idéias, arranjos coletivos. Da mesma maneira que se aprende com a oralidade vendo, ouvindo, observando. Assim também, deveria ser o ensino da partitura. Para que está deixa-se de ser uma ferramenta insignificante para tornar-se fundamental na aprendizagem da música. Acredita que o modo ocidental de ensiná-la é que tem distanciado o negro de sua aprendizagem. E impossibilitado um número maior de músicos eruditos negros em orquestras sinfônicas.
Se a partitura fosse uma ferramenta fácil de se empreender, muitos músicos de formação européia perderiam lugar para músicos negros. Pois a nossa história mostra que quando este ensino foi ofertado como única possiblidade de ascenção social dos negros durante o período da escravidão tivemos maestros negros neste pais e o mais genial foi José Mauricio Nunes Garcia.
O medo que o negro aprenda partitura é para muitos um dos grandes problemas em que a super valorização da oralidade visa o afastadmento deste de algo no qual tem capacidade. A oralidade ela é muito importante no ensino e avançamos neste aspecto ao ver incorporada a cultura africanas no ensino de música no Brasil. No entanto é preciso, mostrar a utilidade da partitura e na representação dos sons, só assim é possível mudar quadro que esta posto onde quase não vemos negros como maestro e regentes de grandes orquestras no Brasil e no Mundo. Mas a áfrica é um grande exemplo que com pequenos recursos possamos fazer orquestras maravilhosas. Como a orquestra sinfônica congolesa, um pais tão negro quanto o nossso, mais pobre que o nosso, tem uma orquestra sinfônica formada por negros. Enquanto aqui falar sobre isso é racismo. É separatismo. Na verdade  a possibilidade de questionar o ensino excludente e o status quo e a possibilidade de construção de uma orquestra formada por negros, orqanizadas por negros, com repertório de negros brasileiros ou afrobrasileiros é um sonho que se começa a construir, muito lentamente mas já´com começa. Um exemplo é a orquestra Afrobahiana.



Tambor de Classe
Uma experiência musical inovadora em sala de aula.

Durante grande parte da minha infância e da vida de muitos jovens a classe é aquela amiga inseparável da experiência de qualquer aluno, seja ele da educação básica, da graduação ou da pós. Ela nos acompanha é a nossa companheira, é onde largamos ou guardamos os nossos materiais, é onde subimos, rabiscamos, utilizamos como cola, colocamos chicletes nelas, namoramos enfim, nossa atividade humana esta impressa nessa figura que muda a cada ano, mas é sempre a classe. Mas tem um momento que ela mais nos incomoda, pois é quando um professor bate na mesa para chamar atenção do aluno. Este som, deixa uma marca profunda na memória dos alunos. Grande parte deles já viveram esta experiência principalmente nas séries inciais. Outro fator que colaborou para a idéia foi o fato deste instrumento musical estar ali ao olhos dos professores e não ter sido utilizado utilizado por estes para desenvolver música. Ou seja, se faz música com tudo, menos com classe. Parece que esta é um lugar sagrado, inviolável e mantenedor da estrutura tradicional da escola com  classes enfileiradas, quadro verde e giz. A primeira ação ao utilizar o Tambor de Classe foi a disposição não em fileiras, mas em círculos. Esse foi o começo de tudo um nova concepção e uso desse objeto sonoro que é a classe.
Logo que entrei como professor nomeado do estado, percebi aquele novo desafio de iniciante, mesmo tendo mais de 10 anos trabalhados com percussão em comunidades de Porto Alegre em ONGs. O que fazer? Como ensinar música?
Então lembrei daquelas experiências sonora da professora, a experiência sonora dos ritmos de tambores afrobrasileiros, a batida do sopapo com as duas mãos e a liberdade de poder criar música sons a partir dos objetos do ambiente.
Todos consideravam a música como fundamental na escola. Neste sentido, minha atividade se somaria a vontade de levantar a auto estima da escola marcada por atos de vandalismo e violência. Assim ao mesmo tempo que a minha ida para escola Eva Carminatti era para humanizar, no sentido aqui de possibilitar novas praticas educativas e culturais com os alunos, ao mesmo tempo dava-me a responsabilidades de atender as necessidade musicais desses. Neste sentido a minha experiência musical em projetos sociais com percussão foi fundamental  para o entendimento dos ritmos e gostos musicais  dos jovens.
Num primeiro momento pensei que aquela intitulada por mim, como Tambor de Classe  justamente por possibilitar a sonoridade em conjunto dos tambores que os alunos não se interessariam, no entanto foi o contrario, os jovens foram se entusiasmando pela musicalidade, alguns buscando as melhores classes para buscar sons mais graves. Alguns aspectos psicológicos como agressividade, euforia e timidez começavam a aparecer na maneira de tocar. Improvisação, apreciação, criatividade, execução, estavam ali juntos e até literatura musical. Na medida que é impossível falar de tambor sem falar de história da música, dos ritmos funk, do pagode, do rock. O uso de celular para buscar sonoridades, os ritmos e executá-los no tambor de classe. Aliou a tecnologia com a tradição sonora do tambor, bem como gravações ao vivo das aulas.
Logo no retorno do ano letivo de 2013, percebi a grandeza da experiência quando os alunos me disseram enfim, uma aula legal. O que eles estavam querendo dizer era enfim uma aula diferente. E fui tendo um olhar mais atento, trabalhando dinâmicas, figuras e valores musicais, partitura não tracional. Mas o que mais me chamou atenção foi a expectativa dos alunos com a minha chegada e entrada nas suas aulas. E o quanto aquelas sonoridade ecoavam em outras salas. Percebi então que o prazer de vir a escola para muitos estava de volta. Escola como um espaço de alegria . Esta escola do século XXI  que temos que construir.
Fazer o tambor de classe é uma maneira de chamar atenção para necessidade de investimento em arte na escola. O tambor de classe é voz daqueles que querem ser ouvidos pela sociedade, pela escola e pela comunidade. É uma maneira de dizer vocês não nos vêem mas nós estamos aqui, fazendo música, colocando na ponta dos dedos e na palma da mão as nossas emoções, os nossos medos, buscando vencer preconceitos, pois temos a necessidade humana de se sentir desejado, respeitado, valorizado. E queremos uma escola melhor. Quem sabe do nosso jeito, mas queremos uma escola melhor.
Acredito que a experiência começada nesta escola colabora para repensarmos a escola como um todo. Uma escola criativa.
Mais que um pratica musical contemporânea o Tambor de Classe alia a tradição musical afrobrasileira e africana de buscar sonoridade nos objetos do meio ambiente. A valorização desta pratica é importante e motivadora para falarmos sobre preconceito musical, sobre racismo, sobre as diferenças na nossa sociedade. Por que existe formas eruditas e clássicas de se fazer música, como eram vistas estas praticas musicais do africanos e dos indígenas.
 Acredito que está  experiência musical de as bases de uma pedagogia musical genuinamente brasileira. Alicerçada na realidade e no contexto cultural de cada escola e colocando em pratica a lei 10.639/2003 sobre a cultura negra e afrobrasileira na educação em nosso país.
Por um nova gênese no ensino de música.

Tanto faz ser chamado de educar, professor, monitor, facilitator ou oficineiro o mais importante contribuição que este profissional pode dar para educação é através da sua pratica. E é esta que quero discutir neste texto. Propondo uma reflexão sobre qual o modelo de profissional da música que deveríamos ter de uma maneira mais especifica na escolas públicas e de periferia das grandes cidades e qual o seu papel neste novo modelo de sociedade e de paradigmas educacionais que estamos vivendo.
Não é de hoje que a música faz parte do cotidiano da escola. Está sempre esteve presente nos hinos, nas letras cantadas pelos professores de história, de religião de uma maneira mais formal, nos cantos corais de antigamente quando a música fazia parte do currículo escolar e também informalmente na cabeça dos alunos, ao bater na mesa, ao escutar nos antigos headfhones, nas festividades dos grêmios estudantis, do círculos de pais e mestres, enfim a música sempre rondou a escola e nela esteve presente.
No entanto, atualmente com a obrigatoriedade do ensino de música na escola como disciplina obrigatória, mas não exclusiva, traz uma questão importante, que é que ensino de música queremos? Quando esta pergunta é feita é colocada na 1° pessoa do plural, ou seja, nós. No entanto a pergunta deveria ter sido formulada na 3° pessoa do plural. Ou seja, que ensino de música, eles ou elas os alunos e a comunidade querem?
Essa mudança do nós para eles é de fundamental importância na mudança de paradigma da educação atualmente. E a música faz parte deste contexto de transformação. Aquela visão da educação musical como pratica civilizatória no sentido que as elites culturais ou classes de prestigio usam. É  importantíssima entender que a educação musical que os alunos querem é uma aula de música que dialogue com seus gostos, com suas m musicalidades, corporeidade, singularidades, diversidades musicais.
Nesse sentido o profissional da música precisa se conectar com a comunidade, com a realidade dos alunos, precisa ser a voz daqueles grupos discriminado, precisa mostrar as convergências, lutas sociais por espaços de reconhecimento de cada grupo. Precisa estar atualizado sobre as musicalidades dos jovens. Esse é o sentido deste agente na escola. Um professor trancado numa sala, com suas partituras e com suas aulas bem planejadas teoricamente não faz mais sentido. O que esta escola que esta ai precisa é de profissionais que façam diferente, que construam as suas próprias metodologias, suas próprias teorias sobre os fenômenos musicais que o cercam na escola e fora dela. Essa ação é que afetivamente é transformadora, e faz as atividade, aulas ou experiências com música serem efetivamente prazeirosas. Se não fizermos isso, corremos o risco da aula de música ser mais uma aula chata.
Neste sentido a experiências musicais com educação antiracista é fundamental, pois ela descola o eixo do educador e abala a sua noção equivoca sobre a pratica musical popular do outro. Pois todos sabemos que é ensino formal de música que impera nos cursos de formação de professores.
No entanto pesquisas dos últimos 10 anos vem trazendo a tona praticas musicais em projetos sociais com uso de percussão, formação de grupos corais, praticas em casa de religiões afrobrasileiras que tem contribuído na educação, na mudança de olhar destas praticas como algo folclórico e reducionista, para uma visão de ensino, teoria e pratica alicerçada numa outra maneira de se aprender. Ou seja, através da oralidade e da informalidade.
É esse caminho sem volta que estamos vivendo agora na sociedade brasileira, não dá mais para proibir os celular em sala de aula, não dá mais para ser preconceituoso com os gostos musicais dos alunos ou educandos e educandas. Precisamos de pessoas, profissionais com mentes abertas para nova realidade, buscando não modificá- las, mas fazer parte delas. Em conjunto com os alunos, ao seu lado, não na frente e nem atrás do lado afirmo. Se fizermos isso, não seremos atropelados pela indiciplina, nem pela falta de respeito, nem pela violência dos alunos, e sim, traremos uma contribuição enorme para uma pratica que tão importante para a escola atender seus objetivos educacionais que é promover a diversidade, a pluralidade e a busca de sentido ao estudar, ao pesquisar e tornas a escola um espaço de construção de saberes.
Essa possibilidade é a grande contribuição para perdemos a formalidade, que tanto tem prejudicada o ensino de música e no qual os alunos das periferias não querem em sua maioria.
Pois o professor de música que os alunos precisam é aquele que quer aprender aquilo que ainda não sabe. E a educação musical urbano, anti racista tem contribuída para isso, por essa razão cada vez mais pesquisadores e professores de música tem se utilizado da cultura negra e popular como forma de se libertar das amarras da música tradicional, utilizando dela aquilo que esta pode contribuir e retirando da mesma seus aspectos perversos, distantes e superiores e civilizatórios empregnados na sua gênese. E assim construir uma nova gênese de educação musical mais humanizadora, plural, diversa, aberta, dinâmica enfim, que atenda a nova sociedade em que estamos vivendo ou fazendo parte dela.


O funk da escola pra rua.
A lógica do funk é diferente da lógica do hip-hop, por uma única razão são de matriz africana. É a matriz africana que aceita o contraditório, o diferente, o antagônico. Nunca este tipo de visão de mundo pode ser único ou aniquilar a contradição, pelo simples fato de ser uma cultura aberta e dinâmica. Que não busca a coerência interna, que está a serviço da sociedade. Como todas as praticas musicais e religiosas africanas estão a serviço do fiel, ou seja, ele faz oque quiser com ela, a responsabilidade é sua pelas decisões que venham a tomar.
Nesse sentido é que temos observado o uso que se tem feito da música negra no Brasil. A industria tem se aproveitado deste caráter aberto, e mais e mais grupos tem começado a abrir os olhos para o quanto praticas comuns foram consideradas, antagônicas por outras, suas diferenças criaram status de superioridade. Nesse sentido o capital, mais uma vez ganhou ou pelo menos vinha ganhando. Hoje percebe que esta visão era equivocada, quando compreendemos o dinamismo e quanto a cultura musical africana sempre esteve ao nosso serviço, mudamos o olhar. O olhar de matriz permite perceber as diferenças, pois por mais que achamos que algo é igual, não o é, porque é portador de uma singularidade única, mas que simbolicamente tem aspectos comuns.
Um caso típico é o funk, primeiro entrou o rap saiu das ruas e começou a invadir as escolas, depois no embalo, o funk aproveitou a deixa, no entanto, este encontrou espaços e leis mais rígidas com as tecnologias neste sentido que ele se proliferou da escola pra rua. Pois a escola não é um espaço para corporeidades. E enquanto o rap em sua poética textual  é mental, o funk em sua poética é corporal. O funk é a contestação não com a palavra exclusivamente mas com o corpo. Nesse sentido, que ambos se completam, e podem ter a capacidade de se somarem na luta antiracista, pois ambas musicalidade sabem o que é preconceito musical.
Por fim o funk saiu da escola, ganhou as ruas, becos e vielas, e tem cada vez mais se expalhado pelo Brasil, pois não teve um espaço acolhedor ao ser introduzida ao querer pegar o embalo do rap. Pois basta perguntar se um professor gostaria de ouvir um racionais MCs ou um Mr Catra. Este vão buscar o primeiro enquanto a maioria dos jovens vai preferir o segundo. Sempre foi assim na história da nossa pequena música brasileira. Pois temos menos que 10 anos de tradição da valorização da música popular na escola. Mas acredito que daqui a alguns anos comece a voltar. Pois a lei 10.639/2003 é um marco na educação ao reconhecer as culturas africanas contemporânea como formadora da sociedade brasileira no seu modo de ser, sentir e agir. E o funk voltará.

O que é afinal educação musical.

Definir um objeto de pesquisa em qualquer área não uma das tarefas fácil. O pesquisador precisa primeiro definir seu objeto de pesquisa. Nos dias de hoje devido as mudanças tecnológicos e a variedade de métodos de pesquisa e interdisciplinariedade de alguns estudos fica cada vez mais complicado.
Grande parte deste fenômeno se deve ao os estudos fraguimentados que esqueceram a totalidade do ser humano e sua capacidade de relações entre as parte. Por essa razão que temos cada vez mais estudos mais compartimentados. No entanto, o pesquisador atente deve saber relacionar o seu objeto de estudo com outras áreas quando estas não são o suficiente para explicar os fatos e fenômenos nos quais pretende explicar.
 A educação musical num primeiro momento buscou se identificar com algumas áreas da educação. Essa área da educação objeviamente foi entendida apenas na sua relação com a música, em particular com a teoria musical. Assim, esta área das ciências da educação passou a ter como objeto de pesquisa como a criança aprende música. No entanto, o olhar no Brasil ficou restrito aos fenômenos como apreciação, composição, técnica e execução. E um dos temas mais importante como literatura ficou de lado. E carente de estudos, por uma simples razão que estes fenômenos que envolvem a literatura são assunto de etnomusicologia e da sociomusicologia.
Esse silenciamente em relação a história da música e sua verdadeira fácil ficou apagada dos estudos da música. Por uma simples, razão esta área precisava se fortalecer como área importante da educação. Mas o que é educação musical? Para que educamos musicalmente? E para quem educamos musicalmente?
Essas são perguntas que na maioria da vezes levam junto a importância da música como disciplinadora do corpo e elevação da alma, a música é uma linguagem universal, ela faz bem para o ser o humano, para sociedade e para as pessoas. Mas há um grande problema nestas falas que é a concepção de música que o individuo tem e a sociedade tem.
Uma das questões que tem me provocado é se podemos considerar a o funk como música, o pagode como música, o rap como música e esses terem os mesmos status musicais da música clássica e erudita. Obviamente que não. Por uma razão simples nossa educação musical é muito miupe, ou seja, ela considera como educação apenas a música européia. E esse é seu fim. Todos os meios de educar musicalmente levam em consideração parâmetros da música ocidental européia. Sendo assim, o professor de educação musical é formado para educar ou preparar o individuo para lidar com o som e sua complexidade, mas no fundo a intenção é prepara-los para escutar, tocar, ler, interpretar, avaliar e consumir a música européia, onde ela esteja mais presente.
A minha critica é que a educação musical que temos hoje visa desenvolver no educando competências que tem o fim último a música na sua dimensão de grande arte. No  entanto acredito que precisamos pensar numa educação musical plural e verdadeira com a história da música. Seja ela oriental ou ocidental. Estamos vivendo um momento de profunda crise, onde um novo modelo de educação musical precisa ser posto. Um desses modelos seria uma educação musical que atenda as necessidades das comunidades pobres e das periferias.
E qual a necessidade destes jovens. Primeiro é uma educação musical que os prepare para produzir, criar e elaborar as suas músicas. Um teoria só tem sentido se puder ser aplicada na pratica. E ai entra uma grande variedade de problemas que passamos ter com essa educação musical, que não é mais a tradicional, mas a atual que está desatualizada. Como escrever e falar do porque do preconceito musical, do porque da dificuldade de encontrar uma escrita musical que atenda a linguagem rap, funk e pagode.
Ou seja, precisamos desenvolver uma educação musical que atenda as necessidade do povo e não as nossas necessidades. Isto fica claro quando vemos o orgulho que um professor tem ao saber que um de seus alunos passou no vestibular de música, que toca numa orquestra, que está fazendo regência. Mas o orgulho de tem um aluno fazendo funk, rap, pagode ou participando de grupos em escolas de samba é a nossa principal dificuldade. Porque estas praticas musicais históricamente não fazem parte dos currículos de história da música. Pois este currículo é eurocentrico, mesmo na educação musical contemporânea e sempre foi assim. É assim que ainda está nas maiorias dos livros didáticos de música.
Precisamos urgente mente repensar a nossa educação musical e o quanto ela está impregnada de racismos e preconceito. Isso só se combate quando somos capazes de criticar a nossa formação, os nossos mestres, doutores que não foram capazes por aceitação ou não de criticar e atender a realidade da nossa formação musical e as mudanças da realidade da educação musical Brasil e no mundo.
O que precisamos é uma educação musical que se desenvolva localmente e possibilidade fazer rupturas ou rasuras no modelos impostos pelas classes de prestigio da educação musical e pela seu bom gosto estético. Se fizermos isso saberemos  realmente o que  é uma educação musical verdadeira. Pois esta que está ai esta muito longe da realidade. Parou no tempo.


A inércia através da observação

A inércia também atua no campo do saber através de sua ação dinâmica através do símbolo. Um aluno que está parado, não participa da aula ativamente, não quer dizer que não está aprendendo. Ele aprende pela via da observação, esta assimilando, seu cérebro esta ali produzindo relações nas quais eu não tenho condições de saber, mas de perceber pelo olhar, se está gostando ou não, se sente vontade de participar e se por alguma razão não participa. Enfim, é essa acuidade visual da aprendizagem que o professor precisa ressignificar, pois apenas se considerou nas analises musicais o sujeito que atua, que dramatiza, que expressa a sua arte e a sua vontade. Aquele ser que está ali,  é pouco estudado. Pois é justamente este ser que interessa. O mesmo se dá com o espaço. Se analisa sempre os espaços constituídos na educação musical, como por exemplos escolas de músicas, projetos sociais, faculdades, conservatórios, escolas no entanto existe uma aprendizagem que não se dá nestes espaços. Mas se dá nos intervá-los entre uma coisa e outra, na rua, na praça, nas conversas, nos shows, nisto ainda a educação musical está carente de estudos pois pelo que parece isso não é o seu objeto de estudo. No entanto são a partir destes espaços é que se irá construir o músico.E toda a sua bagagem musical não está na formalidade e sim no cotidiano. É ele que dá a base sólida para o músico, que procura nas suas relações com a música fortalecer laços, contados, entre outras atividades relacionadas a música como produção e consumo. Sem este entendimento caímos sempre na mesma maneira de tratar a música como uma construção de dom e de talento.
 A incorporação por parte de professores de praticas musicais cotidiárias de educação musical é que possibilita uma aproximação com o aprendente de música. É justamente esta capacidade de relacionar os sons da sua vida com sua música que tornou a cultura negra tão importante no desenvolvimento da criatividade nas escolas ONGs, isso se deve grande parte aos estudos  educacionais relativos a população negra, sua dificuldade de acesso a educação, sua particularidade, seu modo de aprender alicerçado na oralidade, na expressividade, coletividade, circularidade, enfim vários valores afrobrasileiros, que durante tanto tempo foram negados pelas classes de prestígios, hoje estas mesmas classes com seus estudos se apropriam de conhecimentos que não são nada novo. Mas apenas legitimas por filhos de intelectuais desta mesma classe que outrora considerava aquelas ações culturais como lixo cultural.
Esse embargo que levou a literatura negra a ser esquecida, e nem ser considerada como literatura é mais uma prova que  cada vez o pensamento e o modo de ser africano contribui para a educação.
 E esse olhar começa pela observação, ele foi oi mecanismo principal que vem com que negros que foram arrancadas e seqüestrados de suas terras pudessem se relacionar com o diferente, com o branco e com o índio. Foi na observação que tivemos a construção de uma cultura oral que se penetra na nossa cultura a cada dia, que se incorpora, que influencia e é influenciada, por que é dinâmica. É justamente essa capacidade de observação que faz a criatividade da musicalidade negra no samba, no rap, no pagode, no funk e que historicamente este em todos os gêneros musicais do Brasil e do mundo. Essa marca é impossível tirar. Pois na ausência de estruturas que possibilitem o desenvolvimento de uma cultura a observação daquilo que o outro faz é a possibilidade de aprender e criar em cima o novo. E esse caminho é sem volta. Pois a observação é a chave de qualquer experiência, resistência e existência possível ao ser humano.



Porque não existe escolas de música nas periferias

A mais de 20 anos atrás quando consegui o meu primeiro salário como lavador de carros, me lembro que me inscrivi numa escola de música no centro de Porto Alegre. O movimento desgante de ter que ir até o centro, pagar por uma aula na qual a minha cultura não estava ali representada, pois os professores eram rockeiros e eu queria aprender samba, sua levada, seus ritmos e a teoria musical também. Me levou a desistir de continuar os estudos formais em música. Naquelas aulas tinha tudo, menos o que eu queria. Os professores dominavam a matéria, porém não existia uma motivação para continuar. Procurei uma escola de música justamente pelo fato de já ter feito oficina no Campo da Tuca no Galpão de reciclagem. Naquela época eram mais de 10 jovens que queriam fazer música que tocava no rádio e que estava nas paradas de sucesso. Me lembro que era uma época influenciada por grupos bahianos e axé music estava em alto. Tinha banda de axé tocando direto nas paradas de radio, pessoas dançam, desciam até a boquinha da garrafa. Naquele tempo o axé representou o que hoje é o funk para os jovens das periferias. A critica era mesma, música sexualizada, de baixo calão, música pobre, de mal gosto. Enfim, por ter vivido esta experiência com a música baiana que é possível para mim compreender a linguagem funk.
Primeiro porque sou da periferia, nasci dela, sou fruto dela e da política pública para jovens da periferia através da cultura. Após concluir a faculdade de música e voltar os meus estudos para o fenômeno do preconceito musical, percebi o quanto que ele é atuante e está localizado ao espaços territoriais em Porto Alegre. Devido principalmente as escolas de música. Um exemplo é procurar no google o local das escolas de música. A maioria está localizada no centro de Porto Alegre. Isso quer dizer que o jovem que quer estudar música acaba tendo esse direito publico negado. Pois não é ofertado no seu entorno escolas de música. A maioria das escolas que existem nas periferias estão relacionadas aos projetos sociais. Sendo assim, o ensino individual, privado, técnico é impossibilitado. Com a lei da música nas escolas foi democratizado o acesso a linguagem musical. No entanto aquele ensino que prepara para o vestibular de música das UFRGS, para os cursos de mestrado e doutorado ainda não temos. Isso mostra o quando a educação musical elitista ainda é um mal no qual precisamos erradicar neste pais. Pois a música em qualquer dimensão é cultura, e como cultura e fazer artístico é um direito de todos. Abrindo mais escolas de música na periferias teríamos a possibilidade de um inclusão maior de jovens, de adultos, idosos debatendo música, criando música, apresentando música, enfim, utilizando todas as possibilidades no qual a música nos oferece como saber humano. Neste sentido que sou a favor das escolas de música Pública, financiada pelo cultura pelo estado como uma política de inclusão. Pois não podemos continuar a mercê de projetos sociais, a maiorias deles temporários e com incentivo da iniciativa privada e com duração de um ano ou no máximo dois. Precisamos de escolas públicas de Educação musical permanente. Ofertada para pobres, pessoas que não podem se deslocar até o centro. Um exemplo é oque a prefeitura de Porto Alegre está fazendo ao democratizar o ensino de teoria musical onde existe uma oficina especifica de leitura de Partitura para comunidade de Porto Alegre nas periferias. Apesar de poucos oficinas atende um público interessado em participar desta. Que lê e escreve música com músicos oriundo da cultura popular. Isso mostra o quanto esta política inclusiva precisa acontecer para democratizar o saberes musicais construídos historicamente.



Novos agentes musicais e territórios

Nesse momento histórico de afirmação do ensino de música em todo o país como fruto de políticas públicas é importante pensarmos na educação musical e suas relações políticas, sociais, econômicas, ideológicas, jurídicas e espaciais, para se poder compreender o fenômeno do preconceito musical. É possível localizar e fazer um mapeamento das áreas em que se situavam as escolas de música na antiguidade, na idade media, na renascença, no classismo, no romantismo, na modernidade e na atualidade. É preciso localizar os locais em que se situam e quais as razões que fundamentavam as suas escolhas. Se uma educação musical fosse realmente a vontade das elites, estas escolas estariam situadas em comunidade pobre? Com baixo poder econômico? Com nível cultural baixo? Pertencentes a classes sociais mais baixas? A relação jurídica que estes músicos tinham com o poder na preservação de suas obras?
Localizar onde estão situadas as escolas de músicas da iniciativa privada, onde estão localizados os professores de música do estado, do município, onde situam as orquestras sinfônicas, os locais que dão seus espetáculos, as viagens, tornes, é importante para se compreender a questão da geografia espacial da música. Pois se analisarmos a fundo os espaços construídos em projetos sociais com educação musical foi um movimento da periferia das zonas de baixo poder econômico, social, jurídico, mas que se apropriou do espaço geográfico e impôs seus padrões culturais onde o estado não tinha poder de atuação. Como os terreiros de candomblé, as casas de religião, as escolas de samba em território com baixo poder econômico, no entanto com poder cultural que proporcionaram a manutenção da música como espaço de saber.
 As políticas públicas como os Pontos de Cultura espalhados pelo pais potencializaram com recurso manifestações culturais, especificas destes agentes culturais da periferias. Obviamente que estas políticas na medida em que atendem aos interesses de valorizar a cultura local não hegemônica possibilitou a inserção de novos agentes sociais que antes não participavam dos debates em música e suas principais políticas. Sendo assim, é impossível compreender como uma educação musical, foi influencia por estes novos agentes sociais e o quanto os novos estudos voltados para educação musical não levam em consideração esses novos agentes. Vindos das periferias e como resultados das políticas publicas.
Nesse sentido em alguns aspectos como a valorização do profissional com notório saber atuando em projetos sociais recebem uma grande critica em relação aos que tem formação de nível superior em música. Justamente pelo fato desses novos agentes não terem força para se impor e nem argumentos suficientes para fazer sua defesa de o porque suas ações como educadores musicais são importantes para escolas públicas das periferias. Pela sua linguagem musical, mais próxima do real estes agentes são desvalorizados nos seus saberes musicais. Assim ficam impedidos de exercerem a profissão de professor de música de uma maneira formal. Nesse sentido que é possível perceber o quanto a educação musical é elitista na medida em que grande parte da intelectualidade nunca olhou com bons olhos aqueles agentes ideologicamente comprometidos com a transformação social do Brasil com respeito as diferenças e pluralidade de idéias e concepções pedagógicas.
Os dados provam a carência de profissionais de música com qualificação de nível superior, mesmo sabendo da falta de profissionais não se assume a necessidade de incorporação daqueles que não tem formação acadêmica nos quadros de profissionais da música, prefere-se critica-los, analisar suas falhas e não propor políticas públicas de inclusão. E muito menos exigem do estado a responsabilidade em fornecer a formação em música para estes publico. Obviamente que sabemos que é muito perigoso por partes das elites da educação musical assumir estes riscos pois teriam que flexibilizar seus cursos, rever suas teorias, suas metodologias e técnicas de ensino. E mostrar a perversidade da educação musical através da história, pois os ideais românticos da educação musical, como potencializadora do amor, do belo e do culto em música pelos estudos de outras áreas de saberes acadêmicos que tratam da musica, já foram a muito tempo quebradas pelos estudos da sociologia, da antropologia e mais particularmente da educação.
Assim, pensar no território ou espaço onde a música acontece com seus aspectos inclusivos deve ser fundamental para transformação efetiva dos quadros de educadores musicais ou professores de música no país, bem como a participação de novos agentes que possibilitam pela diversidade de olhares sobre o que é ensinar música, para quem e para que uma ampliação do horizonte até então desconhecido, e visto com muita ressalva pela intelectualidade música e com um olhar critico sobre si mesmo.


Porque é tão difícil colocar o funk (corpo) no currículo escolar.

A escola sempre foi um espaço de dominação de saber, hierárquico e que condenou o corpo em todas as suas dimensões. Desde do começo das primeiras pedagogias com os pensadores iluministas a preocupação era tornar  a escola como um espaço de preparação à sociedade. Nesse sentido que se  justificaram a escravidão dos negros, dos indígenas e educado-los para os valores cristão e aos interesses das classes dominantes sempre foi seu fim. Mesmo que no interior, houvesse resistência em não aceitar a opressão e a dominação européia, a cultura sempre foi uma forma dos povos que sofreram deixar registrados na memória de seu povo, com lendas, mitos, canções, danças, artesanatos e outros artefatos seus questionamentos sobre a existência, a fé e a identidade.
 Essas marcas deixadas por essas populações sempre se mantiveram apagas do currículo escolar e quando tiveram seus espaços representavam uma visão histórica distorcida e não alicerçada na ciência e sim, na ideologia dominante e dominadora.
Essa foi visão que atravessou gerações e que ainda continua em voga. Mas o que é afinal preparar para sociedade? Que tipo de sociedade estamos falando tentando preparar os alunos? Para uma sociedade que trabalhe com as diferenças ou uma sociedade cada vez mais preconceituosa, racista, homofóbica e sexista?
Essa é uma escolha que se impõe atualmente na educação e principalmente na educação musical. Se por um lado alguns estudos mostram o quanto o corpo e movimento são importantes para aprendizagem musical (BUNDSHEN, 2005; KEBACH; 2008 e PRASS, 2009). por outro nunca se definiu de qual corpo estamos falando. Nem se ao se falar em corpo abarca as praticas corporais da sexualidade na história da nossa música, como o lundu, o samba, o batuque e mais atualmente o funk fazem parte desta categoria.
Este debate quando se começa está permeado de questões morais e ideológicas. No entanto para se chegar a um ponto comum é necessário entender as transformações nas quais a sociedade está vivendo. Essas transformações tem exigido da escola uma papel conservador e que não acompanha o desenvolvimento social, tecnológico, cultural e acima de tudo dos direitos humanos em todas as suas dimensões.
Um exemplo clássico é que a escola tem o direito de colocar câmaras para filmar o cotidiano dos alunos, porém os alunos não tem direito de filmar o cotidiano da escola, da sala de aula, do pátio, das brincadeiras. O aumento da criminalidade se dá principalmente devido a falta de capacidade da escola de conseguir dialogar com o jovem principalmente. Este representa sempre o perigo. A juventude sempre foi alvo principal das sociedades e expressam suas não concordâncias com os padrões vigente, pois querem fazer parte dele. Querem dar opinião, querem ter espaço de escuta, são anti-moralistas, mudam de opinião quando são confrontados com ela e expressam isso de várias maneiras. Um delas é brigando, agindo preconceituosamente, com violência, bulling, racismo.
Essa ausência de espaços de mediação de conflitos passa pelo debate sobre o corpo. É o corpo do jovem que vem sofrendo, e esse corpo resiste a todas as formas de opressão. Além disso, a falta de perpectiva de ter atendidas os seus gostos musicais esbarram na legislação de proibição do celular em sala de aula, na proibição de músicas funk, na proibição de danças sensuais ou que expressam a corporeidade, espaço para discussão sobre sexo e namoro, sobre problemas familiares que tanto afligem os jovens. O resultado de todo este caldo é um completo turbilhão de porquês sem respostas convincentes. Uma delas é essa, se lá fora pode, porque aqui não?
A resposta dos professores é que a escola não é clube. E certamente não é. Mas deveria ser. Por duas razões: a primeira é que um clube atende as necessidades dos seus sócios. Se me associo num club de natação, obviamente que quero ter os serviços de poder tomar banho de piscina, ter aulas com professores especializados, mas principalmente aprender a nadar. Se a escola fizer  o mesmo que os club atenderá a sua função principal que é o saber e conhecimento. A escola tem sido mais cadeia, do que club. Tem preferido mais o primeiro.
É essa a questão central e quebra de paradigma no qual a escola tem que passar para evoluir e tentar a não ficar tão defasada em relação a realidade. Pois estamos muito defasado em matéria de direitos no ambiente escolar. E o pior é que parece que falta coragem por parte de professores, educadores e gestores de lidar com isso. Lá fora o jovem pode filmar e colocar suas observações nas redes sociais, lá fora ele pode dançar, cantar, beijar, namorar e se divertir, lá fora tudo pode, e a escola como templo sagrado, religioso e guardião do saber. Que a final de contas está super bem guardado, pois são poucos os que realmente aprendem  e se discute essa realidade mesmo sabendo os motivos da não aprendizagem. Os alunos não aprendem por uma razão simples a falta de capacidade da escola de dialogar com a realidade. A escola prefere se omitir dessa questão.
Séculos de escravidão, de ensino tradicional, de metodologias tradicionais estão enraizadas na escola. Qualquer modificação no currículo é vista com péssimos olhos, principalmente por aqueles que tem uma visão conservadora de escola e excludente. Lei como a 10.639/2003 completou 10 anos e sua bases são desconhecidas, justamente porque mudam o currículo e qualquer mudança ou visão nova abala o velho, o arcaico, o tradicional, pois esse quer se manter, enquanto o outro quer inovar, atualizar e essa falta de atualização impede a possibilidade de se pensar uma escola da diferença ( SANTOS, 2004). Uma escola alicerçada na atualidade, que dialogue com o corpo, com mente, com alma, com conhecimento, com o amor e com a alegria. É essa escola utópica que queremos ( FREIRE, 1996). Uma escola que uma dança funk, seja uma representação, uma encenação, dramatização e ludicidade da cultura jovem e negra (LOPES, 2011) e não tenha aquela representação de coisa do demônio, de lixo cultural. Uma escola da diferença e uma educação musical-antiracista são fundamentais nessa abertura. Para que possamos aos poucos aceitar a nossa cultura como portadora de identidade, de valores, de atitudes, de conhecimentos que não estão na mesma dimensão moral de nossa educação formal eurocentrica, que impediu de olharmos para nós mesmos( brasileiros) com admiração ( MUNANGA,GOMES, 2006). Obviamente que um pais marcado por genocídios culturais ( NASCIMENTO, 1979) e ditaduras guarde um medo do novo, pois novo representa sofrimento, dor, falta de liberdade. O que precisamos é enfrentar esse medo, se não superarmos estes traumas psicológicos sociais ( CURY,2009) ficaremos paralisados e certamente todos continuaram evoluindo e a escola continuará a mesma com uma fileira atrás da outra, com a contenção dos corpos, e as aulas de música servirão apenas para desenvolver funções cívicas e música que atenda ao gosto estético musicais (SOUZA, 2008) não dos alunos e sim dos professores que sentem saudades do canto orfeônico.



Em busca do reconhecimento, mas com as mãos cheias de sangue.

Os modos de produção do homem sempre estiveram ligados com os modos do ócio. Na medida em que se produzia mais, havia uma necessidade maior para o descanso. Neste caso para as populações africanas o descanso não se da dormindo, mas comemorando a colheitas, as chuvas ou seja a abudancia. Por essa razão a música tem uma papel fundamental na união do grupo. Pois o trabalho musical depende desta cooperação entre as pessoas. Ele representa esta felicidade após um dia de trabalho e noite que serve para comemorar e agradecer ao orixás e deuses por este dia.
O estranhamento dos povos colonizadores europeus com as culturas musicais que aqui estavam e depois chegavam não permitiam entender como conseguiam tanta energia para comemorar após um dia de trabalho. Vários são os relatos de viajantes que se surprendem que mesmo com o dia exaustivo negros e indígenas  tiravam forças para cantar e dançar, enquanto em outros lugares após um dia de trabalho as pessoas descansavam na noite.
A arte se desenvolve na medida em que as necessidade básicas fundamentais são atendidas e obviamente o excedente possibilita segunda Santos (2004) que trabalho intelectual, artístico, artesanal encontrem um mellhor clima para desenvolver-se. Nesse sentido que o desenvolvimento musical da europa se dá em momento de profundas revoluções históricas nas relações de produção e que possibiliou para uma elite um tempo maior para fazer arte.
 Se acompanharmos o desenvolvimento da música grega, na idade média, na renascença, no modernismo e na atualidade as transformações nos modos de produção influenciaram também as artes e de uma maneira especial a música. Mas não podemos esquecer que grande parte do desenvolvimento musical que outrora se teve com a música se deu em um momento de isolamento e de saque de pessoas, gentes, corpos africanos e indígenas e da exploração da mulher para que se desenvolvesse aquilo que temos orgulho de chamar de bela música.
Essa mesma bela música tem as mãos cheias de sangue na sua trajetória, foi financiada com base na exploração econômica, cultural e social de populações que tinha concepções diferentes de arte. Uma arte total e não fraguimentada.
Esses resquícios de cooperatividade na música tinha que ser apagado nas novas formas de relação com a arte, por essa razão estas populações são até hoje vitimas do preconceito musical, enquanto o músico erudito ou clássico vivia diurnamente de seu trabalho, o músico popular vivia norturnamente do seu. Por isso o lundu, samba, pagode, o rap, o funk desenvolvem-se noturnamente, longe dos olhos das elites, nas periferias, morros, vilas e favelas. Uma arte que vive de trabalha de dia e vive de noite. A desvalorização do músico deve-se a essa trajetória da arte como ócio. E este ócio não é visto como portador de valor, principalmente para cultura erudita, letrada, ocidentalizada, em outras sociedade como africana ser músico representa um status elevado, no mesmo patamar de reis e rainhas.
Com isso é possível entender, que a música sempre foi um caminho seguido pelas populações negras como forma de ascenção social. As elites culturais no Brasil sempre tiveram isto bem claro, na medida em que impossiblitaram o acesso do negros aos cursos superiores de música, aos mestrados, doutorados na área. Porém estamos vivendo um momento em que a democratização do saber cientifico passou a ser um direito humano. As bases e justificativas que outrora se justificavam e se sustentavam hoje não se sustentam mais, pois a história e o espaço tem mostrado o quão distante estão financeiramente os músicos populares e os eruditos. Os populares com formações básicas da noite, do autodidatismo, da internet e os eruditos com formações de nível superior exercendo seus ócios criativamente, e em muitos casos tocando música popular brasileira, ganhando altos cachês por conta de suas erudição.
Enfim, a produção cultural, bem como a criação artística são elementos fundamentais para compreensão do porque da desvalorização da arte no Brasil. Uma arte inicialmente feitas por negros, indígenas, que deixaram suas marcas de resistências nos espaços musicais por onde passaram e a  vontade daqueles que descendem dos colonizadores de ao fazer arte ser valorizado.  Esta preocupação de reconhecimento pela seu fazer musical é um objeto de estudo que deve ser melhor analisado,  pois ao que me parece sempre foi uma necessidade das elites e seus filhos que ao fazer arte querem se diferenciar dos africanos e dos indígenas que fizeram a arte pela arte, e não como um fim econômico.




O compromisso que devemos assumir.
Devido a complexidade cada vez maior e a ampliação dos direitos humanos, lidar com a diversidade passou a ser fundamental num mundo moderno e globalizado. Exige-se de um profissional, principalmente os da educação, uma capacidade de articular conhecimentos, habilidades, atitudes e valores importantíssimos para o convívio em sociedade. Nesse sentido que um ensino laico colabora para que a educação não caia nas mãos de fundamentalistas religiosos que acabam vendo na educação uma maneira de impor sua doutrina a todos os seguimentos da sociedade.
Deste que os jesuítas foram expulsos do Brasil, e o ensino deixou de ser função da igreja e passou para as mãos do estado, tivemos vários avanços. Alguns deles foi o fato de não haver a necessidade do ensino religioso alicerçado apenas na religião católica. Mesmo que na pratica, a religião católica fosse dominante no interior da escola, mesmo assim, representou uma ação importante, na medida em que um ensino laico proporcionou ao professor a possibilidade de poder trabalhar a diversidade de religiões em sala de aula.
Considero que a partir da lei 10.639/2003 o ensino de artes passa a ser um marco na história do Brasil, na medida em que esta proporciona através de lei a inserção nas aulas de artes, a religiosidade, os valores, os modos de ser, de pensar, de agir e de interagir africanos, afrobrasileiros e indígenas. Essa lei é um reforço a um ensino laico na medida em que diz que a diversidade de temas étnicos deve ser a tonica de um mundo moderno, e somente quanto todas as religiões, formadoras da sociedade brasileira tem seus espaços no currículo escolar é que caminhamos para um mundo real, onde várias cores, gostos, maneiras e modos de ser humano convivem.
Não é atoa, que está lei surge, ela vem em um momento em que o ensino de arte e religião era marcada única e exclusivamente pela religião crista, mesmo a após a laicização do ensino. Essa lei surge, pois os legisladores e o estado brasileiro assumiram o caráter a racista da educação. Se a educação não fosse racista, obviamente não haveria a necessidade desta lei.
Mas e o professor que tem uma religião, tem que abandonar a sua para poder trabalhar com a diversidade religiosa? E como fica o professor de música ao lidar com   religiosidades dos alunos?
Como não existem respostas prontas, penso que na medida em que o professor assumiu um compromisso com o estado e com a erradicação do racismo e preconceito racial, sua única alternativa é assumir a contradição interna entre a sua religiosidade e a aquela que o estado espera que desenvolva em sala de aula. Ou então abandonar a sua profissão ou religião.
Ao assumir a contradição, neste caso dolorosa à pessoa que tem uma religião que  historicamente sempre viram a musicalidade negra como algo do demônio, do mal, do não civilizado, do primitivo esse profissional da educação tem que conseguir evoluir espiritualmente na sua fé, na medida que, mesmo esta tendo que lidar com a diversidade, não perde a sua função individual e  espiritual para o professor.
Se o professor fizer isso, dará uma contribuição enorme ao país, ao proporcionar um ensino diverso, plural e humano. Caso o professor, por posições religiosas e doutrinarias assuma a sua religião e negue as outras ele presta um deserviço a nação. E assim, uma política anti-racista não se efetiva, fica apenas na lei e na retórica. O mais importante é a pratica. Quanto mais pesquisador for um professor, mais laico ele será, e mais fortalecida ficará na sua fé, pois conseguirá lidar com o diferente, com o pensamento diferente do seu ao entender como pensa a religião do outro que não é a sua.
Para o professor de música que lida com a religiosidade, mais que qualquer outro campo ou disciplina, sua tarefa é muito mais importante, na medida em que, a expressão da religiosa tem como veiculo principal a música. Assim, um professor de música que assumi sua função de pesquisador, e pensador das várias formas de religiões existente no Brasil acelera a possibilidade de num futuro próximo, construir uma manifestação artística e musical na escola que seja, a expressão do que realmente é o povo brasileiro.
Esta tarefa é uma das que cabe no ensino de arte, em especial, nas aulas de música. Enfrentar esse desafio é colaborar para uma educação musical antirracista e oportunizar aos povos indígenas e negros espaços para expressão de suas religiosidades, com o mesmo valor e espaço que é dada as religiões de matriz européia, como a católica e mais atualmente a evangélica. Pois podemos ser religiosos e ao mesmo tempo sermos laicos. Podemos ser coerentes com a nossa fé, mas sermos coerentes com o compromisso que assumimos ao nos tornarmos professor.
Ao nos tornamos professor temos que ser pessoas diferentes, abertas, a realidade, aos avanços da ciência, da tecnologia e do pensamento humano. Ao nos tornarmos professores, educadores, mediadores, ou no nome que for do profissional que trabalha com a educação assumimos um compromisso com história desse país. O compromisso de torna este pais melhor para todos aqueles que aqui convivem, independente da religião. Um país que assuma a sua condição diversa, plural e singular no mundo. Uma educação efetivamente para todos, sem preconceitos e que nos possibilite olhar a religiosidade do outro como parte da história da nossa nação e não apenas como parte da história do outro. Esse é o compromisso que devemos assumir.
A importância dos multirreferenciais

Antigamente eu pensava que era importante para educação musical o conhecimentos sobre a história da música erudita negra no Brasil. Isso devia a falta de referenciais negros que não encontrava na literatura musical da europa. Ou seja, todos os referencias de música clássica são brancos. Então eu me perguntava várias vezes. Mas não pode ter havido um negro em mais de 300 anos de música clássica na europa, sendo que se sabe a importância que a música era dada nesse período?
 Enfim, estas questões foram evocadas principalmente devido a necessidade que a comunidade negra no Brasil tem de construir referenciais. Vários séculos de escravidão não nos permitiram conhecer e desenvolver uma história que tenha sido alvo por parte de intelectuais, principalmente os responsáveis pela educação musical. O que eu quero dizer é que, nunca foi uma necessidade procurar um Mozart Negro, um Bach Negro ou outro negro que tenha tido tanta importância quantos estes grandes nomes da música européia.
Esse minha preocupação surge a partir do momento em que encontrei algumas respostas as minhas inquietações. O que sempre procurei foi multirreferenaciais. Mas o que significa isso? Multirreferenciais é um conceito que diz respeito que a formação humana ela se dá na medida em que não existe apenas um único referencial, mas vários.
No meu caso, não tive apenas um referencial negro, que me auxiliou na minha formação. E sim vários. Isso é importante na medida em que existiu durante grande parte do tempo em que fui educar uma necessidade e uma responsabilidade de me tornar referencia. Eu não percebia que era importante trazer ao educandos várias referencias.  Pois é isso que fará a diferença em sua vida. Nesse caso não falo de música e sim de fenótipo.
Ao poucos fui percebendo também a carência de referencias de negros nas universidades, como professores da rede de ensino de música etc. No entanto, o que a juventude negra carente de referencias precisa é de multirreferencias negros em todos os campos da educação musical, da literatura musical, da composição musical, da música erudita, da música popular. Se não se fizer isso, nos próximos anos ou décadas de nossa educação musical em todos os níveis continuaremos correndo o risco de não trabalhar com esta dimensão que os jovens necessitam, principalmente o iniciante em música de multirreferenciais, pois estes são capacidade de oportunizar um leque de escolhas ao iniciante negro (a) na música e nos estudos acadêmicos.
Por exemplo na música popular, na música de massa estes referenciais já existem, no entanto na música clássica, erudita e acadêmica não . Pode-se contar nos dedos de uma mão os personagens principais da música clássica brasileira ou erudita. Arrisco dois José Mauricio Nunes Garcia e  Moacir Santos, e também colocaria neste patamar Pixinguinha. Obviamente que estas definições ferem os cânones e conceitos de música clássica e erudita. Mas acredito que as próximas pesquisas acadêmicas irão encontrar na história músicos eruditos negros contemporâneos e até no passado na medida em que haverá necessidade reformular conceitos se quisermos construir uma educação musical antiracista.
Uma educação musical que aposte no futuro e possibilite a construção no presente destes referencias acaba sabendo a importância de seu papel histórico na arte, na cultura e na música brasileira. Meus multirreferenciais foram sempre na música popular os cantores da escola de samba, minha mãe, meu pai, minha avós, os cantores do rádio, os cantores de rap, de funk, de pagode. E mais atualmente compositores negros de música erudita negra Brasileira. E foi a partir do conhecimento de músicos eruditos negros que pude buscar o equilíbrio, ainda desigual com a música popular.
Algumas pesquisas minha sobre a estréia da peça O imperador Jones dirigida por Abdias do Nascimento em 1945, já trazem informações de uma orquestra formada por músicos negros. Assim como também, mostra o acesso que os músicos negros tinham ao conhecimento teórico musical. Num período em que o ensino de música tinha a teoria musical como seu principal veiculo da cultura eurpopéia. Ao ver as imagens do livro O griot e as muralhas (2006) uma autobiografia de Nascimentos organizada por Ele Semong poeta e amigo de Abdias fiquei impressionado ao ver naquelas fotos um maestro organizando e lendo a partitura junto com a cantora lírica negra que iria fazer parte do espetáculo.
Fiquei mais uma vez convencido da importância da história da música e da literatura musical estar apoiada na lei 10.639/2003 com vista a conseguir acrescentar a educação musical do país uma contribuição histórica que ajude a reformular conceitos em voga que já não consistem com a realidade, com a luta, com a história  e com a participação negra tanto na música popular, quanto na erudita, clássica e nos espetáculo de teatro. Pois quando as orquestras estavam começam a perder a sua pigmentação negra em seus conjuntos, vem Abdias do Nascimento e propões uma produção musical, teatral, corporal e histórica que tem relação direta com os estudos em música, em que negros são protagonistas.
Acredito que os multirreferenciais são importantes para reparar um dano histórico e a violência cultural sofrida por aqueles homens e mulheres negras que participaram da música de bom gosto estético e que não fazem parte do currículo do livro didático de música. Provocar a abertura do currículo é levar em consideração a participação negra em vários campos do saber humano e música clássica e erudita é uma delas.
Repensar é preciso
Com os avanços das ciências modernas e o fim das certezas absolutas, quando o homem passa a ser o centro do universo,e quando se descobre que a terra não é o centro do universo isso causou um terremoto nas noções de sociedade, de ser humano, de cultura e de história. É esse o momento pelos quais estamos passando.
Trago essa informação a educação musical pelo fato de ter observado a certezas das pessoas em relação aos seus estudos sobre educadores musicais. Há ainda no mundo maravilhoso da música uma visão de que as grandes metodologias sobre educação musical estão fora do país com os pensadores da primeira, da segunda e até da terceira geração.
Todos os educadores são brancos, todos vieram da europa, dos estados unidos e do Ásia. E a África não entra neste circuito? Será que a visão de música dos griot africanos não teriam muito mais a colaborar com a nossa realidade educacional, alicerçada na oralidade e não na escrita?
Então como se faz para ler partitura? Ora, parece que com educadores musicais aquilo se tornou um segredo guardado a sete chaves.
Se brinca com os sons, se movimenta, se usa a ludicidade, enfim, mas criar uma pedagogia que auxilie a educação musical e as crianças a ler partitura não está presente naquela educação musical das gerações em que já citei anteriormente. Todos falam da importância de tudo na música, menos da partitura. É ela que deveria ter sido objeto de estudo da educação musical. Me parece que o único a aceitar este desafio foi Lucas Ciavata com o Método do Passo.
Aqui é importante fazer uma justiça a uma pessoa que foi a professora Cristiane do IPA quando ela me apresentou o método do passo em uma de suas aulas, fiquei completamente enlouquecido, pois já via naquela metodologia a influencia africana e afrobrasileira. No entanto, o que me deixou irritado foi o fato da professora não ter falado isso. Então, tomei uma atitude provocativa em relação aquilo e fiz a critica do método. Foi neste ponto, que eu e a professora tivemos um incidente em que ela achou a minha fala tendenciosa, simplesmente por desacreditar o seu método de trabalho. Mas eu não estava desacreditando O Passo, e sim, a sua leitura sobre ele.
Me lembro que tive uma coragem imensa, pois todos da turma ficaram surpresos com a reação da professora. Tivemos uma conversa na sala com a diretora do curso, nos reconciliamos, mas concerteza ela aprendeu e eu também.
Mas o que aprendi com ela? Aprendi que deveria ter escutado mais, ter percebido onde ela queria chegar antes de fazer a critica. Precipitei-me e ao mesmo tempo quis reivindicar o direito de ter a cultura negra reconhecida como metodologia no ensino de música. Quando comecei a buscar maiores informações sobre o método de Lucas Ciavata percebi a grandeza de sua proposta. Inovadora para educação musical brasileira. Minha critica maior era ter entendido o método como uma alternativa para não utilização e compra de instrumentos musicais por parte do poder público. Era nesse ponto que eu queria chegar com a professora.
O que penso é que métodos como O Passo são muitos bons, pois atendem ao interesses das classes dominantes em que não vêem a necessidade de se investir em estrutura, em materiais para o ensino de música. Pelo simples fato que podemos aproveitar os métodos ativos ou novos para ensinar música.
Cada nova proposta que vem sem material, essa lógica dominante é reforçada. Assim acredito que fica cômodo para os governantes e secretários de cultura. O que estes tem a fazer é apenas contratar o Lucas e dar uma formação sobre o método e o problema está resolvido. Não se precisa mais comprar instrumentos e nem investir um centavo em transformação do espaço escolar para desenvolver música.Qualquer método é importante, desde que ele possibilite a utilização em instrumentos formais. O método de Lucas é importante se ele permitir que eu melhore ou desenvolva meu desempenho de leitura musical. De nada adianta o método, técnica, ou seja, lá o que for que não atenda a esta finalidade.
Nós precisamos entender que qualquer proposta é um caminho para desenvolver a criatividade musical. Uma educação musical verdadeiramente brasileira foi inaugurada com a proposta de Lucas, se esta vier acompanha de política pública no setor podemos ter num futuro próximo grande nomes da música erudita, popular e de massa que aprenderam a partir desse método. Acredito que a resistência e o reducionismo, em cima do método do passo, nas universidades privada e pública se deva ao caráter transformador que esta proposta tem. Uma proposta que mexe com a gênese da educação musical, e traz a pratica da rua, da escola de samba, do terreiro de candomblé, dos grupos de funk, de rap, das danças indígenas para aula de música.
A coragem da Kith de fazer isso, mesmo sem saber a grandeza afrobrasileira que o método traz é que importante. Pois a todo tempo esta pedagogia estava aqui e precisou um Bahiano, com certeza de descendência africana apresentar uma proposta dessa magnitude. Que é o que de melhor apareceu na educação musical brasileira desde a sua fundação. Espero que o criador da proposta tenha consciência disso. E o quanto a resistência ao método é a resistência e a não aceitação da nossa própria história como nação e a criatividade do nosso povo negro e indígena que ajudou a construir este país.


Evangélicos e a homosexualismo uma questão de música e religião.
O ataque nos quais negros no mundo todo sofrem, é agravado quando estes são de religiões afrobrasileiras. E aqui vale uma resssalva importante que sempre esteve fora dos debates. Quais a principal religião do país que acolhe homosexuais?
O Brasil vive um momento de profundas tranformações em seus corpo legislativos que representam o avanço do pensamento moderno e contemporâneo em questões que por concepções religiosas ficaram de fora do debate, mas que em algum momento terão que ser enfrentados. E a hora parece que é agora.
Sempre foi a vontade das elites intelectuais desse país acabar com as religiões afrobrasileiras e impedir qualquer tipo de direito que estes possam ter. Primeiramente pelo fato de representar aquilo que consideram de mais primitivo na humanidade o culto ao orixás. Assim, o sincrotismo buscou aniquilar com o tempo a religiosidade africana e indígena com a  intenção aos poucos os negros perderem suas referencias religiosas afrobrasileiras, assim como a dos indígenas, no entanto, o que estas elites culturais e religiosas cristas não esperavam era a possibilidade de mesmo com a adoração aos santos católicos que os negros pudessem manter suas religiosidades. Foi justamente o que aconteceu. Ao mesmo tempo, o negro acabou se incorporando e modificando a propria religiosidade crista.
Quando perceberam o erro que tinham cometidos aos elites brasileiras apoiadas pela ditadura militar incentivou a vinda de imigrantes para o Brasil. Obviamente que vieram para muitos protestantes que eram mais radicais que os católicos, quanto ao culto e as imagens. Assim, a primeira coisa, era atacar no interior das religiosidade afrobrasileira, ou seja, o culto as imagens.
A igreja evangélica se caracteriza profundamente pela não adoração de ídolos. Ora se você tirar os ídolos, as imagens das religiões africanas você liquida com elas, com seus cultos primitivos. Mais uma vez, mesmo que não sabendo a força da religiões de matriz africana esqueceram que através da musicalidade, da corporeitadade, da circularidade os valores africanos permanecem. E isso que aconteceu. Hoje podemos perceber o quanto a influencia africana mudou os cultos evangélicos desde sua fundação no Brasil. Temos musicas gospel de todos os tipos com funk, com rap, baião, pagode, samba, frevo, axé, enfim, a musicalidade afrobrasileira adentrou nos cultos, shows e atividade rituais dos evangélicos. Aqui vale chamar atenção, principalmente para neopentencostais, que são igrejas mais abertas. Mas mesmo as pentencostais são na sua maiorias e as protestantes mantem modificações sutis. Mais o termo evangélico diz respeito as religiões que tem uma base doutrinaria comum.
Agora chego no ponto central e debates que ganham a atualidade, principalmente depois de um deputado evangélico ter sido nomeado para presidência da Comissão de Direitos Humanos. Nesse debate a questão principal é fato dele ser racista, por dizer que os negros descendem do mal, e por não aceitar o casamento com pessoas do mesmo sexo. Neste dois casos o racismo e sexismo andam juntos. Mas representam a cultura de religiões de matriz africana uma afronta que fere todas as conquistas de direitos humanos realizadas pelo movimento negro Brasil. Fere a própria constituição. Que diz que ninguém poderá ser discriminado por cor, sexo ou religião. A mesma constituição que todos chamam de cidadã, permitiu que tivéssemos numa comissão uma pessoa com tal pensamento. O pior ainda é com base em fundamentação teológica. Mesmo que a base não tenha cientificidade. É mais fácil no começo da humanidade o sinal que deus colocou em Caim ter sido branco, do que negro. Pois a anterioridade da pele negra no mundo já foi comprovada, e o ser humano branco é uma mutação genética. Mas deixo estes detalhes para os biólogos. Pois a espécie humana é uma só.
A proibição dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo representa uma tentativa de aniquilamento das religiões afrobrasileiras. Pois como todos sabem, enquanto outras religiões excluíram homosexuais as religiosidades africanas acolheram e deram poder a estas pessoas em grande parte de seus cultos. Essas mesmas pessoas que tem direitos, que pagam impostos, que comem, que bebem, que ajudam no desenvolvimento do país, tanto econômico quanto cultural, pois atendem os excluídos da sociedade. Essa religião deve ter garantido aos seus membros os direitos que outras religiões também tem.
O debate ficou deslocada, justamente por que se entermos que a questão é racial em todas as suas dimensões. A proibição é crime a constituição que condena o racismo. O debate gira entorno apenas da questão da sexualidade. Quando na verdade o buraco é mais embaixo. Nesse sentido, que é impossível esperar que alguém das religiões de matriz religiosa européia concorde com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou melhor gay, ou melhora ainda que as bichas, as monas tenham o direito garantido de igualdade garantido por lei.
Na inglaterra o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado, mesmo com a revolta em massa dos conservadores. A legalização representa para os conservadores aquilo que nunca toleraram que é a revolta dos negros, negras em busca de sua alteridade e dignidade humana, roubada por mais quase quatro séculos no Brasil. E a educação musical tem que ser contra o racismo, o sexismo e  a homofobia, ao ser laica colabora para humanidade.

Olhar para próprio umbigo e levar uma umbigada.

O Brasil sempre foi resistente em olhar para o próprio umbico. Por duas razões: a primeira é que o umbigo da gente é sempre feio, o bonito é o umbigo dos outros. Nesse caso os outros são as propostas pedagógicas do estrangeiro e a segunda é nossa dificuldade de olhar para nós, ao nosso redor, a nossa volta, enfim, ao nosso interior.
A classes dirigente sempre acharam o povos europeus mais civilizados em todos os aspectos. Na educação então, lá fora é que realmente as crianças aprendem. Pois nossa população daqui apesar das inúmeras tentativas continua sendo analfabeta e fracassando em todos os níveis escolares.
Dessa maneira, os poderes só passaram a olhar para interior na medida em que começaram através das universidade perceber os estudos relativos a aprendizagem humana e as razões pro fracasso escolar. Um dos primeiras ações foi perceber que as pessoas aprendem de maneiras diferentes e que estas aprendizagens estão relacionadas ao contexto histórico e cultural no qual o ser humano vive.
Por essa razão as pesquisas realizadas em projetos sociais desde o final de década de 80 possibilitaram entender como crianças pobres, negras e indígenas aprendem. Nesse sentido, a música se tornou uma das principais ferramentas de aprendizagem. Os acadêmicos que desde então passaram a pesquisar estas praticas perceberam a contribuição enorme que estas poderiam dar para a educação.
Assim as legislações anti racistas surgem a partir das praticas e experiências acadêmicas realizadas em projetos sociais, e muitas vezes no turno inverso do da escola. Por isso, propostas como Escola Aberta, Mais Educação e um ensino público integral surgem da necessidade de tornar a escola um espaço acolhedor da diversidade étnica, de gênero e de orientação sexual.
Este modelo de escola é influenciada a partir do momento em que se percebeu que a formalização, a padronização das aulas não é o melhor caminho para que se aprenda. Cada vez mais as intelectuais estão certo que um ano é insuficiente para aprendizagem de uma aluno, que o melhor é trabalhar por ciclos, desenvolver competências fundamentais para convívio social, estratégias eficazes no ensino e na aprendizagem.
No caso da música as pratica musicais afrobrasileiras e indígenas, são consideraras como ritmos brasileiros. Como se todos os ritmos brasileiros fossem iguais. Pois antes de falarmos em ritmos nós precisamos falar da suas historicidades, identidades, sigularidades. Podemos considerar as musicas feita na festa da uva como ritmos brasileiros? Obviamente que não, então porque os ritmos africanos e indígenas quando incorporados a educação são chamados de ritmos brasileiros. Mais uma vez é a resistência de olharmos para o nosso próprio umbigo.
Contudo ainda sim, existe pessoas que pelas suas maneiras atualizadas de ver o mundo a partir das pesquisas feita lá fora e algumas aqui dentro já incorporam e começam a olhar para si mesmo, ou seja, para o próprio umbigo.
Os projetos realizados em aldeias indígenas, em quilombos, em escolas de samba, e terreiros de candomblé, nos grupos de pagode, de samba, nos bailes funk, enfim, nos espaços chamados pela academia de informais. Possibilitam uma experiência que a muito vem sendo questionada por nossa educação que é qual o tempo de permanência na escola.
Os espaços fora da escola tem uma gama de aprendizagens muito mais significativas, prazerosas que a escola. Por isso, eles aprendem. Sem um processo formal de avaliação, ainda sim, são mais eficazes na transmissão de saberes. Uma prova disso, é que a linguagem indígena está viva e atuante em suas comunidades, mesmo com todo o processo de genocídio que sofreram, o mesmo com as musicalidade africanas nos terreiros de batuque e candomblé.
Todo o africano e seus descendentes e os indígenas e seus descendentes tem a noção de tempo muito mais justa nas suas aprendizagem, pois todo tempo está se aprendendo. Ao analisar as observações em projetos sociais com música, se percebe este viés que o ensino é continuo. Essa experiência de tempo, deve ser incorporada pela escola. Pois lá fora e alguns estudos mostra isso.
Alem do mais, a responsabilidade por um ensino de qualidade passa pelo fato de que todos nós temos oportunidades de aprender e aprendemos coletivamente, uns com os outros. Nisso, os projetos sociais, vem influenciando o pensamento da escola tradicional e do dirigentes e dos sistemas educativos. Pois as realizações feita fora do muro da escola, hoje vem sendo incorporada nos vários projetos financiados, tanto pelo poder público quanto pela iniciativa priva.
Por fim, acredito que quanto mais olharmos para realidade a nossa volta, como aprendizes musicais, mais contribuição dares a sociedade com nossa pratica e experiência educativa. Possibilitando construir uma educação genuinamente brasileira, pois as soluções para os problemas da educação sempre estiveram aqui. Mas faltou coragem de vencer preconceitos e assumir a nossa condição de povo diverso com modos de aprender negros e indígenas, inclusive na música.


Sistema Nacional de Cultura um avanço: A música como simbolo, como cidadã e como economia

A música sempre esteve a serviço da sociedade. Nas sociedades primitivas ela servia como símbolo importante para relação com os rituais de iniciação, guerra, festas e cortejos. Isso possibilitou o desenvolvimento da música nas suas diferentes dimensões tanto no corpo, quanto na mente. As imagens nas cavernas deixam evidentes a funções que a música ocupava. Os objetos desenhados representavam sons. Tambores, marretas, martelos, pedras e movimentos que nos indicam uma cultura musical. Além disso, achados de tambores de diferentes tamanhos, tudo isso colaborou para o desenvolvimento da música. Depois venho a sua função religiosa na idade média. Com relação com o divino, como meio de ligação entre o homem e deus nas religiões católicas, protestantes no ocidente, no oriente, os cânticos ao Buda, Mantra e nas religiões  árabes e africanas os cantos a Alá, aos orixás, enfim, os símbolo era a relação com a religiosidade, nele estão contidos os valores da música a sua importância para o individuo e para a sociedade.
Já a noção de cidadania, é possível perceber que a música sempre foi um direito, pelos menos nas sociedade ocidentais, que não era universal. Apenas os mais talentosos poderiam exercer a atividade musical. Na Grécia antiga as aulas de música faziam parte do currículo, porém não eram todos que tinham este direito. Com o desenvolvimento do ocidente o mesmo aconteceu na idade média a música ficou restrita a igreja, como detentora do poder juntamente com o estado. Ela se torna um direito muito recentemente no período de nossa historia, a partir da revolução industrial e mais atualmente com as legislações no mundo todo sobre a educação musical.
Já do ponto de vista da economia, a música sempre teve relação direta com esta. Os griot, os menestréis, os mestres capelas, os maestros, os professores de música, os regentes entre outros durante toda a história da música sendo ela ocidental ou oriental sempre tiveram relação direta com a economia. Por uma razão muito simples, o músico assim como qualquer outro trabalhador é um ser humano. O fato de este fazer arte não o coloca em situação de vantagem, perante outro ser humano qualquer, pelo contrario, sua sensibilidade o torna mais frágil de todos, por este não ter sua arte reconhecida economicamente.
A história recente do ocidente mostra que o fazer música era coisa de preto, de escravo, pois os espaços de prestígios eram formados por doutores, advogados, políticos, entre outros,  ser músico, especialmente no Brasil era uma atividade quase exclusivamente feita pelas camadas mais vulneráveis economicamente, exceto obviamente a música erudita, a partir de século XX.
O negros e seus descendentes deixaram um patrimônio cultural imenso, mas não tiveram sua valorização. Hoje seus filhos e descendentes lutam pela dignidade que nunca foi reconhecida.
O governo brasileiro ao colocar a cultura popular, cultura erudita e cultura de massa, no mesmo valor social para o Brasil, visa pagar com política públicas o dano que causou aos negros e músicos pobres desse pais, que com um mínimo de recursos e a maioria deles sem formação acadêmica em música,  construíram a história musical desse país.
O colonizador sempre sonhou em construir aqui uma nação civilizada musicalmente, mas que devido ao seu preconceito jamais permitiu que negros figurassem em seus altos postos de prestígios musicais nas orquestras, nem como maestros, nem como músicos. Um país com a maioria da população negra, teve alijado o acesso aos conhecimentos musicais, impossibilitando que desenvolvessem suas musicalidades e criatividades de uma maneira mais ampla.
Se os recursos econômicos tivessem sido distribuidos equitativamente aos músicos eruditos e o populares com certeza, hoje ficaríamos orgulhos em ver negros em orquestras sinfônicas, como doutores em música nas principais universidades.
 Mas parece que isso tudo é um sonho, que talvez estejamos perto de realizar com o Sistema Nacional de Cultura e com estes democratizar o acesso  econômico de recursos, que até bem pouco tempo, estavam exclusivos nas mãos das elites econômicas desse pais com  suas noções de bom gosto estético.
Oportunizar que funkeiros, rapper, sambistas, carnalescos, grupos religiosos  afros tenham recursos públicos para desenvolverem as suas artes, sem a necessidade de intermediação entre empresários, e nem precisar bater à porta dos mesmos, já é um grande salto que o Brasil em matéria de política cultura realiza.
Pois do ponto de vista da cidadania, ao ofertar recursos financeiros proporciona o desenvolvimento local da arte, da comunidade e dos cidadãos que dela utilizam como apreciadores ou criadores musicais. Isso leva o povo que tem sua cultura valorizada, bem como seus saberes musicais reconhecidos e com o mesmo valor cultural, ter um ganho simbólico e um aumento na sua autoestima.
Este povo acabará se orgulhando de ser brasileiro, de pertencer a esse pais, a essa cultura, tão diversa e tão rica e que por século foi menosprezada e considerada como lixo pelas elites brasileiras, tendo seu valor reconhecido muito tardiamente pelo estado.
Por fim, ao proporcionar a música dentro de sua função econômica, simbólica e cidadã estaremos proporcionando a igualdade de direitos aqueles que construíram musicalmente este pais, e que morreram das mais diferentes formas ou lutando pelo reconhecimento ou no completo esquecido. A estas pessoas  o Plano Nacional de Cultura representa o pagamento desta divida, que esperamos que se efetive com políticas públicas principalmente na área de música.




























Por quê  muitos educadores musicais pedem pra sair?

Durante vários anos trabalhando em projetos sociais vários desafios surgiram para mim. Alguns deles citarei no decorrer deste texto. Pois minha grande preocupação ao entrar rede estadual de educação como professor de música foi o desafio de pensar, agir, e fazer diferente. Essas são motivações que me perseguiram. Muito mais do que o salário e a estabilidade. E sim a possibilidade de auxiliar nas aprendizagens musicais daqueles que vão a escola todos os dias e que só tem ela como espaço social, afetivo e de respeito.
Mesmo que a escola não cumpra com a sua função cidadã ela ainda é o principal referencial para muitas crianças negras e pobres desse pai. Crianças sem afetos, sem respeito e sem carinho e amor de muitos de seus pais, que acabam encontrando em professores aquela figura acolhedora, paterna ou materna que as faz importantes.
Mas quero discutir aqui uma coisa que tem me colocado em situação constrangedora perante colegas. Por que a maioria não dá aula na rede, e sim em projetos sociais, como em igrejas, ONGs, sindicatos e universidades.
A resposta obviamente seria porque o sistema público paga mal. E é verdade, além disso, o profissional da música não ainda a sua disposição materiais e nem espaços financeiros para que isso ocorra. Porém, ao formar-se num curso de licenciatura os mais baratos de todos esse professor não teria que assumir o seu compromisso social? Mas qual a razão para que haja uma fuga da rede e o professor e o professor de música resolva estudar para fugir dela?
Essa fuga para a especialização, mestrado, doutorado não seria devido a complexidade e os desafios da rede pública. Todos os educadores, pensadores musicais não estão mais na rede. Muitos passaram por ela. Mas por que saíram ?
A normas, regras, pareceres e mudanças nos sistemas de ensino e nas maneiras de avaliar os alunos são uma das causas. É fácil criticar o professor quando não se convive com a realidade, quando não vive os desafios cotidiários da tarefa de ensinar. Essa tarefa de ensinar devido as mudanças freqüentes que ocorrem nas legislações e nas tecnologias tem feito cada vez mais os músicos obterem pela rede privada e pelos projetos sociais.
 Nestes espaços se vive a realidade, mas de uma maneira mais alicerçada na realidade e nas possbilidades. É possível num período curto de tempo o profissional da música dispor de materiais para trabalhar de espaços para desenvolver suas oficinas, sem a necessidade da utilização de recursos e pedagógicas que trabalham a música corporal devido a ausência de instrumentos musicais como é o caso do rede estadual.
Nesse sentido, é fácil compreender as razões que vão além da questão financeira. Mesmo que ele ganhe pouco a possibilidade de satisfação pessoal é maior do que na rede. Por isso ela sai meses ou anos depois de entrar.
Mas tem também uma questão que vejo que é central para o professor de música não entrar na rede. O fato do ensino ser laico, ter que trabalhar com as diferenças e com a complexidades culturais, sociais e econômicas do público escolar.
Pois ninguém quer dar aula para pessoas que consideram que não são capaz de aprender. O fato do ensino ser laico, impossibilita o professor de ter a sua religião como foco central das aulas, pois a diversidade religiosa deve prevalecer, assim, muitos para não abandonar a sua religiosidade tem medo de perdê-la ao ter que trabalhar religiões que considera do demônio como as religiões afros.
Outro fato é diferença de raça, de gênero, de idade e de orientação sexual, pois o professor preconceituoso não consegue lidar com um aluno que é homossexual, nem com aquela maioria de crianças negras nos quais nunca acreditou que fossem capaz de aprender, nem o fato de ter que trabalhar com turmas com diferentes idades, coisas que não admitem em outros espaços.
Por ultimo o espaço escolar ser de uma complexidade cultural muito maior do que o projeto social, do que a igreja, do que o coro da universidade. Existe um gama enorme de agentes, de pessoas em que exige uma capacidade de dialogo, de compreensão e de entendimento que exige muito do profissional da música.
Todos esse medos estão presentes na em dados sobre a situação dos profissional da música no Brasil que se forma e não vai trabalhar na rede. Segue sua trajetória de formação na rede privada ou em projetos sociais, pois lá é mais fácil. Aqui quando digo projetos sociais não me refiro ao projetos das periferias e sim, aos projetos sociais constituídos economicamente, com recursos privados como o de orquestras sinfônicas e jovens. Que tem estruturas bem diferentes daqueles projetos em que o trabalho é feitos não ensina do dom e do talento, mas sim do direito a pratica musical e ao seu fazer humano.
O professor de música da rede pública ele é importante para a sociedade, pois é ele quem lida com um público muito maior e pode provocar transformações que a igreja e os projetos sociais provocam de uma maneira muito tímida, que é a cidadania cultural e os direitos humanos e da dignidade da pessoa humana. Esse é o desafio ao assumir este compromisso social ao formar-se e ir para rede pública o professor presta um grande serviço a nação e auxilia no desenvolvimento disso que se chama educação musical no Brasil. Mas para ajudar a desenvolvê- la é preciso estar no seu interior e seu interior é uma sala de aula.

É fácil criar difícil é imitar
Uma da dificuldades de qualquer educador musical e a imitação de sons. Nela é momento que o praticante de música entra em contato com o outro. Tenta entender seus movimentos, seus gestos faciais, corporais, seus sentimentos e emoções ao realizar a ação. Essa é a principal dificuldade. Imitar requer o enfrentamentos de minhas dificuldades de percepção do outro de maneira em que, minha dificuldades são expostas, meu preconceitos contra determinados tipos de sons. Assim, ao imitar acabo enfrentando as minhas limitações.
Enfrentar as limitações que temos como pessoa não é uma tarefa muito fácil, pois a exposição abala nossa autoestima, o olhar do outro sobre nós e sobre a nossa fragilidade nos acanha, encomoda, nos abala e nos tira da nossa zona de conforto de mero observador.
As ciências sociais buscaram logo no seu inicio observar os fenômenos humanos, nesse sentido que a ciências sociais surgem. No entanto, a principal dificuldade era na observação. A observação tradicional visava apenas olhar o pesquisado, não interagir, não influir nas suas opiniões, no seus modos de ser, de agir, de sentir e de se relacionar. Não necessitava de muitos recursos nem colocava o pesquisador em desconforto cultural, pois sua tarefa era apenas observar o ambiente e registrar.
Porém, houve um momento de ruptura em que era fundamental ao pesquisar vivenciar as experiências daquela comunidade, para melhor entende-la  e compreende- la, para assim, fazer uma analise mais justa sobre a ótica da pesquisa. Dessa maneira, surge a pesquisa participante. Ao imitar os movimentos cotidiários dos quilombolas, dos indígenas, dos grupos humanos, acabou-se trazendo um outra olhar sobre as comunidades pesquisadas. Ao entender os grupos humanos, em especial aqueles produtores de saberes musicais, percebeu-se que a pratica de imitação é fundamental para comunidades tradicionais. Pois é na imitação dos mais velhos que os novos incorporam novos valores, novos conhecimentos, habilidades e atitudes aos seus modos. Assim, a imitação proporciona uma apropriação do fenômeno musical e ao mesmo tempo imitação e criação, pois logo que se aprende a imitar, aprende-se a criar.
E o criar, para sociedades com influencia indígena e africana como a nossa, acaba sendo desenvolvida devido aos desafios e enfrentamentos de uma sociedade que nunca soube lidar com o diferente e muito menos aceita-lo. Então a criação ela é hoje, a principal ferramenta da educação musical, no entanto, a imitação é um fenômeno humano por natureza, já a criação é algo a ser desenvolvido.
Atualmente as pessoas tem utilizados metodologias que visam apenas a criação. A criação por si é um processo individualista, que não necessita do outro. Pode-se criar a todo o momento, com qualquer objeto, com o corpo, com as mãos, pés, boca, enfim, de uma maneira em que o outro não me faz falta alguma no processo musical.
Já a imitação ela necessita do outro, do objeto, da pessoa, da natureza. Ele que é o fator principal nas sociedades modernas. A criatividade é uma conseqüência das atividades de imitação. Basta olhar na musicalidade negras como batuque, o lundu, o samba, pagode, hip-hop e o funk tem algo em comum. Pois são praticas musicais que imitam a musicalidades africana, porém a criatividade é que fez a diversidade destes gêneros musicais que tem acabam tendo uma matriz em comum.
Nesse sentido criatividade e imitação se misturam, tem uma interação dialógica que as vezes fica difícil perceber onde termina uma e começa outra. Os estudos acadêmicos da etnomusicologia, da educação musical e da educação anti-racista tem mostrado a importância da imitação no processo educativo, principalmente com o uso do corpo.
A realização da imitação requer disponibilidade do outro para vivenciar a pratica corporal do outro. Requer interesse, disponibilidade e atenção total a este outro. Foi justamente imitando o outro que possibilitou a diversidades musical que temos hoje no Brasil e no qual nos orgulhamos dela. Pois ela representa o nosso potencial criativo. No entanto este potencial de imitação que a musicalidade negroafrobrasileira tem ainda é pouco utilizada na educação musical. Recorre-se a teorias a metodologias exteriores quando a solução está aqui. As alternativas para uma educação musical já se encontravam aqui em solo brasileiro. Demorou muito para educação musical acordar para este fenômeno.
A imitação é fundamental na aprendizagem em todas as áreas, principalmente nas ciências. As linhas de pesquisa hoje são uma prova do quanto doutores querem pensadores que possam imitar os seus estudos e ao mesmo tempo construir criativamente sua proposta. Ao entender a linha de pesquisa do orientar posso articular e buscar imitar seu pensamento, sua dificuldade como pesquisador experiente.
Este tipo de imitação cientifica ou genealogia cientifica, mostra o quanto a imitação é tonica atualmente, sem ela a variedade não seria possível, pois tudo seria diferente. Todo o material sonoro seria novo, não haveria repetição, e não havendo repetição não haveria necessidade da memória. A imitação é que proporciona a ativação da memória. Pois é preciso lembrar do movimento para poder imitá-lo. Nosso cérebro só se desenvolveu devido a ajuda da imitação. E o olhar sobre o outro, em todas as suas dimensões é o que nos possibilitou ser homosapiens. Por isso, a imitação é a base de qualquer proposta de música, pois criar é fácil.
A lei da música e a lei da negritude
É quase impossível falar de Brasil e não falar de  música, assim como é impossível falar de Brasil e não falar do negro. O negro e a música estiveram relação direta na sociedade brasileira. No entanto a lei da música de 2008 e a lei da negritude tem profundas diferenças.
Enquanto a lei da negritude 10.639/2003 foi uma lei sancionadas apó um amplo debate dos movimentos sociais negros fruto de quase um século de luta anti-racista no Brasil. A lei da música parece ter sido uma construção da intelectualidade acadêmica. Enquanto a legislação de combate ao racismo tiveram como protagonistas negros, pobres, de associações de moradores, de terreiros de candomblé e do movimento negro organizado. A lei da música surge como uma necessidade de levar música para a escola. Como se está já não acontecesse no seu entorno, no intervalo e nos recreios, nas festas e até fora da escola por não ter espaço formal dentro desta para que ela acontecesse.
A lei da negritude tem um principio interessante obriga que a cultura negra seja conteúdo obrigatório nas aulas de artes, língua portuguesa, matemática e história. Enquanto a lei da música é diz respeito ao conteúdo obrigatório, mas não exclusivo. Para trabalhar a cultura negra na escola pode haver a participação de lideranças da negritude nos bairros, do movimento negro, independente de formação acadêmica. Já a lei da música quase tornou obrigatória a necessidade de formação acadêmica para se ensinar música na escola.
Isso aconteceu devido a visão elitista de seus idealizadores. Enquanto a lei da negritude parte da realidade e aceita que pessoas envolvidas com a temática etnorracial lecione em escola publicas e privadas a lei da música buscou tirar essa possibilidade. Se não fosse o veto presidencial a formação especifica em música seria obrigatória. Mesmo assim, na pratica os concurso atualmente exigem formação superior e não apenas  o notório saber.
Nesse sentido é possível perceber a diferença central entre ambos. Enquanto uma inclui os negros a outra tenta exlcuí-los. Essa está sendo a realidade . Um exemplo clássico dessa tensão é fato dos concursos públicos do magistério, basta ver o edital e o critério para ingresso ao concurso público. Na pratica o processo de seleção exclui da rede pública aqueles profissionais que trabalham em projetos sociais, em escolas de samba, em casas de religião, no ensino de violão, teclado, cavaquinho e que são negros ou negras.
Enquanto uma lei abriu um leque importante de possibilidade que é o da negritude, a outra buscou fechar esse leque ou melhor a porta para o educador musical de formação popular. Assim mesmo as duas legislações são um reflexo dos movimentos sociais brasileiros cada um puxando pro seu lado. Mas que em alguns momentos as diferenças completam-se. 


Interacionismo cultural

O Brasil ao completar mais de 512 anos de história se orgulha das atrocidade que cometeu. Ao aniquilar quase na sua totalidade os povos indígenas, ao exterminar a linguagem africana e por fim ao não reconhecer a sua diversidade. Mas reconhecer a diversidade basta?
A nossa história prova que reconhecer a diversidade sempre foi uma das característica das sociedade colonizadoras. Por uma simples razão: eram minorias.
Assim as várias culturas puderam conviver branco, negros, índios, samba, lundu, modinha, música popular, música erudita e por ai vai. Ma a questão central é nas mão de quem estava o poder de decisão? E o poder de decisão de se manter no poder? Em com quem estava o direito de ser portador de uma cultura universal? Obviamente que era a elite escravocrata branca.
Repare que muito recentemente nos estivemos uma Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, uma Fundação Nacional do Índio. Quase toda a nossa história como nação foi construída sobre sem o poder de decisão nas mãos de negros e índios.  Se hoje, nos orgulhamos de ter construído uma sociedade democrática, com instituições sólidas, isso se deve a luta social, pois se fosse pela vontade das elites, dos governantes as mudanças nunca aconteceriam, pelo menos da maneira como está hoje.
É preciso que ela seja provocada para sair da sua inércia. E as classes dirigentes tem esse olhar. De que nós somo responsáveis pelas soluções dos problemas. Eles fizeram isso, perguntam-nos a respostas.
Desta forma esses e seus descendentes se mantiveram no poder e nos espaços privilegiados de decisão que ocupam na academia. Enquanto isso de maneira empírica vamos dando como dizem na comunidade “ o ouro pro bandido”. As custas de nossa diversidade e criatividade vamos enriquecendo-lhes culturalmente e economicamente cada vez mais. Com a nossa música, com o nosso estilo, com a nossa linguagem. Para nós parece ser interacionismo cultural, trocas culturais, diversidade cultural e na pratica nos orgulhamos de ser assim de gostar de vários gêneros musicais, de várias danças, de poder freqüentar diferentes espaços religiosos, de gostar de novela, de futebol e de ir a praia.
Sendo assim a cultura negra mostra aberta, dinâmica e viva, por isso mesmo tendo perdendo grande parte de seus referenciais históricos e de linguagem ainda assim na arte se mantem, mesmo sofrendo preconceitos de todos os tipos quanto quer assumir pra si a autoria ou co-autoria de determinados movimentos culturais e educacionais. Nesse sentido a cultura popular é a matriz da cultura erudita, as grande obras musicais eruditas brasileiras são de inspiração indígena que é O guarani de Carlos Gomes e as Bachianas de Villa Lobos, sem contar os Requem de José Mauricio Nunes Garcia e Coisas de Moaciar Santos.
Em alguns momentos nossa herança cultura nos favorece, principalmente a nossa face colonizadora, a mais perversa quando usamos as mesma armas cientificas para justificar nossas idéias, armas que foram utilizadas para nos oprimir e que agora damos resposta pelo menos no campo da literatura acadêmica e da arte. Onde os estudos feitos por negro mostram o quando somo o país mais negro das Américas depois da África e que essa cultura influenciou nosso modo de ser, pensar, agir, interagir e aprender.
Mesmo com as legislaçõe anti-racista e com os dados que mostram a realidade do negro e do índio no Brasil, ainda sim, quando levantamos a voz e reivindicamos espaços nas decisões que envolvem os problemas que nos humilham internacionalmente como a violência, a fome, o racismo, sexismo, o machismo e vários outros ismos, as elites findam o acordo traçado e procuram maneiras de atrasar nossas reivindicações e nossas lutas. E o que era multi para a ser mono.
Nos bastidores do poder a música clássica predomica e a música popular, folclórica, de massa são as  preferidas dos estudos acadêmicos. As elites precisam disso, para lembrar que herdaram uma cultura dita superior, mas que não as impede de gostar de Chico Buarque, de samba, carnaval e Baile Funk.



Funke-se se puder: O abalo da noção de mulher sujeito e de mulher objeto



...Minha porção mulher
Que até então se resguardará
E porção melhor
Que eu trago em mim agora
E o que me faz viver ...
Gilberto Gil


A lógica que coloca a mulher do FUNK como objeto cai por terra quando percebemos que o fato de a mulher se sentir desejada, se sentir com direito ao prazer, com direito de escolha dos parceiros, com direitos de não ser obrigada aceitar nada mesmo sendo funkeira em nenhum aspectos essa mulher se vê como objeto. Pelo contrario estas mulheres através de suas corporeidades mostram suas alteridades diferentes de seus antepassados negros de escravidão.
Aquilo sim foi coisficação da pessoa. Quando a mulher negra não tinha a proteção do estado, nem força para vencê-la, a não ser por meio de aborto, suicídio, fulga. A mulher negra não tinha escolha, nem alternativa, nem possibilidade frente ao patriacalismo ocidental, assim como a mulher indígena também.
Pelo via corpórea seus descendentes chegaram até aqui. No entanto, as relações mudaram. O machismo passou a ser combatido, a mulher negra ou branca, indígena, amarela ou outra, passou a ter direitos garantido constitucionalmente. No entanto como a garantia de direitos na pratica não aconteceu para os tipos diferentes de  mulheres. Ouve uma cisão que é possível de perceber. Basta olhar a diversidade de grupos feministas.. Do feminismo, pois o feminismo é diverso.
O ser mulher que nasce, apesar de ter fisologicamente as mesmas característica, culturalmente, socialmente são pessoas diferentes, ou mulheres diferentes. E as rupturas mostram o quão é complexo é ser mulher. E uma das noções que vem sendo abaladas é a noção da mulher como objeto. Para a doutora em antropologia da Universidade do Rio de Janeiro.

Não existe relação sujeito objeto entre pessoa e ferramenta, somente capacidades expansivas e realizadas. ( MIZRAHI, 2010, p. 172).

Mulher é mulher, e não pode ser objeto, mesmo que retoricamente eu uso essa afirmação. Pois o objeto passa a fazer parte da mulher. O conceito dualismo tem servido para separar grupo de mulheres. Onde aqueles movimento que eram para defende-las, passam a questioná-las, critica-las, num momento em que elas mais precisam de força. E nessa hora  cadê as feministas?
Atualmente conceito é sujeito-objeto é falho, pois as bases sociais mudaram e já não existe mais. do ponto cientifico. Assim como não existe mais o conceito de raça do ponto de vista biológico e sim histórico social.
 Essa é uma visão ultrapassada pela sociedade  tem a mesma lógica de bem e mal, sendo impossível a incorporação da multiplicidade que é a vida social no momento. Talvez tenhamos que enfrentar isso de frente, ou de costa, descer e subir, ir para esquerda e para direita. Colocarmos-nos efetivamente no lugar do outro. Se deixar levar pela condição de sujeito e objeto como uma relação de mão dupla, sem hierarquias o campo de visão se aumenta.
Visões opressor e oprimido já não são suficientes para explicar a sociedade pós moderna. Isso não quer dizer que todos os direitos já foram atendidos, das classes historicamente oprimidas, mas sim, de que as nossas ou novas possibilidades devemos incorporar na luta pela garantia de direitos.
O movimento feminista vem perdendo força e esta havendo divisões devido a sua falta de capacidade de lidar com outras realidades. Um exemplo disso, são as mulheres que se tornam homosexuais, as mulheres negras, das empregadas domesticas, das funkeiras. Mostram o quanto a noção feminismo vem sendo alterado. Pois num primeiro momento englobou vários setores, no entanto, sua capacidade efetiva de dialogar com diferentes visões feminista, é que provocou estas cisões. No orgulhamos ter a primeira mulher como presidente da republica, no entanto nos orgulharíamos de ter a primeira mulher homossexual? Ou a primeira mulher negra?
Vou mais a fundo. Se a mente sempre foi supervalorizada e qualquer relação corpórea condenável. É fácil entender porque o balé é visto com glamour e funk como pornografia. Ambas deslocam a relação corporal, no entanto as vestimentas, a cor e origem social é que denotam os juízos de valores que serão feitos. Ambas deslocam-se no ar, jogam o corpo em direção opostas, agridem a lei da gravidade. No entanto o funk não recebe o mesmo status de arte. E as representações sociais feitas por um são contraditória a outra.
Da mesma forma que uma mulher quando vai para praia usa biquíni e naquele contexto não aparenta nada de anormal, ou pornográfico, sendo exaltadas pelos olhares tanto de homens, quanto de mulheres, se representarem os valores estéticos atuais europeus. Ou se apresentaram valores estéticos africanos serão percebidos.
 No entanto se ela começar a dançar perde a sua essência e vira pornografia. O biquine símbolo da liberdade feminina, se acompanhado de música funk, perde a sua visão libertária e passa a ser considerado como esculacho. No entanto se forem mulheres brancas que estiveram fazendo isso serão condenadas pela sua associação ao universo feminista negro, que é contraditório a este. As mesma mulheres que condenam o funk, são as mesmas que nas férias botam seus biquínis e vão para praia, quase seminuas. E que foram valorizadas em outras épocas como garotas de ipanema. E toda a mulher que se sentir desejada, assim como o homem. A vaidade masculina vem provando isso. O homem macho, vem sendo substituído pelo homem que dança, que rebola, que se pinta. O próprio conceito de homem vem sendo modificado na nossa sociedade brasileira. Mas mesmo assim, as mulheres de uma maneira geral ainda querem um homem que:

Como diz Leila Diniz: Homem tem que ser durão.
Erasmo Carlos

Homens e mulheres necessitam de seus corpos para fazerem amor, sexo, samba, rock- roll. Numa sociedade marcada por uma história de estupro e violência contra mulher. Posicionar a favor de qualquer visão libertária que não seja da mente, corre-se risco. No entanto, sem eles as mulheres não chegariam apesar da dificuldade e complexidade deste termo, em um século fazer conquistas jurídicas tão significativas e praticas que beneficiaram de uma maneira geram todos as mulheres. Mas isso não impede de haver contradições nesse processo e jogo político de interesses e visões de mundo que não contemplam a diversidade toda.
Apesar disso, nosso herança patriarcal nos condena, nossa visão miupe de nós mesmo, nos impede de enchergar as coisas por outro ângulo.
Será que o palco antes dedicado, única e exclusivamente aos homens, não poderia ser freqüentados por mulheres? Poderiam estas mulheres ao subir ao palco subverter outra mulheres que as antecederam, sem que isso fosse coisficação e torna-se a mulher que faz isso objeto.
Será que a mulher não tem o direito de mostrar a sua bunda, ou nádegas onde bem entender, sem ser chamada de puta ou vagabunda, ou favelada. Se as mulheres funkeiras fossem de classe média, com doutorado. A critica seria qual? De raça? De religião? De moral? Ou outra?

 A sociedade hipócrita quando confrontada com essas duras realidades e com o feminismo ocidental, não vê a possibilidade feminista oriental ou afrobrasileiro, que tem um visão complemente diferente, onde corpo e mente são uma coisa só, assim como os objetos, são extensões do corpo. Como uma espécie de brincadeira, de fetichismo, onde a dicotomia deixa de existir.
No entanto o feminismo, permite chama-lo de elista, que tem a capacidade de convencer as trabalhadores da educação, a exercer uma visão fundamentada no classismo, no folclore, e não na estética criativa.
Esta visão contraditória busca coloca-las noutro patamar. O feminismo de woodstook é diferente do feminismo funk. Enquanto aquele buscava uma sociedade alternativa, este busca a integração na sociedade. O nível cultural das elites feministas não as impediu de falarem sobre sexo, drogas, roupas e estilo de vista. |Foi um movimento exclusivo da classe média, no entanto o feminismo funk é oriundo da periferias, da população negra, de baixa escolaridade. Nesse caso a visão ocidental impede de fazer justiça ao movimento Funk, o considerando como consumista e o culpabilizando de coloca a mulher na posição de objeto.
Quando na verdade estes movimento deveriam fazer o contrario, assumir a luta dessas mulheres. Que se não fossem o funk ou arte. Estariam destinadas a lavar pratos, trabalhar de empregadas domesticas. Pela via artísticas estas mulheres poderiam ser porta vozes de questões mais amplas como a violência contra a mulher, o sub emprego, a saúde da mulher, as relações sociais, a educação,  enfim, questões que são realmente, mais importante que a estética artística. Pois a arte tem esse aspecto contestador da realidade, ora a reproduzindo, ora questionando.
A arte empodera o negro (a). Esse fato é muito importante para compreender a linguagem musical do funk, pagodeira ou negro. Enquanto não existe uma educação que possibilite ao negro outras alternativas é na música que ele encontra espaço para se empodeirar, mostras a sua existência, freqüentar espaços até então destinados as elites, ou classe média. É na música que ele torna-se gente, ser humano, ser pessoa e fugir aos efeitos perverso do racismo cotidiário.
O funk proporcionou a mulheres negras na sua maioria se sentirem como artistas e fugirem da possibilidade de  reproduzir a trajetória de suas mães como empregadas domesticas ou faxineiros. E aos meninos fugirem dos trabalhos de seus pais como servente de obra. A arte e mais particularmente a música servil como válvula de escape para aquilo que o negro sempre soube fazer muito bem que foi música e a dança. Os valores civilizatórios estes conceitos são importantíssimos.
Quando os pais ficaram horrorizados ao ver as mulheres descendo na boquinha da garrafa. Mulheres negras no começo e depois mulheres brancas, foi neste momento em que essa relação sujeito e objeto foi quebrada. Ou seja, a sujeito e objeto tornam-se um coisa só. E isso, mais uma vez chocou a sociedade católica, apostólica, romana, evangélica, crista ocidental. E pior mostrando falta de conhecimentos culturais. No entanto, mais uma vez a história provou que as mulheres que viveram aquilo, não se tornaram putas, aquelas mulheres que brincaram daquilo concerteza estão lidando melhor com a realidade atual do funk, Pois descolar o corpo, infrigir seus limites, é uma relação que se dá de corpo e de mente juntas.
Aquelas mulheres que fizeram aquilo passados mais de 10 anos, hoje são trabalhadoras, professoras, médicas, doutoras, advogadas. As pessoas que viveram aquilo lembram como uma brincadeira. Para as elites vivenciaram aquelas experiências em bailes, casas noturnas, escolas de samba, nos blocos afros foi uma brincadeiras, para o idealizadores negros e negras que produziram aquela cultura aquilo foi trabalho.
A analise acadêmica ou pseudocientifica nos serviu em momento em que a escravatura e a ditadura nos impuseram regras em que nos coisificavam, que nos tiravam os direitos humanos. A possibilidade de enxergar o outro que estabelece essa relação com objeto como parte de si vem sendo a grande dificuldade que as academia e os cursos de formação política, educacional tem para formar opinião com base na própria ciência que seus antepassados construíram, no ocidente. Ou seja, mesmo saindo do campo religioso, mesmo saindo do campo filosófico, social, educação e cultural. Somente o racismo pode explicar melhor este fato. Sendo assim, para que uma analise cientifica realmente possa acontecer eu tenho que abalar valores anteriores a visão apresentadas e entender muito bem de história, de antropologia, estética, de conectividade, de pós modernidade para entender o funk sem idéias preconceituroas, racistas, feminista elitsta, sobre o funk e seus praticantes. Então funk-se se puder.


Funk e cabelo


Se antigamente a cachaça era o tema central das músicas de samba de morro, a samba canção. No  funk passa a ser o wisk e red bul as bebidas preferidas. Ou seja, mudou o nome do objeto mas seu significado continua o mesmo. Velando posição de status. Se os funkeiros vivessem naquela época da ditadura com suas estéticas corporais seus temas versariam sobre sobre Velho Barreiro, 7 campos de piracicaba, e muito posteriormente capeta.

A importância do cabelo para o homem é diferente do cabelo para mulher. Enquanto no homem o tradicional o cabelo pouco importa, já para o homem moderno negro, cabelo raspadinho estilo ronaldinho fenômeno é importante. Para mulher alisar o cabelo é a sua grande marca, é um cuidado que se estabelece com a comunidade negra contemporânea influencia pela gospel, pelos blocos afros, pela axé music, pagode.
No funk a roupa modela o corpo, tênis da puma(alemã).
Nois grupos de narcotráfico
Gente grupo outro comando.


A mimese produz esse pequeno truque de oscilar entre o muito igual e o muito diferente. Um impossível mas necessário tema, de fato um tema cotidiano, a mimes registra tanto igualdade como diferença, de ser como e de ser Outro. Criar estabilidade dessa instabilidade não é tarefa simples, ainda assim toda formação de identidade esta comprometida nessa habitualmente estimulante atividade na qual o assinto não é tanto ficar o mesmo, mas manter a igualdade através da alteridade ( TAUSSIG, 1993, p. 129 APUD, MIZRAHI, 2010, p. 193-194)


O cabelo tem um papel importantissimo na estética funk, ele possibilita a valorização da mulher segundo esteriótipos e padrões brancos. A consciência negra não se dá através do cabelo que nem antes, mas sim é deslocada para o discurso de consciência negra. No entanto o cabelo é um dos aspectos centrais e que permite o transito entre as classes médias e altos. Pois fugir da marca de cabelo duro é uma característica, fugir da gene não socialmente aceito ou fenótipo. A pós modernidade e internauta tem possibilitado isso, expalhar padrões, estéticas e modos de ser, agir e interagir mediando tensões que em outros tempos de profunda consciência negra isso não era admissível.
 Gloria Maria usava cabelo black, Carlos Nascimento também, em uma época em que isso era uma marca negra de consciência, no entanto, o cabelo perde com a pós-modernidade, com a luta dos direitos humanos, com a queda do muro de Berlin, as utopias de uma sociedade afrobrasileira vão se ressignificando. E os negros e negras acabam descobriram que uma das principais marcas de sua corporeidade além da raça é o cabelo. Para isso então buscam esconde-lo, cortá-lo, raspalo, alisa-lo. Porém o discurso de consciência negra permaneceu e isso que possibilitou que mesmo com isso possam se dizer orgulhosos de serem negros mesmo que precisem fazer aquele genocídio cultural com seus corpos.

Funk representa o negro pós moderno. Não quer o cabelo afrobahiuano, nem americano, quer cabelo brasileiro, raspadinho e com desenho. O desenho lhe possibilita a arte da contestação e abalar a visão tradicional de cabelo trançado. Isso representa abalar a noção de identidade afrobahiana proposta para o Brasil. Quando o negro adquire consciência negra, ele acaba na afirmando alguns valores da luta negra e em outros lhes re-significando como o cabelo. No entanto na media em que o negro avança nos estatus social esta transitoriedade entre o crespo, duro e o alisado se torna mais presente, enquanto que nos homens permanece praticamente a mesma.
A  consciência negra está presente no discurso que diz:
Eu não vou deixar de ser negro só porque meu cabelo é alisado”.
Na realidade esta fala é coerente, pois se sabe que a cor da pele é o que conta no racismo. Ou seja, mesmo que a pessoa raspe ou alise, o racismo permanece pois a cor da pele não se pode mudar. Talvez essa tenha sido a saída para a Michael jackson, onde invés de tentar mudar e manter a cor da sua pele devido a doença, este fez o contrario, a acelerou. No entanto, isso não o impediu de sofrer discriminações raciais devido a esta mudança. De ambos os lados, dos ativistas negros e dos brancos que não o aceitavam.
Uma vez caetano um amigo me disse: Porque ele fez aquilo. Este era o símbolo da juventude negra mundial, representava a transição entre o black panter e a pós modernidade.
 Agora entendo as razões do discurso de caetano. Ele representa essa decepção que o negro tem com seu artista que é levado a se render a indústria fonográfica e midiática na busca de novos mercados, sucesso e aceitação social.
Obviamente que manipular o corpo obedece a idéia de que este é resistente as intervenções que neles são feitas.
Um exemplo claro é minha irmã,  em casa ela usa cabelos crespos e para sair usa seus cabelos lisos de acordo com o local. Ao fazer isso está possibilitando essa possibilidade negra plasticidade, o contrario quase sempre não é possível, pois é mais doloroso. Devido às mudanças estéticas de ser negro possibilita essa transitoriedade entre ser e não ser

A noção de objeto cai por terra, se levarmos em consideração o fato atual das próteses. Do ponto de vista cientifico coloca-la é tornar a prótese uma parte de si, não mais objeto, mas parte integrante da pessoa. No entanto os ricos ao faze-los são enormes. Nem por isso, as mulheres que fazem passam a ser consideradas mulheres objetos, pois colocá-las representa status social, ser pós moderna. Enquanto as mulheres brancas querem ter um corpão, as negras querem ter um corpinho. A não ser que seja passista de escola de samba. Nesse caso, ter um corpão é fundamental. A não ser que seja branca, e rainha de bateria. Essa sim, tem que ser magra, segundo os padrões de beleza ocidental. Essa questão de beleza estética negra é bem colada por Mizrahi (2010):

E o cabelo como diz Catra, “ depois que você [o] colocou é seu, filha”. O corpo é artefatual, mas as próteses fazem ver não seu aspecto não –humano, mas a sua fusão com o corpo, a sua absorção por ele( MIZRAHI, 2010, p. 201).

... A roupa justa usada por todas comunica não um modus vivendi livre de coerções estéticas, como um olhar romântico pode crer, mas está à serviço da afirmação do poder do feminino e cumpre o papel de marcar radicalmente a diferença entre o feminino e o masculino, que por sua vês é vestido por roupa larga

... O poder feminino, em discursos artísticos é à genitália da mulher, e o poder do másculo ao seu correlato no homem. As diferenças morfológicas, por sua vez, estão fortemente relacionados ao estilo de roupa a ser usada.
... Os corpos femininos super-expostos ou super-realçados evidenciam e presentificam a sua potência ao se contrapor à estética dos corpos masculinos, que, no ambiente Funk, devem estar encobertos. A estética corporal, no que concerne as relações de gênero, é desambiguizadora (  MIZRAHI, 2010, p.208).

Os “ funkeiros” realizam poucas variações na composição do conjunto de roupas trajadas, especialmente em comparação com a grande variedade de modelos que compõe o vestuário feminino. O grande investimento dos rapazes recai sobre os acessórios, ai incluídos os cabelos e o tênis, além dos bonés, chapéus, colares e aparelhos de telefones celulares. Os tênis devem ser, sempre que possível, de marcas estrangeiras e genuínas. Só em último caso se recorrerá aos simulacros oferecidos no mercado informal. Isto não significa que os jovens não valorizam as marcas que trazem em suas roupas, mas sim que aqueles com renda muito restrita se esforçam para ostentar a griffe ao menos em uma das peças de sua indumentária, e a peça eleita é invariavelmente o tênis que trazem em seus pés.(MIZRAHI, 2010, p. 212).

O falso e o verdadeiro, ou seja, orgânico e cristalino. O funkeiro e o Play Boy. Enquanto os funkeiros buscam aproximar-se do Play Boy, mas diferenciar dele em alguns aspectos. A relação não é de objeto e sim de status, de alteridade.

A estética funk tem uma característica central e que deve ser estuda melhor, elas querem um feminismo, mas um feminismo, sexualismo ao seu modo. Isso é central na em qualquer analise antropológica. É isso que vem tornando difícil a relação desses movimentos atuais na sociedade brasileira. A alteridade é o debate central, pois indivíduos que forma colocados em mesmo grupos, hoje buscam suas singulariedades No entanto isso vira um problema quando essa alteridade é entendida como subversão, rebeldia, quando montamos o swing da gente era um swing funk carioca. Em que se ia no máximo da corporalidade masculina que o swing permitia.


Este foi enviado ao coordenador de projetos de uma entidade social. Reflete o pensamento do que seria o preconceito no interior de um projeto social e o quanto ele é perverso com a estética. Meses depois fui dispensado, o coordenador pediu pra sair. Acredito que este texto teve participação fundamental na decisão dos dirigentes e coordenador percebeu a real gravidade da situação. Essa situação aborda bem a Micro fisica do Poder de Michael Foucoult. Ou seja, as relações de poder e os discurso que não se dão em nível macro, global, mas micro e que tem o mesmo poder discursivo perverso, aniquilador das diferenças.

Manifesto Artístico: Por um festa de aniversário em que alegria seja compartilhada por todos.


...o ensino de arte que queremos reafirma o papel essencial do professor, especialmente por se tratar de uma área de conhecimento que precisa necessariamente considerar a diversidade cultural e artística do país, que precisa reconhecer e trabalhar com as manifestações artísticas significativas em cada contexto escolar específico. Reafirma, ainda, a autonomia e a reflexão como marcas da profissão docente, entendendo- se autonomia como o direito e a responsabilidade de tomar decisões profissionais, ou seja, a não dependência de “receitas”, “pacotes prontos” e serviços excessivamente diretivos ou mesmo autoritários de supervisão pedagógica (cf. Giovanni, 2000, p. 50).
Prelúdio
A pior festa de aniversario é aquela que antes mesmo de começar os organizadores da festa  tem duvida se o bolo vai chegar, se não vai aparecer um bêbado e tomar o refrigentes do mão do aniversariante, se vai faltar salgadinho, o que as pessoas não vão gostar. Enfim, quem organiza este tipo de festa com base na perfeição, esquece o principal. Que aquele momento é para reunir as pessoas nos quais gostamos. Porém, diferente de uma festa familiar em que o pai e mãe nem perguntam pro filho nada e tomam as decisões sozinhos.
Uma festa pública tem que proporcionar mecanismo de escuta de os participantes da festa. Assim, evitasse que tenhamos problemas das pessoas não saírem satisfeitas. Mesmo assim, as chances de erros são muito menores. Mas pior é quando não sobrou comida na festa. Uma festa é um lugar para pessoas se divertirem e não encher a barriga. O que os jovens querem, não é encher a barriga e sim curtir a festa. Quando sobra comida. É sinal que as pessoas conversaram mais, dançaram mais, cantaram mais,brincaram mais, fizeram amizade mais, ficaram mais, beijaram mais, se alegraram mais.
Uma festa é medida não pela quantidade de alimentos e sim, pela qualidade dos estar social que ela proporcionou a todos os envolvidos. A comida é importante, mas não é o fundamental. A arte proporciona isso.encher a barriga de ar, de oxigênio.E não apenas de doce e salgados. Quando o tido popular diz “todo mundo comeu e ninguém sai falando” quer dizer que quantidade ( alimentos) e qualidade (os benefícios sociais, culturais , artísticos da festa foram atendidas). É isso que almejamos com este texto nesse manifesto.

Desenvolvimento:
Devido a fatos que ocorreram em nossas atividades de educação artísticas no evento de aniversário do MDCA algumas proposições vêm a ser importantes para uma maior reflexão sobre as atividades artísticas desenvolvidas pelo grupo de educadores do SASE. Formado por profissionais qualificados em artes como música, teatro e manifestações populares como a capoeira.
É inadimissivel que mesmo com toda a nossa capacidade critica, intelectual tenhamos que conviver com situações que nos contragem e botam em xeque os princípios de autonomia do educador popular, professor ou facilitador de aprendizagens. Nossa experiência profissional, além de técnica é de notório saber na área. São pessoas que já desenvolviam trabalhos com artes muito antes de ser profissionais da educação. Assim, experiência e pratica aliam-se ao fazer artístico proposto pelo MDCA em seus princípios, de diversidade cultural.
Sendo assim ações como as tomadas com vista a dar visibilidade ao trabalho, contradizem a nossa pratica cotidiária com os crianças e adolescentes dos projetos. Eis algumas questões para reflexões:

·        A não autorização de algumas músicas escolhidas pelos jovens para apresentação do aniversário;
·         O corte de trechos de canções para apresentação do grupo de expressão corporal;
·        A tentativa de separação das atividades que estão sendo desenvolvidas em conjunto;
·        A rígides de um cronograma para apresentação;
·        E o fato de não levarmos em consideração os interesses dos alunos e de não ouvi-los na festa de seu aniversário.

O MDCA só existe devido ao seu público e não as pessoas, dirigentes e sócios. Deveríamos ter perguntado ao aniversariante: que tipo de bolo gostariam de comer?Quem gostariam de convidar? Que tipos de atrações gostariam que tivessem? Que tipos de música? De decoração?Se gostariam de participar da organização da festa? Como gostariam que os educadores, profissionais viessem?
 Se tivéssemos feito isso, concerteza não haveria tantos constrangimentos como aqueles que ocorreram no aniversário.
Nesse sentido é lamentável que mesmo com as boas intenções, tenhamos que cometer praticas contrarias aos nossos valores e a nossa realidade. Realidade que hoje tem respaldo na ciência da educação, no multiculturalismo, no pluralismo de idéias e concepções pedagógicas. Se não podemos atender a totalidade das necessidade do nosso público pelo menos em parte. Ao fazer isso possibilitamos que utilizem critérios na seleção das músicas. Já que nem tudo que ouvem é socialmente aceito. Se fizermos isso damos um grande passo ao protagonismo juvenil. Tão almejado por dirigentes pessoas, grupos. Mas para isso, corremos o risco de enfrentar os problemas de maneira conjunta. Para que não acontece que nem na festa várias vieram-me cobrar  por quê não podiam apresentar a música do MC kuringa, mesmo tendo ensaiado. Tive que assumir a responsabilidade. Mesmo o trabalho tendo sido respaldado por um profissional da área da arte musical como eu.
 Quando propus o funk-se se puder queria provocar a todos sobre a importância de um outro olhar sobre a pratica cultural das crianças e adolescentes. E ao fazer isso desafiar as pessoas há repensar seus preconceitos. Quem sabe na ânsia de fazer tudo certinho, perdemos a chance de fazer uma festa alegre para nossos aniversariantes e educadores?
É triste ter que dizer não para as crianças, quando podíamos dizer sim, é triste não ocupar espaços, que podíamos ter ocupado, é triste ter que proibir músicas, quando podíamos ter liberado, é triste ter que fingir estarmos alegre, quando na verdade estamos triste.
Talvez seja hora de repensarmos nossos discursos, nossas praticas, nossos públicos, nossos apoiadores, financiadores e enfrentar as contradições. Com coragem se preciso for de botar nossos cargos a disposição. Mas de sermos verdadeiros com nós mesmos e com o nosso público. Mesmo que isso abale as nossas verdades, pois não é possível mais termos certezas. Estas que existiam já foram derrubadas.
A realidade e a transformação dela começa pelas nossas praticas. Assumir a contradição é um ato de coragem, assim como educar também o é. Dizer a verdade é fácil, assim como um jogo do Barcelona com Messi contra os veteranos do Zequinha. Pois mesmo que eles queriam ganhar tomarão uma goleada na certa. Pois não terão força para reagir. O mesmo acontece com nossos crianças quando impomos um padrão de educação e valores que contradizem as suas realidades cotidiárias.

Nossa noção de arte  romântica foi abalada na educação contemparea. Pois temos os  direitos de ter direitos, de sermos nós mesmos, sem mascara, nem disfarce. Não precisamos cantar ciranda cirandinha, para mostrar que somos humanos, podemos cantar o Rolex sem deixar de sermos, ao cantar e dançar funk. Ser surralista.(PEDRO ACOSTA)




Unidade foi algo amplamente discutido nos debates do MDCA, assim como a diversidade. O fato de termos sempre feitos reuniões separadas de coordenadores, educadores, dirigentes e sócios precisam ser repensadas. Pois em nome da unidade não podemos sacrificar as diversidade. A diversidade não nos impede de vivermos juntos, de convivermos, de nos respeitarmos. Isso é humanamente possível. Quando buscamos a unidade exclusivamente evitamos a contradição. Mas é nela que exercemos a nossa capacidade de assumir a diferença como base de princípios e direitos humanos.
O direito a cultura, a não sofrer nenhuma espécie de preconceito e discriminação, o entendimento da cultura juvenil em sua diversidade, as legislações anti-racista entre outras. Nos possibilitam embasar o nosso fazer artístico  e educacional. Pois se não pudermos nos expressar, contrariar posições como podemos exigir isso dos educandos. Quando evitamos estabelecer relações autoritárias com os mesmos buscando dialogar e somos vitimas deste tipo de atitude. Mesmo que tenhamos na ultima hora, mudados de opinião em alguns pontos devido a pressão dos jovens. Não precisava ter sido assim. Pois uma entidade com a história do MDCA e que propõe-se a discutir as suas práxis, não se pode se dar o direito de não  tratar de temas que dizem respeito a todos. Ao seu público, ao seus educadores, apoiadores e a sociedade civil.
Que esta festa sirva de exemplo, pois as aparências enganan. Pois todas as pessoas que acharam a festa bonita, não sabia o sentido infeliz dos educadores do projeto.

Pós-ludio
Espero que com este texto tenha conseguido expressar o meu descontentamente com os rumos que tomamos.  Por que quando entramos no rua sem saída é possível, voltar e procurar uma saída. Ou ficarmos chorando esperando até que alguém nos ache.
A festa estava linda fora, mas por dentro estávamos triste. A festa que foi mais feia por fora, era a que estava mais bonita por dentro. É chegando dentro das pessoas que as transformações realmente acontecem.
A humanidade não pode para de avançar, temos que cada vez mais caminhar no sentido da humanidade, da particularidade, singularidades. Não precisamos mais na educação em projetos sociais de vigiar e punir. Sei que isso é difícil pra nós, mas precisamos enfrentar isso. A liberdade de expressão em arte precisa ser garantida, mesmo que para isso, tenhamos que ensinar as pessoas as assumir as responsabilidades pelas suas escolhas. Por exemplos: quanto se faz uma música de uma maneira racista, preconceituosa, sexista, xenofógica, machista é preciso ensinar ao artista que isso tem conseqüências. O que é bem diferente de proibir o artista de se expressar. Os grandes intelectuais como Paulo Freire, reverenciado pela educação popular foram presos, exilados, mas assumiram as responsabilidades pelas suas decisões. Isso é exercer a liberdade interior, mesmo que a liberdade exterior seja comprometida.
Acredito que analises filosóficas, pedagógicas e relativista contra os artistas e profissionais da educação artística. Mas em um momento em que  nunca na história desse país a cultura e arte foram tão valorizadas como agora. É preciso que ouça o que temos a dizer. Mesmo que para isso tenhamos que combater a filosofia da educação, pelo pensamento da educação. Mesmo que para isso tenhamos que combater a pedagogia e propor a andragogia; mesmo que para isso tenhamos que trocar a educação musical pelo linguagem musical. Mesmo que tenhamos que trocar uma educação universal, para uma educação particular e anti-racista. Precisamos nos propor, precisamos renovar praticas em educação. Não podemos nos dar ao luxo de se calar frente aos ocorridos e citados ao longo deste texto.

Por fim, acredito que os educadores tem aprendido muito mais com as crianças a se humanizar, reconhecer valor naquilo que faz, que diz, nas suas contestações, dúvidas, pois diariamente está se aprendendo no SASE a ser, a conviver, aprender a fazer  e refazer a pratica artística e educacional. E estas experiências precisam ser compartilhadas não só com educadores, mas com coordenadores, dirigentes e colaboradores. Nem que para isso tenhamos que mudar nossos princípios, para possibilitar a diversidade de uma maneira mais ampla, de uma maneira que não exclua fazeres culturais que são importantes.
 Para encerrar  uma frase de Lulu Santos cantadas por jovens na apresentação dos adolescente aprendiz: “ ...vamos nos permitir pra dizer mais sim, do que não..., pois não há tempo que volte..., vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir.



Um pra mim, cinco pra ti.

A partitura não é capaz de explicar tudo, quase sempre as escritas de percussão vão até a semicolcheias. As semifusas, são praticamente ignoradas. Devido a sua alta complexidade de escrita musical e de leitura. Sendo assim coloca-se na partitura de percussão  o que fica mais bonito.
 Porém acontece uma contradição. Em melodias para pianos as fusas, semifusas são respeitadíssima nas composições. Em uma leitura a primeira vista é possível se assustar com a velocidade empreendida na execução instrumental.
Por isso pergunto, por que essa mesma vontade que o músico erudito tem para transcrever as peças no nível melódico, não é feita a nível rítmico,  principalmente no que diz respeito a linha de percussão?
Quero provocar músicos, professores, educadores musicais, aprendizes e estudantes sobre as razões que fazem com que a escrita musical que está ai é preconceituosa. Aponto algumas razões que irei descrever ao longo do texto.
O reducionismo é a principal marca das sociedades ocidentais em relação aquele que não é ocidental, e que durante a história do ocidente foi chamado de Bárbaro, de oriental, de africano, entre outros termos. O reducionismo tira a capacidade e compreensão da totalidade de um pensamento.
 Nos dias de hoje, sociedade ocidental, no afã de reparar este dano histórico que comeu se utiliza do reducionista para garantir a fala, os sons, os ritmos daqueles indivíduos que históricamente foram negados a suas historicidade, singularidade e alteridades.
A partitura percussiva é uma forma de compreendermos esse reducionismo. Desde que foi incorporada pelo ocidente  esta escrita é uma simplificação, que a ser escrita com uma linha. Onde são escritas as sonoridades dos instrumentos, sendo que a parte de cima são os graves e a de baixo os agudos.
Ou seja, e as nuances, os médios graves, as ligaduras, as arpogiaturas entre outras. Uma variedade de nuances é deixada de lado na medida em que se tem apenas uma linhas para escrever, enquanto isso, a partitura tradicional, tem muito mais possibilidade, tem cinco linhas a sua disposição, representando diferentes alturas e lugares, possibilitando maneiras muito maiores de expressão sonora.
Isso se deve obviamente a visão ocidental de que os padrões ritmos são os mais importantes dentro da escrita de percussão. Nesse momento entro no  segundo ponto, a escrita da partitura e os métodos de ensino de percussão, vão até a semicolcheia. Neste sentido, nuances e variações são perdidas no meio de caminho, pois a música africana, indígena, oriental é feita de fusa, semifusas, indo além das colcheias e semicolcheias. Além disso, os arranjos feitos para percussão quase sempre são colocados no final, ou quando dão a base para música ocidental, sendo um padrão de ritmo de colcheia e semicolcheias suficientes para descrever a sonoridade.
Neste sentido, vejo que ao compreender a partitura tradicional como portadora de uma história, é possível perceber o quanto o formado que temos hoje serve de parâmetro para realização de concursos de música, provas para mestrado, doutorado, pois ela representa uma maneira própria de se conseguir compreender a história da melodia de um grupo étnico, ou seja, a européia, ou a música européia.
Desta maneira a partitura tradicional serve bem ao interesses dominantes na medida em que a sua compreensão nos proporciona acesso a um mundo especifico de fazer musical. Essa é uma das razões que fazem com que a escrita percussiva receba esta simplificação. Ou seja, desenvolver a escrita percussiva não interessava as elites culturais e dominantes da música erudita, até porque a percussão tira a atenção da melodia. Seu uso, torna a melodia insignificante perto do ritmo percussivo, pois é bem mais desafiadora, problematizadora. Seu desenvolvimento proporcionaria uma ruptura e um acesso das camadas mais “baixas” que tem na percussão uma maneira de ser, de pensar e de agir musicalmente.
Sendo assim, impossibilita aqueles de compreender o seu fazer na dimensão de conceitos. Pois todos nós sabemos que conceituar é uma característica ocidental, outras sociedade não precisam do conceito. A música é uma delas, temos sempre essa tendência de buscar conceituar, de saber o que as pessoas sentem quando  ouvem música. Ao não conseguir encontrar uma conceito, somo levados a acreditar da sua impossibilidade. Pois se a música é organizada de uma maneira em que as durações vão até a semifusa, tudo aquilo que vai além desta é jogado fora. Sendo assim, a percussão não encontrou espaço na escrita tradicional. Seus movimentos são pontuais, em determinados trechos, com padrões, ou seja, aserviço da melodia. Qualquer equidade é impossível numa partitura convencional ou tradicional.
 Por essa razão que músicos do século XXI buscaram outras alternativas, mas mesmo assim, os estudos acadêmicos continuam usando a partitura tradicional ou ocidental como método de ensino, pois é esta que é cobrada nos concursos, nos vestibulares e nas provas de mestrado e doutorada.
Atualmente os músicos percussionista estão buscando aprender partitura para que possam se inserir e compreender linguagem ocidental, mesmo essa não sendo suficiente para descrever e representar todas as sonoridades que tem uma música percussiva.
O dia em que tivermos uma partitura escrita com os arranjos da bateria de escola de samba, com as nuances dos blocos afrobrasileiros, do partido alto, do baião, do maracatu entre outro ritmos nas orquestras sinfônicas, ai sim teremos efetivamente chegado a igualdade e uma linha não será suficiente para a escrita percussiva e para partitura tradicional cinco linhas e quatro espaços, serão muito pouco para expressar todo a nossa musicalidade.
Quanto isso acontecer a humanidade e a música terão fetivamente buscado uma linguagem universal que represente a diversidade musical do planeta. Onde uma partitura e um modelo quando insuficiente para algo deve ser substituído por outro mais coerente com a diversidade e assumido como a melhor maneira naquele momento de atender a diversidade em suas dimensões rítmicas, melódicas, harmônicas e até poéticas.
Mas talvez isso seja uma utopia, pois enquanto tivermos gente, pessoas, grupos se beneficiando da leitura tradicional, sua substituição será quase impossível, digo quase, pois todo a impossibilidade tem um Q aberto a revolução. E quem sabe amanhã de ser um outro dia, que pode ser daqui a milênios.





O medo do dualismo
Em varios momentos da minha vida profissional, convivi com diferentes concepções negros. Alguns negros assumiam suas identidades afro, com cabelos black, gírias, música alta, batuque, carnaval, e outros, o silencio, a fala educada civilizada, o uso correto do língua culta, o apreço pela música erudita. Não por acaso que esse perfil de negro encontrei mais na universidade, do que no cotidiano.
Mas o que me chama atenção, é o fato da intelectualidade artística e cientifica procurar o meio termo, ou seja, ficar do lado e nunca com determinada visão de mundo. Acredito que isso tem algumas razões de ser.
Uma delas foi a derrota do oficialmente do socialismo em varias partes do mundo no século XXI. Assim ouve um trauma, no qual passa o país no momento, com o fim oficial das utopias de esquerda, assim, mais uma vez a intelectualidade acredita que tudo visão de mundo político e cultural representa duas faces da mesma moeda. Sendo que preferem não ficar nem de um lado nem do outro.
A sociologia da música também passou por isso, e ao aderir as teorias de Adorno na metade do século XXI, mas teve que mudar de lado mais uma vez preferindo a neutralidade. Tão em voga no inicio da ciência moderna.
Essa neutralidade tem uma cara das teorias de Gilberto Freire sobre a mestiçagem. Ou seja, a ciência agora não quer ser ocidental, nem oriental, mas ficar no meio, ou seja, é uma ciência mestiça.Que fica indecisa de qual lado seguir.
Porém essa pseudoneutralidade é enganosa. É falsa, não condiz com a realidade que é dicotômica, pois ainda temos a marca do socialismo, mesmo com sua derrota, ainda temos as utopias vivas em nós, nosso condição ocidental ainda é marcada por preconceitos, racismo, machismo e todos os ismos que temos de direito como oriundos de tradições culturais européias hegemônicas.
Assim o dualismo, do qual o intelectual tenta fugir a todo o tempo, do qual a tradição pós moderna tenta apagar, persiste. Se um por um lado, compreender e querer que esta não exista, e mesmo que buscamos ferramentas para justifica-lá, por outro lado, esta dicotomia se expressa a nossos olhos, nos espaços de poder, no convívio social, nas maneiras de pensar e agir.

Se compreendemos e entendermos as dicotomia, ou a separação, e não negá-las, mas saber que elas ainda existem e que estão ai a nossos olhos, aos olhos da ciência pós moderna. Talvez possamos construir um pensamento cientifico que assuma o erro, em todas as suas dimensões, culturais, filosóficas, sociais, mas para tal é preciso compreender outras literaturas negras, sociologia negra, filosofia negra, cultura negra, principalmente num país comprovadamente racista, machista, xonófobo que nem o nosso. Só compreendendo estas literaturas que podemos entender sobre nós mesmos. Sobre a nossa história e assim construir um novo  cientifico ou uma nova abordagem.
 Ficar no meio, ficar entre uma coisa e outra é coisa pra covarde, pessoa que não tem convicção. Se a sociedade está como está hoje com seus inúmeros problemas sociais, ambientais e éticos, é justamente, porque a classe dirigentes, tinham convicção de tipo de país, que queriam construir, um país branco ao modelo europeu, com extermínio da cor preta e sem respeito a diversidade.
Para mudarmos isto teremos que construir uma ciência ao contrário, não uma ciência dialógica. Mas uma ciência comprometida com a diversidade, sabendo dos erros históricos da ciência, e o quanto esta não esteve a serviço dos mais discriminados da sociedade.
Necessitamos de uma ciência, que se obriga agora a ouvir a voz das ruas, dos negros, dos pobres, dos homossexuais, das mulheres, enfim, uma nova ciência que entenda as dicotomias e não busque negá-las. E que procure incorporá-las, pois as utopias nunca morrem, elas nos mantém sonhando.


Ingresso mais barato pra música erudita e mais caro pra música popular.
Um dia desses lendo um jornal de grande circulação na cidade fiquei pasmo com o preço de um concerto de música erudita num teatro. Os ingressos custavam entorno de R$ 20,00 à R$ 40,00. No mesmo encarte de jornal o preço de um show no auditório Araújo Viana custava o triplo disso.
Então fiquei pensando tem alguma coisa errada. Como um músico erudito vai ganhar um cachê bem menor do que um músico popular. Então comecei o livro de Theodor Adorno em Introdução a Sociologia da Música (2011), fiquei impressionado como o outor classifica os variados tipos de escuta musical e a critica que faz a cada um deles.
Percebi então que as bases do preconceito musical então neste livro.
Somente a liberdade não está em uma variedade de escolha que confunde, que nem pensa alguns. Segundo o autor Adorno (2011) liberdade seria o direito de se fazer o que não está na moda, ou que esta na moda sem ser chamado de velho ou de novo por conta do gosto estético de suas escutas e performances. Sendo assim, é percebível no discurso de muitos doutores os jovens como reféns, da mídia, do rádio e da tv.
Em nome da liberdade o educar musical trabalha vários ritmos, inclusive os da mídias, neste sentido ele estaria referendando as idéias da industria cultural, quando na verdade deveria trabalhar o bom gosto estético, por essa razão os jovens negros que fazem música erudita permanecem nela, os músicos populares estão sujeitos a lógica do mercado, nos tempos vagos, não podem se dedicar aos estudos. Nesse sentido o autor tem razão.
Talvez a pedagogia da música tenha contribuído para isso. A visão marxista de Adorno (2011) contribui para elucidação do fenômeno, mas não é suficiente. Já que o capitalismo venceu e se constitui como classe hegemônica.
 Os ingressos mais baratos para assistir uma opera são um escândalo que deve ser analisado com profundidade. O apreciador desta música tem a facilidade de estar próximo a música de bom gosto estético, enquanto, um músico popular como Djavan, Bem Jor e Roberto Carlos, custam muito mais caro.
Num primeiro momento, é possível achar que há uma desigualdade, no entanto uma análise detalhada, verá que os músicos eruditos já são pagos pela fundação que representam, os recursos usados para trazer estes profissionais são com leis de incentivo. Assim, é possível perceber que a indústria ganha dos dois lados.
 Porém, o apreciador de música erudita, tem seu acesso facilitado por conta da pseudo falsidade de que o público não gosta de música clássica ou erudita, por isso ingresso mais barato. Ele o de música erudita ganha do estado, para ter sua produção criada, enquanto o músico popular depende do mercado ou da indústria cultural. Obviamente que em uma sociedade capitalista é impossível acreditar que se poderia realizar um show de opera sem custos, tanto para cantores, quanto para orquestras, este grupos são bem caros, mas uma pequena elite tem acesso. Não por conta da sociedade e sim, pois desde a sua fundação foi criada para atender um grupo social burguês.
Enquanto os pobres que necessitam da música popular tem acesso a esta somente pelo rádio, pela Tv, pela internet ou através de cds piratas. Quando na verdade pela lógica deveria ser o contrário. Os músicos populares como são chamados os cantares da MPB deveriam ter seus acessos facilitados com ingressos mais baratos e com os incentivo do estado.
Em alguns momentos muitos destes artistas populares conseguem leis de incentivo a cultura, no entanto são exceções. Enquanto as orquestras por serem autarquias ligadas aos governos tem recursos garantidos, espaços, público para os seus espetáculos musicais.
Acredito que essa divisão entre música popular e música erudita o acesso de seus públicos devem ser melhor analisada na sociologia da música na medida em que se percebe os diferentes públicos por conta das várias escolhas musicais e escutas diversificadas. Será que o mesmo público que escuta uma música erudita R$ 20,00 considera isso justo? Será que um público que vai a música popular considera justo pagar R$180,00 pra mais para assistir um show de música dita popular? Alias que só pelo preço de popular não tem nada.
Por fim, a vinculação das grandes orquestras sinfônicas ao estado foi uma garantia que a música erudita teve para se manter como instituição, para que seu público na grande maioria branco tivesse o acesso a ela garantido e não tivesse perigo de ser analiquilada pela industria cultural. Sendo assim, no mundo todo da para ver pelas escutas e pelo público quem é o apreciador ou ouvinte de música erudita e quem é o ouvinte de música popular. Alias, os ouvintes de música popular estão ficando mais parecidos com os de música erudita. Um público branco. Se você quiser realmente conhecer a música popular vá um baile funk de periferia e conhecerá a verdade música popular.


Contra a vontade de verdade

Desde que Michael Foucoult fez a analise do curso que as verdades cientificas caíram por terra. Me parece que as verdades ocidentais foram abaladas com esse pensador de uma maneira bem mais profunda que os filósofos que os antecederam. Um gênio que morreu novo. Mas quero discutir aqui o fundamento da vontade de verdade, ou seja, a vontade de tornarmos nossos discursos verdadeiros. De lutarmos pra fazer valer nossos pensamentos, idéias, opiniões, e maneiras de ser do ponto de vista africano.
Nesse sentido que o presente texto visa abordar em que aspectos as verdades africanos vem sendo questionada pela sociedade.Seria o pensamento africano da intectualidade uma vontade de verdade ou uma contra vontade de verdade?
                       
A linguagem, o modo de ser africano e oriental muito recentemente é que foi incorporado pelo ocidental. A visão de verdade absoluta, de promotora da paz, da europa como guardiã do mundo, foi quebrada com a duas guerras que tivemos no século passado. Essa maneira autodestrutiva levou a comunidade européia a repensar seus valores. Assim, passou a ouvir os anseios das culturas africanas, a pesquisa-lá, a pensá-lá e restituir sua relação humana de homo-sapiens-sapiens como diz Morin (2002). É justamente nesse momento que vários seguimentos de contestação surgem no mundo e nos paises da áfrica e da américa latina.
 O terror de uma terceira guerra mundial, o reconhecimento por parte destes países periféricos de sua condição e atraso econômico levou a discursos ditatoriais que culminaram com mortes em muito maior escala do que com uma terceira guerra mundial.
Assim uma quase democracia se instalou em muitos lugares no Brasil, em cuba, na argentina, no chile, assim através de discursos pseudodemocraticos buscou-se  aniquilar as singulares para mais adiante na história, enquanto, porém na medida em que foram restaurados alguns direitos humanos, obviamente que acabamos encontrando outros novos direitos, e aqueles reivindicados no passado já não atendem mais as necessidade do presente, assim aquilo que era vontade de verdade precisa se ressignificar, ou seja, lutar pelo seu novo espaço nos discursos de poder para não perder a sua função histórica inicial.
 É nesse ponto que encontro no qual encontro a grande dificuldade que as sociedades pós modernas tem, que é de fazer valer estes novos direitos do seu tempo. Um exemplo disso são as lutas antirracistas abafadas com as ditaduras, das mulheres, da sexualidade, direito ao transporte de qualidade, do acesso a educação, a cultura, a informatização, em fim, todos estes visam a vontade humana de querer saber o porque da não validade de seus discursos.
Nesse aspecto entro num ponto central que vejo atualmente reivindicações justas, democráticas que questionam esse vontade de verdade das sociedade ocidentais serem consideradas como não justa, como inviável em uma democracia. Parece-me que ao mesmo tempo em que as constituições permitiram, ou seja, garantiram direitos, enquanto estas não eram regulamentadas, a ciência teve um papel de construir um contra discurso  destas vozes.
Nesse caso as vitimas passam a ser os algozes da sociedade. Os negros é que são racistas, as mulheres que não se valorizam ao questionar o corpo e a sexualidade, os homossexuais que não aceitam a família e que querem impor as suas particularidades a todo o conjunto da sociedade, os índios dono da terra que tem aprender a conviver com o branco e dividir a suas terras, enfim, a liberdade tão sonhada pela modernidade, vai dando sinais de retrocesso, porém permeada por um discurso democrático que a toda tempo visa o equilíbrio.
Nesse sentido a comunidade negra apresenta uma vantagem, através de sua literatura que vem se contraponto a lógica de verdade ocidental, construiu um arsenal de argumentos que nos ajudam a resistir a estas ações genocidas que visam aniquilar e não fazer avançar nossos direitos na conquista da liberdade intelectual.
 Nesse caso, a vontade de verdade no qual Foucoult fala não é verdade africana, mas sim a ocidental. A linguagem, o modo de ser africano e seu discurso não é a mesma que a do ocidente. Ele difere por questões históricas e que provam que os discursos africanos e suas visões de mundo é que proporcionaram um melhor desenvolvimento da sociedade.
 Vejo o quanto a música ocidental mudou ao incorporar estes valores como a circularidade, a ludicidade, corporeidade, a energia, a musicalidade, coletividade e a religiosidade. Estes valores através da educação foram sendo permeados, incorporados sem que se dissesse que eram africanos, ao analisar as suas lógicas é perceptível estas influencias.
No entanto, a partir do momento em que se descobre essa influencia, a ciência e seus discursos buscam aniquila-lás, e mais uma vez a vontade de verdade aparece nos discursos acadêmicos apontando as falhas  do pensamento intelectual negro como determinista e reducionista.
 As heranças iluministas como clareza no discurso, nos textos, a objetividade em detrimento da subjetividade retomam suas novas facetas, agora sobre a forma de se contrapor ao politicamente correto. Ao se fazer isso, se está impedindo que a sociedade avançe nas suas relações, pois é a política que regra a ação humana, se a política não esta sendo suficiente para entender as nossas aspirações e liberdades humanas então, é chegado o momento de se mudar a política.
Mesmo que o discurso de vontade de verdade seja um discurso político, ele é necessário na medida que é através dele que chegamos num acordo entre ambas a partes. O problema da política é que nos acordos estão interesses as vezes contraditórios. Se no campo da ciência a contradição perdeu o seu fim a partir de zaratrusta, no campo político ela se afirma em partidos que ora propões avanços, ora retrocessos.
A sociedade brasileira com a constituição intitulada cidadã se propôs a atender os diferentes setores da sociedade, no entanto deixou para regulamentar a questões após amplas discussões, emendas e leis. Assim, o pensamento que é contra esta vontade de verdade tem que esperar mais um tempo, até achar terreno fértil para se recompor.
Por fim, o pensamento africano e afrobrasileiro da intelectualidade negra nos deixou um legado para não cairmos nos discurso científicos e políticos que tem na sua gênese esta vontade de verdade, questionada pelo oriente. O discurso africano é contra esta vontade de verdade, visa combatê-lo é isso que temos que ter em mente. Pois durante séculos, este discurso não foi aceito, diferentemente de décadas passadas hoje temos um arsenal de teorias e de literatura negra, que se contrapuseram a esta lógica, e ao afirmar sua identidade, abalam a identidade do outro. E abalar a sua identidade é abalar a sua vontade de verdade.  



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